O COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE VARGAS DE DOURADOS E O SEU LABORATÓRIO



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Transcrição:

O COLÉGIO ESTADUAL PRESIDENTE VARGAS DE DOURADOS E O SEU LABORATÓRIO (1958-1971) Inês Velter Marques Mestranda em Educação /Linha História, Memória e Sociedade/Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)/Programa de Pós- Graduação em Educação Alessandra Cristina Furtado Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)/Programa de Pós-Graduação em Educação Este trabalho apresenta parte de uma pesquisa de Mestrado (em andamento), sobre o ensino secundário do antigo Sul de Mato Grosso, que analisa a história do Colégio Estadual Presidente Vargas de Dourados, entre 1958 a 1971, no que diz respeito ao perfil do corpo docente e quadro discente, ao ensino ministrado, ao espaço físico da instituição, entre outros aspectos. O recorte temporal no ano de 1958 sinaliza o período de instalação do Colégio na cidade. O ano de 1971 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a de nº. 5.692/71, que trouxe mudanças na organização e no funcionamento desta instituição. A análise efetuada neste texto incide, portanto sobre o papel do Laboratório instalado em 1965, no Colégio Estadual Presidente Vargas. A abordagem está aliada a um referencial teórico voltado para a História, História da Educação, dentre outros. A pesquisa se orienta na perspectiva da Nova História Cultural, pois privilegia como objetos de investigação, os aspectos da cultura escolar desta instituição de ensino secundário de Dourados. A História Cultural surgiu [...] da emergência de novos objetos no seio das questões históricas (CHARTIER, 1990, p.14), estendendo o campo de abordagens dos historiadores para novos horizontes, pois os acontecimentos presentes na vida cotidiana e as personalidades esquecidas nas análises históricas começaram a ser estudados. No campo de estudo da História da Educação, a influência da Nova História Cultural fez com que as os pesquisadores desta área dedicasse a outra proposta de estudo, centrando-se em novos domínios, passando a: (...) penetrar a caixa preta escolar, apanhando-lhe os dispositivos de organização e o cotidiano de suas práticas; pôr em cena a perspectiva dos agentes educacionais; incorporar categorias de análise como gênero -, e recortar temas como profissão docente, formação de professores, currículos e práticas de leitura e escrita -, são alguns dos novos interesses que determinam tal reconfiguração (CARVALHO, 1998, p.32). Assim, pode-se dizer que novos objetos e temas com novos problemas e procedimentos de análise se integraram à pesquisa em História da Educação,

favorecendo outros caminhos para o seu estudo, como é o caso, por exemplo, da investigação sobre a história das instituições escolares. Pretende-se registrar aspectos da história desta instituição escolar, mais especificamente, do Colégio Estadual Presidente Vargas em Dourados, por meio da pesquisa histórica, mediante documentos pertencentes ao arquivo da escola investigada, do Jornal O Progresso e do Centro de Documentação Regional (CDR), entre outros lugares. Em Mato Grosso, o ensino secundário desenvolveu-se lentamente. As primeiras instituições de ensino secundário no Estado foram instaladas em Cuiabá, Campo Grande e Corumbá. Nas décadas de 1910 a 1940, em relação à educação e instituições escolares públicas, haviam grandes percalços ligados à implantação das escolas, dentre os quais: a extensa expansão geográfica do estado, dificultando assim, uma interação entre a capital Cuiabá com as demais cidades e o restante do país. A situação era ainda mais difícil no sul do estado, como por exemplo, em Campo Grande e Corumbá, onde foram instalados os primeiros colégios públicos. Com a ausência, possivelmente, efetiva do setor público, quem assumiu a responsabilidade de administrar esta modalidade de ensino foi à iniciativa privada, para atender a demanda das classes de elites e médias, com a instalação de colégios privados em Campo Grande, Corumbá, Maracaju, Três Lagoas e Dourados (RIBEIRO; RIEDNER, 2012). Em Dourados, a década de 1950 registrou a expansão da iniciativa particular no ensino. Ainda em 1950 foi criado o Patronato de Menores. Em 1954, a escola particular Oswaldo Cruz passou a oferecer além do primário o ensino ginasial diurno e noturno. Em 1955, foi criada a escola particular Imaculada Conceição, funcionando em dois períodos, em regime de internato e semi-internato. Em 1958, foram criados os estabelecimentos particulares Ginásio Nossa Senhora da Conceição e a Escola Normal Nossa Senhora da Conceição. O Patronato de Menores foi transformado no estabelecimento denominado Educandário Santo Antônio. No mesmo ano, começou a funcionar a primeira escola estadual pública com oferta do ginásio denominada Colégio Estadual Presidente Vargas (GRESSLER, 1988). O Colégio Estadual Presidente Vargas é a mais antiga instituição de ensino secundário público de Dourados. Foi construída no município, durante o governo do presidente Getúlio Vargas nos anos de 1950, em uma área doada pelo Professor Celso

Muller do Amaral 1, denominadas parte da chácara 57 e 58, sendo de 10.000 m2, situada atualmente ao sul com a Rua Oliveira Marques, ao Norte, com a rua Ciro Melo, a Leste com a rua Hayel Bon Faker e a Oeste, com a rua João Cândido Câmara 2. O Laboratório no Ensino do Colégio Nos anos de 1960, as novas diretrizes educacionais estabelecidas pela Lei 4.024/61 tiveram uma grande repercussão na rede pública e particular de ensino. Isso trouxe novas indicações curriculares particularmente, no que diz respeito à organização dos ginásios e colégios, ou seja, da educação secundária. De acordo com Souza (2008), a organização curricular que apresentava, O conteúdo marcadamente humanista até então predominante, gozando de enorme legitimidade social, foi substituído pela cultura científica e técnica orientada para o trabalho. A mudança em relação à sensibilidade social sobre a validade das disciplinas literárias foi notável. A ênfase na utilidade prática dos conteúdos e sua funcionalidade para a vida contemporânea mudaram radicalmente as prioridades na seleção e distribuição do conhecimento no interior das escolas (p.228). Com a organização curricular direcionada para a cultura científica e técnica orientada para o trabalho, bem como a utilidade prática dos conteúdos, pode-se dizer que os laboratórios tornaram-se importante para o funcionamento das escolas secundárias. É neste contexto, dos anos de 1960, que o Laboratório foi doado pela UNESCO para o Colégio Presidente Vargas em 1965, para atender as disciplinas de Ciências, Biologia, Química, Física e Geografia dos Cursos ministrados na instituição. Convém lembrar que em 1965, o Colégio já oferecia tanto o Ginasial, instalado em 1958 quanto o Científico, implantado em 1963. A UNESCO ofereceu todos os equipamentos para a montagem do laboratório como, por exemplo: esqueleto humano, imagem do corpo humano, telescópio, imagem de plantas e o material para a realização das aulas práticas, conforme constam nas Notas Fiscais abaixo: Figura 01 Notas fiscais 1 Fonte: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getpdf.asp?t=53129&tp=1. Acesso em 10 de jan. 2013. 2 Fonte: Prefeitura Municipal de Dourados/ Fiscalização de obras/ Geo Processamento/ Sr. Osmar Ferreira Paraizo. 05 de Fevereiro de 2013.

Fonte: CDR Centro de Documentação Regional Caixa 12 caderno 07. A instalação de um laboratório em que a teoria estivesse associada à prática foi marcadamente notória no Colégio, uma vez que a documentação analisada aponta também que isso, esteve relacionado ao reerguimento do ensino no estado de Mato Grosso. O Laboratório foi construído em espaço físico amplo, para desenvolver as pesquisas e experiências científicas. Figura 02- Laboratório de Ciências Fonte: Centro de Documentação Regional Caixa 13. A parte da sala representada na imagem refere-se à seção de Biologia e Iniciação às Ciências, seção está constituída por microscópios, esqueleto humano, quadros com figuras representando as partes internas do corpo humano e quadros com figuras de plantas. Isso acaba por demonstrar que os alunos e os professores possuíam um amplo material para utilizar no ensino de Ciências e Biologia, podendo inclusive estabelecer relações entre os conteúdos teóricos das aulas destas disciplinas com a parte prática. Para Souza (2008),

As disciplinas Iniciação à Ciência e Ciências Físicas e Biológicas deveriam desenvolver hábitos e atividades peculiares aos que se dedicavam à pesquisa cientifica. Por essa razão, os métodos indicados eram aqueles concernentes ao método científico, incentivando no aluno hábito de consulta a biblioteca, de observação e experimentação (p.238). Sem dúvida, pode-se dizer que a instalação do laboratório em 1965 contribuiu para a formação dos alunos que cursavam, sobretudo, o ensino Científico no Colégio Estadual Presidente Vargas, uma vez que este Curso tinha uma carga horária maior para as disciplinas ligadas às Ciências do que o Ginasial, fazendo com que as aulas teóricas fossem aprimoradas na prática, mediante a realização de experimentos científicos. Entretanto, uma década após a instalação do Laboratório de Fisica, Química, Biologia e Ciências, o mesmo deixou de ser utilizado pelos professores e alunos, como pode-se verificar em uma entrevista realizada por uma aluna do Jornal O Grito ao então, ex-diretor Celso Muller do Amaral em 1974, sobre o Colégio: Aluna: Que recordações tem do tempo de Diretor? Celso: Havia um ambiente bem familiar. todos colaboravam com a limpeza, com a Caixa Escolar para ajudar os que precisavam. O meu orgulho foi o laboratório que conseguimos através da UNESCO. Era o melhor laboratório do Estado, plenamente equipado com figuras e mapas, químicos, 3 microscópios, até um esqueleto para estudo, pouco a pouco foram levando umas coisas estragando outras, até que resta pouco ou quase nada. (Jornal O GRITO, 1974, nov. p.6). Diante desta fala do antigo diretor do Colégio observa-se que este Laboratório foi o mais completo na área de ensino do Sul de Mato Grosso, nos anos de 1960, uma vez que além dos recursos que dispunha em termos de materiais para o ensino e a pesquisa, era vista pela comunidade escolar como um espaço privilegiado para o desenvolvimento das atividades práticas dos estudantes, no que tange a observação e a experimentação. Investigar o papel que um Laboratório ocupou em uma instituição secundária pública permitiu compreender uma parte fundamental da escolarização que são os processos internos da escola, possibilitando assim, conhecer aspectos da cultura escolar que marcou a história deste Colégio em Dourados. Neste trabalho, objetivou-se abordar um dos aspectos relacionados ao funcionamento do ensino desta instituição, mais precisamente, os aspectos referentes à organização curricular do Ginasial e Científico, no que tange às disciplinas relacionadas à área das Ciências.

Embora este texto faça parte de uma pesquisa ainda em andamento, pode-se afirmar que este Laboratório ocupou nos anos de 1960, um lugar importante nas atividades de ensino nas disciplinas ligadas às Ciências, no Colégio Presidente Vargas de Dourados. Apesar disso, nos anos de 1970, a documentação aponta que este Laboratório deixou de ser um espaço privilegiado para as atividades práticas de ensino na instituição. Referências bibliográficas CARVALHO, M. M. C. Por uma história cultural dos saberes pedagógicos. In: SOUSA, C. P. et al. Práticas educativas, culturas escolares, profissão docente. São Paulo: Escrituras, 1998. p. 31-40. CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações.2ª ed. Lisboa: Difel, 2002. GRESSLER, L. A, SWENSSON, L. J. Aspectos históricos do povoamento e da colonização do Estado de Mato Grosso do Sul.1988. LEI N o 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961.Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.mec.gov.br/. Data de acesso: 10 de dezembro de 2012. RIBEIRO, S. de A.; RIEDNER, D. D. T. Apontamentos sobre o Ensino Secundário no Sul de Mato Grosso: em foco o Colégio Maria Constança Barros Machado. Disponível em: http://www.anpedco2012.ufms.br/trabalhos/gt2/artigo/a- 021.pdf Acesso em: 02 de março de 2013. SOUZA, R. F. de. História da Organização do Trabalho escolar e do Currículo no século XX: (ensino primário e secundário no Brasil).V. 2. São Paulo: Cortez, 2008.