Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 56



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ISSN 1676-1340 Novembro, 2003 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa Recursos Genéticos e Biotecnologia Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 56 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça-das-Crucíferas ( Plutella xylostella) Patrícia Teles Medeiros José Manuel Cabral de Sousa Dias Lilian Botelho Praça Érica S.Martins Márcio N. Ferreira Rose Gomes Monnerat Brasília, DF 2003

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão Parque Estação Biológica, Av. W5 Norte (Final) - Brasília, DF CEP 70770-900 - Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624 http://www.cenargen.embrapa.br e.mail:sac@cenargen.embrapa.br Comitê de Publicações da Unidade Presidente: José Manuel Cabral de Sousa Dias Secretária-Executiva: Maria José de Oliveira Duarte Membros: Luciano Lourenço Nass Regina Maria Dechechi G. Carneiro Maurício Machaim Franco Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares Campos Carneiro Suplentes: Maria Alice Bianchi Maria Fátima Batista Supervisor editorial: Maria José de Oliveira Duarte Normalização Bibliográfica: Maria Alice Bianchi Tratamento de ilustrações: Giscard Matos de Queiroz Editoração eletrônica: Giscard Matos de Queiroz 1 a edição 1 a impressão (2003): tiragem 200 exemplares. Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n o 9.610). Seleção de estirpes de Bacillus thuringiensis tóxicas à traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) / Patrícia Teles Medeiros... [et al.]. Brasília : Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2003. 16p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, ISSN 1676-1340 ; n.56) 1. Bacillus thuringiensis Avaliação Toxidez. 2. Praga de planta Brássicas Plutella xylostella. 3. Controle microbiano - Inseto. I. Medeiros, Patrícia Teles. II. Série. 632.7- CDD 21 Embrapa 2003

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça-das-Crucíferas (Plutella xylostella) Patrícia Teles Medeiros 1 José Manuel Cabral de Sousa Dias 2 Lilian Botelho Praça 3 Érica S.Martins 4 Márcio N. Ferreira 5 Rose Gomes Monnerat 6 Resumo Plutella xylostella é a principal praga das Brássicas devido ao seu ciclo muito curto podendo ocorrer até mais de cinco gerações por ano e principalmente pelos sérios danos econômicos causados à cultura. Dentre os agentes de controle microbiano de grande importância destaca-se a bactéria Bacillus thuringiensis. Produtos a base desta bactéria representam cerca de 90% do mercado de bioinseticidas. O objetivo deste trabalho foi selecionar e caracterizar as estirpes de B. thuringiensis, pertencentes ao Banco de germoplasma de Bacillus spp., mais tóxicas à P. xylostella. Observou-se que das 203 estirpes testadas, sete apresentaram alta toxicidade em relação ao padrão utilizado, B. thuringiensis subsp. kurstaki (HD-1) com mortalidade de 100%. Essas estirpes selecionadas apresentaram características semelhantes às dos padrões descritos para lepidópteros devido à composição de proteínas de 130 e 65 kda e presença de genes cry1 e cry2. 1 Engenheira Agrônoma, mestranda, UFMT - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 2 Eng. Químico Dr. - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 3 Bióloga, mestranda, UnB Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 4 Engenheira agrônoma, MSc, Assistente de Operações, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 5 Engenheiro Agrônomo Dr., Universidade Federal de Mato Grosso 6 Bióloga, PhD, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

4 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 5 Selection of strains of the Bacillus thuringiensis against the Diamondback Moth (Plutella xylostella) Abstract Plutella xylostella is the main pert of Brassicae due to its short cycle, which allows it to occur more than five generations a year and especially due to the serious economical damage caused on the culture. Among the microbial control agents the Bacillus thuringiensis bacteria stands out of others. Products based on this bacteria represent about 90% of the bioinsecticide market. The aim of this work was to select, characterize and field tests the most toxic B. thuringiensis strains from the germoplasm bank of Bacillus spp against P. xylostella. It was observed that seven out of the 203 strains tested showed high toxicity compared to the standard used, B. thurigiensis subsp. Kurstaki (HD-1) which showed 100% mortality. The selected strains showed features described for lepidoptera regarding the protein profile (130 and 65 kda) and features obtained through the PCR reactions, being possible to identify the presence of the cry1 and cry2 genes.

6 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 7 Introdução Dentre as várias pragas que atacam a cultura de brássicas, Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae), conhecida como traça das crucíferas destaca-se como a de maior importância, e isso se deve aos sérios danos causados por esse inseto à cultura, depreciando o produto, podendo ocasionar perda total nos campos de produção. Esses danos são causados devido à alimentação larval da traça que perfura e danifica as folhas reduzindo a área foliar e impedindo um bom desenvolvimento da planta (CASTELO BRANCO et al. 1999, FILGUEIRA 1987). Segundo MONNERAT (1995), diversos inseticidas têm sido utilizados intensivamente durante o ciclo da cultura, e em algumas áreas já foram detectadas até 16 aplicações por cultivo. Além dos problemas gerados à saúde do agricultor e ao meio ambiente, o uso excessivo desses produtos, tem proporcionado o aparecimento de populações resistentes dessa praga a diversos compostos químicos, como é o caso de inseticidas piretróides e fosforados observado por CASTELO BRANCO & GATEHOUSE, (1997); VASQUEZ, (1995). Diante dessa realidade o controle microbiano destaca-se como uma alternativa importante no controle de pragas da agricultura. Um agente entomopatogênico que tem sido muito estudado e utilizado é a bactéria Bacillus thuringiensis.tratase de uma bactéria de solo, podendo ser encontrada também em insetos mortos, na água e em algumas plantas. Produtos a base desta bactéria já são comercializados há mais de cinqüenta anos Esse bacilo produz um cristal protéico durante o processo de esporulação, que é composto por uma ou mais proteínas. Ao serem ingeridas essas proteínas se solubilizam em meio alcalino no intestino do inseto e são em seguida ativadas através da ação de proteases (HABIB & ANDRADE, 1998). O uso dessa bactéria tem sido muito eficiente e cada vez mais empregado para o controle de diversas ordens de insetos principalmente para os lepidópteros. Assim, neste trabalho, procedeu-se uma avaliação da toxicicidade, seleção e caracterização de estirpes de Bacillus thuringiensis pertencentes ao Banco de

8 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas Germoplasma de Bacillus, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia contra P. xylostella. Material e Métodos 1. Criação Massal da traça: As larvas utilizadas nos bioensaios foram provenientes da criação massal da traça-das-crucíferas mantida em condições controladas de temperatura, umidade e fotoperíodo no laboratório de criação de insetos no prédio de Controle Biológico da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. 2. Caracterização morfológica: As estirpes foram crescidas em Caldo Nutritivo em incubador rotativo por 48 horas a 200 rpm. Logo em seguida, foi realizada a observação e microscopia óptica em contraste de fases para a visualização de esporos, cristais e células vegetativas. 3. Bioensaio Seletivo: Foram avaliadas 203 estirpes pertencentes ao Banco de Bacillus entomopatogênicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Folhas de plântulas de repolho foram imersas durante 10 minutos em uma solução com cada bacilo crescido em caldo nutritivo durante 48 horas diluído a 10%, foi adicionado também espalhante adesivo Extravon (30mL/100 L de água) (Fig. 1). Em seguida estas foram colocadas para secar verticalmente usando um suporte apropriado e em temperatura ambiente (Fig. 2). Após a secagem completa aproximadamente por uma hora, cada folha foi colocada em uma placa de Petri (Fig. 4) com dez lagartas de terceiro instar (Fig. 3), sendo duas repetições para cada estirpe, um controle negativo sem a adição do bacilo e uma estirpe padrão Bacillus thuringiensis subsp. kurstaki (HD-1). Para a avaliação da mortalidade das larvas, foram realizadas duas leituras, uma no segundo dia com a troca da folha sem adição de bacilo e outra no quinto dia do bioensaio. 4. Caracterização Bioquímica e Molecular: As estirpes selecionadas através do bioensaio seletivo foram submetidas à caracterização bioquímica através de SDS- PAGE (Dodecil Sulfato de Sódio) e caracterização molecular por PCR (SILVA- WERNECK et al., 2001) para constatar a presença e/ou homologia da proteína e do gene que codifica para proteínas eficazes contra lepidópteros.

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 9 Fig.1. Imersão das folhas na solução Fig.2. Secagem das folhas Fig.3. Larva de terceiro instar Fig.4. Placas de Petri com as folhas inoculadas 4.1 Eletroforese de proteínas em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE 10%) 4.1.1 Extração do complexo esporo-cristal: As estirpes bacterianas foram cultivadas em meio NYSM por 72 horas em incubador rotativo a 28 C e 200 rpm e, em seguida, as proteínas foram extraídas de acordo com LECADET et al. (1991). Dessa cultura bacteriana foram transferidas 1.5 ml para tubos tipo Eppendorf de 2 ml, previamente autoclavado, e centrifugadas a 12.800 x g, em microcentrifuga Eppendorf, por 20 minutos. Os sobrenadantes foram descartados e os sedimentos lavados com 1.5 ml de NaCl 0.5 M por 20 minutos. O NaCl 0.5M foi descartado e secaram-se as paredes do tubo eppendorf com papel de filtro. Os sedimentos foram lavados por duas vezes com 1,5 ml de PMSF a 1mM e centrifugados a 12.800 x g por 20 minutos. Descartou-se o PMSF 1mM e os sedimentos foram ressuspendidos em 500ml de PMSF 1 mm e armazenados a -20 C.

10 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 4.1.2 Análise das proteínas Cry de B.thuringiensis em gel de Poliacrilamida-SDS (SDS-PAGE): O complexo esporo-cristal das estirpes foi analisado por eletroforese em gel de poliacrilamida-sds (dodecil sulfato de sódio) a 10% (SDS-PAGE), conforme procedimento descrito por LAEMMLI (1970) e SCHAGGER E VON JAGOW (1987). Alíquotas de 20µl das preparações de esporos-cristais foram diluídas em tampão de amostra de proteína 5X (1.5M Tris-HCl, ph 6,8, Glicerol, SDS, 2b-Mercaptoetanol, Azul de Bromofenol) fervidas a 100 C por 5 minutos e aplicadas em gel de poliacrilamida SDS- PAGE. Foram utilizados 8µl de marcador de proteína de alto e baixo peso molecular (Range Rainbow). A eletroforese foi realizada em aparelho Hoefer minive vertical eletroforesis system Amersham Pharmacia, contendo tampão de corrida 1X (Tris-base, glicina, SDS 10%), em voltagem constante de 150V, por aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Percorrido este tempo o gel foi corado em solução de corante Comassie blue (40% metanol, 25% de Comassie blue 250-R) por uma hora e descorado com solução contendo 40% de metanol e 10% de ácido acético em torno de duas horas até a visualização dos perfis protéicos das estirpes de Bacillus thuringiensis. 4.2 Identificação de genes cry por meio de PCR (Reação em cadeia de polimerase) 4.2.1 Extração do DNA das estirpes: A extração do DNA total das estirpes selecionadas foi realizada de acordo com a metodologia descrita por BRAVO et al. (1998). As estirpes foram cultivadas em meio Ágar nutritivo mantidas a 30 C durante 16 horas. Em tubos tipo Eppendorf foi adicionado 100 ml de Água MilliQ estéril e uma alçada do cultivo com a bactéria, em seguida a amostra foi homogeneizada em aparelho Vortex e mantida no freezer em temperatura 20 C por uma hora e logo após fervida por 10 minutos para lisar as células. Findado esse período o material foi centrifugado a 12.800 x g por 30 segundos, em microcentrífuga Eppendorf. O sobrenadante foi transferido para um outro eppendorf e preparou-se então a PCR. Na preparação do mix da PCR foi utilizado 245 µl de água estéril, 50µl tampão de PCR 10x, 20 µl de cada primer, 5 µl de Taq DNA polimerase e 10 µl de dntp total para 10 reações. Para a realização da PCRs 15 µl do sobrenadante (de cada estirpe) foi transferido para um novo tubo e adicionada 35 µl do Mix preparado anteriormente. Para a identificação de genes cry1 nos isolados foram usados os pares de primers gerais gral-cry1 (BRAVO et al., 1998), gral-cry2 para a identificação de genes

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 11 cry2 e gral-cry9 para identificação do gene cry9. A amplificação A foi processada em termociclador de DNA e as condições das PCRs foram as seguintes: 94 º C por um minuto de desnaturação, 52 º C por um minuto de anelamento, 72 º C por um minuto de extensão e uma extensão extra de 72 º C por cinco minutos num total de 30 ciclos. A amplificação foi processada em termociclador e as condições das PCRs com estes outros primers foram similares, exceto para gral-cry-9 onde a temperatura de anelamento foi de 51 º C. Uma alíquota de 24 µl de cada produto de PCR foi misturada com tampão de amostra 6X e aplicada em gel de agarose 2%. A corrida eletroforética foi processada em Tampão TBE 1X (Tris-base, Ácido bórico, EDTA 0,5M ph 8,0). Após a corrida, o gel foi corado com brometo de etídio diluído em água na concentração de 1mg/ml por 20 minutos, e descorado em água destilada por 15 minutos. O gel foi observado em transluminador sob luz UV e fotografado em fotodocumentador modelo Eagle Eye (Stratagene). Resultados e Discussão Tendo em vista que P.xylostella é bastante susceptível a B.thuringiensis foram selecionadas s apenas aquelas estirpes que apresentaram mortalidade de 100% para o procedimento de caracterização bioquímica e molecular das mesmas. Sete das 203 estirpes avaliadas, apresentaram alta toxicidade para a traça em relação ao padrão utilizado, Bacillus thuringiensis subsp. kurstaki (HD-1), com mortalidade de 100% conforme demonstrado na Tabela 1. Na determinação do peso molecular das proteínas totais, foi observado que as proteínas encontradas nas estirpes tóxicas apresentaram tamanho compatível com as toxinas já descritas efetivas para lepidópteros de 130, 65 kda (Figura 5). Resultados estes que corraboram com os já descritos por MONNERAT & BRAVO, 2000; HERRERO, 2002) confirmando a ação destas proteínas para a traça-das-crucíferas.

12 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas Tabela 1. Procedência, perfil protéico e comparação gênica das estirpes de Bacillus thuringiensis que causaram 100% de mortalidade em larvas de P.xylosttella. Estirpe Procedência Perfil Proteico (kda) Genes HD-1 RS 130 e 65 cry1, cry2 S390 PA 45 e 65 cry2 S764 SC 130,65 cry1, cry2 811 SC 130,65 cry1, cry2 S845 BA 130 cry1, cry2 S1265 SP 130,65 cry1, cry2 S1269 SP 130, 65 cry1, cry2 S1905 130,65 cry1, cry2 Kda 250 160 130 105 75 50 35 30 25 15 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fig.5. SDS-PAGE 10% do complexo esporo-cristal das estirpes de B. thuringiensis 1: Marcador Full Range Rainbow Protein molecular weight; 2:HD-1, 3:S390, 4:S764, 5:S811, 6:S845, 7:S1265, 8:S1269, 9:S1905. A análise molecular com utilização dos primers cry1 geral gerou produtos de PCR com fragmento de tamanho esperado para todas as estirpes com exceção da estirpe S390 (Figura 6), indicando a presença dos genes cry1.

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 13 O produto obtido da PCR onde utilizou-se o primer geral para cry2 confirmou a presença do gene, através do fragmento de 526 pb confirmando ainda sua presença no padrão HD-1 (Figura 7). De acordo com o trabalho de CARDENÁS et al., 2001 a presença desse gene nos isolados é importante, pois ele codifica proteínas tóxicas para lepidópteros e dípteros conforme já observado também por MONNERAT et al. (1999). A PCR com os primers para a identificação de genes cry9 não produziu fragmentos de tamanho esperado indicando que as estirpes não possuem esse gene. A não identificação do gene cry9 nas estirpes avaliadas concorda com os resultados de BRAVO et al., (1998) que cita a pouca freqüência da presença desse gene nas estirpes apenas 2,50%, porém difere dos resultados obtidos por PINTO & FIÚZA, (2003) em que os autores verificaram a distribuição de genes cry de estirpes isoladas de solos do Estado do Rio Grande do Sul obtendo uma alta frequência de genes cry9 de 47,82%. Os autores sugerem que essas diferenças podem estar associadas a fatores abióticos, como características físico-químicas do solo dentre outros fatores que foram avaliados na pesquisa. pb 600 300 100 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Fig.6. Produtos de PCR obtidos com primers específicos para genes tipo cry1, através da utilização dos primers cry1 geral e DNA das estirpes 1: Marcador de massa molecular, 100bp DNA Ladder (Pharmacia), 2:Controle, 3:HD-1, 4:S764, 5:S811, 6:S845, 7:S1265, 8:S1269, 9:1905.

14 Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas pb 600 300 100 1 2 3 4 5.. 6 7 8 9 10 Fig.7. Produtos de PCR obtidos com primers específicos para genes tipo cry2, através da utilização dos primers Cry2(d)/ Cry2(r) e DNA das estirpes 1-Marcador de massa molecular, 100bp DNA Ladder (Pharmacia), 2-Controle negativo, 3:HD-1, 4:S390, 5:S764, 6:S811,: 7:S845, 8:S1265, 9:S1269, 10:1905. Conclusão Através das técnicas utilizadas de caracterização de Bacillus thuringiensis, foi possível constatar o potencial inseticida das estirpes selecionadas à P.xylostella. Estas bactérias poderão, ser utilizadas futuramente em programas biotecnológicos, para a produção de bioinseticidas, e devido a presença de genes diferentes poderão ser incluídas em estudos relacionados ao manejo de resistência da praga a inseticidas ou mesmo na produção de plantas geneticamente modificadas. Referencias Bibliográficas BRAVO, A., et al. Characterization of cry Genes in a Mexican Bacillus thuringiensis Strain Collection. Appl. Environ. Microbiol. V.64, n. 12, p. 4965-4972, 1998. CÁRDENAS, M. I. et al. Selección de toxinas Cry contra Trichoplusia ni. Ciencia Uanl v. IV, n. 1 p. 51-62, Valéncia, enero/marzo, 2001.

Seleção de Estirpes de Bacillus thuringiensis Tóxicas a Traça- das -Crucíferas 15 CASTELO BRANCO, M.; GATEHOUSE, A.G. Insecticide resistance in Plutella xylostella (L.) (Lepidóptera: Yponomeutidae) in the Federal District, Brazil. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, v. 26, n.1 p. 75-79, 1997. CASTELO BRANCO, M. Avaliação da eficiência de formulações de Bacillus thuringiensis para o controle de traça-das-crucíferas em repolho no Distrito Federal. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p. 237-240, novembro 1999. FILGUEIRA, F.A.R. ABC da olericultura: guia da pequena lavoura. São Paulo: Agronômica Ceres. 1987. HABIB M.E.M & ANDRADE C.F.S. Bactérias Entomopattogênicas. In: Controle Microbiano de Insetos ed. por Sérgio Batista Alves. 2 ed. Piracicaba: FEALQ, 1998 1163p. HERRERO, S. S. Los receptores de las toxinas Cry de Bacillus thuringiensis y sus implicaciones en el desarrollo de resistencia. Tesis Doctoral Universitat Universidad de Valencia Enero 2002. LAEMMLI, U.K. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of bacteriophage T4. Nature, London, v. 227, p. 680-685, 1970. LECADET, M.M.; CHAUFAUX, J.; RIBIER, J.E.; LERECLUS, D. Construction of novel Bacillus thuringiensis strains with different insecticidal activities by transduction ande transformation. Appl. Environ. Microbiol., v. 58, p. 840-849, 1991. MONNERAT, R. G..,. Interrelations entre la teigne des crucuferes, Plutella xylostella, son parasitoide Diadegma sp. et la bacterie entomopathogene Bacillus thuringiensis Berliner. These de doctorat en Sciences Agronomiques. Ecole Nationale Superieure Agronimique de Montpellier, 160 p. 1995 MONNERAT R.S et al. Differential Activity and Activation of Bacillus thuringiensis Insecticidal proteins in Diamondback Moth, Plutella xylostella. Current Microbiology, New York. v 39, n 3 p. 159-162, 1999.

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