GÊNESE DO ATENDIMENTO AS CRIANÇAS EM INSTITUIÇÕES INFANTIS NO MUNICÍPIO DE TUBARÃO/SC (1950-1990)



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Transcrição:

GÊNESE DO ATENDIMENTO AS CRIANÇAS EM INSTITUIÇÕES INFANTIS NO MUNICÍPIO DE TUBARÃO/SC (1950-1990) Marlise de Medeiros Nunes de Pieri UNISUL/FUMDES marlise1110@gmail.com Palavras-chaves: Gênese da educação infantil em Tubarão. Jardins de Infâncias. Instituições de educação infantil. Introdução Ao se propor realizar uma pesquisa que nos remete a investigação sobre a história se faz necessário olhar as evidências deixadas no tempo com o olhar do passado, considerando as condições sociais, políticas e culturais de cada período, bem como as condições tecnológicas e estruturais em um questionamento investigativo do porque dessas e não de outras evidências, portanto, como as mesmas se configuram naquele contexto social. A história permite em sua essência reflexão sobre fatos e situações de cada época, ao compreendê-la pode-se pensar sobre as ações do presente que serão base para a estrutura de ações futuras. Ao perceber a falta de estudos nesta área no município de Tubarão e especialmente relacionada à infância e as instituições criadas para atendê-las, pretende-se conhecer e realizar a análise sobre a gênese da educação infantil. A pesquisa alicerçará suas análises com base no materialismo histórico dialético e pretende-se utilizar entrevistas, analise de documentos e fotos, enfim evidências deixadas nesta história que se esconde no tempo. Sabe-se da importância de entender os fatos do passado, pois eles alicerçam muitas das ações do presente. Muitos são os desafios com relação à pesquisa, se faz necessário sair do campo do senso comum para o modo científico com relação à necessidade da pesquisa como fonte de dados, análise de fatos, ou seja, entender e acreditar neste campo de estudo que faz outras áreas evoluírem de forma considerável, tanto por parte dos educadores, como dos governantes e de sua equipe gestora. Portanto, a pesquisa como um lugar de destaque, ou seja, produto de um processo em evolução. A falta de incentivo a cursos, congressos, bolsas de estudo e questões vinculadas ao reconhecimento deste esforço, desmotiva a maioria dos educadores. Uma pesquisa de cunho histórico nem sempre traz as evidências a vista, geralmente encontram-se dispostas em um contexto empírico que se faz necessário investigar os fatos

2 realmente, buscando dados de maneira informal primeiramente recolhendo informações, documentos, fotos, que indicarão o direcionamento do percurso deste trabalho de pesquisa, realizar uma investigação atenta questionando os fatos encontrados buscando aprimorar um enfoque, procurar analisá-lo por diversos ângulos, na forma como se estrutura. Neste texto abordar-se-á sobre a criança, a infância e as instituições criadas para atendê-las em uma perspectiva histórica, com base nos acontecimentos do município de Tubarão/SC, procurando neste momento da pesquisa com as primeiras análises sobre o contexto da educação infantil, irar-se separar por décadas cada período histórico procurando elucidar os fatos. 2 Entre relatos, documentos, fotos Para a realização deste resgate histórico primeiramente buscou-se concomitante as disciplinas do curso de mestrado em educação, realizar leituras específicas sobre a criança e a infância desde o período escravista, além de realizar visitas ao arquivo público em que constam nomes de pessoas principalmente da década de 1980, alguns nomes de pessoas que pudessem dar informações sobre como a educação infantil se estruturou na cidade. Neste momento ainda de modo informal apenas recolhendo informações, em diversos lugares, com diversas pessoas que trabalharam com a educação infantil dentro do período pesquisado. Realizou-se busca por materiais escritos como livros e outros sobre a cidade de Tubarão, especialmente sobre a educação, portanto, levantamento de fontes bibliográficas. Um dos livros mais difíceis de ser encontrados foi o do historiador José Freitas Junior com o título: Documentário histórico e outros fatos (1685-1972). O mesmo foi publicado em 1973 patrocinado pela Prefeitura Municipal de Tubarão, sendo este, o primeiro livro histórico do município. Outra fonte interessante foi encontrada na secretaria de educação, de cunho icnográfico sobre a responsabilidade de uma funcionária que trabalha há vinte cinco anos nesta secretaria, tendo iniciado seu trabalho na rede municipal na década de 80, dois álbuns organizados com fotos, do período de 1980 a 1988. Nesses álbuns ficaram registradas muitas ações interessantes desenvolvidas na educação infantil, na qual apresenta-se uma fonte a ser explorada sobre a história da educação infantil na cidade de Tubarão durante aquele período. Sendo também esta uma década importante para o reconhecimento da criança como um ser de direitos, pois, esta década antecede o ECA e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

3 (9396/96) que passa a pensar na criança e incluí-la no contexto educativo. Quanto a esse registro também considera-se a época em que a fotografia e os equipamentos tecnológicos referentes a mesma foram colocados no comércio ainda de forma lenta, devido aos custos, mas de modo acessível apenas a algumas pessoas, neste período o município se desenvolvia no campo industrial na ampliação de diversas empresas. 1 Neste resgate também foi encontrado no arquivo público de Capivari de Baixo 2 as crônicas das Irmãs do Colégio Cristo Rei, nesse material há um relato mensal e a descrição das atividades desenvolvidas com as crianças. Esse também é um material importante a ser explorado. Esse colégio foi criado em uma vila carbonífera da Companhia Siderúrgica de Carvão, em que contribuiu de forma considerável para o desenvolvimento da cidade, junto a outras empresas que se estabeleceram ocasionando visibilidade e desenvolvimento para Tubarão, por exemplo, a Ferrovia Tereza Cristina. Com o desenvolvimento empresarial se formou concomitante a necessidade de desenvolvimento na área educacional, a CSN 3 constituiu uma vila operária considerada por muitos como uma minicidade, portanto o Colégio Cristo Rei tornou-se uma necessidade. No centro da cidade, foi construída pela Ferrovia Tereza Cristina a vila dos engenheiros, os filhos destes eram encaminhados aos colégios particulares que existiam na cidade na época, foram também construídos colégios exclusivamente para suprir a necessidade desta demanda, que geralmente vinha de cidades maiores como Rio de janeiro e São Paulo, repleto de boas escolas. Além dos registros, ouviram-se relatos de pessoas envolvidas no processo educacional como coordenadores, monitores, organizadores, irmãs, merendeiras, padres entre outros. Porém esses relatos foram informais sem um roteiro específico de entrevista do mesmo, neste momento ainda de forma investigativa em esfera preliminar. 1 Na década de 80, Tubarão foi governado até 1982 por um partido de direita e após até 1988 por um partido de esquerda. A organização político partidária influência no desenvolvimento da cidade e tem muita influencia no campo educacional, geralmente não se considera a pessoa pelo desenvolvimento de seu trabalho e sim pela opção política partidária que faz, no uso do seu direito de cidadão. Essa prática na esfera pública acaba influenciando as pessoas a fazerem opções para obterem benefícios próprios, incentivando um pensamento individualista e não o coletivo, o que deveria ser o verdadeiro papel do ser e fazer política dentro de uma sociedade democrática. O pensar coletivo, ou seja, no bem comum, faz com que ocorra o desenvolvimento. 2 Atualmente município emancipado de Tubarão, porém na época bairro pertencente a Tubarão, localizado ao norte do município. 3 Companhia Siderúrgica Nacional.

4 3 Primeiras evidências sobre a educação infantil na cidade de Tubarão Uma das primeiras iniciativas da Educação Infantil na cidade de Tubarão (FREITAS JUNIOR, 1973), ocorreu por volta de 1908, no Colégio São José comandado pela Congregação das Irmãs da Divina Providência, sendo que o país de origem desta Congregação é a Alemanha, elas chegaram a Tubarão por volta de 1865 e logo se encarregaram da catequese da Paróquia, porém, no mesmo ano de sua chegada a cidade de Tubarão elas fundaram o primeiro colégio com três primeiras séries primárias sendo dirigida pela Irmã superiora Albina, que funcionavam em regime também de internato. Quadro 1 - Relações de matrícula primeira Turma do Colégio São José. Ano Matrícula alunos Matrícula internato 1896 40 13 Fonte: Adaptado de Freitas Junior (1973, p. 172). Em 1905, para atender crianças pobres é aberta a Escola Santo Antônio, que funcionava no colégio São José, com três classes. Essa escola só foi fechada em 1919, com a fundação do Grupo Escolar Hercílio Luz. Em 1908 a primeira iniciativa de formar um jardim de Infância em Tubarão, ocorreu nas dependências do Colégio São José, o mesmo foi fechado três meses depois por escassez de matrícula. É criada a Escola de Corte e Costura neste mesmo ano. (FREITAS JUNIOR, 1973, p. 172). Já no início do século XIX as Irmãs desta congregação perceberam que era necessário envolver as mulheres em atividades fora do lar para que as mesmas auxiliassem na renda doméstica e de fato surgisse à necessidade do jardim de infância, bem como desenvolver o município em outras áreas. O colégio desde o início de suas atividades já possuía atividades como bordado, música em seu currículo, ou seja, como forma de instruir para novos meios de subsistências. 3.1 Uma breve retrospectiva O colégio São José foi o pioneiro na implantação do ensino infantil na cidade (FREITAS JUNIOR, 1973), somente depois de mais de três décadas, em 1944 ocorreu uma nova iniciativa de formar jardim de Infância, com a ampliação do colégio foi construído um

5 pavilhão específico para a educação infantil que mantém este trabalho com a educação infantil até a atualidade, mas o mesmo faz parte da rede particular de ensino. Em 1939, com a falta de uma instituição de formação de professores no sul do Estado, foram matriculadas 90 alunas no curso Fundamental, em outubro de 1944, o colégio São José se equiparou as Escolas Normais Oficiais, no ano seguinte são formadas as primeiras normalistas. Conforme nos coloca Freitas Junior (1973, p. 172) Em 1945 são diplomadas as primeiras 16 normalistas, terminando 29 o curso fundamental, que por sua vez, em 1947 se transformou em Ginásio Federal, conforme exige uma lei respectiva. Por volta de 1955 o padre Raimundo e um grupo de catequistas formado por irmãs e leigas apoiado pela Congregação da Doutrina Cristã idealizou o atendimento as crianças nos locais próximos da residência das mesmas, primeiramente dentro de uma perspectiva catequética, depois que surgiram outras ideias entre elas a de Construir centros de encontro para os pequenos. Entrar em contato com os pais e familiares envolvê-los em uma tarefa educativa (GUIZONI, 2007, p. 14), mas, para que essa iniciativa desse certo seria preciso envolver a população o empreendimento era tentador, necessário, porém difícil, seria necessário envolver as forças vivas, os poderes públicos do município, estado e país. (GUIZONI, 2007, p. 15). Formaram um grupo para providenciar os registros da Associação e estatuto que ficou denominada por ACIT 4 registrada em 15 de agosto de 1955. Em 17 de agosto de 1958 ocorreu a inauguração do CEI 5 Santo Afonso no bairro Humaitá, cuja primeira diretora foi a irmã Letícia Weber - Instituto Coração de Jesus. Em 03 de março de 1959 ocorreu a inauguração do CEI PIO XII, nome do CEI em homenagem ao Papa PIO XXII, pois o mesmo insistia na boa formação das famílias e das crianças. A ACIT recebe ajuda governamental do município de Tubarão, além da comunidade em geral que ajuda nas promoções. O Padre Raimundo Guizoni faz questão de expressar em várias vezes essa gratidão ao apoio do prefeito da época Waldemar Sales por realizar o pagamento dos funcionários das instituições mantidas pela ACIT. Segundo Guizoni (2007) essa ajuda do governo assumindo a folha de pagamento dos funcionários ocorreu até 1999, porém com a aplicação da Lei de responsabilidade fiscal, os prefeitos tiveram que conter gastos. Guizoni (2007, p. 109) coloca que entre outros itens, a lei federal proibia a cessão e 4 Assistência e Cultura à Infância Tubaronense. 5 Centro de Educação Infantil. Sabe-se que neste período a educação infantil não era denominada CEI porém, na referencia utilizada o autor usou essa denominação, então optou-se pelo uso da mesma sigla ao se referir as instituições de ensino.

6 ou empréstimo de funcionários as entidades particulares relata também que prestam gratuitamente os serviços. 6 Na ocasião da inauguração o prefeito Waldemar Sales, que fez se representar pelo vereador Dilney Chaves Cabral, confirmando a expressa a vontade da Prefeitura Municipal, de bancar as professoras, para garantir o funcionamento e a continuidade de todos os serviços prestados pelo Jardim de Infância. (GUIZONI, 2007, p. 56). Em 14 de maio de 1961 ocorreu à inauguração do CEI Santa Tereza no centro da cidade, pertencia a rede ACIT atual APROET 7, Guizoni (2007, p. 75) iniciou seus trabalhos com 60 crianças matriculadas. Outro da mesma rede, CEI São Judas Tadeu foi transformado em creche para que suas mães pudessem trabalhar, o mesmo foi inaugurado em 05 de março de 1963, todas as instituições antes de se tornarem CEI foram centros catequéticos. Em 1963, outro centro catequético foi transformado em CEI, este situava-se no bairro Morrotes, e foi entregue à Irmã Ivone da Congregação das catequistas, da paróquia de Oficinas, esse Jardim atualmente não pertence a rede da APROET, antiga ACIT, por isso, não foi encontrado registros sobre a história do CEI. Segundo Guizoni (2007) as professoras eram tratadas de tias e prestavam serviços aos cuidados das crianças e toda a educação era voltada aos princípios religiosos e morais em sua formação. Elas recebem as crianças desde as primeiras horas do dia, com aquele sorriso, que só quem tem amor sabe dar. Elas acompanham os pequenos, estão atentas a todas as necessidades, sempre solicitas e muito carinhosas, para que nada lhe falte. Ministram aulas diárias com recreações, caprichando nas tarefas da educação escolar, cívica, moral e religiosa, de acordo com a idade. Tudo em vista à formação do pequeno cidadão. (GUIZONI, 2007, p 29). Havia outro CEI que funcionava ao lado da igreja São José Operário, registros encontrados sobre ele foram: uma foto, e também o relato da Irmã Terezinha 8, o mesmo foi mencionado pelo Padre Raimundo, alguns dizem ser o que deu origem hoje ao popularmente conhecido colégio das Irmãs Baianas, ou seja, Colégio Santíssimo Sacramento. 6 Há muitos rumores na cidade sobre a gratuidade dos serviços dos CEIs vinculados APROET. Se não há total gratuidade, sendo que a mesma se intitula como entidade particular, será que o governo federal considera desvio de verba pública? Esse item é algo que pode ser explorado nesta ou em outras pesquisas. 7 Associação de Promoção e Educação Tubaronense. 8 Irmã Teresinha pertence a Congregação Missionárias do Santíssimo Sacramento e Maria Imaculada, entre ida e vinda está há quase 30 anos na cidade. Desenvolve um trabalho de Coordenação Pedagógica no colégio Santíssimo Sacramento. Entrevista concedida a pesquisadora em 22/01/2013. Essa congregação tem origem espanhola.

7 Este colégio iniciou as atividades em 1969 com a educação infantil, coordenadas pela Irmã Sacramento a mesma fazia parte de um grupo de quatro religiosas que vieram pra Tubarão a convite de Dom Anselmo Pietrula, assim que chegaram assumiram a educação infantil nas instalações próximas a igreja matriz São José Operário. Figura 1 - CEI que funcionava ao lado da Igreja São José Operário. Fonte: Arquivo da Igreja Matriz São José Operário - Oficinas - Tubarão/SC, Out. 2012. De acordo com o relato da Irmã Teresinha: Este Jardim de infância pertencia à prefeitura, e funcionou até 1969, quando ocorreu a criação do Colégio Santíssimo Sacramento, era uma estrutura de madeira que foi levada para uma comunidade carente da paróquia, que funcionou durante muitos anos como igreja. Quando chegamos a Tubarão em 1967 ele já existia. Foram encontrados registros mencionando esse jardim de infância nas Crônicas do Colégio Cristo Rei de 1960, portanto, se desconhece a data de sua fundação. O jardim de infância Cristo Rei com as crianças uniformizadas, estavam enfileirados na área do mesmo a fim de receber as crianças visitantes dos jardins: Santo Afonso, de Humaitá, Pio XII, da passagem, Dom Anselmo de oficinas, e as Pastorinhas de Morrotes, todos com suas respectivas jardineiras e auxiliares. (CRÔNICAS..., 2012, p. 12). Em Capivari que foi construída uma vila entre 1940 e 1950 pela CSN para abrigar os operários desta empresa, conhecida por muitos por uma minicidade. Com casas geminadas,

8 posto de saúde, farmácia, enfim com Clube Recreio do Trabalhador, entre outros. Em 1960, conforme as Crônicas das Irmãs foram construídas e começou a funcionar em (8 de maio de 1960) um Jardim de Infância, denominado Cristo Rei, que atendia crianças de 4, 5 e 6 anos filhos de operários da CSN, o mesmo era mantido pela mesma empresa. Esse jardim de Infância com base nos princípios da religião tinha o objetivo de auxiliar os pais na educação das crianças orientando as crianças e as famílias conforme os princípios da igreja. Rabelo (2007, p. 298) as religiosas inscrevem-se, então, neste movimento histórico de confinamento e cuidado da primeira infância, imbuídas do espírito educativo-catequético. Esse registro possibilita explorar o contexto do trabalho pedagógico desenvolvido naquele estabelecimento naquela época, como nos coloca Rabelo (2007, p. 295): O documento possibilita uma aproximação com a prática pedagógica missionárias das freiras como jardineiras e de suas auxiliares do jardim de infância Cristo-Rei, ao trazer vestígios da cultura escolar dos fazeres daquelas educadoras dentro e fora do educandário, das diferentes habilidades exigidas das crianças e das jardineiras e suas auxiliares, das marcas de modelação e o modo como foram operadas no cotidiano do educandário. Porém não era apenas as crianças o foco das irmãs, iria além, vinculado ao foco pedagógico estava orientar e instruir as mulheres. Rabelo (2007, p. 256) nos coloca que: A fim de reeducar e redefinir a família operária do complexo carbonífero, detentora de diferentes culturas, uma das principais ações pedagógicas voltou-se à educação e assistência as esposas dos operários, a quem foram dirigidas diversas iniciativas, além de todas as orientações que eram realizadas nas visitas domiciliares e nas reuniões organizadas pelas freiras. As crônicas abrangem toda a década de 1960, em que compõem de nomes de pessoas que passaram pelo Jardim de infância, mostra também o quanto há uma influência de pessoas públicas que estiveram posteriormente à frente da prefeitura municipal, recebiam visitantes de outra cidade, considerada como exemplo de trabalho. As crônicas registram atividades até 1970. Em 1964, foi fundada a Instituição Lar da menina mantida pela congregação Irmãs Sacramentinas de Bergman, congregação de origem italiana, atendendo crianças carentes, primeiramente atendendo especialmente meninas em regime de internato. Só mais tarde ocorreu o atendimento de períodos integrais e parciais e o atendimento também aos meninos. Freitas Junior (1973) relata em seu livro a quantidade de estabelecimentos seu vínculo administrativo. Segundo esses dados em 1968 existiam em Tubarão 71 estabelecimentos de ensino, distribuídos conforme tabela a seguir:

9 Quadro 2 - Relação de Estabelecimentos de Ensino ano letivo: 1968 - Tubarão/SC. Vínculo Administrativo Rede Particular Rede Estadual Rede Municipal 1 - Colégio Normal 6 - Escolas Isoladas 2 - Ginásios Normais 9 - Jardins de 1 - Escolar Normal Infância 9 Feminina 8 - Grupos Escolares 9 - Escolas Isoladas 24 - Escolas Reunidas 1 - Colégio Normal 1 - Escola Normal feminina 1 - Escola Normal feminina 1 - Escola Técnica de Comércio 4 - Ginásios secundários 4 - Escolas primárias Total 11 45 15 Fonte: Adaptado de Freitas Junior (1973, p. 175). Durante a década de 1980 observou-se que há mais clareza das pessoas em relatar sobre as instituições de ensino, elas eram denominados CEBEM e eram administrados pela Prefeitura Municipal sobre a responsabilidade da secretaria de Assistência Social, especialmente depois de 1974, quando a cidade praticamente teve que ser reconstruída devido a grande enchente que ocorreu na cidade em março do mesmo ano. 10 Em 1974 surgiu a COMBEMTU 11 para atender crianças e adolescentes. Com a enchente toda a população enfrenta dificuldades então é instalada em Tubarão a LBA 12 impulsionando programas e novas práticas especialmente na educação infantil. Os jardins de infância mantidos pela administração municipal ficavam sobre a responsabilidade de Secretaria de Assistência Social. Essa secretaria mantinha convênios com a LBA, FUCABEM 13, FUMDESCO 14, conforme consta nos site da prefeitura Municipal de Tubarão, no histórico da secretaria de assistência social. Em 1978, foi criado a um programa a nível municipal que auxilia a educação infantil por meio da secretaria de assistencia social. Encontramos em Tubarão, no arquivo público, alguns documentos referentes a década de 80 foram analisadas, até este momento. Estes documentos são de ordem burocrática, do 9 Será que são considerados Jardins de infância instituições vinculadas à prefeitura? Será que são consideradas as que recebiam ajuda da prefeitura, particulares, mas de cunho filantrópico, administradas por congregações religiosas e as vinculada a ACIT, atual APROERT? Como uma entidade pode ser articular e ao mesmo tempo filantrópica e comunitária? De que forma executam o papel filantrópico? Na rede particular não aparece jardins de infância, será que realmente não existiam? 10 Em 1974 Tubarão foi atingido por uma enchente que devastou a cidade, tudo precisou ser reconstruído, após as cheias. Os documentos do arquivo público nos remetem a dados mais específicos a partir de 1980, acreditase que a maior parte dos documentos foi destruída com as cheias. 11 Comissão do Bem Estar e do Menor. 12 Legião Brasileira de Assistência. 13 Fundação Catarinense de Bem-Estar do Menor. 14 Fundação Municipal para o Desenvolvimento Social e Comunitário.

10 tipo folhas de pagamento, estratos, relatórios contábeis. Como a pesquisa está em andamento sabe-se que é necessária uma análise mais aprofundada e de forma mais criteriosa. Foram encontrados dois álbuns de fotos organizados e contendo o contexto educativo referenciando aos atendimentos realizados nos CEBEM. Eles vinculam-se a LBA que criou a FUMDESCO/FUCABEM para o atendimento a criança e o adolescente menor. Com base nas fotos entre 1980 e 1982 aparecem 23 nomes de CEBEM, a maioria aparece com nomes das comunidades outros com nomes diferenciados. Outro dado importante nas fotos foi os registros de encontros de confraternização dos funcionários entre elas denominados monitoras, merendeiras e coordenadoras. Percebem-se nos registros iconográficos as diversas promoções, como madrinhas, sendo elas da cidade e também de outros estados distantes. Aparecem também doações distribuídas às famílias carentes e registros específicos do programa de assistência social. Aparece especialmente no ano 1982 a organização dos pais e formação de diretorias, sabe-se de por meio de um relato de uma merendeira que foi o período de registro e formação dos conselhos comunitários. Aparecem nas fotos também retratos de mulheres com crianças em casa e o registro de uma visita do PRECOP (percebe-se nas imagens uma ênfase no trabalho pedagógico ainda que em sua essência permanecesse o assistencialismo) desenvolvido nos CEBEM com os jardins de Infância, no entanto, não seria da mesma forma o atendimento da criança no projeto mãe crecheira o PRECOP, seria uma equipe que visitaria essas residências fornecendo atendimento de profissionais de diversas áreas. Somente a população mais carente se beneficia deste atendimento em creches domiciliares. Segundo a Proposta Curricular do Município (2008, p. 22) o trabalho desenvolvido da seguinte forma: Em 1982, foram criadas as Creches Domiciliares, de responsabilidade da FUCABEM, para atender preferencialmente as crianças menores, de zero a três anos de idade, suprindo a necessidade de mães trabalhadoras. Cada creche tinha como responsável pelas crianças, a proprietária da casa, chamada de mãe crecheira. Esta recebia treinamento aceitando a matricula de 4 a 6 crianças. Sua casa era reestruturada para atender as crianças. Semanalmente as creches eram visitadas por uma equipe multidisciplinar, contando com um médico, uma enfermeira, um psicólogo, uma pedagoga e coordenadora. As creches recebiam visita de uma recriadora de duas a três vezes por semana. Portanto, a mãe crecheira era um projeto que se desenvolveu para suprir à necessidade de atendimento a demanda mais carente da população. Em 2012 vivenciamos em

11 Tubarão um projeto aprovado na câmara dos vereadores (dez votos contra um) Projeto Creche Domiciliar segundo o vereador que elaborou esse projeto foi devido à necessidade de creches para atender a população abrangendo o atendimento de crianças de seis meses a cinco anos incompletos. 15 É possível perceber por meio dos registros um planejamento vinculado a datas comemorativas e também aparecem exposições de trabalhos. Segundo a Coordenadora geral havia um manual em que continham diversas atividades. Em um material produzido pela UNESCO no Brasil, a Secretaria de Educação do Ministério da Educação no Brasil (MEC/SEB) e a Fundação Orsa faz menção sobre um material com orientações práticas produzido em 1981. Relatando-nos da seguinte forma: Em 1981, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), ao qual a LBA estava vinculada, editou um pequeno livro de orientação prática o Vamos fazer uma creche, no qual explicitava as ações educacionais a serem desenvolvidas. As creches da Assistência Social passaram a ter, senão na prática efetiva, pelo menos na concepção e na orientação metodológica, a função de guardiã e a função pedagógica. (NUNES et al., 2011, p. 24). Observando atentamente as fotos, pode-se inferir a partir delas que as coordenadoras tinham formação e reuniões constantes com a coordenadora geral e as monitoras tinham treinamento, faziam atividades que deveriam ser desenvolvidas dentro da instituição infantil. A educação infantil na cidade de Tubarão também recebeu recursos da fundação FORD, segundo entrevista com a coordenadora geral os recursos eram em dólares e havia muitos recursos destinados à compra de material didático e merenda, era um investimento alto para melhorar a qualidade do ensino. Quem coordenava esses recursos era outra equipe vinculada a administração. Depois de 20 anos de ditadura, com a promulgação da Constituição Federal 16, vem à tona muitos ideais e mobilizações em busca de direitos até então suprimidos, sendo a criança parte do grupo de excluídos e marginalizados pelas elites sociais. Nunes (2011, p. 28) nos coloca que as crianças passam a ser vistas não mais como subalternas, mas cidadã, guindadas do último lugar da lista das iniciativas políticas e administrativas do governo para o topo da prioridade absoluta, sujeito de direitos, pessoas com dignidade intrínseca, independentemente de quaisquer circunstâncias. Portanto, a partir de 1988 a creche passou a ser considerada 15 Mesmo a criança atualmente tendo em lei já conquistado espaço enquanto sujeito de direitos, será que realmente está sendo respeitada quando tem um projeto deste nível aprovado com a maioria na câmara de vereadores? Porque alguns podem receber educação e outros apenas cuidados? 16 Promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988.

12 parte da esfera educacional, iniciando as discussões especificas entre cuidar e educar isso no âmbito nacional percebe-se por meio dos registros que, o município de Tubarão foi aos poucos se desvinculando da assistência social passando na década de noventa a responsabilidade da educação infantil na área educacional, no entanto, continua a margem na educação, não sendo o topo da prioridade absoluta, há um longo caminho a percorrer no que tange a educação da criança de 0 à 6 anos. Considerações finais A educação infantil iniciou na cidade por meio das congregações, porém elas são de origens diferentes, elas advêm de países como: Alemanha, Itália e Espanha. Cada congregação traz o modelo educacional de seu país, ambas tem em comum o objetivo uma educação-catequética. Essas congregações deram origem aos principais colégios particulares da cidade que existem até hoje. E com relação à educação infantil perdurou um viés assistencialista. Cada década aqui relatada brevemente anuncia/denuncia a forma como se expandiram as instituições de ensino na cidade, vinculadas à educação infantil pública, que em nosso contexto aparece entrelaçada com a educação privada. Percebe-se que a evolução da cidade ocorre por meio de investimentos em umas das bases que estruturam a sociedade, ou seja, a família. Atualmente temos uma composição familiar diferente da que tínhamos em 1950, um exemplo é a evolução da mulher, sua ida para o mercado de trabalho junto com todo o desenvolvimento industrial impulsionou o mercado tanto no que se refere à indústria quanto ao comércio, especialmente na esfera capitalista. Hoje, as crianças adquirem muitas necessidades devido ao contexto social que vivem cercados por exemplos, de aparelhos tecnológicos, porém nem todas têm as mesmas oportunidades. Infâncias diferentes de oportunidades que classificam a sociedade desde cedo. A estrutura política da cidade consolida o modelo econômico que se forma, desde implantação de projetos, programas, investimentos na criação de instituições e também na gestão das mesmas, solidificam o panorama da constituição da sociedade. Percebe-se na cidade de Tubarão de 1950 a 1990 um índice muito baixo de investimento na educação pública, isso impulsionou o mercado privado da educação, ou seja, a criação de muitas escolas infantis particulares, os pais, geralmente de classe média ao não encontrarem vaga encaminham os filhos para CEIs particulares.

13 Em 1984 contabilizamos de acordo com os registros icnográficos 23 CEBEM s como eram assim denominados os Jardins de infância, atualmente temos 28 CEI s, alguns deles possuem a mesma denominação da década de 80, ou seja, foram fundadas naquele período. No entanto, a população cresceu muito nos últimos anos, mesmo as famílias diminuindo consideravelmente o número de filhos. Portanto, é preciso investir na educação infantil, ampliar as condições de acesso das crianças, materiais didáticos pedagógicos e principalmente na formação continuada, com projetos e acompanhamento dos mesmos e não com cursos esporádicos sem vínculo e conhecimento das dificuldades do cotidiano dos CEI s, junto com tudo isso a valorização do pessoal da área, e um investimento na infraestrutura, pois além de não haver o aumento de CEIs, alguns têm uma estrutura péssima e outros são alugados. No panorama da cidade aparecem instituições vinculadas a associações que se colocam perante os órgãos públicos e a população como entidades particulares de utilidade pública, sem fins lucrativos, filantrópica, mas, seleciona a clientela por meio da cobrança de mensalidades, sendo que as economicamente carentes geralmente são atendidas pela prefeitura. A prefeitura por longa data, ou seja, desde o inicio dos trabalhos até 1999. Com o início da Lei de Responsabilidade Fiscal, intitulada por Guizoni (2007, p. 109) como Lei do Cão proibindo de usar verbas públicas a entidades particulares, sendo que até 99 todo o corpo docente dessas instituições, era pago pela PMT repassando também recursos para a merenda por meio dos convênios. Percebe-se que uma parcela da educação infantil no município, segundo as primeiras impressões desta pesquisa viveu seu melhor período na década de 1980, em que obteve recursos do exterior, expressando à tendência pedagógica da época, os monitores (eram os professores) tinham treinamento, as coordenadoras (como se fossem as diretoras) se reuniam semanalmente, os profissionais eram reunidos e faziam passeios motivacionais. Portanto, havia uma preocupação com formação continuada e com o funcionário da educação e também com relação ao atendimento das crianças, havia também material pedagógico disponível, porém as estruturas dos prédios eram de madeira. O problema é que nem todas as crianças eram atendidas, muitas eram atendidas pelas mães crecheira e não tinham as mesmas oportunidades, portanto não é possível considerar amplamente positiva a educação infantil neste período. É necessário pensar ações diferenciadas no âmbito da educação infantil, se comprometer com o cumprimento da lei dentro das obrigações a nível municipal, pois, enquanto educadores, almeja-se uma educação de qualidade em que se inicia com a educação infantil, primeira etapa da educação básica.

14 Pensando na criança enquanto ser histórico e cidadão de direitos, contudo direito ao acesso a uma educação infantil de qualidade. Referências ARIÉS, Philippi. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1981. BRASIL. Proposta curricular da rede municipal de Tubarão. Tubarão-SC: Copiart, 2008. CRÔNICAS do Jardim de Infância Cristo-Rei de Capivari (1960-1970). Instituto Coração de Jesus. Capivari, SC, 2012. FREITAS JUNIOR, José. Conheça Tubarão: documentário histórico e outros fatos 1605-1972. Tubarão-SC, 1973. GHIZONI, Raimundo. APROET: associação de Promoção e Educação Tubaronense. Tubarão-SC: Copiart, 2007. KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar no Brasil: a arte do disfarce. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2011. MACHADO, César do Canto. Tubarão 1974: fatos e relatos da grande enchente. Tubarão: Ed. Unisul, 2005. NUNES, Edgar. João Teixeira Nunes: sem dúvidas e história do rio Tubarão. Tubarão, SC: Copiart, 2007.. Clube 7: cem anos de história. Tubarão, SC: Copiart, 2000. NUNES, Maria Fernandes Rezende; CORSINO, Patrícia; DIDONET, Vital. Educação infantil no Brasil: primeira etapa da educação básica. Brasília: Unesco/Ministério da Educação Básica/ Fundação Orsa, 2011. OLIVEIRA, Elza Borba de. O colégio São José na cidade de Tubarão-SC: história e memória (1895-2000). 2004. 150 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, SC, 2004.

15 POPOASKI, Erly Perini; MICHELS, Sílvia. Memória pedagógica do Colégio Dehon. Palhoça: Ed. Unisul, 2008. RABELO, Giani. Entre o hábito e o carvão: pedagogias missionárias no sul de Santa Catarina na segunda metade do século XX. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2007. TUBARÃO. Prefeitura Municipal. Disponível em: <www.tubarao.sc.gov.br>. Acesso em: 15 ago. 2012. VITORETTI, Amadio. História de Tubarão: das origens ao século XX. Prefeitura Municipal de Tubarão: Incopel, 1992.