REPARAÇÃO TECIDUAL. Cicatrização e Regeneração



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Transcrição:

1. INTRODUÇÃO REPARAÇÃO TECIDUAL. Cicatrização e Regeneração Perda células (necrose, inflamação, traumatismo) restituição ou reparação Inicia durante ou ao final do Processo Inflamatório Finalidade: restabelecimento da integridade morfofuncional Condição: remoção do tecido necrosado e substs. estranhas (exsud.) por Mφ resolução do exsudato via digestão (liquefação) e eliminação (sangue e linfa) Regeneração ou cicatrização = f (tipo de tecido, se parenquimatoso ou conjuntivo) Classificação de células adultas (Bizzozero, 1894): a) Lábeis ou intermitóticas ativas mitoses durante toda vida organismo, regeneração é comum. Exs.: epitélio de revestimento, células mielóides e linfóides. b) Estáveis ou intermitóticas potenciais - mitoses ocasionais, regeneração é possível. Exs.: tecido parenquimatoso (fígado, túbulos renais, glândulas exócrinas e endócrinas e células mesenquimais, como ósseas e cartilaginosas) c) Permanentes, perenes ou pós-mitóticas mitose impossível, cicatrização. Exs.: neurônios, fibras musculares

2. CICATRIZAÇÃO Reparação por tecido conjuntivo (fibroplasia), inicia antes do término reação inflamat. 2.1. Fases: a) Atividade celular: proliferação de fibroblastos/citos Fibroblastos: cél. estrelada de início bipolar, ainda jovem, pd dividir por mitose e migra através rede fibrina a V=0,2 mm/dia > nº céls. no local. Fibroblastos: disposição radiada em relação vasos b) Neoformação vascular: através vasos remanescentes via proliferação céls. endoteliais brotos vasculares, que penetram tecido em restauração Brotos vasculares: de início compactos, mais tarde aparece lumen vaso em contato com vaso mãe, dando passagem ao sangue Capilares neoformados numerosos e sinuosos anastomose com outros capilares > circulação local Vistos ppal/e ferida cutânea, chegam até borda ferida e retornam para subcutâneo, formando alças tecido de granulação (área vermelha) Microscópio: grande nº vasos neoformados apresentando células endoteliais jovens (globosas, núcleos grandes e com cromatina frouxa, hipocrômicos) c) Fase de deposição de subst. fundamental e form. fibras (reticulares e colágenas) Tropocolágeno procolágeno (solúvel) colágeno (insolúvel) Fibroblastos fibrocitos; regressão capilares com redução nº (área esbranquiçada); células endoteliais jovens maturação Ao final: grande quantidade fibras conjuntivas e poucos vasos sg CICATRIZ

MECANISMO GERAL DA REPARAÇÃO (FASES): Cessação da ação do estímulo nocivo; Formação de coágulo (no caso de feridas) - horas; Restituição epitelial - 1 a 3 dias; Reação inflamatória, com invasão do coágulo e da área necrosada por PMN (principalmente Neutrófilos) em 1 a 5 dias, posteriormente por Mø (V = 0,2 mm/dia - de 3 a 20 dias); Dissolução e fluidificação de exsudatos e restos celulares e posterior reabsorção via linfática e/ou via fagocitose (PMN e Mø); Formação de tecido de granulação com neovascularização (3 a 7 dias) e fibroplasia (do 3 o ao 30 o dia, com pico no 14 o dia); Fusão dos tecidos de granulação (quando cicatrização por 1 a intenção) - 3 a 4 dias; Devascularização (colágeno espesso comprime vasos locais) - 15 a 20 dias; Regressão do processo inflamatório, c/ desaparecimento PMN (3 a 8 dias) e Mø(7 a 30 dias); Cicatrização colagenosa (35 a 300 dias) ou proliferação parenquimatosa

2.2. Tipos de cicatrização: a) Cicatrização por primeira intenção: mais simples, incisão cirúrgica Figura: Cicatrização por primeira intenção numa ferida fechada, não infectada (ex.: ferida cirúrgica incisional). As margens estão próximas e o processo de cicatrização evolui diretamente para produção de uma cicatriz. b) Cicatrização por segunda intenção: mais complicada, ferida é mais extensa (excisão cirúrgica), podendo ou não haver contaminação da ferida Figura: Cicatrização por segunda intenção. Acima: numa ferida aberta não infectada. A fenda é primeiramente preenchida por tecido de granulação, o qual se contrai e torna-se uma cicatriz. Abaixo: numa ferida infectada (as setas vermelhas representam as bactérias). A ferida é preenchida com tecido de granulação, o qual produz pus até as bactérias serem eliminadas. Depois disso o tecido de granulação contrai e produz uma cicatriz.

CARACTERÍSTICAS DA CICATRIZAÇÃO POR 1 A OU POR 2 A INTENÇÃO Característica Tipo de Ferida Contaminação Intensidade da reação inflamatória Formação de tecido de granulação Volume da cicatriz final Retração cicatricial Perda de células especializadas Tempo de Resolução Por primeira intenção Linear, coaptante, pouco traumatizada, com perda mínima de substância não contaminada Por segunda intenção Irregular, não coaptante, traumatizada, com perda de substânci a (comum em úlceras) Contaminada ou não Maior Maior, as vezes exuberante Maior, as vezes com formação de quelóide Maior Maior Maior

c) Cicatrização patológica: quando há excesso crescimento tecido, desproporcional com parênquima órgão; subtipos: hipertrófica e quelóide. c1) Cicatriz hipertrófica: estímulos continuados no mesmo local, como nas queimaduras, cirrose hepática (fibroplasia, necrose, regen. hepatócitos, formação pseudolóbulos) c2) Cicatriz quelóide: pele, corpos estranhos (fio de sutura, talco, pêlos, etc.), reação imune x proteínas estranhas, no homem predisposição raça (mulheres negras) Diferenças entre cicatriz quelóide e hipertrófica CARACTERÍSTICA CICATRIZ QUELÓIDE CICATRIZ HIPERTRÓFICA Aspecto Tamanho Quantidade H 2 O Anexos cutâneos Prurido Regressão espont. Superfície circular, brilhante Excede área traumatizada Maior Não possui Sim Rara Superfície irregular Limitada área traumatizada Possui Não Freqüente

Figura: Cicatrização anormal em diferentes graus devido à predisposição pessoal. (Esquerda) Hipertrofia discreta somente na zona de maior tensão da cicatriz. (Centro) Hipertrofia de toda a extensão da cicatriz. (Direita) Quelóide.

3. REGENERAÇÃO PARENQUIMATOSA Muito estudada em biologia, importante na cirurgia Tipos: fisiológica (epitélios, sangue), compensatória (falta do órgão ou parte) e patológica (nódulos de regeneração na cirrose) Leblond & Walker (1956): avaliação quantitativa da % mitoses células em relação capacidade regeneração fisiológica: 0,8-1,5% mitoses não há crecimento tecido, mas simplesmente reposição, ex.: células estáveis (fígado, rim, glândulas endócrinas e exócrinas) > 1,5% mitoses há crecimento tecido, ex.: células lábeis (epiderme, mucosas, hematopoiético) Obs.: 1. células permanentes (nervosas, musculares estriadas, medular adrenal, órgãos dos sentidos) não sofrem mitose 2. em condições patológicas essas taxas não são observadas 3. tecido com > capacidade de regeneração é o hepático 3.1. Regeneração em tecido com células lábeis: - Em superfícies epiteliais Mecanismo reposição geralmente por deslizamento céls camada basal para periferia Em caso lesão, células que proliferam não são as mais próximas, mas aquelas afastadas de 1 mm da lesão Para que lesão seja preenchida, tecido conjuntivo deve estar íntegro

- Em tecido hematopoiético (med óssea, LN, baço) Alta capacidade regeneração Provem de células estaminais primitivas (hemocitoblasto) Em caso P.I. - > produção neutrófilo, linfócito, etc Em caso anemia regeneração hematopoiética 3.2. Regeneração em tecido com células estáveis Células estáveis não se multiplicam intensamente durante vida, mas tem capacidade proliferação latente quando necessário Em células parenquimatosas glandulares Regeneração às custas de células próximas da lesão. Ex.: hepatócitos Há necessidade de integridade estroma, e quando não regeneração desordenada, como na cirrose hepática Em caso glândulas menores (ex. sudoríparas) destruição total glândula e cicatrização Em células derivadas do mesênquima Fibroblastos célula pluripotente, i.é, pode originar outras células quando necessário (osteoblasto, condroblasto).

3.3. Regeneração em tecidos com células permanentes Células incapazes recompor tecidos perdidos, surge então cicatriz. Ex.: célula nervosa Se lesão no corpo celular neuronal não há regeneração, mas sim substituição por células da glia Se lesão no cilindro eixo possibilidade regeneração Fibras musculares (estriadas esqueléticas e cardíacas e lisas) difícil recomposição, substituição por tecido fibroso Possibilidade fibras nucleadas sofrerem mitose, mas sem recompor tecido perdido Geralmente, qdo ocorre lesão pequena porção muscular hipertrofia outras fibras vizinhas 4. FATORES QUE INFLUENCIAM A REPARAÇÃO TECIDUAL 4.1. Gerais: a) Condições fisiológicas = f (idade, circulação) Jovem cicatriza ou regenera mais facil e rapidamente que o idoso Qto melhor circulação, melhor reparação. Nos idosos é mais precária devido esclerose vasos e < força cardíaca b) Temperatura corpórea: > temp favorece reparação pois melhora circul e metabolismo orgânico; reparação abdominal (temp + elevada) mais rápida que planta pés c) Nutrição: proteínas, metionina acelera cicatrização em animais desnutridos; avitaminose C retarda proliferação fibroblastos

d) Hormônios: glicocorticóides dificultam reparação feridas por diminuir proliferação fibroblastos (colágeno) e cels endoteliais; estrógenos inibem a reparação; tiroxina estimula cicatrização e) Estados patológicos gerais: diabetes, aterosclerose c/ formação placas lipídicas Intima arterial < suprimento sanguineo < reparação 4.2. Locais: Tipo de agente causal lesão: se bisturi é estéril, reparação evolui por primeira intenção, se objeto contaminado, cicatrização é por segunda intenção e a reparação é mais lenta Tamanho da lesão Contaminação tecido em cicatrização: forças organicas desviadas para combate ao microorganismo Presença corpos estranhos: fios de sutura, partículas de talco cirúrgico Mobilização tecidos: fraturas ósseas