72 A IDÉIA DE HOTEL DESIGN 3.1 OS HOTÉIS PRECURSORES Até aqui podemos verificar que o oferecimento de conforto aos hóspedes sempre foi a principal preocupação do estabelecimento hoteleiro. A evolução da qualidade dos serviços se deve em parte à exigência dos hóspedes e também à nova sociedade de consumo. O hotel se torna cada vez mais um local que não serve apenas como estadia temporária e sim um ponto de encontro onde as pessoas vão para verem e serem vistas. Como foi visto na introdução, o designer francês Philippe Starck foi o pioneiro do conceito de Hotel Design juntamente com o empresário nova-iorquino Ian Schager. O empresário, dono de clubes noturnos famosos em Nova Iorque desejavam investir em algo novo e inusitado. Então em 1983 encarregaram à arquiteta Andrée Putman à renovação do interior de um hotel decadente. O Hotel Morgans, na Avenida Madison, 237 foi o primeiro Hotel Design de Nova Iorque, e talvez até do mundo, pois não se encontra registro de nenhum outro até tal momento, com esta classificação bem definida.
73 Figura 71 Entrada Hotel Morgans. Figura 72 Lobby Hotel Morgans. O objetivo do empresário era atrair uma clientela consciente das tendências modernas e que detestassem clichês hoteleiros. Eles estavam certos dos desejos deste tipo de público. O Hotel Morgans foi inaugurado em 1984 com 112 apartamentos. Andrée Putman projetou toda a nova distribuição onde expressava uma metrópole estilizada, mas com uma escala claramente humana, segundo Bangert (1983 p.14). Cada um dos apartamentos foi estudado de acordo com o gosto de um público ligado no mundo do espetáculo e da publicidade. A arquiteta procurou transmitir neste hotel uma sensação de segurança através do estilo refinado e uma atmosfera Art Decô contemporânea. Estava inaugurada uma nova tendência no design de hotéis. Figura 73 Suíte Hotel Morgans. Figura 74 Planta suíte Hotel Morgans.
74 Com o sucesso do Hotel Morgans, o empresário Ian Schager decidiu investir em outro edifício maltratado no centro de Manhattan, entre a Broadway e a Quinta Avenida. Para esse projeto, Schrager convidou o designer francês Philippe Starck que já começava a se destacar no mercado. O Hotel Royalton seria o primeiro hotel do designer e onde ele poderia experimentar grandes criações. Com 168 apartamentos, o Royalton foi inaugurado em 1988. Segundo Starck (1988 apud Bangert, 1993): O cliente deseja um hotel com um certo luxo, mas não da maneira tradicional. Ao mesmo tempo devia transmitir uma sensação de ambiente muito intimo, como o que se pode encontrar em um palácio urbano, mais que um hotel. Um lugar discretamente luxuoso, elegante. Figura 75 Suíte Hotel Royalton. Starck, assim como Andrée Putman buscou também transmitir uma sensação de segurança para o hóspede. Este está longe de casa e da família, e para o arquiteto isto sempre é triste. Figura 76 Planta suíte Hotel Royalton. Logo, a primeira visão que o hóspede tem ao entrar em seu quarto é a cama. Esta está encaixada parcialmente como um camarote de barco. É notável essencialmente neste hotel as atrações estilísticas pós- modernas. O local se tornou um espaço cultural, pois muitas pessoas vão para conhecer e até comprar peças de primeira mão do designer. Starck apela para a cultura da imagem, com suas preferências pela ilusão, fantasia e teatralidade.
75 Figura 77 Entrada Hotel Royalton. Figura 78 Lobby Hotel Royalton. Já em 1990, o Paramount Hotel é o novo investimento de Schrager. Novamente Starck foi chamado para conceber um hotel econômico e de moda, destinado a um público jovem e internacional. Os hóspedes viriam principalmente dos ambientes teatrais e publicitários. O edifício construído em 1927 possuía dimensões diferentes do Morgans e do Royalton. Está próximo a Times Square e com a nova redistribuição possui 610 apartamentos em 20 pavimentos, além de bar, restaurante, mezanino, Wiskey Bar, área de esportes, quiosques de revistas e sala de jogos. Figura 79 Lobby Hotel Paramount. Figura 80 Suíte Hotel Paramount.
76 Nesse momento, Starck não tinha mais compromisso em criar a haute culture democrática, apenas colocar em prática toda a sua experiência. Com o sucesso, Ian Schrager fundou o Grupo Morgans Hotel, onde Philippe Starck é o designer oficial. A empresa administra e promove seus próprios hotéis. Segundo Bangert (1993, p.68) Schrager comentou que os projetos de Starck assinalam o nascimento de uma nova fase no pensamento estético contemporâneo, já que seu design altera o modo de viver e trabalhar. Os hotéis do grupo que totalizam aproximadamente 5.400 camas: Morgans Hotel Nova York 1983 Royalton Hotel Nova York 1988 Delano Hotel Miami 1995 Mondrian Hotel Los Angeles 1996 Clift Hotel São Francisco data não localizada Saint Martins Lane Hotel Londres - 1999 Sanderson Hotel Londres 2000 Hudson Hotel Nova York - 2000 O sucesso da dupla Schrager / Starck não tardou a atravessar o oceano e desembarcar em Londres. No outono de 1999 inauguraram o Saint Martins Lane Hotel e logo na primavera de 2000 o Sanderson Hotel. Assim como no continente americano, ambos os hotéis foram instalados em antigos edifícios. Figura 83 Planta suíte Saint Martins Lane Figura 81 Fachada Hotel Saint Martins Lane Figura 82 Suíte Hotel Saint Martins Lane
77 O edifício do Saint Martins Lane de sete andares é do ano de 1960, onde existia a sede de uma agência de publicidade. Para o Sanderson Hotel foi escolhido o edifício dos antigos escritórios de uma companhia britânica, fundada em 1860 e conhecida como Sanderson, daí o nome do hotel. Esta alcançou um certo reconhecimento no mercado por causa de seus tecidos florais e suas coleções inspiradas nos desenhos de Willian Morris. Segundo Rietwoldt (2002, p.18) tanto o edifício como o pátio interno, criado pelo jardineiro paisagista Phillip Hichs, estão oficialmente protegidos contra qualquer alteração ou demolição. Esta proteção agradou muito Starck, que gosta de mesclar períodos e estilos. O diferencial do Sanderson para os outros hotéis de Starck é o programa de saúde integral, um luxo para o corpo e alma, segundo a esposa do hoteleiro, Nornona Schrager. A oferta inclui drenagens linfáticas, reflexologia, ioga, shiatsu, exercício tailandês, reiki e meditação. Mimos saudáveis que podem despertar o apetite do hóspede, que ainda poderá experimentar a gastronomia exótica oferecida pelo francês Alain Ducasse. O Saint Martins Lane destaca-se pela iluminação teatral, tanto de dia como à noite, onde as cores são o destaque. A intenção do designer foi fazer com que os hóspedes se sentissem parte de um cenário atmosférico. Os dormitórios projetados por Starck não refletem a euforia exterior de seu projeto, são na sua maioria brancos. Figura 84 Fachada Hotel Sanderson Figura 85 Suíte Hotel Sanderson Figura 86 Planta suíte Hotel Sanderson
78 Ainda no ano de 2000, a dupla Schrager e Starck inauguraram em Nova York, Estados Unidos, o Hotel Hudson. Sabiam que seus regressos provocaria grande expectativa no setor hoteleiro nova-iorquino. Segundo Rietwold (2002, p. 44), a dupla decidiu começar pela renovação de uma torre de 22 andares com fachada de tijolo erguido em 1928 como sede para a American Women s Association, e mais recentemente usada como base da empresa televisiva Channel 13. O edifício não tinha nome próprio, por isso Schrager batizou o novo hotel com o nome do Rio Hudson, que se transformou num emblema de Nova York. Figura 87 Fachada Hotel Hudson Figura 88 Recepção Hotel Hudson O Hudson Hotel é o maior hotel da rede, com 1000 quartos. Os gastos da renovação superiores à 125 milhões de dólares ultrapassaram o orçamento normal do empresário. Sendo um hotel maior que os outros da rede, os hóspedes encontram uma tarifa mais baixa. Porém, a área dos quartos são muito mais reduzidas, pode-se dizer que contém apenas o essencial, ao contrário das áreas públicas do hotel. Segundo Rietwold (2002,p.14) : As peças centrais deste oásis urbano são as suas áreas verdes, incluindo um jardim na cobertura que funciona como um parque privado, e um spa de saúde, o Água Bathouse, de dois andares. The Hudson também oferece uma grande variedade de instalações de desporto: pistas de basquetebol e voleibol, um bowling, um ringue de boxe, uma área de tiro com arco e uma piscina de medidas olímpicas.
79 O empresário havia decidido criar uma aventura urbana excitante que proporcionasse uma experiência única em seu território natal. O estilo Starck como ele mesmo gosta de definir, também se estendeu à América Latina, com o Faena Hotel & Universe, em Buenos Aires. Desta vez o cliente de Starck não foi o empresário Schrager, e sim Alan Faena, descrito pela revista argentina Notícias como um milionário zen. Faena tem 41 anos, usa roupas de inspiração indiana com botas de gaúcho, nasceu rico e aumentou sua fortuna ainda jovem, como empresário da moda. Em certa fase da vida, recolheu-se durante três anos em sua mansão em Punta del Leste. Quando voltou, decidiu comprar terrenos e armazéns numa região abandonada entre Puerto Madero e a Reserva Ecológica Costanera Sur. O Hotel Faena faz parte deste investimento. O edifício onde se localiza o hotel data do ano de 1904, todo de tijolinhos à vista e dispõe de 105 quartos de luxo. Uma semana antes do hóspede chegar ao hotel, recebe um e- mail onde o intuito é saber a razão da viagem, gostos e aversões, preferências ou qualquer outra exigência especial durante a sua estadia. Detalhe: quem envia o e-mail são os experience managers, ou seja dois ou três funcionários do hotel escalados para atender especialmente aquele hóspede. Figura 90 Fachada Faena Hotel & Universe Figura 89 Entrada Faena Hotel & Universe
80 Para um observador menos atento, de fora não se imagina que o interior será tão surpreendente. Nem mesmo um letreiro, nem táxis estacionados, nem marquise, nada indica ser um hotel de Philippe Starck. Apenas ultrapassando uma porta de vidro vermelho de dez metros de altura que o hóspede se depara com o universo de Starck. Veludo dourado, móveis com pés de leão, gansos inteiros entalhados nos braços das cadeiras, o vermelho dos tapetes, cabeças de unicórnios nas paredes e a tranqüilidade branca dos quartos. Nada foge à regra do designer francês. Figura 91 El Mercado. Faena Hotel & Universe Figura 92 El Bistrô. Faena Hotel & Universe
81 Figura 94 Planta Suíte. Faena Hotel & Universe Figura 93 Suíte. Faena Hotel & Universe O estilo Starck Já chegou ao Brasil. O mesmo empresário do Faena Hotel & Universe, Alan Faena já está construindo no Rio de Janeiro o Rio Universe Hotel, de frente para o mar de Ipanema. Figura 95 Perspectiva ilustrativa da fachada do Rio Universe Hotel. In: www.arcoweb.com.br Acesso em 27/08/2005 Figura 96 Perspectiva ilustrativa da suíte do Rio Universe Hotel. In: www.arcoweb.com.br Acesso em 27/08/2005 Em abril, Philippe Starck deixou de ser apenas designer e se tornou empresário de hotelaria: fundou a Starck Hotel, em sociedade com investidores árabes. Recentemente (2005), O Grupo Silken lançou em Madri, o Hotel Puerta América. O projeto, reuniu dezenove profissionais como Jean Nouvel, Ron Arad, Norman Foster, Zaha
82 Hadid, Arata Isozaki, entre outros. A concepção para o hotel de luxo é única, surpreendente e desafia os sentidos dos hóspedes. Ao todo são 34.000m² distribuídos em doze pavimentos, e cada pavimento foi projetado por um dos arquitetos. O hotel está próximo ao aeroporto e à zona financeira da capital espanhola. A principal característica do hotel é a diversidade de estilos. A fachada de cores brilhantes, possui transcrições dos poemas de Paul Éluard. Os espaços internos são divergentes e contraditórios. No Puerta América, as suítes criadas pelo britânico Ron Arad são ovais e com camas redondas. Para Ron Arad, ninguém vai a um hotel para ficar como se estivesse em casa, para isto fica-se em casa. É um empreendimento totalmente diferenciado o mercado hoteleiro de luxo. A surpresa é fator constante e a estadia, inesquecível. A contribuição brasileira para o Puerta América foi a escultura em forma de foice vermelha, em aço de Oscar Niemeyer. Figura 97 - Corredor que leva aos quartos. In: www.puertamerica.com Acesso em 25/08/2005 Figura 98 - Interior do Puerta America. In: www.puertamerica.com Acesso em 25/08/2005