ASSOCIAÇÃO DE AGENTES FITOTERÁPICOS EM DENTIFRÍCIOS PHYTOTHERAPIC AGENTS ASSOCIATE IN DENTIFRICES



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REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) ASSOCIAÇÃO DE AGENTES FITOTERÁPICOS EM DENTIFRÍCIOS PHYTOTHERAPIC AGENTS ASSOCIATE IN DENTIFRICES Amanda Helena DINGUESLESKI 1 Gessica Vanessa THOMAS 1 *Andrea Malluf Dabul de MELLO 2 Fabiano Augusto Sfier de MELLO 2 RESUMO Os dentifrícios possuem diversos componentes, dentre eles destacam-se os antimicrobianos, pois auxiliam no controle do biofilme dental para prevenção de patologias bucais. Os antimicrobianos presentes nos dentifrícios devem agir principalmente nas bactérias causadoras da cárie e doenças periodontais, porém não devem causar grandes efeitos adversos. As plantas medicinais surgem na odontologia para diminuir tais efeitos, além de tornar os cremes dentais mais acessíveis, por terem baixo custo. Conclui-se, com base na revista da literatura, que cada elemento presente nos dentifrícios é de extrema importância para a manutenção da saúde bucal e que os agentes fitoterápicos podem auxiliar no combate a patologias bucais e sistêmicas. PALAVRAS-CHAVE: Dentifrícios; Fitoterápicos; biofilme ABSTRACT The toothpastes contain several components, among them include antimicrobials, for help in the control of dental biofilm for prevention of oral diseases. Antimicrobials present in toothpastes should act mainly on caries-causing bacteria and periodontal disease, but should not cause major adverse effects. Medicinal plants emerge in dentistry to reduce such effects, in addition to making the toothpastes more accessible because they are cheaper. Several researches seek scientific evidence for increased use of herbal agents in combating oral diseases. It is concluded that each element present in toothpastes is of extreme importance to the maintenance of oral health and herbal agents can assist in combating oral pathologies. KEYWORDS: Dentifrices; Phytotherapy; Biofilm 1 Professor do Programa de Pós Graduação em Odontologia da Universidade de Santo Amaro SP 2 Professor do Curso de Odontologia da Faculdade Herrero Curitiba PR * Email para correspondência: coordenadorodontologia@herrero.com.br

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) 12 1. INTRODUÇÃO A higiene bucal está relacionada a medidas preventivas de doenças nos tecidos dentais e periodontais, os dentifrícios são utilizados com o objetivo de prevenir e melhorar a saúde bucal (CURY, 1987), diversas substâncias são adicionadas para potencializar sua ação. Polimento e limpeza dental, hálito agradável, inibição da desmineralização do esmalte dentário, diminuição de sensibilidade e atividade antimicrobiana são alguns benefícios proporcionados pelo uso de dentifrícios (BORGHI, MOIMAZ, SALIBA; 2005). A falta de higiene bucal, aliada a outros fatores, resulta em formação do biofilme (colônia de micro-organismos responsáveis pelo aparecimento de afecções bucais, sobretudo cárie e doenças periodontais). Para auxiliar no combate do mesmo, substâncias antimicrobianas são inseridas nos cremes dentais (SOARES, et al 2006). A clorexidina, um dos componentes dos dentifrícios, atua no biofilme, eliminando diversos tipos de micro-organismos, porém, seu uso indevido pode gerar efeitos colaterais (TORRES, et al 2010). A procura por produtos naturais com atividade semelhante a substâncias sintéticas vem aumentando, o objetivo das pesquisas voltadas às plantas medicinais é encontrar substâncias com menos efeitos adversos e com menor custo (PINTO, et al 2013). Os produtos vegetais com poder antimicrobiano são de grande interesse na odontologia, pois, muitos deles, atuam no controle da cárie e doenças periodontais (OLIVEIRA, LORSCHEIDER, NOGUEIRA, 2008). Algumas plantas com ação antimicrobiana podem ser inseridas nos dentifrícios para diminuição do biofilme, prevenindo cárie, gengivite e periodontite (TORRES, et al 2010). Diversos produtos naturais, como óleo de copaíba, extrato hidro alcoólico, entre outros, mostraram-se efetivos frente à diminuição do biofilme (DRUMOND, et al 2004). Pesquisas apontam que a substância natural própolis possui atividade antibacteriana, antifúngica e antiviral, podendo prevenir cárie, candidose e periodontite (BORGHI, et al 2005), a mesma pode ser acrescentada a dentifrícios, vernizes e enxaguatórios (FOSQUIERA, et al 2008). Alguns componentes presentes em substâncias naturais auxiliam também na prevenção de doenças sistêmicas causadas por reações de oxidação. O objetivo do presente trabalho foi revelar a ação de cada componente dos dentifrícios e destacar a importância dos agentes fitoterápicos na prevenção, principalmente, de patologias bucais. 2. REVISÃO DE LITERATURA A má higiene bucal está associada ao desenvolvimento do biofilme, que se constitui em fator etiológico primário da cárie e doenças periodontais (ALVES, et al 2009). Substâncias antimicrobianas são utilizadas em associação com a escova para remoção das comunidades de micro-organismos presentes no biofilme, tais substâncias podem ser inseridas nos dentifrícios (SOARES, et al 2006). Os dentifrícios eram utilizados antigamente somente para retirar os restos de alimentos e proporcionar um hálito agradável, com o tempo, diversos componentes começaram a serem inseridos para auxiliar na prevenção de doenças dos tecidos do sistema mastigatório, proporcionar um hálito agradável e diminuir a sensibilidade (CURY, 1987). Os dentifrícios levam esses componentes até a cavidade bucal, neles são encontrados: abrasivos, umectantes, água,

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) 12 ligante, detergente, flavorizante, conservante, agentes preventivos e terapêuticos (MARTINS, et al 2012). Para prevenção da cárie e doenças periodontais são utilizados agentes antimicrobianos, sendo a clorexidina o agente mais potente (TORRES, et al 2010). O componente abrasivo é fundamental para a limpeza e polimento dos dentes, pois remove a placa bacteriana e manchas extrínsecas (GUSMÃO, et al 2003). Quando em excesso, porém, podem promover o desgaste dental (CURY, 1987), a maneira de escovação e o tipo de escova potencializam a lesão. Podem ser utilizados como abrasivos: carbonato de cálcio, sílica hidratada, pirofosfato de cálcio, dióxido de silício, óxido de magnésio, metafosfato de sódio insolúvel, óxido de alumínio, fosfato de cálcio dihidratado ou anidro, fosfato tricálcico, perlita e silicatos (MARTINS, et al 2012). O umectante é importante para evitar a desidratação, pois retém a umidade do dentifrício impedindo seu ressecamento. Glicerina, sorbitol e polietilenoglicol são exemplos de umectante. O aglutinante une os componentes sólidos e líquidos para manter a viscosidade adequada (MARTINS, et al 2012). O detergente promove a limpeza mecânica dos dentes, permitindo a penetração nos sulcos para retirada de resíduos. O mais comum é o laril sulfato de sódio (CURY, 1987). Os flavorizantes são inseridos para proporcionar um sabor agradável aos dentifrícios e bom hálito após a higienização. Os mais usados nas formulações são menta, eucalipto, hortelã e canela. Em grandes quantidades, os aromatizantes podem provocar gegivoestomatite, caracterizado pela queimação na mucosa oral (MARTINS, et al 2012). A grande quantidade de água na composição dos dentifrícios leva à proliferação de microorganismos, os conservantes, como formaldeídos, benzoatos e para-benzenos são acrescentados para eliminá-los (MARTINS, et al 2012). O flúor tem papel essencial nos dentifrícios, é considerado o melhor agente terapêutico no combate à carie e doença periodontal pois atua nas bactérias cariogênicas e periodontopatogênicas. Em relação à cárie, o uso contínuo dos dentifrícios fluoretados (em concentrações ideais) diminui a desmineralização do esmalte dentário e estimula a sua remineralização (MAGALHÃES, et al 2011). Podem ser encontrados na composição dos dentifrícios o fluoreto de sódio ou monofluorfosfato de sódio (GUSMÃO, et al 2003). Outros agentes preventivos estão presentes nos dentifrícios, como triclosan e clorexidina. O triclosan ajuda eliminar micro-organismos formadores do biofilme dental e causadores da gengivite. Apesar de antimicrobiano, o triclosan não desequilibra a microbiota bucal (MARTINS, et al 2012). A clorexidina age rompendo a membrana plasmática dos micro-organismos, por isso é considerada antimicrobiana. Controlar a placa bacteriana, diminuir o sangramento e inflamação gengival são suas vantagens (MAGALHÃES, et al 2011). Alguns componentes dos dentifrícios são incompatíveis com a clorexidina, por isso podem interferir na sua ação (MARTINS, et al 2012). Apesar de a clorexidina ser altamente eficaz no controle do biofilme, quando adicionada aos dentifrícios sua ação pode diminuir, pois os dentifrícios contêm detergentes, os quais não são compatíveis com essa substância. O uso de clorexidina em altas concentrações e por tempo prolongado pode provocar efeitos colaterais, como manchamento nos dentes (na película adquirida) e alterações na mucosa e paladar. Por isso, a necessidade da busca por substâncias com propriedades antimicrobianas eficazes e com menores efeitos colaterais (TORRES, et al 2010). Diversos agentes naturais obtidos por meio de vegetais possuem atividade contra os micróbios responsáveis pelas doenças bucais, as pesquisas sobre esses produtos vêm crescendo, visando novos produtos que sejam menos tóxicos, mais econômicos, biocompatíveis e terapêuticos (PINTO, et al

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) 13 2013). Os dentifrícios podem apresentar, ainda, dessensibilizantes (nitrato de potássio, cloreto de estrôncio, arginina, citrato de potássio, cloreto de sódio e hidróxido de cálcio) (TORRES, et al 2010). A sensibilidade sucede quando o tecido dentinário é exposto, ocorrendo assim contato do meio externo com o meio interno do dente (região que contêm terminações nervosas), por meio dos túbulos dentinários. Conforme a Teoria Hidrodinâmica, quando um estímulo é aplicado sob a dentina ocorre movimento do fluído tubular, ativando terminações nervosas originárias da polpa, provocando dor. A finalidade do agente dessensibilizante é diminuir a sensibilidade por meio da redução da movimentação hidrodinâmica ou por bloqueio da condução nervosa (SANTOS, SANTOS; 2013). Os cremes dentais podem conter, por fim, fitoterápicos, ou seja, medicamentos naturais à base de vegetais (PESSOTTI, PANNUTI, RAITZ; 2006). A fitoterapia no Brasil é uma prática legal (SANTOS, et al 2009), de todos os tipos de vegetais curativos existentes no mundo, 20% encontra-se no mesmo, por isso o grande interesse do país em comercializar e aproveitar os produtos naturais existentes para a cura de doenças. Na odontologia, as plantas medicinais vêm sendo cada vez mais utilizadas, pois além de econômicas, apresentam poucos efeitos colaterais (DRUMOND, et al 2004). Outra vantagem, segundo Oliveira (2008) é a efetividade antimicrobiana desses produtos. Antigamente as escovas eram feitas de plantas, determinados estudos mostraram que algumas delas têm ação contra as bactérias responsáveis pela formação da cárie. O uso de escovas feitas por plantas ainda existe em alguns países, um exemplo de espécie utilizada é a Junglandaceaeregio, a mesma é capaz de bloquear o crescimento, a adesão e a metabolização dos ácidos pelo S. Mutans. A adição de plantas medicinais nos dentifrícios é ainda recente, porém são bem aceitas pelos usuários. A odontologia também busca por produtos menos tóxicos e mais biocompatíveis, propriedades que podem ser encontradas nas plantas medicinas (CASTILHO, MURATA, PARDI; 2007). Há anos o óleo de copaíba vem sendo utilizado como fármaco, em relação à odontologia alguns estudos mostram sua efetividade no combate ao S. Mutans. Segundo pesquisas, a hortelã graúda e o eucalipto possuem propriedades antibactericida, componentes que podem ser encontrados nos dentifrícios. Uma pesquisa mostrou que o extrato hidroalcoólico da casca de romã obteve a mesma eficácia da clorexidina frente à inibição da placa supragengival, o mesmo estudo concluiu que o extrato hidroalcoólico também inibe o crescimento de algumas bactérias presente no biofilme dental, dentre elas o S. Mutans (DRUMOND, et al 2004). Algumas pesquisas revelaram que a casca da Romã possui propriedades antissépticas e adstringentes sendo utilizadas em problemas respiratórios, dores de garganta e inflamações bucais. Segundo os estudos, a casca de Romã apresentou atividade antimicrobiana, impedindo a adesão de microrganismos no aparelho ortodôntico. Mostrou-se muito ativa sobre a placa bacteriana, reduzindo também a gengivite. A atividade antimicrobiana, porém, mostra-se mais eficaz quando associa-se a casca de Romã com a clorexidina. (CATÃO, 2014). A Salvia possui propriedade desinfetante na cavidade bucal, muito eficiente no tratamento da gengivite e periodontite. No Japão o Quitosano (polissacarídeo aminado encontrado no exoesqueleto dos artrópodes) é incorporado aos dentifrícios para diminuição do biofilme dental, por ser antimicrobiano (TORRES, et al 2010). Uma avaliação in vitro realizada Pinto, et al (2013), analisou 6 tipos de dentifrícios fitoterápicos presentes no mercado, todos eles exibiram halo de inibição de crescimento microbiano, ou seja, os 6 tipos analisados possuíam atividade antimicrobiana.

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) 14 Um produto natural muito utilizado na prevenção e tratamento de várias doenças é a Própolis. A Própolis é uma substância resinosa, a qual é retirada das plantas pelas abelhas, sua composição varia de acordo com a região de onde é extraída. Diversos estudos mostraram que essa substância possui uma série de benefícios, entre eles destaca-se a propriedade antimicrobiana (antiviral, antifúngico e bactericida). A Própolis pode ser adicionada aos dentifrícios, enxaguatórios e vaselina (FOSQUIERA, et al 2008). Segundo Torres et al (2010), a Própolis age no controle do biofilme, pois inibe a enzima responsável pela formação da placa. Vários estudos também mostram sua eficácia contra Cândida Albicans, fungo responsável pelo desenvolvimento da candidose, contra S. Mutans, bactéria desencadeadora da cárie, e Actinomycessp, bactéria presente na periodontite. Também foi observado seu efeito cicatrizante devido à capacidade de regeneração do tecido conjuntivo, por isso pode ser efetivo para lesões na mucosa, como aftas (BORGHI, MOIMAZ, SALIBA; 2005). Um estudo microbiológico comparou dois dentifrícios, um com própolis e outro sem, o dentifrício que apresentava própolis mostrouse mais eficaz no controle de micro-organismos, e consequentemente prevenção das patologias bucais (SÁ, 2008). Outras pesquisas indicaram a efetividade da própolis como dessensibilizante, devido sua capacidade de selar os túbulos dentinários (BORGHI, MOIMAZ, SALIBA; 2005). A própolis possui também capacidade imunomoduladora devido aos altos níveis de fenólicos encontrados em sua composição, melhorando a imunidade inata através de sinais reguladores da expressão dos receptores e citosinas pró-inflamatórias, contribuindo para liberação de linfócitos e reconhecimento de micro-organismos. Atua também como antioxidante inibindo a enzima responsável pela formação de oxigênio e impede a troca de íons que darão origem a radicais livres envolvidos no processo de oxidação (SOARES; 2014). A ação dos radicais livres promove reações de oxidação, as quais, segundo diversos estudos, podem desencadear doenças, como câncer, diabetes, artrite, etc. Essas reações podem ser evitadas por condições favoráveis ambientais ou por meio da utilização de substâncias antioxidantes. Os antioxidantes impedem a formação ou propagação de radicais livres doando um hidrogênio, para que a molécula alvo fique estável e, assim, não ocorra a oxidação. Antes da década de 80 substâncias sintéticas eram bastante usadas para prevenção da oxidação de alimentos industrializados, porém, logo foi descoberto que as mesmas causavam, quando em altas doses, efeitos negativos no organismo. A partir de então, começaram as buscas por antioxidantes naturais, visando diminuir tais efeitos. Alguns compostos presentes nos vegetais apresentam grande atividade antioxidante, dentre eles destacam-se os fenólicos. Pesquisas mostram que a ingestão de alimentos ricos em fenólicos pode estar relacionado com a diminuição de desenvolvimento e mortalidade por câncer (ACHKAR, et al 2013). Outros exemplos de componentes naturais em estudo que mostraram-se eficazes no combate a micro-organismos responsáveis pela cárie ou doença periodontal, que poderiam ser adicionados aos dentifrícios são: Malaleuca, semente de Perilla, Garcinia Manii, Magnolia, Streblus Asper, Hamamelis, Arnica, Calêndula, Óleos essenciais, etc. O número de plantas medicinais com atividade contra os micróbios presente na cavidade bucal é grande, alguns deles já são utilizados nos dentifrícios. A Macleya cordata e a Prunella vulgaris são exemplos de produtos naturais que já são inseridos em alguns dentifrícios do mercado internacional, pois foi comprovado que ambos diminuem a gengivite (CASTILHO, MURATA, PARDI; 2007).

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN 1984-8153) 15 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com a revisão de literatura, as substâncias inseridas nos dentifrícios auxiliam na manutenção da saúde bucal. A vantagem das substâncias naturais sobre os sintéticos são: diminuição dos efeitos colaterais e baixo custo. As pesquisas indicam que a associação dos agentes fitoterápicos aos dentifrícios resulta em uma potencialização do efeito antimicrobiano. Alguns compostos oriundos de produtos naturais, além de ações locais podem ajudar na prevenção de doenças sistêmicas. Para que as plantas medicinais sejam mais utilizadas na odontologia são necessárias mais evidências científicas quanto a prevenção de patologia bucais. 4. REFERÊNCIAS ACHKAR, M. T.; NOVAES, G. M.; SILVA, M.J.D. et al. Propriedade antioxidante de compostos fenólicos: importância na dieta e na conservação de alimentos. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 11, n. 2, p. 398-406, ago./dez. 2013. ALVES, P. M.; QUEIROZ, L.M.G; PEREIRA, J. V. et al. Atividade antimicrobiana, antiaderente e antifúngica in vitro de plantas medicinais brasileiras sobre microrganismos do biofilme dental e cepas do gênero Cândida. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2009; 42(2); 222-224. BORGHI, W.M.M.C.; MOIMAZ, S.A.S.; SALIBA, N.A. Métodos alternativos para higienização bucal e terapêutica odontológica. Ver.Inst.Ciênc. Saúde. 2005; 23(4); 309-14. CASTILHO, A.R.; MURATA, R.M.; PARDI, V. Produtos naturais em odontologia. Revista saúde-ung. 2007; 1(1);11-9. CATÃO, M.H.C.V; DA SILVA, M.S.P.; DA SILVA, A.D.L et al. Estudos Clínicos com Plantas Medicinais no Tratamento de Afecções Bucais: Uma Revisão de Literatura. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, 2014: 14(4). CURY, J. Dentifrícios como escolher e como indicar: 1987.Quintessence, 18, 1. DRUMOND, M.R.S.; CASTRO, R.D.; ALMEIDA, R.V.D. et al. Estudo Comparativo in vitro da Atividade Antibacteriana de Produtos Fitoterápicos Sobre Bactérias Cariogênicas. Pesq.Bras.Odontoped.Clin. Integr. João Pessoa: 2004; 4(1), 33-8. FOSQUIERA, E.C.; STEFFENS, J.P.; REINKE, S.M.G. et al. Efeito da própolis no crescimento in vitro de microrganismos associados à periodontite em pacientes hiv-positivo. R. Periodontia. 2008; 18(3); 77-82. GUSMÃO, E.S.; MELO, J.A.S.; RAMOS, C.G. et al. Aplicabilidade clínica dos dentifrícios. International journal of dentistry. Recife, 2003; 2(2); 231-235. MAGALHÃES, A.C.; MORON, B.M.; COMAR, L.P. et al. Uso racional dos dentifrícios. RGO: Revista Gaúcha de Odontologia: 2011; 59(4). MARTINS, R.S.; MACÊDO, J.B.; MUSTAFA, W.F. et al. Composição, princípios ativos e indicações clínicas dos dentifrícios: uma revisão da literatura entre 1989 e 2011. J Health Sci Inst. Fortaleza, 2012; 30(3); 287-91. OLIVEIRA, S.M.M.; LORSCHEIDER, J.A.; NOGUEIRA, M.A. Avaliação da Ação In Vitro de Gel Dentifrício Contendo Óleos Essenciais sobre Bactérias Cariogênicas. Latin American Journal of Pharmacy. 2008;27 (2); 206.

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