Apontamentos Sobre Três Anos da Revista Peabiru - Uma Revista Colaborativa Sobre A Cultura Latino-Americana 1



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Transcrição:

Apontamentos Sobre Três Anos da Revista Peabiru - Uma Revista Colaborativa Sobre A Cultura Latino-Americana 1 Rafael MAIER 2 Vicente GIARDINA 3 Anita DELVALLE 4 Michelle DACAS 5 Renan XAVIER 6 Débora COTA 7 Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), Foz do Iguaçu, PR Resumo O desenvolvimento deste projeto de extensão, uma revista online periódica, vem ao encontro da necessidade se fazer circular a diversidade de dialogias existentes na UNILA (e região de fronteira) sobre a América Latina, por meio de uma mídia construído pela comunidade civil e acadêmica. Tal mediação ocorre por meio de uma linguagem acessível ao público, que mescla fotos, textos e ilustrações. A proposta é ser um espaço de comunicação contemplado pela inserção de diferentes dialogias, estruturado a partir de conteúdos produzidos sob perspectiva cultural. A Revista atua a partir dos princípios da colaboratividade, criação em rede e diversidade temática. O projeto é desenvolvido por docentes, técnico-administrativos da área de Comunicação Social, e acadêmicos, bolsistas e voluntários, da UNILA. Palavras-chave: Cultura, América Latina, Comunicação, Revista Peabiru. 1 Trabalho apresentado no GP Mídia, Culturas e Tecnologias Digitais na América Latina, XIV Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Bolsista do projeto de extensão Revista Peabiru, do 7º. semestre do Curso Letras, Artes e Mediação Cultural (UNILA), email: rafael.maier@unila.edu.br. 3 Bolsista do projeto de extensão Revista Peabiru, do 5º. semestre do Curso Cinema e Audiovisual (UNILA), email: vicente.orraiz@unila.edu.br. 4 Voluntária do projeto de extensão, acadêmica do 1º. semestre do Curso Desenvolvimento Rural e Seguridade Alimentar, email: ana.fernandez@unila.edu.br. 5 Relações públicas da UNILA, doutoranda em Comunicação (UFMG), com mestrado em Ciências Sociais (UFSM) e graduação em Comunicação Social Relações Públicas (UFSM), email: michele.dacas@unila.edu.br. 6 Jornalista da UNILA, com mestrado em Televisão Digital (UNESP) e graduação em Jornalismo (UFSC), email: renan.xavier@unila.edu.br. 7 Professora da UNILA. Doutora em Literatura (UFSC), com mestrado em Literatura (UFSC) e graduação em Letras Português/Espanhol (UFSC), email: debora.cota@unila.edu.br 1

Introdução Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação A Revista Peabiru é um veículo de mídia flexível que tem em seu eixo constituinte a interface entre a comunicação e a cultura. É um meio que evoca a instituição de uma abordagem prática de produção horizontal que converge temáticas diversas, com o auxílio das tecnologias e por meio do hibridismo de linguagem, elementos cada vez mais presentes e significativos das relações sociais contemporâneas. Em termos de difusão, a ambiência online, onde hospeda-se a revista, permite que a sua circulação seja em âmbito global, alcançando, com destaque, os demais países da América Latina, além do Brasil. Isto contribui para o princípio da instituição, que é promover, por intermédio do conhecimento e da cultura, a cooperação e o intercâmbio solidários com os demais países da América Latina (IMEA, 2009, p. 15). Importante apresentar a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, uma das três universidades temáticas criadas ao final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (assim como a UNILAB e UFFS), e talvez a mais emblemática em sua proposta, de reunir em seu corpo discente e docente, metade de acadêmicos e professores brasileiros e estrangeiros. A UNILA está situada em Foz do Iguaçu, no Paraná, na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, e formará suas primeiras turmas em agosto de 2014, quatro anos após o início. Projeto de extensão executado há três anos, a Revista Peabiru, em seu projeto conceitual, tem como objetivo geral a produção periódica de uma revista online para dialogar com a diversidade cultural latino-americana vivenciada pela comunidade universitária da UNILA, e também pela região da Fronteira Trinacional. Entre os objetivos específicos estão o de i) difundir iniciativas culturais do universo latino-americano vivenciado pela comunidade universitária e pela região Trinacional; ii) gerar conhecimento sobre a cultura latinoamericana, promovendo a missão de integração promovida pela UNILA; iii) estimular a criatividade da comunidade universitária, abrindo espaço à sugestão de pautas experimentação de linguagens e produção de reportagens, fotografias, textos autorais; e iv) promover conhecimento na comunidade universitária e regional acerca das ferramentas de comunicação e sobre o papel da comunicação na contemporaneidade latino-americana. 2

Base Conceitual Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação Os conceitos de cultura, comunicação colaborativa e direito à comunicação são as bases teóricas do projeto e se vinculam aos estudos culturais, cultura digital e economia política da comunicação. A ótica cultural foi escolhida para dar sustentação, pois esta perpassa todas as áreas do ensino e pesquisa da Universidade. A UNILA é estruturada como uma organização administrativa inovadora e com uma concepção acadêmico-científica aberta aos avanços científicos, humanísticos e culturais atuais e futuros (IMEA, 2009, p. 9). A cultura, como eixo estruturante, considera o que expõe Terry Eagleton (2011), em sua acepção política: buscando ultrapassar o tradicional entendimento da cultura em seus sentidos tradicionais antropológico e estético, ou seja, como modos de vida e/ou manifestações artísticas, Eagleton chama a atenção para a força que a cultura vem tendo na contemporaneidade, em especial da cultura enquanto força política. Mais do que se abrir à cultura e à sua diversidade é importante estar atento ao uso político que se faz da cultura, ao mesmo tempo entender que a cultura pode ser uma força política em atuação. Por outro lado, a interculturalidade decorrente do ambiente universitário da UNILA, lugar de fronteira no qual se encontra localizado a revista e o alcance de seus conteúdos que pretendem compreender a diversidade latino-americana, não ignoram o caráter híbrido desta cultura. Garcia Canclini (2006) observa a cultura latino-americana contemporânea expondo a riqueza presente nas contaminações e entrelaçamentos que compõem a diversidade de manifestações e seu desenvolvimento mediante os processos de modernização. Neste sentido, coloca em questão os rótulos e classificações tradicionais relativos à cultura latinoamericana. No que concerne à ideia de autêntico, puro, por exemplo, ressalta a hibridez da cultura de fronteira. Mais do que não se centrar em uma política editorial exclusivista de determinada cultura, a Peabiru direciona-se para a não reafirmação de rótulos e estigmas culturais que possam vir a colocar a cultura latino-americana em posições hierárquicas ou reafirmando essencialismos. Sendo assim, no que concerne à diversidade linguística da região, a revista procura abrir-se para produções nas várias línguas, resguardando o uso da tradução para as línguas de menor alcance na América Latina. Já o português e o espanhol são vistos como línguas de recorrente uso, e são utilizadas sem a tradução, procurando reforçar o ideal de bilinguismo a 3

ser criado no ambiente universitário da UNILA, bem como procurando estimular o conhecimento e uso destas línguas e de suas culturas pelos não nativos de um ou de outro idioma, contribuindo na eliminação também de preconceitos e fronteiras sociais. A Comunicação Social vem sendo afetada pelas inúmeras transformações observadas na sociedade pós-moderna, numa era líquida, como dita por Bauman, em sua obra Modernidade Líquida, na qual as relações humanas vêm sofrendo com as incertezas causadas pela falta de solidez dos processos globalizantes e modernizantes. O cenário contemporâneo midiático tem sido influenciado diretamente pelo desenvolvimento técnicocientífico. As distâncias são encurtadas e o alcance da informação chega às mais distantes partes do globo. A linha de atuação da Peabiru não pretende convertê-la em mídia massiva e, sim, em pósmassiva, conceito elaborado por André Lemos. Segundo o autor, as mídias massivas são mídias de informação, emitindo de um polo centralizado para a massa de receptores, ainda segundo Lemos, já as pós-massiva permitem a comunicação bidirecional através de um fluxo de informação em rede (LEMOS, 2007, p.10). A comunicação colaborativa, pode-se notar, vai muito além da permissão do simples acesso à informação. Também promove a participação das pessoas no processo de produção de conteúdo, gestão do fluxo de informações, além de promover a interação entre público e interlocutor. No âmbito internacional dos direitos humanos, em meio às discussões especialmente promovidas pela Unesco a partir do Relatório MacBride e da reflexão de Jean D'Arcy, a comunicação já é reconhecida como um direito humano de quarta geração (RAMOS, 2005, p. 245-254). Como Direito Humano pressupõe circulação de informação em dupla direção, intercâmbio livre e possibilidade de acesso e de participação aos meios de comunicação existentes por parte da sociedade. Os estudos e conceitos estabelecidos por Luís Ramiro Beltrán, que definiu teoria e práticas concernentes ao desenvolvimento e implantação de Políticas Nacionais de Comunicação no continente, representam, também, base conceitual para o projeto. Para ele, a luta pela democratização da comunicação, ou sua universalização, passa por três frentes: i) a modificação conceitual do termo comunicação (que requer diferenciação entre informação, que seria o repasse de dados, e comunicação, que seria o estabelecimento de 4

um diálogo), ii) o desenvolvimento de formatos alternativos para a prática de comunicação popular e iii) a criação e a implementação de políticas de comunicação, com definição de normativas, princípios e valores. Observando todos estes apontamentos, a Revista Peabiru se insere, experimentalmente, como um produto alternativo de comunicação, a partir de valores e princípios institucionais e humanistas. Uma mídia fundamentada na colaboratividade, no acesso a produto diferenciado e à participação na gestão e produção do meio por parte da comunidade. O projeto se justifica por conta de oferecer cinco benefícios principais, dispostos a seguir, que atingem diretamente a comunidade e a Universidade: i) Estímulo ao diálogo entre todos e à discussão sobre objetos específicos, permitindo a troca e o intercâmbio de informações; ii) Capacitação de alunos e membros da comunidade para a produção midiática; iii) Promoção de acesso e participação (elementos que permeiam o Direito à Comunicação); iv). Estabelecimento de discussões com comunidade e academia sobre comunicação; e v).veiculação social da missão da UNILA e valorização qualitativa da marca institucional. Métodos e técnicas utilizados Na primeira fase de desenvolvimento (entre 2011 e 2012), o projeto se consolidou e instrumentalizou sua equipe, além de ter criado uma plataforma online de exibição do conteúdo. Como dinâmica específica de produção, linguagens e abordagens foram experimentadas, resultando em cerca de 40 publicações disponibilizadas no blog da revista. Nos anos seguintes, a Peabiru definiu novas estratégias de produção, editoração e divulgação, e ampliou sua visibilidade e participação colaborativa. Foram incorporados elementos como índice, expediente, agrupamento de matérias e editorial, além de material para divulgação via mídias sociais e correio eletrônico. Até então foram sete edições publicadas primeiro como blog e depois como uma publicação no estilo revista impressa, via a plataforma digital ISSUU. O endereço da revista é http://issuu.com/peabirurevista. Ao mesmo tempo, foi desenvolvido o fomento ao conhecimento obtido com as práticas produtivas da revista, a partir de uma dinâmica acadêmico-reflexiva. Com redação de artigos acadêmicos, realização de oficinas e ampliação, em reuniões, do debate acerca das 5

produções e do rumo da publicação, inclusive o debate sobre a logomarca a ser utilizada definida em diferentes aplicações, entre elas o modelo que podemos ver abaixo: Fig. (01) Logotipo da revista na cor amarela Descrição do produto ou processo A plataforma online para visualização do material pode ser conferida, também, no endereço http://www.unila.edu.br/revistapeabiru, endereço oficial da publicação, interna à Universidade. Recentemente, esta plataforma foi redesenhada para conter informações mais precisas sobre o projeto e as edições anteriores da Revista. Anteriormente, em junho do ano passado, outro momento de destaque, quando a forma de exibição alterada, consolidando um formato. Esse, conta com capa, editorial e expediente. A publicação pode agora ser visualizada mais dinamicamente, ou seja, folheando-a, efetivando o formato de revista em suporte virtual. Tal formato conforma o aspecto de linguagem acessível ao leitor, como produto de estruturação estética clara e linguagem textual que se distancia de rebuscados científicos. Nesta nova edição do projeto de extensão (via apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UNILA), desde dezembro de 2013, a página, no site institucional, já foi visualizada 1385 vezes, com 3,3 minutos por vez (em média), equivalente a 4092 minutos e 68,2 horas de exposição da Peabiru. No ISSUU, desde janeiro de 2014 até o final de junho, já foram 1240 leituras, com média de 5 minutos e 33 segundos, 5335 folheamentos rápidos ou visualização de capa e 4 downloads. A maior parte das leituras é do Brasil (1014), seguido pela Argentina (115), Equador (27), Estados Unidos (19) e Paraguai (16). Até o momento, são 651 fãs no perfil da Revista do Facebook. Via redes sociais, dados dão conta da 6

visualização de cerca de 2 mil pessoas por capa, em relação a publicação de lançamento, compartilhamentos e publicações de matérias, na sequência. No primeiro semestre de projeto (de dezembro a junho de 2014), foram 40 conteúdos produzidos exclusivos (como matérias completas e entrevistas, ensaios fotográficos, ilustrações, contos e poemas para a Revista); um evento específico com jornalistas independentes que viajavam a América Latina; um varal, com versão impressa da Revista, exposto a cerca de 600 pessoas no prédio da UNILA, e no evento Miscelânea I, em Foz do Iguaçu. Além disso, foi realizada a apresentação do projeto para cerca de 350 alunos do cursinho Henfil (de São Paulo) durante visita técnica para conhecerem a UNILA, onde foram apresentados o processo de criação do projeto, sob as dialogias de mídia democrática e culturalidade, o vínculo ao projeto de integração da Universidade e o trabalho colaborativo para a produção da Revista. Nesta nova etapa do projeto, já foram produzidas 4 de 8 publicações propostas, que alcançaram excelência estética com o suporte da Secretaria de Comunicação Social da UNILA (SECOM). Fig. (02) Capa da Edição de Maio de 2014 da Revista Peabiru, disponível na plataforma ISSUU. 7

Estratégias de divulgação A divulgação é uma etapa importante do processo de produção e deverá ser sempre ampliada, comportando as mais diversas estratégias que puderem ser pensadas. Uma das estratégias é quanto à impressão do mateial e a exposição em varal, pensada para ocorrer em escolas da Região Trinacional, espaços acadêmicos da UNILA (no PTI e no Centro) e administrativos (como no prédio Almada e da Vila A). Uma das edições deste ano já foi exposta em uma exposição organizada por um coletivo com estudantes, na I Miscelânea, em março de 2014. Anteriormente, outra edição foi exposta na Feira do Livro de Foz do Iguaçu, em 2013. Fig. (03) Exposição do projeto durante a feira do Livro 2013 em Foz do Iguaçu A cada lançamento da Revista, a imagem do Mais UNILA, na parte baixa do site institucional, é alterada e exibida como primeira imagem do conjunto de abas existentes. Isto permite ampla exposição da imagem da Revista (e da capa da nova edição) a todos aqueles que visitam/acessam a página da UNILA. A imagem leva ao hotsite do projeto. De janeiro a final de maio de 2014, a página já foi acessada por 227 mil usuários diferentes, com visualização de 1,6 milhão de páginas nestes cinco meses, em 629 mil sessões (dados do Google Analytics). As edições anteriores também podem ser acessadas via o site institicional. 8

Fig. (04) A capa do site institucional da UNILA dá destaque à Revista Peabiru na semana de lançamento. Fig. (05) Edições anteriores da Revista que podem ser acessadas a partir das capas no site institucional da UNILA. De amplo alcance e penetração no âmbito latino-americano, o Facebook se apresenta como estratégia importante de divulgação das publicações e matérias da Revista. Entretanto, a 9

empresa desde o início de 2014 tenta gerar recursos financeiros a partir da divulgação, fazendo com que as postagens na rede de perfis individuais ou empresas tenham tido forte queda no alcance. O fenômeno tem sido enfrentado pela equipe que passa a mesma situação junto aos perfis institucionais. De todo modo, o alcance, em especial do lançamento da Revista, é bastante interessante e relevante. A postagem da capa de maio, no perfil da Revista, foi visualizada por mais de mil pessoas, sendo compartilhada 14 vezes (a partir da própria postagem), apenas três dias depois do lançamento. Não há dados ou informações sobre postagens de outros usuários que não compartilharam a partir do Perfil, mas esta dinâmica é comum. Compartilhamentos no Perfil oficial da UNILA, com mais de 16 mil seguidores, rendem bons resultados e alcançam parte da comunidade acadêmica, conectada. Fig. (06) Perfil Oficial da Revista e Fig. (07) Perfil Oficial da UNILA Outra estratégia de divulgação utilizada aconteceu junto às campanhas institucionais da Secretaria de Comunicação Social, divulgadas em rede social e na capa do site. Com base em um tema/objeto da UNILA, no caso a capivara, foi desenvolvida uma campanha específica, que remeteu à matéria publicada na Peabiru, fazendo convergir os conteúdos. A repercussão foi bastante positiva. 10

Fig. (08) Campanha com convergência de conteúdos Considerações Finais O projeto de extensão mantém-se bem neste terceiro ano de execução, tendo encontrado seu espaço junto à comunidade acadêmica e geral, como espaço de comunicação, troca de saberes, desenvolvimento de aptidões e criatividade, consolidando linguagem, linha editorial, formato e projeto gráfico, o que é essencial para reconhecimento externo. Trata-se de produto autóctone da própria comunidade, que vai construindo parcerias e se firmando. Como resultados do processo colaborativo, o projeto tem proporcionado, além de todos os indicadores expressos neste artigo, a) experiência de trabalho em conjunto dos acadêmicos e professores com a equipe técnica de servidores da SECOM; b) o fomento aos propósitos de debates sobre interculturalidade e integração na Universidade; c) a prática criativa no 11

desenvolvimento do projeto entre toda a equipe envolvida; d) a difusão da diversidade cultural latino-americana e os conceitos institucionais da UNILA com alcance local e internacional (via online). Referências bibliográficas BELTRÁN, L. R. Las PNC son hoy - en el mundo globalizado e internetizado - más necesarias que nunca. Entrevista concedida a Luiz Alberto Malta de Barros. Disponível em: <http://www.infoamerica.org/teoria/beltran1.htm>. Acesso em: 10 jul. 2014. BELTRÁN, L. R. Comunicación para el desarrollo em Latinoamerica - Una evaluación sucinta al cabo de cuarenta años. Discurso de inauguração da IV Mesa Redonda sobre Comunicação e Desenvolvimento organizada pelo Instituto para América Latina (IPAL) em Lima, Perú, entre os dias 23 e 26 de fevereiro de 1993. Disponível em: <http://www.bantaba.ehu.es/sociedad/scont/com/txts/beltran1/index>. Acesso em: 10 jul. 2014. EAGLETON, T. Cultura. Versões de cultura. In: A ideia de cultura. Trad. Sandra Castelo Branco. São Paulo: UNESP, 2005. GALINDO CÁCERES, J. Cibercultura, Ciberciudad, Cibersociedad - Hacia la Construcción de Mundos Posibles en Nuevas Metáforas Conceptuales. In: Razon y Palabra. n. 5. 1998b. GARCÍA CANCLINI, N. Culturas híbridas, poderes oblíquos. In: Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4ª ed. Trad. Heloíza Pezza Cintrão e Ana Regina Lessa. São Paulo: EDUSP, 2006. IMEA-Instituto de Estudos Avançados. A UNILA em construção: um projeto universitário para a América Latina. Foz do Iguaçu: Publicações IMEA, 2009. LEMOS, A. Ciberespaço e Tecnologias Móveis: processos de Territorialização e Desterritorialização na Cibercultura. In: Médola, Ana Silvia; Araújo, Denise; Bruno, Fernanda. (orgs), Imagem, Visibilidade e Cultura Midiática, Porto Alegre, Sulina, 2007. MELO, J. M.; SATHLER, L. (Orgs.). Direitos à Comunicação na sociedade da Informação. São Bernardo do Campo: Metodista, 2005. RAMOS, M. C. Às Margens da Estrada do Futuro Comunicações, políticas e tecnologia. Coleção FAC - Editorial Eletrônica, 2000. 12