interação forte (no interior dos núcleos) não depende das massas nem das cargas elétricas

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Transcrição:

Vitor Oguri

prótons e nêutrons - mesmo spin ( J = ½ ) interação forte (no interior dos núcleos) não depende das massas nem das cargas elétricas prótons e nêutrons, genericamente conhecidos como núcleons, só revelados pelas interações eletromagnéticas (sensíveis à carga elétrica) ou pelas interações fracas (decaimento do nêutron) interações no interior do núcleo são denominadas interações fortes residuais ou nucleares têm a mesma intensidade para qualquer par de núcleons, próton-próton, próton-nêutron ou nêutron-nêutron

Heisenberg (1932) : ambos constituem auto estados degenerados do hamiltoniano que descreve essas interações fortes auto estados de uma grandeza análoga ao spin ½ do elétron ou do isospin (I) ½ núcleon: dubleto de auto estados simultâneos de I 2 e I 3

conservado nas interações fortes interações fortes não distinguem membros do dubleto não conservado nas interações eletromagnéticas e fracas

interações fracas e eletromagnéticas não exibem a simetria de isospin baixas energias: as interações fracas são bem menos intensas (0.001%) do que as interações eletromagnéticas, e essas, por sua vez, bem menos intensas (1%) do que as interações fortes simetria aproximada hádrons: as partículas sujeitas às interações fortes residuais - bárions: spin semi-inteiro - mésons: spin inteiro

Píons (p +, p -, p 0 ) : Isospin I =1 - emulsões nucleares (raios cósmicos - Lattes et al. 1947)

káons (K +, K 0 ) e lambda (L 0 ) p - + p -> L 0 + K 0 + (forte - 10-23 s) - produção decaimentos fracos (10-10 s) L 0 -> p + p - (fraco) K 0 -> p + + p - (fraco) - câmara de bolhas (Glaser Berkeley 1952) - Cosmotron 2.2 GeV (BNL 1953) ressonâncias: delta (D +, D -, D 0 ) e rho (r +, r -, r 0 ) - Bevatron 6.5 GeV (Berkeley 1954)

Gell-Mann, Nakano e Nishijima (1953) S= +1 (káons) S= 0 (núcleons, píons) S= -1 (lambdas, sigmas) S= -2 (xi)

Q = I 3 + (B+S)/2 = I 3 + Y/2 Q (carga) B (n o bariônico) - número quântico aditivo - lei de conservação universal: número de bárions menos o número de antibárions permanece constante - estabilidade do próton Y = B+ S (hipercarga)

{a,b,c,.., e,...} e operação (.) grupo das rotações próprias matrizes ortogonais (det =1) representações matriciais

representação unitária (det =1) do grupo das rotações q a - parâmetros G a - geradores regras de comutação spin ½ ou matrizes de Pauli geradores da representação unitária fundamental de SU(2)

j 1 : 1/2, +1/2> 1 e 1/2, -1/2> 1 j 2 : 1/2, +1/2> 2 e 1/2, -1/2> 2

Autoestados simultâneos de S 2 e S z são os estados básicos da representação fundamental do grupo SU(2), a partir dos quais todos os outros estados, associados a representações de ordens superiores, podem ser construídos

I=1 (píon) I= ½ (núcleon)

reciprocamente

Supondo que o estado de isospin 3/2 seja uma ressonância (D) que domine as reações Bruckner sugeriu que as respectivas taxas de produção seriam proporcionais a <p + p p + p> 2 = 1 <p 0 n p - n> 2 = 2/9 <p - p p - p> 2 = 1/9 9:2:1 compatível com resultados de Fermi

Sakata (1956) SU(3) (p, n, L 0 ) e ( p, n, L 0 ) - tripletos fundamentais mésons (1 partícula + 1 antipartícula) bárions (2 partículas+ 1antipartícula) ou (1 partícula + 2antipartículas)

bárions mésons h (547.8 MeV) - descoberto apenas em 1961

W - (1672 MeV) - descoberto apenas em 1964

estados fundamentais: tripleto de quarks (u, d, s) de spin ½ 8 parâmetros : {a k k =1,2,... 8}

8 geradores: {l k k =1,2,... 8}

L

compondo os autoestados compondo os estados de spin J uu = 1 com os auto estados de spin s d = ½ do quark d, os auto estados correspondentes ao spin J p = ½ do próton serão dados por

(m Jp = ½) (m Jn = ½) (m Jn = ½) q u = - 2q d

bárion mais leve do decupleto em um autoestado de m J = 3/2 simétrico em sabor e troca de dois quarks novo grau de liberdade para os quarks (Greenberg - 1964) interações fortes não distinguem sabores de quarks, resultam de uma nova propriedade dos quarks, a cor (Han e Nambu - 1965)

decupleto dos bárions corresponderia aos seguintes 10 estados simétricos com relação ao sabor multiplicados pelos 10 estados simétricos análogos de spin

produto de estados antissimétricos de spin e sabor incorporando um quark u (m=+ ½ ) -> simétrica (primeiro quark u com o quark d) totalmente simétrica (sabor e spin) estado normalizado m= + ½ >

depende do número de quarks

PDG 2012

quarks: red (r), green (g) e blue (b) antiquarks: r g b hádrons não têm a propriedade de cor singletos associados ao grupo SU(3) c bárions (antissimétrico) mésons (simétrico)

com a descoberta novas ressonâncias e argumentos teóricos associados aos decaimentos por interações fracas, novos quarks foram introduzidos, os chamados sabores pesados, como o quark charm (c) e os quarks bottom (b) e top (t), com massas da ordem de m c 1GeV, m b 5GeV e m t 172 GeV com esses novos quarks, em analogia com a estranheza (S), atribuída ao quark s, foram introduzidos e atribuídos os números quânticos aditivos ao quark charm (c =+1), ao quark bottom (b=-1) e ao quark top (t =+1) esses números se conservam nas interações fortes e eletromagnéticas, mas não nas interações fracas, as quais permitem a mudança de sabor Y = B + S + c + b + t (hipercarga de um quark)

quarks interagem fortemente devido a cor - QCD (Cromodinâmica Quântica) grupo SU(3) c 8 geradores: {l k k =1,2,... 8} (matrizes de Gell-Mann) 8 parâmetros : {a k k =1,2,... 8} (cargas fortes) g s : constante de acoplamento forte

reações fortes resultam da interação de um octeto de cor - glúons, resultante da composição cor-anticor (3 3 = 8 1) com tripleto de cor quarks

Quarks como sendo as partículas envolvidas diretamente nas interações fortes foram postulados por Murray Gell-Mann e G. Zweig, nos anos de 1960, segundo argumentos de simetria, como os elementos constituintes dos hádrons. Do ponto de vista dinâmico, os quarks como constituintes dos hádrons começaram a emergir dos trabalhos experimentais de R. Hofstadter, nos anos de 1950, no centro de aceleradores de elétrons da Universidade de Stanford, no qual estabeleceu a subestrutura do próton. Finalmente, foram estabelecidos ao final dos anos de 1960, com os experimentos de espalhamento profundamente inelástico de elétrons por prótons, também em Stanford (SLAC), liderados por J.I. Friedman (MIT), H.W. Kendall (MIT) e R.E. Taylor do SLAC, e com os trabalhos teóricos (modelo a partons) de J. D. Bjorken e R. Feynman.

As interações fundamentais da natureza se manifestam em colisões de partículas em altas energias. Os aceleradores de partículas proporcionam que essas interações ocorram, continuamente, em uma pequena região do espaço (vértice da colisão). A partir desses vértices outras partículas secundárias são criadas (eventos), e se afastam em todas as direções, em um amplo intervalo de energia.

Identificação de partículas (elétrons, múons, neutrinos, quarks, bósons mediadores,hádrons) Determinação de atributos intrínsecos (carga, massa, momento magnético, spin, tempo de vida, branching ratios) Medição de parâmetros associados aos fenômenos envolvidos (seção de choque, constantes de acoplamento)

Determinação de posições, de trajetórias, de velocidades e tempos de vôo Distribuições de grandezas geométricas (ângulos polar e azimutal, pseudo-rapidity) e cinemáticas (momentum, energia)

Sistemas complexos de detecção, organizados em subsistemas, os quais são compostos por vários tipos de detectores Experimentos com grande número de colaboradores (empreendimento coletivo) Grandes laboratórios internacionais (aceleradores)

Nos anos de 1960, os experimentos em Física de Partículas iniciam a transição das câmaras de bolhas para sistemas de detecção baseados em circuitos eletrônicos. Nos anos de 1970, com os experimentos em grandes aceleradores, e a necessidade de melhor identificação de partículas, os calorímetros e as grandes câmaras de fio tornam-se os componentes centrais dos experimentos em Altas Energias. A partir dos anos de 1990, câmaras de fio e cintiladores, desenvolvidos nos anos de 1950 na espectroscopia nuclear, são adaptados aos novos detectores, ou substituídos por semicondutores.