PROJETO DE LEI Nº, de 2009 (Do Sr. Mendonça Prado) Dispõe sobre a criação de Varas Criminais para julgar e processar Crimes praticados contra a Infância e a Juventude. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º. Esta Lei prioriza o atendimento judicial disponibilizado às crianças e aos adolescentes, nos termos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispondo sobre a criação de uma Vara Criminal da Infância e da Juventude. Art. 2º. Para interpretação desta Lei, será considerada criança a pessoa que tem até 12 (doze) anos incompletos e adolescente a que se encontra na faixa etária dos 12 (doze) anos completos aos 18 (dezoito) anos incompletos. TÍTULO I DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE
Art. 3º. Para os efeitos desta Lei, serão considerados apenas os crimes praticados contra crianças e adolescentes cuja lei comine pena superior a 2 (dois) anos, excetuando-se, portanto aqueles acobertados pela Lei 9099/95. TÍTULO II DOS PROCEDIMENTOS Art. 4º. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas criminais decorrentes da prática de crimes com pena superior a dois anos praticados contra crianças e adolescentes, aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança e ao adolescente que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. TÍTULO III DA ESTRUTURA DA VARA CRIMINAL DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE Art. 5º. As Varas Criminais da Infância e da Juventude deverão conter uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais especializados nas áreas jurídica e psicossocial. Art. 6º. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhes forem reservadas, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados às crianças e aos adolescentes vitimizados e ainda ao agressor e familiares. Art. 7º. A VCIJ deverá ser assessorada pela equipe multidisciplinar a qual deverá providenciar um ambiente adequado à criança e ao adolescente, utilização de técnicas específicas para sua idade e maturidade psicológica e demais abordagens que promovam a elucidação
dos fatos de forma a preservar sua integridade física e psicológica. JUSTIFICATIVA Não obstante a louvável dedicação de promover-se a satisfação das necessidades prioritárias da sociedade, entende-se que nenhuma abordagem de cunho político ou social poderá solucionar o problema da violência nas cidades brasileiras de forma definitiva e imediata, porém acredita-se sim, na redução dos crimes e de seus efeitos através do comprometimento e da participação de cada cidadão em buscar soluções para a causa e sobretudo na transformação e na autodeterminação da ação governamental. Diante das inúmeras injustiças do nosso cotidiano, não se pode mais fechar os olhos para o sentimento de desamparo e medo perante a impunidade do crime e também ao descaso com que vem sendo tratada a questão da incessante violência, que brutaliza a sociedade em todas as suas dimensões. Crianças e adolescentes, indefesos e vulneráveis aos entraves que a vida traz, são as principais vítimas de agressões físicas, psicológicas e sexuais, circunstâncias consideradas extremamente sérias e às vezes irreversíveis (GABEL,1997, p.62). Já mostram as estatísticas que, se providências não forem tomadas, este ciclo vicioso continuará se repetindo e, pior, tornando essas mesmas vítimas em futuros agressores de crimes da mesma espécie, num interminável processo de violência desmedida (RIBEIRO, FERRIANI & REIS, 2004, p. 462). Atualmente são largamente discutidas nas comunidades, escolas, no meio acadêmico e até no parlamento, propostas inovadoras que possam aniquilar os malefícios gerados pela criminalidade assim como seu alastramento. Eis, então, a necessidade do poder judiciário também se adequar a essa nova realidade social, preparando sua estrutura e seus servidores para prestar um atendimento célere e técnico para, juntamente com os demais órgãos estatais, implementar uma política de atendimento voltada para uma proteção integral da criança e do adolescente.
A idéia central consiste não somente em levar os agressores a responder criminalmente pelos seus atos mas também em evitar que as vítimas fiquem desamparadas e sujeitas a novos constrangimentos. Tal concretização se dará mediante a busca de ações efetivas e preventivas destinadas a reduzir os prejuízos sócio-emocionais provocados pelos efeitos da criminalidade, em especial à população infanto-juvenil. Sob está ótica, apresenta-se aqui, um anteprojeto destinado à criação de Varas Criminais da Infância e da Juventude, face à nova perspectiva social, onde se desenvolvem ações gerais direcionadas ao fortalecimento da política de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, advindas com o Estatuto da Criança e do Adolescente e da Constituição Federal, a fim de que esta medida viabilize eficazmente o combate à violência e reduza sensivelmente os malefícios oriundos da morosidade com que são tratados os processos que envolvem a prática de crimes contra a população infanto-juvenil. Considerando que este anteprojeto refere-se à criação de uma vara criminal da infância e da juventude, é imprescindível a definição temporal dos termos criança e adolescente, os quais representam os termos infância e juventude, explorados na presente proposta. Ressalte-se, portanto, que o conceito de criança e adolescente a ser utilizado será o mesmo do artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que não considera o aspecto maturacional do indivíduo, definindo como criança a pessoa que tem até 12 (doze) anos incompletos e o adolescente o que se encontra na faixa etária dos 12 (doze) anos completos aos 18 (dezoito) anos incompletos. Amparado nos estudos doutrinários e na própria legislação em vigor encontram-se, exaustivamente, inúmeros motivos para modificarmos a atual organização judiciária brasileira no que se refere ao processamento e julgamento dos crimes praticados contra a infância e a juventude. Tal postura coaduna com uma nova concepção mundial de proteção à criança e ao adolescente, buscando permitir o seu pleno desenvolvimento físico, moral, intelectual e social, tornando-a, efetivamente, o sustentáculo de uma nova fase da humanidade e resguardando os seus direitos o quanto antes.
Ressalto, por fim, que o presente projeto é fruto do brilhantismo da aluna Simone Rocha Gay, bacharel em Direito, pelo Centro Universitário do Distrito Federal, no ano de 2007, fonte de inspiração e da concretização da presente propositura. Sala das Sessões, em de de 2010. MENDONÇA PRADO Deputado Federal DEM/SE