O DISCURSO NOS QUADRINHOS: ANALISANDO CAPITÃO BRASIL CASSILHAS, Cristiano FIOROT, João Victor LORDES, Antonio Wallace RESUMO: O principal objetivo do trabalho é analisar as divisões básicas do tópico discursivo de maneira simples e didática. Facilitando, assim, a compreensão de cada parte que constitui um quadro tópico. Para tal, revisitamos, inevitavelmente, o tópico discursivo. Tais análises têm como corpus as tiras do Capitão Brasil. Palavras-chave: Discurso, Quadrinhos, Subtópico, Supertópico, Tópico Discursivo. 1 Graduanda em Letras Português/Inglês e respectivas literaturas pela Fundação Educacional Presidente Castelo Branco - FUNCAB. E-mail: gazoli5@hotmail.com 2 Graduando em Letras Português/Inglês e respectivas literaturas pela Fundação Educacional Presidente Castelo Branco - FUNCAB. E-mail: joaov.fiorot@hotmail.com 3 Mestre em Linguística pela Universidade Federal do Espírito Santo UFES e Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e Professor do curso de Letras Português/Inglês e respectivas literaturas na Fundação Educacional Presidente Castelo Branco - FUNCAB. E-mail: wallace_lds@hotmail.com 1
ABSTRACT: The main objective of this paper is to analyze the basic division of the discursive topic in a simple and didactic manner. Therefore, it makes easier to comprehend each part of the topic unit. For this, we revisited the concepts of discursive topic. The analysis have its corpus on Captain Brazil comics. Keywords: Discourse, Comics, Subtopic, Supertopic, Discursive Topic. 1. INTRODUÇÃO O tópico discursivo, nesse trabalho, é analisado de forma didática. O objetivo é demonstrar exatamente cada uma de suas divisões, bem como aplicá-las a um discurso e saber extrair deste tudo aquilo de informação que se pode obter a respeito. Concernindo tópico discursivo, pode-se dividi-lo em algumas partes. As primeiras delas são os planos de análise, chamados de vertical (hierárquico) e linear (sequencial). É no plano vertical que o quadro tópico será apresentando durante a análise. Esse quadro tópico é o assunto abordado pelo corpus, e os limites desse acerca de que se fala é traçado por outra subdivisão do tópico discursivo, a organicidade. O plano linear, de sua vez, mostra o supertópico (quadro tópico) se subdividindo em tópicos menores, chamados de subtópicos. Os subtópicos provêm de segmentos tópicos que surgem do supertópico. Essa sequência de fatos pode manter, ou não, um tópico por mais, ou menos, tempo. O que pode ser chamado continuidade ou digressão tópica. Estes dois últimos são a conclusão de qualquer análise feita unicamente baseada na estrutura tópica, embora não sejam o objetivo desse artigo. 2
2. TÓPICO DISCURSIVO A princípio, é necessário rememorar as principais propriedades do tópico discursivo, de maneira que se possa avançar efetivamente através deste estudo. Numa definição sucinta de tópico discursivo, pode-se dizer que ele, numa interação conversacional ou num elemento textual qualquer, é aquilo do que se está falando. Em suma, podemos dizer que é o assunto. Porém, isso configura um conceito extremamente abstrato e de difícil delineação. Sendo assim, esta é a primeira grande dificuldade da análise de linhas tópicas. O conceito inicialmente é demasiadamente aberto, o que deixa a corte de análise aberto demais. O que viria a dificultar o exercício científico. Analisar o tópico discursivo de determinado corpus não é, por exemplo, como analisar turnos conversacionais, em que é possível perceber claramente as transições (sejam elas intencionais ou frutos do assalto de turno). O tópico discursivo percorre caminhos um pouco mais sinuosos e para avaliá-lo melhor foram estabelecidas algumas divisões, e elas devem ser claramente entendidas. O tópico trata de uma categoria discursiva dividida em dois planos (hierárquico e sequencial) e a sua análise desenvolve-se a partir de uma perspectiva funcionalista do discurso. Ou seja, é necessário sempre avaliar esses dois planos em função de um discurso contido num texto oral ou não. A partir desse ponto, o tópico tem o seu desenvolvimento, que é estudado através de dois elementos: a centração ( acerca do que se fala ) e a organicidade, que é a definição do limite tópico através de certa distribuição de segmentos tópicos em série. Entender cada nível de análise (concernindo o que ele quer demonstrar e onde está localizado no discurso) é de suma importância para analisar satisfatoriamente o tópico e sua continuidade. Como já dito anteriormente, as 3
duas primeiras divisões a se compreender são a hierárquica e a sequencial. Também conhecidos como plano vertical e linear, respectivamente. Esses planos servem para definir a direção da análise. Jubran (1992) atestou que, as sequências textuais se desdobram em supertópicos e subtópicos, caracterizados, obrigatoriamente, pela centração num tópico mais abrangente e pela divisão interna de tópicos constituintes (Jurban et al. 1992, p. 364). Sendo assim, sabe-se que no plano vertical estabelece-se uma relação de interdependência tópica, e essa interdependência dentro da centração pode gerar uma superordenação (onde ficam os segmentos mais relevantes de um texto), e uma subordenação (onde estão os segmentos menos relevantes). Já no plano linear, aparecem as relações de dependência e interdependência tópica. É nessa parte que os elementos de continuidade e descontinuidade tópica são vistos. A partir dessas divisões já é possível definir as unidades tópicas. Estas são unidades constituídas de segmentos tópicos correlatos, em suma, são as partes em que um mesmo tópico perdura centrado e sem se desviar do supertópico. As marcas que delimitam início, manutenção e término de tópico, são facultativas, multifuncionais e co-ocorrentes. Portanto é necessário atenção ao observá-las para uma melhor definição de unidade. Dentro dessas unidades, e de cada segmento tópico inserido nelas, podemos subdividir a análise mais ainda, seguindo os preceitos da centração e da organicidade. 2.1 CENTRAÇÃO: é responsável pelos pontos que mantêm, ou destoam, dentro das unidades ou seguimentos tópicos. Ela baseia-se em três subdivisões, concernência, relevância e pontualização. a) Concernência: o que se pode dizer dos elementos coesivos que ligam as idéias num quadro tópico e nas suas subdivisões. 4
b) Relevância: indica os pontos mais proeminentes nos planos hierárquico e linear, os seguimentos tópicos mais recorrentes segundo sua focalização. c) Pontualização: os lugares onde os pontos de relevância aparecem mais, sejam eles dentro de uma unidade ou seguimento tópico. 2.2 ORGANICIDADE: é o fator que organiza as relações nos planos hierárquicos e linear. No plano hierárquico ela organiza os segmentos tópicos em supertópicos e subtópicos. No plano linear ela age nos intertópicos (tópicos que são abertos por algum interlocutor) e os intertópicos (tópicos que são mantidos pelos interlocutores). A organicidade é quem delimita as fronteiras dessas análises. As tiras vêm sendo bastante utilizadas para este tipo de análise tópica por alguns motivos específicos. O maior deles é o fato delas possuírem certo tópico mantido durante um determinado período em que a tira é escrita e publicada. Além disso, existem tiras que se valem de um supertópico como seu principal eixo temático e motivador. Este quadro tópico principal que é mantido pode ser quebrado, eventualmente, por algum evento de relevância no ambiente em que a tira vem a ser publicada (o que futuramente pode ser analisado com digressão tópica, assunto não pertinente a este trabalho). Numa divisão bastante didática das camadas de análise do tópico discursivo, as tiras do Capitão Brasil podem ser dissecadas da seguinte maneira: 1. Supertópico: pode ser entendido em todas as tiras analisadas como os hábitos e pensamentos tipicamente brasileiros 1.1 Subtópico 1: demonstra a renovação da esperança brasileira na política a cada eleição. Seguimento tópico: a renovação da esperança dos brasileiros numa política mais limpa e honesta. 5
TIRA 1-05/10/2012 Fonte: < http://capitaobrasil.com.br/capitao-brasil-027// > Acesso em: 05/12/12 1.2 Subtópico 2: destaca-se aqui o sentimento patriótico. Seguimento tópico: menosprezo da cultura brasileira em relação à americana. TIRA 2 08/10/2012 Fonte: < http://capitaobrasil.com.br/capitao-brasil-028/ > Acesso em: 05/12/12 6
Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 TIRA 3 10/10/2012 Fonte: < http://capitaobrasil.com.br/capitao-brasil-029/ > Acesso em: 05/12/12 1.3 Subtópico 3: uma pequena sátira à preguiça ao acordar, popularmente atribuída à cultura brasileira. Seguimento tópico: o hábito de esperar por mais cinco minutos para acordar independente da profissão TIRA 4 15/10/2012 Fonte: < http://capitaobrasil.com.br/capitao-brasil-030/ > Acesso em: 05/12/12 7
O esquema mostra claramente como os tópicos são abordados e mantidos em seus dois planos mais básicos de análise: o hierárquico e o linear. Podemos considerar que as quatro tiras constituem o plano hierárquico. Nesse plano hierárquico vemos a centração no supertópico, que é o segmento tópico acerca do que é falado em cada uma das historinhas. Sendo assim, cada tira constitui o plano linear, que são os segmentos marginais correlacionados com o plano hierárquico, são estes os subtópicos e seus respectivos seguimentos. É importante notar que, embora esses outros subtópicos sejam abrangidos, as tirinhas do dia cinco ao dia vinte conseguem manter um mesmo cerne tópico que nutre diferentes subtópicos. A esse fenômeno nomeia-se continuidade tópica, assunto de diversos estudos linguísticos da atualidade. 3. CONCLUSÃO Este trabalho permitiu constatar que a análise discursiva em tirinhas desenvolve-se a partir de uma perspectiva funcionalista do discurso, portanto, não há que se falar no mesmo modelo de interpretação adquirido em outros textos, mas em uma forma detalhada e específica de apreender a cerne dos diálogos apresentados. O resultado gerado pelo estudo das tiras em Capitão Brasil foi, em resumo, a importância de enfatizar os hábitos e pensamentos tipicamente brasileiros, o sentimento patriótico e a preguiça cultural, ou seja, a inércia do intelecto que se mantém dentro do ambiente em questão, ressaltando a compreensão de cada nível de análise e discutindo não somente o tópico discursivo, mas também - e principalmente, sua continuidade e seus desdobramentos. 8
REFERÊNCIAS JUBRAN, Clélia C. A. Spinardi. et al. Organização tópica da conversação. In: ILARI, Rodolfo (org). Gramática do português falado, vol II. Campinas/SP: UNICAMP, São Paulo. Paulo: FAPESP, 1992. Tirinhas do Capitão Brasil: Disponível em: <http://capitaobrasil.com.br/ page/2/>. Acesso em: nov de 2012. 9