Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Órgão 6ª Turma Cível Processo N. APELAÇÃO 0731603-85.2017.8.07.0001 APELANTE(S) SEGURADORA LIDER DOS CONSORCIOS DO SEGURO DPVAT S.A. APELADO(S) MANOEL FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS VERAS Relator Desembargador JOSÉ DIVINO Acórdão Nº 1096845 EMENTA DIREITO CIVIL. COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). INADIMPLÊNCIA. IRRELEVÂNCIA. I. A falta de pagamento do prêmio do seguro DPVAT pelo proprietário do veículo, vítima em acidente de trânsito, não obsta o direito ao recebimento de indenização. II. O art. 7º, caput e 1º, da Lei nº 6.194/74, refere-se à hipótese de ação de regresso do Consórcio de Seguradoras contra o proprietário nos casos em que o primeiro é obrigado a indenizar terceira pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido. III. Negou-se provimento ao recurso. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOSÉ DIVINO - Relator, VERA ANDRIGHI - 1º Vogal e ESDRAS NEVES - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ALFEU MACHADO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 16 de Maio de 2018 Desembargador JOSÉ DIVINO Relator
RELATÓRIO Cuida-se de ação de conhecimento proposta por MANOEL FRANCISCO PEREIRA DOS SANTOS VERAS em face da SEGURADORA LIDER DO CONSORCIO DO SEGURO DPVAT S.A. O autor alega, em síntese, que sofreu acidente de trânsito em 10/04/2017, do qual resultou lesão no membro inferior direito. Sustenta que o acidente lhe deixou inapto para o trabalho e atividades habituais, resultando em invalidez permanente parcial. Afirma que a ré indeferiu o seu pedido administrativo de indenização do seguro DPVAT. Postula a condenação da ré ao pagamento de indenização relativa ao Seguro Obrigatório DPVAT, no valor correspondente a R$ 9.450,00. Devidamente citada, a ré ofereceu contestação, na qual sustenta a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e que o autor teve o seu pedido negado por estar inadimplente com o pagamento do seguro obrigatório. Defende ser inaplicável o enunciado nº 257 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, pois fora editado para beneficiar terceiros envolvidos em acidente automobilístico que não poderiam ser prejudicados pela inadimplência do proprietário. Alega que não está comprovada a alegada invalidez. Diz ser necessária a realização de perícia pelo IML. Pede a improcedência da ação e, subsidiariamente, a aplicação do disposto no 1º do art. 7º da Lei nº 6.194/74, bem como na tabela prevista na Lei nº 11.945/2009. Realizada a audiência de conciliação, o autor foi submetido à avaliação médica pericial, mas não houve acordo entre as partes. O pedido inicial foi julgado parcialmente procedente para condenar a ré a pagar ao autor a quantia R$ 4.725,00. Inconformada, a ré apela, repisando a tese de que inexiste o dever de indenizar, pois o apelado estava inadimplente com o pagamento do seguro obrigatório. Defende ser inaplicável o enunciado nº 257 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Sustenta que o pagamento da indenização na hipótese de inadimplência do proprietário pressupõe a aplicação do disposto no 1º do art. 7º da Lei nº 6.194/74. Postula a reforma da sentença, com a improcedência da ação. Subsidiariamente, pede a aplicação do disposto no 1º do art. 7º da Lei nº 6.194/74. Recurso isento de preparo e devidamente contrariado. É o relatório. VOTOS O Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO - Relator Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Cuida-se de apelação contra a sentença que julgou parcialmente procedente o pedido inicial para condenar a ré a pagar ao autor a quantia R$ 4.725,00, a título de indenização do seguro DPVAT. A apelante alega que inexiste o dever de indenizar, argumentando que o apelado estava inadimplente
com o pagamento do seguro obrigatório e defendendo a inaplicabilidade enunciado nº 257 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. No entanto, a aludida súmula é clara ao dispor que o inadimplemento do prêmio do seguro DPVAT não exime a Seguradora do pagamento da indenização. Com efeito, por mais que o seguro DPVAT seja obrigatório, a falta do seu pagamento resultará em irregularidade administrativa, sendo possível a cobrança do respectivo crédito, mas não interferirá no direito à indenização da vítima do acidente de trânsito. Além disso, o entendimento sumulado não faz qualquer ressalva ao caso de a vítima do acidente ser o proprietário do veículo. Confira-se: A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização. Ao contrário do que defende a apelante, no REsp 144.583/SP, um dos precedentes que deu origem ao referido enunciado, a vítima do acidente automobilístico era o proprietário inadimplente do veículo, conforme se verifica da ementa do aresto abaixo transcrita: Seguro obrigatório. Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº 8.441/92. 1. Como está em precedente da Corte, a "falta de pagamento do prêmio de seguro obrigatório não é motivo para a recusa do pagamento da indenização", nos termos da Lei nº 8.441, de 13/07/92. 2. Não tem pertinência deixar de efetuar o pagamento devido pela razão de ser a vítima proprietária do veículo. 3. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 144.583/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/11/1999, DJ 07/02/2000, p. 153). No mesmo sentido, confiram-se os seguintes precedentes deste Tribunal: APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO. SEGURO DPVAT. EXAURIMENTO VIA ADMINISTRATIVA. INADIMPLÊNCIA. CORREÇÃO MONETÁRIA. SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS. I - Dispensável o exaurimento das vias administrativas para posterior ajuizamento de ação judicial, art. 5º, incs. XXXV e XXXIV, alínea "a", da CF/88. Preliminar rejeitada. II - A ausência de pagamento do prêmio do seguro DPVAT pelo proprietário do veículo, vítima em acidente de trânsito, não obsta o direito ao recebimento de indenização. Súmula 257 do c. STJ. III - Na indenização de seguro DPVAT, a correção monetária incide desde a data do evento danoso. Súmula 580 do c. STJ. IV - O autor decaiu da maior parte de seu pedido, razão pela qual deverá arcar com os honorários advocatícios em proporção maior. Distribuída a sucumbência em 80% para o autor e 20% para a ré.
V - Apelação parcialmente provida. (Acórdão nº 1040719, 20170110006706APC, Relator: VERA ANDRIGHI 6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 16/08/2017, Publicado no DJE: 22/08/2017. Pág.: 690/699). CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. INADIMPLÊNCIA COM RELAÇÃO AO PAGAMENTO DO PRÊMIO. LEI Nº 6.194/1974. SÚMULA 257 STJ. Aplica-se ao caso a Lei nº 6.194/74, que dispõe sobre o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, pois o autor sofreu acidente automobilístico. Nos termos da Súmula 257, do Superior Tribunal de Justiça, a falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres não é motivo para a recusa do pagamento da indenização. A súmula não faz distinção entre segurado e proprietário do veículo ou, ainda, a terceiros envolvidos no acidente. (Acórdão nº 1022844, 20160111110560APC, Relator: ESDRAS NEVES 6ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 31/05/2017, Publicado no DJE: 13/06/2017. Pág.: 315/335). Ademais, o apelado já efetuou, na via administrativa, o pagamento das parcelas inadimplidas. Ressalte-se que não se aplica o art. 7º, caput e 1º, da Lei nº 6.194/74, pois se refere à hipótese de ação de regresso do Consórcio de Seguradoras contra o proprietário nos casos em que o primeiro é obrigado a indenizar terceira pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido. A propósito, confiram-se os seguintes arestos: COBRANÇA. SEGURO DPVAT. INTERESSE PROCESSUAL. INADIMPLÊNCIA DO AUTOR. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. COMPENSAÇÃO. 1. O direito de demandar o pagamento da indenização do seguro DPVAT não é condicionado ao exaurimento da via administrativa. 2. A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório por danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização (STJ 257). O autor é vítima de acidente de trânsito e, portanto, beneficiário do seguro. Assim, não há que se falar em direito de regresso ou mesmo em compensação pelo não pagamento do seguro, institutos, aliás, que não se confundem. 3. A exigibilidade dos créditos recíprocos é um dos requisitos para a compensação, ausente no caso de condição suspensiva, como ocorre com a obrigação do beneficiário da justiça gratuita de arcar com parte dos custos financeiros do processo, conclusão que prevalece independentemente do regime processual, atual ou anterior. (Acórdão n.1069424, 20150110564529APC, Relator: FERNANDO HABIBE 4ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 24/01/2018, Publicado no DJE: 29/01/2018. Pág.: 455/467) APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DPVAT. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DESPESAS DECORRENTES. SÚMULA 257 DO STJ. VÁLIDA COMPENSAÇÃO. INDEVIDA. NEXO DE CAUSALIDADE.COMPROVADO. 1. O seguro obrigatório, DPVAT, constitui uma responsabilidade civil, de cunho eminentemente social, criado pela Lei nº 6.197/1974 para indenizar os beneficiários ou as vítimas de acidentes de
veículo automotor nas vias terrestres (urbana, rodoviária ou agrícola). 2 - A inadimplência do segurado não afasta o dever indenizatório nos termos da Súmula 257, do STJ, que dispõe: A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório por danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização. Cumpre destacar que não há distinção se a vítima é proprietária ou não do veículo envolvido. 3 - Não merece acolhimento o pedido de compensação da condenação do valor devido à título de DPVAT. Isso porque, para tanto, é indispensável que duas pessoas sejam credor e devedor uma da outra, consoante dispõe o art. 368 do Código Civil, o que não ocorre na hipótese vertente. O art. 7º, 1º, da Lei 6.194/74 tem incidência nos casos em que o consórcio, e não a seguradora, é responsável pelo pagamento da indenização. 4. Não há que se falar em ausência de nexo de causalidade entre o acidente e as despesas médicas realizadas pela parte autora, se os comprovantes acostados na inicial são suficientes para embasar o reembolso pretendido. 5. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão n.1073333, 00016995620168070014, Relator: ROMEU GONZAGA NEIVA 7ª Turma Cível, Data de Julgamento: 07/02/2018, Publicado no DJE: 19/02/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.) No tocante aos honorários recursais, majoro a verba honorária devida pela ré ao patamar de 12% sobre o valor da condenação. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. É como voto. A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - 2º Vogal Com o relator DECISÃO CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.