A CONSTRUÇÃO DE UM VÍDEO SÓCIO, CULTURAL E AMBIENTAL EM UM TERRITÓRIO INFANTIL Eixo: TEMAS DE RELEVÂNCIA SOCIAL: educação e problemas sócioambientais. ALFREDO MARTIN martingen@ibest.com.br Rio Grande/Brasil 1 BELISSA SAADI VIEIRA belissasaadi@hotmail.com Rio Grande-RS/ Brasil 2 CLÊNCIO BRAZ DA SILVA FILHO clenciobraz@hotmail.comrio Grande-RS/Brasil 3 DANIEL DA SILVA PIAS danielpias@hotmail.com Rio Grande-RS / Brasil 4 MARA RÚBIA GARCIA PEDROSO m_rubiagp@yahoo.com.br Rio Grande-RS / Brasil 5 RÓGER WALTTEMAN roger_geografo@hotmail.com Rio Grande-RS / Brasil. 6 1 Professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande. 2 Graduada em Pedagogia-Educação Infantil. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental- FURG.Bolsista CAPES. Voluntária em projetos no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente- CAIC/FURG. 3 Licenciado em História, discente do Mestrado em Educação Ambiental e da Faculdade de Direito, todas na Universidade Federal do Rio Grande/FURG, Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul/IFRS Campus Rio Grande. 4 Licenciado em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande. Colaborador em projetos no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente- CAIC/FURG. 5 Professora da Educação Infantil na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cidade do Rio Grande, inserida no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente- CAIC/FURG. 6 Licenciado em geografia pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestrando no programa de Pós- Graduação em Educação Ambiental- FURG.
Pensando na escola como um lugar das crianças onde se encontram diversas construções, culturas, desejos, amores e imaginações, e além das manifestações culturais e ambientais passamos a percebê-la como um território da infância. Foi então, na Escola Municipal Cidade do Rio Grande, vinculada ao Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente CAIC/FURG que nos inserimos no cotidiano da Educação Infantil para construir este trabalho. O CAIC é um espaço sócio educativo mantido a partir de um convênio entre a Universidade Federal do Rio Grande, Secretaria Municipal de Educação e Secretaria Municipal de Saúde. Nesta organização, o centro atende a comunidade dos bairros de seu entorno. Para tal atendimento o CAIC se organiza em três grandes áreas: área da saúde, a qual está vinculada ao Programa da Saúde da Família; área da Ação Comunitária e a área da Educação. Nossa imersão se deu na área da educação, observando de maneira discreta o recreio de duas turmas de nível II da Educação Infantil participando da filmagem entorno de 25 crianças na faixa etária dos 5-6 anos. Algumas filmagens aconteceram com os dois grupos juntos e outras individuais, pois acompanhamos e respeitamos toda e qualquer eventualidade do cotidiano da escola. As coletas de imagens aconteceram de maneira que registrasse a autonomia e construções livres das crianças, por isso, não realizamos nenhum tipo de interferência, entrevistas, questionários.o tempo de filmagem variava de 15 a 30 minutos, dependendo da disponibilidade das professoras. Deu-se então, esta grande grande aventura, envolvendo as ecologias sociais, naturais e subjetivas existentes entre os grupos de crianças e de adultos. Assim, capturamos imagens de corpos num mesmo espaço; corpos com outros corpos. Procuramos as marcas. Onde estão? O que dizem? O que silenciam? O que mostram? O que escondem? Dimensões que se misturam. Força. Fraqueza. Cansaço. Vitalidade. Alegria. Divertimento. Preocupação. Satisfação... (Ostetto, 2004, p.125). Motivados pela convivência com as crianças e pelos estudos realizados no mestrado em Educação Ambiental, construímos ao longo do ano letivo de 2010 um material áudio visual, denominado Os territórios das infâncias e as infâncias nos territórios ; este teve como objetivo compreender as crianças e suas culturas, percebendo o quanto a infância é relevante para entender a sociedade e suas transformações. Além disso, queremos intervir de certa maneira nas concepções adultocêntricas frente ao recreio, as crianças e a infância, mostrando que este vai além do que nossos olhos, enquanto adultos percebem. A vigilância que o adulto exerce hoje sobre as crianças não é tão rígida quanto no século passado, mas ainda há um controle sobre o corpo e as manifestações infantis. Como coloca Dornelles 2005: É sobre o corpo das crianças que se exerce um poder pautado na função reguladora da educação e que vai desde a imposição das normas até a internalização do soberano através do disciplinamento de si mesmo.( p.32) O vídeo traz de maneira interpretativa o recreio como sendo um espaço muito significativo para as crianças e também para os adultos que se permitam olhar e escutar as situações que ali se apresentam, sem exercer o poder do
adulto neste espaço. Mas atento ao fenômeno infância na sociedade atual, conforme destaca Arroyo: (...) estes fatos sociais são fundamentais para que o educador tenha consciência de seu papel enquanto educador da infância. Infância que muda que constrói que aparece não só como sujeito de direito, mas como sujeito público de direitos, sujeito social de direitos. (2000, p.89) Visto de uma maneira mais romântica podemos dizer que o recreio é como uma apresentação teatral, sendo o palco o espaço físico, os atores são as crianças e o cenário se compõe pelas culturas, a natureza da escola, das crianças, do meio natural. Neste teatro é transmitida a sociedade de hoje, os problemas socioculturais e ambientais e as crianças, como atores da sociedade, também são influenciadas e influenciam nas condições e construções sociais. Portanto, entre as relações sociais, as relações de poder, consumo, culturas e saberes percebemos o recreio como um território da infância. Esses meninos e meninas que frequentam o recreio são repletos de vida, histórias com vivências construídas no dia-a-dia, nos pequenos atos, nas brincadeiras e descobertas, são nestes espaços que se iniciam as bases estruturantes dos sujeitos atuantes e conscientes como atores sociais de sua cultura. Este vídeo ambiental foi permeado pelas fundamentações de Félix Guattari, 1990 direcionando nosso olhar para as Três Ecologias, onde o cotidiano do recreio da Educação Infantil ilustra as múltiplas aprendizagens, as interações, manifestações e construções culturais e socioambientais presentes entre as crianças nestes espaços. Além de Guattari, outros autores fundamentaram a justificativa e os objetivos do trabalho, quando se diz respeito ao recreio, à infância e suas as culturas (Corsaro, 2005; Delalande, 2006; Sarmento, 2007; entre outros e os territórios da infância (Lopes, 2006, Vasconcellos, 2009 e outros). Este vídeo se justifica, então, pela busca de compreensões, inserção e valorização das culturas infantis na sociedade. O procedimento de coleta de dados se deu através da captura de imagens durante os momentos de recreio, percebendo as crianças como protagonistas de suas próprias histórias e culturas e que potencializam seus momentos de recreação, interpretando, organizando e representando o que pensam, sentem e querem dessa sociedade capitalista, destes movimentos planetários que se transformam aceleradamente de acordo com o ritmo de um mundo manipulado pelas regras do consumo, da mídia, do crescimento econômico e demográfico, ou seja, a maneira de viver daqui em diante sobre esse planeta (Guattari, 1990, p.8) Percebe-se então que nestes territórios construídos pelas crianças transitam desde a imaginação infantil até as Representações Interpretativas (Corsaro, 2005) da sociedade adulta, que tanto impomos às crianças. Apesar dos espaços de recreação serem pensados e construídos pelos adultos para as crianças, elas (re)significam-os de acordo com seus interesses enquanto crianças. Patrícia Prado na sua pesquisa sobre brincadeira e Educação Infantil aponta que: Transgredidamente, por vezes, aproveitando alguns momentos em que se encontravam sozinhas ou sem a participação do adulto, elas
brincavam livremente, escolhendo jogos e definindo regras, brincando simplesmente pelo prazer de o fazer, a brincadeira com um fim em si mesma, escolhendo parceiros e sendo escolhidas pó eles, entre objetos, brinquedos, elementos e seres da natureza, porém, num tempo e espaço não definidos por elas.(2002 p.105) Logo, um simples pátio, campo, ginásio ou qualquer outro espaço que possam brincar, correr, conversar, imaginar e construir são transformados em lugares, cheios de significados e culturas da infância, com histórias sendo escritas pelas pegadas e os castelos na areia, narradas através das vozes, gritos e risadas das crianças que caracterizam o recreio e os lugares infantis. Com isso, trazemos também o conceito de território, pois a partir do momento em que as crianças se apoderam dos e Logo, um simples pátio, campo, ginásio ou qualquer outro espaço que possam brincar, correr, conversar, imaginar e construir são transformados em lugares, cheios de significados e culturas da infância, com histórias sendo escritas pelas pegadas e os castelos na areia, narradas através das vozes, gritos e risadas das crianças que caracterizam o recreio e os lugares infantis. Com isso, trazemos também o conceito de território, pois a partir do momento em que as crianças se apoderam dos espaços e ali constroem culturas e conhecimentos dando sentido a cada canto e momentos explorados; no recreio elas passam a tomar posse destes espaços, tornando-os lugares de relações sociais, relações com o meio ambiente e com suas construções subjetivas. Assim como sugere Félix Guattari, 1990, p.14, quando traz a questão da juventude que apesar de estar sendo esmagada pelas relações econômicas dominantes que lhe confere um lugar cada vez mais precário, e mentalmente manipulada pela produção de subjetividade coletiva da mídia, não deixa de desenvolver suas próprias distâncias de singularização com relação à subjetividade normalizada. Podemos então, dizer que as crianças assim como os jovens constituem seus Territórios existenciais (Guattari,1990) de acordo com seus interesses enquanto categorias sociais: infância e juventude. É importante destacar que existem diversos outros espaços que se tornam lugares e territórios das crianças e da infância. Nestes territórios, encontra-se uma mágica transformação de significados, de regras e muitos movimentos, objetivos e subjetivos, que estabelecem as relações, as construções, os saberes e as culturas. As crianças, enquanto atores nestes lugares, constroem e reconstroem as brincadeiras, as histórias, as regras e os combinados, sejam eles estabelecidos por outros adultos ou por elas mesmas. As crianças, ao apropriarem-se desses espaços e lugares, reconfiguram-nos, reconstroem-nos e, além disso, apropriam-se de outros, criando suas territorialidades, seus territórios usados. (Lopes, 2006, p.02) Este vídeo (construído com apoio e consentimento das crianças, de seus responsáveis e da escola) enfatiza, em primeira instância, a infância enquanto categoria social, tendo as crianças como atores sociais atuantes na sociedade. Na realização de um vídeo com e sobre as crianças e seus territórios, não se trata somente de expor seu cotidiano, suas brincadeiras, mas sim de possibilitar aos adultos que possam ver e rever as cenas e principalmente as ações das crianças; percebê-las como construções culturais que se apresentam ali de maneira particular, problemática.
Estas questões, manifestadas de acordo com as expressões da infância, exigem certa interpretação madura e sensível do adulto para significá-la enquanto contribuições para um entendimento da sociedade em geral. As crianças exprimem fortemente as mudanças sociais, quer porque as recebem sob a forma de condições sociais e culturais de existência em transformação, quer porque elas próprias mudam, enquanto atores sociais contextualmente inseridos. (Sarmento, 2007, p.22) Então, a partir dos pontos abordados ressaltamos a importância de valorizar e respeitar a infância e seus territórios como um importante indicador das problemáticas enfrentadas na sociedade. Referências: COQUET, Eduardo ( coord.). Congresso Internacional. Os mundos sociais e culturais da infância. Universidade de Ninhos Instituto de Estudos da Criança. Actas: II volume, 19 22 jan. 2000 CORSARO, W A. A Reprodução Interpretativa. In: MULLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria Almeida (orgs). Teoria e Práticas na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009. DELALANDE, Julie. El juego no es solo educativo! Los análisis socioantropológicos sobre las practicas infantiles. In: Libro A jugar se ha dicho. Ed. El Congreso de la Republica, dec 2006. DORNELLES, Leni Vieira. Infâncias que nos escapam: da criança na rua à criança cyber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. GUATTARI, Félix. As Três Ecologias.Campinas. SP: Papirus,1990. LOPES, Jader J.M.. Produção do território brasileiro e produção dos territórios de infância: Por onde andam nossas crianças? ANPED.GT: Educação de Crianças de 0 a 6 anos / n.07,2009.disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/gt07-1734--int.pdf OSTETTO, Luciana Esmeralda & Leite Maria Isabel Arte, Infância e formação de professores: Autoria e transgressão. Campinas, SP: Papirus, 2004. PRADO, Patrícia Dias, Quer Brincar Comigo? Pesquisa, Brincadeira e Educação Infantil. In: Farias Ana Lucia Goulart, Demartini, Zeila de Brito & Prados Patrícia Dias (orgs). Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
SARMENTO, M. J. Sociologia da Infância: Correntes e Confluências. Relatório de exames e provas de Agregação. Sociologia da infância. Braga: IEC/Univ. do Minho, 2007 VASCONCELLOS, Tânia de.criança do lugar e lugar de criança. ANPED. GT: Educação de Crianças de 0 a 6 anos / n.07, 2009. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/gt07-2482--int.pdf