O ESQUEMA DE TARIFAS EM BLOCO PRATICADO PELAS COMPANHIAS DE ÁGUA: UM ESTUDO DOS CONSUMIDORES RESIDENCIAIS DE BAIXA RENDA



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O ESQUEMA DE TARIFAS EM BLOCO PRATICADO PELAS COMPANHIAS DE ÁGUA: UM ESTUDO DOS CONSUMIDORES RESIDENCIAIS DE BAIXA RENDA MÁRCIA GONÇALVES PIZAIA; ROZANE ALVES; - - pizaia@uel.br APRESENTAÇÃO ORAL Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável O esquema de tarifas em bloco praticado pelas companhias de água: um estudo dos consumidores residenciais de baixa renda Márcia Gonçalves Pizaia (UEL) pizaia@uel.br Grupo de Pesquisa: 6 - Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável. Resumo Partindo-se da tarifa de água cobrada dos consumidores residenciais de baixa renda no município de Cambe, Estado do Paraná, considerando-se o esquema de tarifas em bloco praticado pelas companhias de água, da renda familiar, do número de habitantes por domicílio, e dos custos marginais de produção de água, este estudo objetiva estimar, através da função demanda residencial por água, quanto os aumentos efetuados nas tarifas cobradas aos usuários residenciais de renda baixa influenciam na quantidade de água demandada por esses usuários. Concluiu-se que a demanda residencial por água explica, para a classe

analisada, a hipótese que deveria ser provada. Ou seja, mudanças efetuadas nas tarifas cobradas aos usuários, afetam as quantidades de água demandadas por eles. Tais afirmativas são confirmadas através do coeficiente do parâmetro do preço marginal, confirmando que um aumento no preço da água poderá vir a diminuir a quantidade de água demandada por esse setor residencial, porém em uma proporção menor do que o aumento efetivado na tarifa de água. Portanto, sugere-se que esta classe de renda deva ter um maior subsídio quando do efetivo aumento da tarifa de água. Subsídio este que poderá ser financiado tanto pelo próprio governo ou através de subsídio cruzado, que é o que ocorre atualmente para as faixas de renda menos favorecidas. Palavras-chave: estimação; função demanda; baixa renda Abstract Taking water tariff charged to residential consumers in the municipality of Cambé, family income, the number of dwellers per household, and water production marginal costs, and through residential water demand function, this article aims at estimating a residential water demand function, by utilizing four different estimation methods, it is estimated to what extent the increase in water tariff charged to low income residential users can influence water amount demanded by these users. It was concluded that most estimations made for the parameters: marginal price, difference, family income, number of dwellers and number of rooms showed the expected signs and were statistically significant to the level of 1%. From these results it was verified that the residential demand for water explains the hypothesis to be proved for the classes analyzed, i.e. changes made to the tariff charged to users affect their water demanded quantities. Such claims are confirmed through marginal price parameter coefficient, which is negative for most estimated models, confirming that water price increase may diminish water quantity demanded by the residential sector. Key Words: estimation, demand function. 1. INTRODUÇÃO De acordo com os teóricos, a tarifa correta a ser cobrada pelo setor de saneamento básico seria aquela que promove o máximo de bem-estar social, devendo ser igual ao custo marginal de produção. Contudo, na efetiva tarifação desses serviços de utilidade pública, ocorrem investimentos indivisíveis, que necessitam ter continuidade, tais como: ampliação de sistemas de abastecimento de água e de esgoto, reformas de reservatórios, substituição de adutoras, e outros (MOITA, 1993). Um dos fatores que viabilizam o desenvolvimento do saneamento básico em todo o Brasil é a prática do subsídio cruzado. É o que possibilita equalizar, antes de mais nada, a justiça social, o desenvolvimento tecnológico e a manutenção dos investimentos em todos os municípios. Subsídio cruzado é o volume de subsídio que é dado aos consumidores de baixa renda, que será financiado não pela própria empresa, mas com recursos gerados por tarifas maiores

cobradas aos demais consumidores, em um sistema de subsídio cruzado, quando isto for necessário. A prática do subsídio cruzado é realizada, pelas empresas de saneamento estaduais, de diversas formas: formas: 1 - entre categorias de consumo: as categorias comercial e industrial - mais elevadas - financiam as faixas residenciais mais baixas; 2 - entre faixas de consumo: quem consome mais paga mais pelo metro cúbico; 3 - entre regiões: a Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, pela escala, subsidia grande parte das cidades do litoral e do interior do estado. Objetivando estimar a função demanda residencial por água, utiliza-se quatro métodos diferentes de estimação. Partindo-se da tarifa de água cobrada dos consumidores residenciais da SANEPAR, considerando-se o esquema de tarifas em bloco praticado pelas companhias de água, da renda familiar, do número de habitantes por domicílio, e dos custos marginais de produção de água, estimam-se casos em que, através da função demanda residencial por água, para consumidores urbanos que enfrentam bloco crescente de taxas de consumo consumo, aumentos efetuados nas tarifas cobradas aos usuários residenciais de renda baixa influenciam na quantidade de água demandada por esses usuários. Define Andrade e Lobão (1996, p.2): "... o valor da conta é calculado em forma de cascata, qual seja, a quantidade total consumida é dividida em blocos de consumo, sendo cada parte cobrada segundo a tarifa estabelecida para aquele bloco, sendo a tarifa crescente para blocos de consumo maiores. O pressuposto deste tipo de estrutura tarifária é o de que ela subsidia o consumo do usuário pobre, já que se espera que haja uma associação entre o nível de renda do usuário e o seu consumo de água". Espera-se que a classe de baixa renda seja afetada pelo aumento do preço da água, diminuindo o seu consumo e que esse aumento não afete tanto as outras classes de renda. Da mesma maneira, espera-se que as variáveis explicativas, como renda, número de habitantes, e outras, expliquem a demanda residencial por água. Os estudos sobre estimação da curva de demanda residencial de água podem ser classificados de diferentes formas. Os primeiros trabalhos testaram a hipótese da inelasticidade-preço da demanda de água residencial. Como acreditavam que fossem quase todos os serviços de utilidade pública, não respondendo a variação do preço. No entanto, essa inelasticidade-preço deveria ser testada para diversas classes de consumidores residenciais. Nesta linha estão os trabalhos publicados até a década de setenta onde a preocupação era determinar quais variáveis eram relevantes para explicar sua demanda. A partir da década de 70, surge uma outra questão: qual o preço o consumidor reage, se é o preço marginal ou o médio (AMARAL, 2000). Em geral a literatura destaca a controvérsia da especificação da variável preço na função demanda, uns defendem o uso do preço marginal e diferença, e outros o preço médio. O preço marginal é o preço cobrado na faixa de consumo. A variável diferença mede a diferença entre o valor cobrado na conta de água e o valor da conta ao preço marginal. O preço médio é o valor total da conta de água dividido pelo volume consumido. O tema central não muda, mas os argumentos evoluem. Destacam-se, também, aspectos econométricos, fontes dos freqüentes vieses das estimativas, que podem originar da simultaneidade de preço e quantidade, por omissão de variáveis relevantes e por erro nas mesmas. Contudo, não são problemas excludentes. Apesar de todos os métodos apresentados pelos autores em questão, não se chegou a nenhum consenso que pudesse resolver a questão

dos erros nas variáveis, nem quanto à variável diferença, em que a comparabilidade é dificultada ainda mais pela não-uniformidade das regras tarifárias, pois preços crescentes geram diferenças negativas e vice-versa. Outra questão bastante relevante está relacionada com o nível de desagregação dos dados. Isto é, se o apropriado seria utilizar os valores médios para o município ou por residência, para a região ou para a nação. Além disso, os dados podem ser de série temporal, ou cross-section - um corte no tempo, ou ainda uma combinação de ambos. Parte do debate sobre a demanda de água resulta do sistema de sua cobrança, normalmente conhecido como estrutura tarifária em blocos. Esse sistema determina preços diferenciados de acordo com as faixas de consumo. Para o Brasil, no caso de água, as tarifas são crescentes. Além disso, no primeiro bloco, consumo até 10 m3, todos pagam pelo consumo máximo do bloco, mesmo aqueles que consomem menos de 10 metros cúbicos (AMARAL, 2000). Conforme Andrade, et al. (1996) o primeiro trabalho sobre o tema foi o de Headley (1963), que pouca importância atribuiu às variáveis preço e renda. Gottlieb (1963) e Howe e Linaweaver (1967) incluíram preços como variáveis determinantes da demanda. Mas já existiam dúvidas sobre que preço explica a demanda, se o médio ou o marginal. Pois Gottlieb (1963) utilizaou o médio e Howe e Linaweaver (1967) o marginal. Nos anos 1970, Taylor (1975) e Nordin (1976) estudaram a demanda por eletricidade nos Estados Unidos, quando as tarifas cobradas eram decrescentes. Taylor (1975) crítica os trabalhos que utilizam o conceito de preços marginais, baseados no preceito neoclássico que iguala custos e benefícios marginais. Para este autor isto não é suficiente, pois o efeito-renda da mudança do preço se dá pela mudança da faixa de consumo, captada pela inclusão simultânea do preço médio ou despesa total. Nordin (1976) propõe em lugar do preço médio, a definição de uma variável equivalente a um pagamento que o consumidor precisa fazer antes de poder consumir as unidades que desejar ao preço marginal (apud ANDRADE et al, 1996). Wong (1972) usou duas séries de dados para Chicago. A primeira é uma série temporal (1951-61) com dados de Chicago e região metropolitana. A segunda é um corte no tempo (cross-section), para 103 cidades estratificadas segundo o tamanho da população. Na análise da região metropolitana, a demanda de água per capta foi função do preço médio anual, da renda média da residência e da média de temperatura nos meses de verão. A regressão em forma logarítmica foi estimada com o método de mínimos quadrados ordinários. Os resultados indicaram que para a região metropolitana tanto temperatura, quanto renda foram mais importantes que o preço para explicar o consumo de água. Parte da razão da insignificância do preço como variável explicativa é a baixa tarifa, que não estimula a economia no consumo. O coeficiente do preço teve o sinal previsto pela teoria, ou seja, negativo, porém não significativo. No corte no tempo (cross-seccional), preço e renda são significativos apenas nas cidades maiores. Nas menores, somente o preço tem influência na demanda de água. Na seqüência, aparece a tendenciosidade das estimativas da elasticidade do preço, decorrente da correlação positiva entre preço médio e marginal. Foster e Beattie (1979) apresentam modelo de demanda residencial por água para os Estados Unidos baseado em quatro elementos: a) preço da água; b) preço de bens substitutos ou complementares; c) renda; e d) gostos e preferências. Com o uso de preços médios e reconhecida a agregação dos

dados, minimiza-se o problema de simultaneidade existente entre preço e quantidade demandada de água. O resultado foram estimativas típicas para a elasticidade-preço no Kansas de 0,67 e para o Colorado de 0,76. Danielson (1979) estima uma função de demanda residencial para Raleigh, Carolina do Norte, usando como variáveis independentes a temperatura, a precipitação, o valor da residência, o preço da água e o tamanha da residência. O estudo usa um modelo econométrico proposto por Kmenta para uma série temporal com diferentes municípios (pooled crosssection e time-series), obtida por amostragem nas residências, onde o consumo foi dividido em interno, externo e total. O resultado foi o seguinte: a elasticidade-preço do uso externo foi superior ao interno e a maior parte da variação na demanda foi explicada pelo tamanho das residências (AMARAL, 2000). Billings e Agthe (1980) especificaram as estimativas de elasticidade-preço, concluindo que o preço marginal medeia a diferença do valor cobrado para o valor da conta ao preço marginal, que em tarifas crescentes tem sinal negativo. Os dados se referem ao consumo de água em Tucson, Arizona, entre jan.1974 e set. 1977, testado em modelo linear e log-linear, explicando mais de 80% da variação no consumo de água. O resultado da estimativa para a elasticidade-preço log-linear foi igual a 0,267. Griffin e Martin (1981) comentam o trabalho de Billings e Agthe (1980), sustentando que as estimativas feitas pelos dois autores são viesadas. A equação estimada é uma combinação da demanda com a regra tarifária. O viés acontece porque preço e diferença observados não correspondem aos pontos em que a curva de demanda individual corta a função tarifa, pontos esses gerados pelo erro da regressão. Quando a variância deste termo é reduzida as observações se mantêm próximas da curva de demanda e o viés é pequeno. Mas, o crescimento da variância muda-a indevidamente de faixa, produzindo uma rotação na reta de regressão no sentido anti-horário aproximando-a da função tarifa. Isso resulta na subestimação do preço marginal e superestimação do efeito da variável diferença. Os resultados das estimativas para a elasticidade-preço em modelo linear foi de -0,49 em modelo log-linear foi de -0,27 (apud ANDRADE et al, 1996). Billings e Agthe (1981) reconhecem as críticas de Griffin e Martin (1981), reestimando a regressão, excluindo as principais causadoras do viés. Assim a elasticidadepreço aumenta e a elasticidade-diferença diminui, resultando no fortalecimento do modelo. Trata-se de uma solução improvisada. Griffin, Martin e Wade (1981) fazem críticas às estimativas de Foster e Beattie (1981) quanto ao emprego da variável preço médio, lembrando que estes outros trabalhavam com as tarifas decrescentes quando independente da demanda, a função tarifa produz relação tal que preço médio é alto onde o consumo é baixo e vice-versa, sugerem-lhes refazerem as estimativas considerando as características da função tarifa. Em resposta, os dois tentam provar que: a variável preço médio é defensável e que o problema de identificação é desprezível, observando que o uso do preço marginal só dá resultados quando os consumidores são bem-informados. Quanto ao problema de identificação, Foster e Beattie (1981) afirmam que Griffin, Martin e Wade (1981) confundem a oferta agregada da empresa com a regra tarifária e que o deslocamento da demanda levaria o consumidor ao ponto de equilíbrio função tarifa e não sobre a curva de custo marginal da empresa.

Foster e Beattie (1981) voltam a defender o uso do preço médio, reespecificando a função demanda com argumentos sobre o preço marginal e a variável diferença. O primeiro é calculado através de informações das contas individuais, sugestão de Griffin, Martin e Wade (1981). O exercício confirma a superioridade da especificação anterior, a qual utiliza o preço médio. No confronto, a especificação tem um poder explicativo cinco pontos percentuais maior que a alternativa. Opaluch (1982) sugere a seguinte especificação da função demanda: (P1 - P2 )Q1 Q = B0 + B1Px + B2P2 + B3 B4 (Y - (P1 - P2 )Q1) Q Os resultados possíveis: a) se as duas hipóteses nulas são rejeitadas, deve ser usado modelo especificado com o preço marginal e com a diferença; b) se a hipótese nula do teste 1 não é rejeitada, mas a do teste 2 o é, os consumidores são bem informados ; c) se a hipótese nula do teste 1 é rejeitada, mas a do teste 2 não, o consumidor reage a preços médios; e d) se nenhuma hipótese nula é rejeitada, ou os consumidores não reagem a preços, alguns, reagem a preços médios e outros reagem aos marginais. Esta proposta é bastante flexível, ajustando-se às hipóteses de comportamento do consumidor. Terza e Welch (1982) discutiram o problema da tendenciosidade em estimativas de demanda feitas pelo método dos mínimos quadrados ordinários (MQO) em presença de tarifas marginais crescentes, e, com base em Taylor (1975) e Nordin (1976) advertiram sobre o problema de seleção de amostra, cujos coeficientes da regressão serão viesados, porque o erro aleatório desloca a curva de demanda e o consumo muda de faixa. Consumo e preço estão interligados pela regra tarifária, e a correlação entre erro e variável preço gera o viés. Um método para solucionar o problema é desenvolvido por Mcfadden, Puig e Kirschner (1977), método ainda utilizado para estimação de demanda por água, que consiste na geração da variável proxy para o preço marginal, não correlacionado com o erro aleatório, gerando estimativas de MQO com boas propriedades. Polzin (1984) critica a abordagem proposta por Nordin (1976), pois perde-se um grau de liberdade, piorando a especificação do modelo. Isto é relevante quando a série é pequena ou com muitos parâmetros para estimar (apud AMARAL, 2000). Billings (1982) adapta uma técnica desenvolvida por TAYLOR, para solução do viés. Taylor, Blattenberger e Rennhack (1981) com uma função receita total, obtêm cálculos para o preço marginal e variável diferença, os quais não variam com o consumo, sendo livres de erros de medição, levando a valores de elasticidade-preço mais elevados, o que é contestado por Ohsfeldt (1983) que diz que a aproximação por meio da função receita total não evita tal problema, e, Fazendo com outros dados o mesmo procedimento, conclui que, em metade dos casos, existem erros nas variáveis, recomendando o uso do teste de Hausman (1978) que detecta erros em variáveis independentes (apud ANDRADE et al, 1996). Chicoine e Ramamurty (1986) experimentam o procedimento de Opaluch através de dados domiciliares de Illinois, referentes ao ano de 1982, com tarifas decrescentes, e, para contornar a simultaneidade e erro de medida, excluem os domicílios cujo consumo está na primeira faixa e aplicam mínimos quadrados ordinários, justificando a exclusão, porque o aumento ocorre quando o consumo passa da faixa 1 para a faixa 2 e porque o viés de seleção amostral que este expediente introduz é considerado de menor importância. A partir dos testes de hipóteses estabelecidos por Opaluch (1984), os autores experimentam a medida decomposta de preço médio. E o resultado reforça a hipótese

levantada para o caso de consumidores desinformados, sendo associado à reduzida participação, cerca de 1,3%, das despesas com água na renda da família. Nieswiadomy e Molina (1988) comparam os resultados obtidos com as técnicas de mínimos quadrados ordinários, mínimos quadrados em dois estágios e variáveis instrumentais, que formam o único estudo de séries temporais de observações de consumo individual de água diante de tarifas crescentes. Porém, os consumidores têm reações diversas a preços quando se defrontam com tarifas decrescentes ou crescentes. Matos (1998) estima a equação de demanda residencial de água para o município de Piracicaba, Estado de São Paulo, usando o modelo proposto por Nordin. Apesar da limitação de dados existentes, ela utiliza os diferentes métodos de estimação: mínimos quadrados ordinários; variável instrumental e mínimos quadrados em dois estágios. Os métodos de variáveis instrumentais foram superiores ao mínimos quadrados ordinários, confirmado pelo teste de Hausman. As únicas variáveis significativas foram preço marginal e diferença. Os resultados encontrados para o Brasil são semelhantes aos demais, isto é, não existe igualdade dos valores absolutos e sinais contrários nos coeficientes estimados para diferença e renda. Carrera-Fernandez e Menezes (2000) estudaram os determinantes da disponibilidade a pagar pelos serviços de abastecimento de água e a demanda de água potável para a região de Sabaé, Estado da Bahia, utilizando o método de valoração contingencial. Constatam que a disposição a pagar dos consumidores do serviço de água é inferior ao necessário para melhorar o abastecimento de água e atender a toda a população. O estudo constata ainda que deve haver uma grande participação do poder público para melhoria e ampliação dos sistemas de abastecimento público de água potável, pois os consumidores não estão dispostos a aumentarem os preços da fatura para poder cobrir os investimentos necessários. Amaral (2000) também estima a demanda de água para a cidade de Piracicaba, sendo estimada a demanda total e residencial médio, utilizando séries temporais e X11, para o período de 1990-1999. Analisa os efeitos do componente sazonais e de ciclo-tendência do consumo de água. Os resultados mostraram que as séries de consumo tiveram comportamentos sazonais e que existe uma tendência de queda do consumo residencial médio e de aumento nos consumos total e residencial total nos últimos dez anos. Os modelos univariados Box e Jenkins mostraram um comportamento sazonal, com parâmetros nas defasagens seis e doze. Nos modelos de função de transferência, a única variável significativa para explicar o consumo foi temperatura. O estudo concluiu que o consumo de água em Piracicaba pode ser explicado principalmente pelo consumo passado da série e temperatura. Neste contexto, o presente estudo tem a finalidade de estimar, através da função demanda residencial por água, quanto os aumentos efetuados nas tarifas cobradas aos usuários residenciais pertencentes as classes de renda baixa, média e alta afetam as quantidades demandadas por estes. Além dessa introdução, este trabalho está subdividido em três seções. Em seguida, são apresentadas as fontes dos dados e definidas as variáveis e métodos de estimação. Posteriormente são apresentados e discutidos os resultados das estimatições. Finalizando, na última seção, faz-se as considerações finais. 2. Material e Métodos

Existem muitas maneiras de estimar a função demanda residencial por água, que são encontradas em diversos estudos. Optou-se, neste estudo, pela utilização de quatro métodos de estimação da função demanda. O primeiro é o Método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO); o segundo é o Método MCFADDEN; o terceiro e quarto são métodos de estimação de equações simultâneas Método de Mínimos Quadrados em Dois Estágios (MQ2E) e Método da Variável Instrumental (MVI). Os quatro últimos métodos estatísticos tornam-se necessários, devido à existência de grande simultaneidade entre as variáveis preço e quantidade demandada de água, uma vez que o Método Mínimos Quadrados Ordinários não elimina os vieses dos parâmetros estimados. 2.1 Material A base de dados utilizada, neste trabalho, para estimação da função demanda foi cedida pela SANEPAR no ano de 2007 e determinadas através de pesquisas em campo. Utilizou-se dados do município de Cambé, Estado do Paraná. Cada observação foi representada como uma ligação de água, cujo consumo foi registrado através de um medidor (hidrômetro). A variável dependente desta estimação é a quantidade demandada de água no município. A variável preço marginal foi obtida com base na Tabela 1 abaixo, tarifas da SANEPAR. Tabela 1: Tarifa de Água e Esgoto (em m 3 ) Tarifa Residencial (R$) Consumo Mensal Tarifa Normal Tarifa Social Valor Excedente ao bloco* Valor Excedente ao bloco* 0 até 10 m 3 29,43 2,94 por m 3 (7,50) 0,75 por m 3 11 m3 a 30 m 3 29,43 + 4,41 por m 3 excedente 7,50 + 0,75 por m 3 excedente acima de 30 m 3 117,63 + 7,52 por m 3 excedente - - Fonte: Tabela Tarifária (SANEPAR, agosto de 2007). A variável diferença intramarginal é de fundamental importância para a explicação do consumo e é definida como o resultado da diferença entre o valor da conta cobrado de acordo com o preço marginal e o valor da conta cobrado ao usuário. Como exemplo temos um usuário que paga o valor mínimo da fatura de água, R$ 29,43, consumindo 6 m3; neste caso, a variável diferença é igual a (6x0)- R$ 29,43, isto é, - R$ 29,43. No caso do consumo de 15 m3, a diferença é igual a (15x4,41)-(10x2,94+5x4,41)=R$ 14,67. A variável diferença apresentará valores negativos para os consumos até 10m3, e valores positivos para consumos superiores a 10 m3. As informações sobre a variável renda familiar estão registradas em estratos de renda, segundo o salário mínimo do país em 2007, de R$ 380,00 Esses estratos são considerados para usuários que têm renda mensal de até 1; mais que 1 até 5; mais que 5 até 10; mais que 10 até 15; mais que 15 até 20 e mais que 20 salários mínimos. Os dados desta variável foram obtidos através de pesquisa nas residências, totalizando 198 registros. De acordo com a Medida provisória nº 362/07, a partir do dia 1º de abril de 2007, o salário mínimo passou de R$ 350,00 para R$ 380,00 em todo o país. Este novo valor beneficiará os trabalhadores e os aposentados do INSS que recebem o piso, representando um

aumento de 8,6%. Benefícios e abonos, cujos valores são vinculados ao mínimo, também subirão. Todavia, o governador do Paraná, sancionou a lei que cria o novo piso mínimo salarial regional. Dependendo da categoria, o trabalhador paranaense que não têm acordos ou convenções coletivas de trabalho passa a receber de R$ 437,00 a R$ 474,00. As observações da amostra relativas à variável número de residentes e número de cômodos foram determinadas nas pesquisas em campo. 2.2 Métodos Similarmente ao apresentado em Andrade et al. (1995), neste trabalho, a função demanda residencial de água é estimada para os consumidores urbanos da SANEPAR, que enfrentam bloco crescente de taxas de consumo. O modelo de demanda de água comumente usado na literatura, explicando a demanda por água como uma função direta do preço marginal, da renda familiar, do número de pessoas residentes no domicílio e da diferença intramarginal (esta é a diferença entre o valor da conta cobrado de acordo com o preço marginal, e valor da conta cobrado ao usuário) Nieswiadomy e Molina (1988). A função demanda é descrita na equação (1). A função oferta é apresentada na equação (2), uma vez que é necessária na identificação do sistema de equações simultâneas ou para a estimação dos métodos Mínimos Quadrados em Dois Estágios ou Variáveis Instrumentais (MVI). (1) Q i = α + β1pi + β 2Di + β 3Ri + β 4 N i + β 5Ci + ui Q (2) o = γ 0 + γ 1PE i + ε i Na função demanda Qi é a variável dependente, representando a quantidade demandada do bem i. (i, é o bem água). As variáveis independentes são Pi, o preço marginal de i; Di, a diferença intramarginal; Ri, a renda familiar; Ni, o número de pessoas residentes; Ci, o número de cômodos; e µ, o termo erro, variável que representa todos os outros fatores que determinam a quantidade demandada de i (incluindo os preços de outros bens e serviços). Os parâmetros a serem estimados são α0, β1, β 2, β 3, β 4, eβ 5 que expressam a reação na quantidade demandada de i a alterações em cada uma das variáveis. Em seguida, descreve-se a fonte de dados de ande essas variáveis originaram, explicando-se a técnica de estimação aqui adotada. Na função oferta, Qo é a variável dependente, representando a quantidade ofertada de água, PE, o preço efetivo da água (preço efetivamente cobrado na fatura mensal de água) e ε i é o termo erro. Supondo haver diferença significativa na demanda residencial por água entre usuários de diferentes níveis de renda, efetuam-se duas estimativas para as residências com renda baixa. A estimativa aqui efetuada refere-se à demanda por água por parte daqueles usuários de baixa renda, aqueles que recebem de 0 até 5 salários mínimos mensais, totalizando 198 observações da amostra. Devido ao problema da simultaneidade existente entre consumo e preço, serão utilizadas técnicas de estimação dos métodos de equações

simultâneas: Mínimos Quadrados em Dois Estágios e das Variáveis Instrumentais; e método MCFADDEN [ANDRADE (1996); MCFADDEN, PUIG e KIRSCHNER (1977)] 2.2.1 Método Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) Primeiramente, estima-se a função quantidade de água demandada pelo Método de Mínimos Quadrados Ordinários, estimando a função demanda na sua forma estrutural, ou seja, levando-se em conta a equação (1): (1) Q i = α + β1pi + β 2Di + β3ri + β 4 Ni + β5ci + ui 2.2.2 Método MCFADDEN O método Mcfadden é realizado em cinco etapas. Este método objetiva eliminar a simultaneidade existente entre o preço e a quantidade de água demanda. A primeira equação é a estimação da função demanda, em sua forma estrutural, isto quer dizer estima-se a função demanda definida na equação (1). A segunda, consiste em obter o valor estimado da quantidade demandada ou Qˆ i, com base na função demanda estimada na primeira etapa. A terceira consiste na estimação da seguinte equação: (3) Pi = γ 0 + γ 1Qˆ i + γ 2PEi + ε i sendo PE o preço efetivo. A quarta é a obtenção do valor estimado do preço marginal ou Pˆ i, com base na equação (3). A quinta e última etapa, é a estimação da equação demanda, novamente, com o preço marginal estimado, obtido na quarta etapa: (4) Q i = α + β1pˆ i + β 2Di + β3ri + β 4 Ni + β5ci + ui 2.2.3 Mínimos Quadrados em Dois Estágios (MQ2E) O terceiro método exige três passos. O primeiro é a estimação do preço como função de todas as variáveis exógenas do sistema, estimado através da função: (5) P i = π 0 + π1pei + π 2Di + π 3Ri + π 4 Ni + π 5Ci + ui O segundo passo é a obtenção do valor estimado do preço marginal ou Pˆ i, com base em (5). O terceiro passo é a estimativa da equação de demanda, novamente, com o preço marginal estimado, obtido no segundo passo, com a aplicação da função: (6) Q i α + β Pˆ i + β Di + β Ri + β Ni + Ci + ui = 1 2 3 4 β5 2.2.4 Método Variáveis Instrumentais (MVI)

O quarto método utiliza uma matriz de Variáveis Instrumentais (Zi) compostas pelas variáveis exógenas do sistema. Nesse caso, os estimadores são obtidos pelas seguintes equações: (7) Q i = α + β1pi + β 2Di + β 3Ri + β 4 N i + β 5Ci + ui (8) P i = π 0 + πq1 + π 2PE i + µ i 3 Resultados Obtidos na Estimação da Função Demanda Residencial por Água Esta seção apresenta os resultados das estimativas da função de demanda residencial por água, em sua forma estrutural, para o caso de usuários de renda baixa, utilizando-se os quatro métodos de estimativas, entre os quais Mínimos Quadrados Ordinários, o Mcfadden e o Mínimos Quadrados de Dois Estágios e das Variáveis Instrumentais. Com a obtenção dos resultados das estimações, verifica-se através dos parâmetros originados das estimativas, se aumentos efetuados nas tarifas cobradas aos usuários residenciais afetam as quantidades demandadas por estes. Na Tabela 2 encontram-se as estimativas da função demanda residencial por água para o consumidor que possui renda baixa, apresentando-se os resultados dos quatro modelos. Verificou-se que a maioria dos coeficientes obtidos são significativos, com exceção apenas da variável número de cômodos no modelo MQO e MVI. TABELA 2: Estimativas da Função Demanda Residencial por Água Classe de Renda: Baixa, 198 observações Variável Dependente: Quantidade de Água Demandada Variáveis Métodos Utilizados e Coeficientes Estimados Explicativas Dos Modelos MQO MCFADDEN MQ2E MVI Constante 0.9831385-3.084255-71.04041 0.94839 (0.270) (0.003)** (0.000)** (0.284) Preço Marginal 0.5074219-0.6397692-0,0570-0,0428 (0.000)** (0.000)** (0.000)** (0.000)** Diferença -0.2664842 1.500811 0,2874 0,1787 (0.000)** (0.000)** (0.000)** (0.000)** Renda 0.003631 0.0197783 0,9770 0,8686 (0.013)* (0.000)** (0.000)** (0.012)* Nº Habitantes 0.3299045 -.2554572 1.033305 0.33049 (0.001)** (0.009)** (0.000)** (0.000)** Nº Cômodos 0.1627931 5.332805 21.03683 0.16155 (0.087) (0.000)** (0.000)** (0.087) R² - ADJ 0.9556 0.9557 0.9562 0.9562 Nota: nível de significância em parênteses. ** Significativo ao nível de 0,01. * Significativo ao nível de 0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2007). De acordo com tal tabela, observa-se que na maioria dessas estimações, os coeficientes associados às variáveis explicativas foram estatisticamente significativos e tiveram os sinais esperados em todos as regressões. Considerando o coeficiente de determinação R² de cada

modelo, nota-se que os modelos que obtiveram um melhor ajuste e coeficientes mais significativos foram os obtidos pelos três últimos métodos, isto é, Métodos MCFADDEN, de Mínimos Quadrados em Dois Estágios (MQ2E) e para o caso de Variáveis Instrumentais (MVI), indicando que a variação da demanda residencial por água são explicados pelas variáveis preço marginal, pela diferença, pela renda, pelo número de habitantes e pela quantidade de cômodos existentes na residência. É notada nos modelos MCFADDEN e MQ2E uma estimativa para o coeficiente β 1 o qual é menor que zero e significativo ao nível de 1%. Conforme esperado teoricamente, tal coeficiente é negativo por vários motivos, entre os quais, a água residencial é um bem normal, significando que variações no preço marginal afetam inversamente as variações na quantidade demandada de água. Com a utilização do método Mcfaddem, espera-se que toda a endogeneidade na variável preço tenha sido expurgada. A estimativa para o coeficiente β 2 o qual é maior que zero para os três últimos modelos, menos para o modelo MQO e significativo em todas as regressões, ao nível de significância de 1%, indicando que exigir do consumidor o pagamento de uma diferença maior afetará positivamente a quantidade de água consumida. Este é o resultado esperado teoricamente. A estimativa para o parâmetro β 3 é maior que zero, em todas as estimações, e estatisticamente significante ao nível de 1%. Esse resultado também corresponde ao esperado, uma vez que, quanto maior a renda, maior a quantidade demandada de água. A estimativa para o coeficiente β 4 é significativa em todos os modelos e para o de β 5 é significativa apenas em duas regressões; exceção foram os modelo MQO e MVI. As elasticidades da demanda residencial por água são apresentadas neste trabalho na Tabela 2. São feitos os seguintes comentários: de acordo com o esperado, foram encontradas em dois métodos econométricos apresentados, MQ2E e MVI, uma elasticidade-preço marginal negativa para a classe de renda baixa. A literatura interpreta este resultado da seguinte forma: quando a elasticidade é menor que um, o preço afeta a quantidade demandada, porém, aumentos neste preço afetam a quantidade demandada por água em uma proporção menor que a variação no preço. Por outro lado, quanto maior o nível de renda do consumidor, maior estará condicionada esta reação a um preço marginal maior, assim como uma elasticidade maior. A elasticidades-diferença da demanda residencial por água encontrada é positiva e menor que um. Isso significa que conforme aumenta a quantidade de água consumida, tende a aumentar o valor desta elasticidade. a elasticidade-renda obtida é positiva e menor do que 1 em todas as regressões. Tal resultado significa que a renda poderá afetar a quantidade demandada por água dos consumidores residenciais. Tal fato é notado a partir dos coeficientes encontrados: para o método MQ2E (0,9770), e (0,8686) para o o método MVI. Espera-se que, conforme a renda aumenta, aumenta a quantidade de água demandada. Dessa forma, conclui-se que, quanto maior for o aumento da renda do consumidor, maior será a quantidade de água demandada. Conclusão

A partir dos resultados deste estudo, verificou-se que a demanda residencial por água explica, para a classe de baixa renda, aqui analisada, a hipótese que deveria ser provada. Ou seja, mudanças efetuadas nas tarifas cobradas aos usuários, afetam as quantidades de água demandadas por eles. Ao serem alteradas essas quantidades de água demandada pelos usuários, também poderá ser alterada a receita total da companhia prestadora de serviços, afetando o custo de produção da companhia, pela redução nas quantidades totais demandadas por essa classe de renda. Tais afirmativas são confirmadas através do coeficiente do parâmetro do preço marginal, β 1, que é negativo para a maioria dos modelos estimados, e pelos coeficientes de elasticidades obtidos, confirmando que um aumento no preço da água poderá vir a diminuir a quantidade de água demandada pelo setor residencial de baixa renda, porém em uma proporção menor do que o aumento efetivado na tarifa de água. Portanto, sugere-se que esta classe de renda deva ter um maior subsídio quando do efetivo aumento da tarifa de água. Subsídio este que poderá ser financiado tanto pelo próprio governo ou através de subsídio cruzado, que é o que ocorre atualmente para as faixas de renda menos favorecidas. Torna-se necessário destacar o ótimo resultado das estimativas, uma vez que a endogeneidade na variável de preço da água (preço marginal) foi expurgada via Mcfadden, MQ2E e MVI, acarretando um coeficiente de preço estatisticamente significante. Referências Bibliográficas ANDRADE, T. A., BRANDÃO, A. S. P., LOBÃO, W. J. A. e SILVA, S. L. Q. da Saneamento urbano: a demanda residencial por água. Pesquisa e Planejamento Econômico, vol.25, nº 3. 1995. p. 427-447. ANDRADE, Thompson A. et al. Estudo da função demanda por serviços de saneamento e estudo da tarifação do consumo residencial. Rio de Janeiro: IPEA. Texto para discussão nº 415. 1996a. 63 p. ANDRADE, Thompson A. e LOBÃO, Waldir J. de Araújo. Tarifação social no consumo residencial de água. Rio de Janeiro: IPEA Texto para discussão nº 437. 996b. 59 p. BILLINGS, B. R. Specification of block rate variables in demand models. Land Economics, v.5. Aug. 1972. p.376-394. BILLINGS, B. R. Specification of block rate variables in demand models. Land Economics, v.57, p.376-394, Aug. 1972. BILLINGS, B. R., AGTHE, D. Price elasticities for water: a case of increasing block rates: reply. Land Economics, v.57, p.276-277, May 1971. BILLINGS, B. R., AGTHE, D. E. Price elasticities for water: a case of increasing block rates. Land Economics, v.56. Feb. 1970. p.73-74.

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