PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES APRESENTANDO CORPÚSCULOS DE LENTZ EM ESFREGAÇO SANGUÍNEO

Documentos relacionados
PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES

PERFIL HEMATOLÓGICO DE CÃES POSITIVOS PARA PARVOVIROSE DIAGNOSTICADOS POR IMUNOCROMATOGRAFIA NO HOSPITAL VETERINÁRIO UNIVERSITÁRIO UFPI.

Avaliação laboratorial da cinomose canina estudo retrospectivo de 25 casos no município de Araçatuba, SP

ALTERAÇOES LABORATORIAIS RANGELIOSE: RELATOS DE CASOS

DIAGNÓSTICO DE CINOMOSE EM DOIS CÃES UTILIZANDO O KIT SensPERT C ASSOCIADO À TÉCNICA DE CITODIAGNÓSTICO DA CONJUNTIVA OCULAR E ESFREGAÇO SANGUÍNEO

Peculiaridades do Hemograma. Melissa Kayser

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Avaliação hematológica em cães errantes da região urbana de Maringá-PR

INTRODUÇÃO AO LINFOMA EM GATOS

ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM CÃES POSITIVOS PARA LEISHMANIA spp. NA MICRORREGIÃO DE ARAGUAÍNA-TO.

Universidade Federal do Paraná. Treinamento em Serviço em Medicina Veterinária. Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

Avaliação Nutricional - Profa. Raquel Simões

LEUCOGRAMA O que realmente precisamos saber?

31/10/2013 HEMOGRAMA. Prof. Dr. Carlos Cezar I. S. Ovalle. Introdução. Simplicidade. Baixo custo. Automático ou manual.

ESTUDO COMPARATIVO DA AÇÃO ANTIINFLAMATÓRIA DA PREDNISONA E DO DIMETIL-SULFÓXIDO (DMSO) NO TRATAMENTO DE CÃES COM ENCEFALITE POR CINOMOSE.

Anais do 38º CBA, p.1478

ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA CINOMOSE CANINA NO BRASIL E NO MUNDO

O Hemograma. Hemograma: Interpretação clínica e laboratorial do exame. NAC Núcleo de Aprimoramento Científico Jéssica Louise Benelli

Professora Especialista em Patologia Clínica UFG. Rua 22 s/n Setor aeroporto, CEP: , Mineiros Goiás Brasil.

Estudo comparativo entre alterações hematológicas de filhotes com babesiose canina e os achados comuns em animais adultos acometidos.

Anais do 38º CBA, p Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de

CONTAGEM DE RETICULÓCITOS EM FELINOS ANÊMICOS E NÃO ANÊMICOS ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO UNIVERSITÁRIO DA UFPI

Sangue: funções gerais

INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

TÍTULO: DIFERENÇAS DE VOLUME SANGUÍNEO COLETADO E SUA INFLUÊNCIA NO HEMOGRAMA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.

INFLUÊNCIA DA TRANSMISSÃO TRANSPLACENTÁRIA DO ANAPLASMA MARGINALE NO HEMOGRAMA E NO METABOLISMO OXIDATIVO DOS NEUTRÓFILOS (NBT) EM BOVINOS ABSTRACT

Leucemias Agudas: 2. Anemia: na leucemia há sempre anemia, então esperamos encontrar valores diminuídos de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos.

Leucemia Linfoblástica Aguda e aspectos microscópicos. Relato de caso

EFEITOS DO PERÍODO PUERPERAL SOBRE O HEMOGRAMA E TESTE DE NBT EM VACAS GIROLANDO ABSTRACT

HEMOGRAMA EM GERIATRIA. AVALIAÇÃO NUMA POPULAÇÃO DA CIDADE DE AMPARO, SP. Município de Amparo II Biomédica. Município de Amparo RESUMO

EFEITO DA AUTO-HEMOTERAPIA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICO EM CÃES EFFECT OF AUTOHEMOTHERAPY ON HEMATOLOGICAL PARAMETERS IN DOGS

Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno Professor Adjunto I DMV/EV/UFG

CURSO DE FARMÁCIA Autorizado pela Portaria nº 991 de 01/12/08 DOU Nº 235 de 03/12/08 Seção 1. Pág. 35 PLANO DE CURSO

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA EM GATOS

Palavras-chave: Hemograma; Refrigeração; Viabilidade Keywords: Hemogram; Refrigeration; Viability

INSTITUTO FORMAÇÃO Cursos Técnicos Profissionalizantes. Professora: Flávia Soares Disciplina: Imunologia Aluno (a): INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

ANEMIA EM CÃES E GATOS

03/08/2016. Patologia Clínica e Análises Laboratoriais Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

PLANO DE APRENDIZAGEM. CH Teórica: 40h CH Prática: 20h CH Total: 60h Créditos: 03 Pré-requisito(s): Período: IV Ano:

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

EFUSÃO PLEURAL EM GATOS: ACHADOS HEMATOLOGICOS E BIOQUÍMICOS PLEURAL EFFUSION IN CATS: HEMATOLOGICAL AND BIOCHEMICAL FINDINGS

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Aulas e discussão dos casos.

Introdução. Sangue. Tecido líquido Elementos figurados. Plasma. Glóbulos Sanguíneos. Matriz Extracelular. Glóbulos Vermelhos. Plasma.

Senha para inscrição no Moodle Mecanismos de Agressão e Defesa turma E. #aluno-mad1e

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

LEISHMANIOSE CANINA (continuação...)

DADOS CLÍNICOS E HEMATOLOGICOS DE CÃES COM TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL CLINICAL AND HEMATOLOGICAL DATA OF DOGS WITH TRANSMISSIBLE VENEER TUMOR

FACULDADE DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA

AVALIAÇÃO DE UM HEMOGRAMA COMPLETO - SÉRIE VERMELHA

PERFIL HEMATOLÓGICO DE GATOS DOMÉSTICOS NATURALMENTE INFECTADOS POR EHRLICHIA PLATYS NA REGIÃO SUL FLUMINENSE-RJ

Elementos do hemograma

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Avaliação Hematológica, Interpretação e Importância em Nutrição

Relatório de Caso Clínico

Leucograma: Avaliação normal e alterações quantitativas

CLODOMIR GUEDES LOPES JÚNIOR

Perfil Hematológico de ratos (Rattus novergicus linhagem Wistar) do Biotério da Universidade Luterana do Brasil

CYNTHIA DE ASSUMPÇÃO LUCIDI 1 ; FLÁVIA FERNANDES DE MENDONÇA UCHÔA 2

Hemograma. Exame laboratorial que expressa a quantidade e a qualidade dos elementos figurados do sangue periférico em 1 microlitro

PRINCIPAIS SINDROMES PARANEOPLÁSICAS HEMATOLÓGICAS DE CÃES COM LINFOMA MAIN PARANEOPLASTIC HEMATOLOGICAL SYNDROMES OF DOGS WITH LYMPHOMA

ESPECIALIZAÇÃO EM HEMATOLOGIA E BANCO DE SANGUE. Aulas Teóricas: On Line Práticas: Presenciais

TÍTULO: COMPARAÇÃO DA CONTAGEM DE PLAQUETAS ENTRE O MÉTODO DE FÔNIO E O MÉTODO SEMI-AUTOMATIZADO

Anais do 38º CBA, p.0882

INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM GATOS

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 11 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:05/08/2019

TALASSEMIAS ALFA NA POPULAÇÃO EM DEMANDA DO LABORATÓRIO MONTE AZUL NA CIDADE DE MONTE AZUL-SP

Curso de Medicina Veterinária ANÁLISE DO PERFIL HEMATOLÓGICO EM CÃES DE UM ABRIGO NO DF

ASPÉCTOS CLINICOPATOLÓGICOS DA CINOMOSE EM CÃES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM HEMATOLOGIA E BANCO DE SANGUE ( )

PERFIL HEMATOLÓGICO E BIOQUÍMICO DA PARVOVIROSE CANINA

Palavras-chave hemoparasito; gametócito; carrapato; filhotes.

Ocorrência de parvovirose e cinomose em cães no Planalto Catarinense

PREVALÊNCIA, FATORES DE RISCO E ASSOCIAÇÕES LABORATORIAIS PARA CINOMOSE CANINA EM JATAI-GO

Parte I ABORDAGEM LABORATORIAL DAS ANEMIAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS CIARLINI, PC LCV - FMVA. Prof. Adjunto Paulo César C

Abordagem laboratorial da resposta inflamatória Parte I I. Prof. Adjunto Paulo César C atuba

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ UNIDADE JATOBÁ. Carga Horária Total Carga Horária Semestral Ano Letivo 48 hs Teórica: 32 Prática:

UTILIZAÇÃO DOS ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS NO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE ANEMIAS MICROCÍTICAS

Análise Clínica No Data de Coleta: 22/03/2019 1/5 Prop...: RAIMUNDO JURACY CAMPOS FERRO Especie...: CANINA Fone...: 0

1) Qual translocação é característica da Leucemia mielóide crônica? a) t(14;18) b) t(9,21) c) t(9;22) d) t(22,9) e) t(7;22)

PESQUISA DE Rangelia vitalii ATRAVÉS DA PCR EM SANGUE DE CÃES DA REGIÃO DE GUARAPUAVA PR..

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:30/04/2019

Archives of Veterinary Science ISSN X

Relatório de Caso Clínico

Interpretação clínica das alterações no número dos leucócitos Alterações no número de leucócitos na circulação

18/08/2016. Anemia e Policitemia Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/7 Prop...: MARINA LEITÃO MESQUITA Especie...: CANINA Fone...: 0

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM GATOS

PERFIL HEMATOLÓGICO DE VACAS HOLANDESAS CONFORME O PERÍODO DE LACTAÇÃO SUBMETIDAS A DIETA COM INCLUSÃO DE GLICERINA BRUTA 1

FORMULÁRIO PADRÃO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS

CURSO DE INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

PROGRAMA DA DISCIPLINA

Evaluation of the use of whole blood bags or blood components in dogs in veterinary clinics in Ribeirão Preto and region.

Programa Analítico de Disciplina VET362 Laboratório Clínico Veterinário

LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA EM CANINO RELATO DE CASO CHRONIC LYMPHOCITIC LEUKEMIA IN DOG CASE REPORT

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/6 Prop...: NATHALIA RONDON BOTELHO DE CARVALHO Especie...: CANINA Fone...

Leucemia linfoblástica aguda e aspectos microscópicos: relato de caso

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:25/04/2019

Transcrição:

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES APRESENTANDO CORPÚSCULOS DE LENTZ EM ESFREGAÇO SANGUÍNEO SILVA, G.A. 1 ; ARAÚJO, E.K.D. 2 ; VIEIRA, R.M. 2 ; ARAÚJO, L.L 2 ; DE SOUSA, D.K.T. 2 ; CARDOSO, J.F.S. 3 ; OLIVEIRA, W.A. 4 ; SANTOS, A.S 5 ; PRADO, A.C. 6 ; BARROS, N.C.B 7 ; Médica veterinária, Universidade Federal do Piauí. 1. Médico(a) veterinário(a), residente no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 2 Prof. Dra. Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária (DCCV), Universidade Federal do Piauí. 3 Médico veterinário no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 4 Médica veterinária, aprimoranda no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí. 5 Técnico em análises clínicas no Hospital Veterinário Universitário (HVU), Universidade Federal do Piauí 6. Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí 7. RESUMO A cinomose é uma das doenças virais mais importantes em cães no Brasil, causada pelo Morbillivirus da família Paramyxoviridae, doença severa e altamente contagiosa que acomete cães e outros carnívoros de forma multissistêmica. O objetivo deste trabalho foi descrever os achados hematológicos em cães infectados naturalmente pelo vírus da cinomose,utilizando os arquivos dos animais atendidos no período de Setembro de 2013 a Maio de 2014 no HVU UFPI. Durante este período foram colhidas amostras de sangue 3.413 cães, dos quais, 1,55%, foram diagnosticados cinomose baseado no achado de corpúsculo de lentz em esfregaço sanguíneo. A anemia, leucopenia, linfopenia, eosinopenia e trombocitopenia, foram as alterações mais frequentes, e podem ser utilizadas pelos clínicos veterinários como recursos diagnósticos auxiliares na cinomose canina. Palavras-chave Cinomose, corpúsculo de lentz, parâmetros hematológicos. ABSTRACT The disease is one of the most important diseases in the world, the disease of the father of the family Paramyxoviridae, the serious disease and the disease that affects more and other carnivores in a multisystemic way. The objective of this work was to describe the hematological aspects in dogs infected with the distemper virus, using the files of the animals served from September 2013 to May 2014 in the HVU - UFPI. 3,413 dogs were included, of which, 1.55%, were diagnosed based on the finding of corpse of lentils in blood smear. Anemia, leukopenia, lymphopenia, eosinopenia and thrombocytopenia were the most frequent and may be used by veterinarians as ancillary diagnostic features in canine distemper. Keywords - Canine distemper, Lentz corpuscle, hematological parameters.

INTRODUÇÃO A cinomose é uma das doenças virais mais importantes em cães no Brasil, causada pelo Morbillivirus da família Paramyxoviridae. É uma doença severa e altamente contagiosa que acomete cães e outros carnívoros de forma multissistêmica A infecção apresenta distribuição mundial, podendo acometer cães de todas as idades, raça e sexo. No entanto, sua incidência é mais elevada em animais até 06 meses de idade e não vacinados (Birchard et al, 2008; Headley et al., 2012). O vírus da cinomose replica-se primariamente nos macrófagos do trato respiratório, após isto, por via hematógena, o vírus se direciona ao trato gastrintestinal, urogenital e ocasionalmente sistema nervoso central. Durante a viremia, o vírus da cinomose se replica em algumas células sanguíneas e endoteliais. Neste processo, resquícios da replicação viral são encontrados nas células e estes são denominados corpúsculos de inclusão de Lentz, que são excessos de proteínas não utilizadas e que se depositam nas células. A presença destes corpúsculos eosinofílicos e intracitoplasmáticos servem como diagnóstico definitivo para a cinomose, porém a sua ausência não descarta a possibilidade de existência da doença (Ramsey and Tennant, 2010). O diagnóstico da cinomose canina é presumível, necessitando de exames laboratoriais como métodos auxiliares para um diagnóstico conclusivo desta enfermidade (Birchard and Sherding, 2008). A confirmação pode ser realizada através da identificação de corpúsculos de inclusão (corpúsculo de Lentz) intracitoplasmáticos ou intranucleares (Thomson, 1990). O objetivo deste trabalho foi descrever os achados hematológicos em cães infectados naturalmente pelo vírus da cinomose e atendidos no período de Setembro de 2013 a Maio de 2014 no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal do Piauí (HVU -UFPI). METODOLOGIA Foram utilizados os prontuários dos animais atendidos entre setembro de 2013 a maio de 2014 do Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal do Piauí e do setor de Patologia Clinica. Critério para inclusão neste estudo: visualização de corpúsculos de Lentz em esfregaços sanguíneos confeccionados e corados pelo método de Panótico rápido. As amostras de sangue foram analisadas por contador hematológico veterinário automatizado, ABC-Vet (Animal Blood Counter), obtendo se valores de hematócrito, hemácias, hemoglobina e leucócitos totais. A contagem diferencial dos leucócitos foi realizada pelo método manual de avaliação microscópica e a pesquisa de inclusões virais foi realizada ao analisar os esfregaços sanguíneos. A classificação do tipo de anemia foi realizada de acordo com Thrall (2007). O cálculo da prevalência foi determinado conforme o método proposto por Thrusfield (2004), onde (P = número de casos da doença/população em risco x 10n, n = número inteiro dependendo da raridade da doença). Os dados foram submetidos à estatística descritiva e expressos na forma de média e desvio padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período avaliado, foram colhidas amostras de sangue de 3.413 cães no Hospital Veterinário Universitário, de raças, sexos e idades variadas. Destes, 53 foram diagnosticados como infectados pelo vírus da cinomose, baseado no achado de corpúsculos de Lentz em esfregaço sanguíneo (Figura 1), totalizando 1,5% dos animais. Figura- 1: Corpúsculo de Lentz em Linfócito Fonte: Arquivo pessoal Baseado nos achados do hemograma observou-se redução na média da contagem de eritrócitos, hematócrito e dosagem de hemoglobina, indicando animais anêmicos. Em 86,8% (46/53) dos animais diagnosticados com cinomose apresentavam também anemia e dessas 79,2% (42/53) eram do tipo normocítica normocrômica, e 3,8% (2/53) tinham anemia normocítica hipocrômica e o mesmo percentual apresentava anemia microcítica normocrômica. Apenas em 13,0% (7/53) dos animais não foi observado nenhuma alteração no hemograma. A anemia é um achado laboratorial compatível com vários estudos (Amude et al., 2006). No entanto, não parece haver fundamentação biológica com a infecção pelo VCC, uma vez que o vírus não tem tropismo por eritrócitos ou por seus precursores nucleados intramedulares (Greene et al, 2011). A anemia observada pode ser atribuída ao aumento da destruição das hemácias, determinada pela presença do vírus no eritrócito ou pela deposição de imunocomplexos na membrana eritrocitária (Mendonça et al., 2000). Pode ocorrer redução da eritropoiese por falência da medula óssea devido à ação direta do vírus nesse tecido (Meyer et al., 1995). Já nas alterações do leucograma verificaram-se valores médios dentro da normalidade para a espécie. Contudo verificou-se que em 22,6% dos cães com cinomose apresentaram leucopenia, e em apenas 13,2% foi observado leucocitose com neutrofilia. Acredita-se que a leucocitose esteja relacionada com infecções bacterianas oportunistas associadas à infecção pelo vírus da cinomose (Silva et al., 2007, Almeida et al., 2009). Neutropenia foi observada

em 13,2 % dos animais. E linfopenia em 45,3% dos animais positivos sendo, portanto, o achado mais frequente no leucograma, resultado semelhante foi encontrado por (Barbosa et al., 2011) onde 76% dos cães estudados apresentavam linfopenia. Sabe-se que o VCC possui tropismo por células linfóides, e pode ocasionar linfopenia transitória e em seguida o número de linfócitos retorna a valores normais (Moro et al., 2003). Eosinopenia foi observado em 32,1% dos animais, na maioria dos casos associada à linfopenia. Segundo Greene et al., (1993) a linfopenia, monocitose e neutrofilia ocorrerão quando o quadro clínico já estiver instalado. Na contagem total de plaquetas verificou-se que 35,8% dos animais apresentavam trombocitopenia, o que concorda com Silva et al. (2005). Esses mesmos autores, sugerem que esta alteração decorre por um processo imunomediado com retirada das plaquetas da circulação pelos macrófagos. E nenhum animal avaliado neste estudo, foi observado trombocitose. CONCLUSÕES A anemia, leucopenia, linfopenia, eosinopenia e trombocitopenia foram às alterações mais frequentes e podem ser utilizadas pelos clínicos veterinários como recursos diagnósticos auxiliares na cinomose canina, mas deve ser devidamente confirmada por outros métodos diagnósticos mais precisos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, R. K., Vasconcelos, A. C., Carneiro, R. A., Paes, P. R. & Moro, L. 2009. Alterações citológicas do sangue periférico e da medula óssea de cães com cinomose. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 61, 1255-1260. Amude, A. M., Carvalho, G. A., Balarin, A. R. S., Arias, M. V. B., Reis, A. C. F., Alfieri, A. A. & Alfieri, A. F. 2006. Encefalomielite pelo vírus da cinomose canina em cães sem sinais sistêmicos da doença-estudos preliminares em três casos. Clínica Veterinária, 60, 60-66. Barbosa, T. d. S., Vieira, R. F. C., Viol, M. A., Soeiro, C. S., Bomfim, S. R. M. & Ciarlini, P. C. 2011. Avaliação laboratorial da cinomose canina: estudo retrospectivo de 25 casos no município de Araçatuba-SP. Revista de Ciências Agroveterinárias, 10, 113-118. Birchard, S. J. & Sherding, R. G. 2008. Manual Saunders: clínica de pequenos animais, São Paulo. Greene, C. E. & Appel, M. J. 2011. Canine distemper. In: Greene, C. E. (ed.) Enfermedades infecciosas: Perros y gatos. Editora Interamericana, São Paulo. Greene, C. E., Samperio, J. O. & Gómez, J. P. 1993. Enfermedades infecciosas: Perros y gatos. Editora Interamericana, São Paulo. Headley, S. A., Amude, A. M., Alfieri, A. F., Bracarense, A. P. & Alfieri, A. A. 2012. Epidemiological features and the neuropathological manifestations of canine distemper virus-induced infections in Brazil: a review. Semina: Ciências Agrárias, 33, 1945-1978.

Mendonça, R. B., Pagani, F. F. & Moreira, A. S. 2000. Respostas hematológicas em cães naturalmente infectados pelo vírus da cinomose: estudo retrospectivo de casos. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, 7, 114-116. Meyer, D. J., Coles, E. H. & Rich, L. J. 1995. Medicina de Laboratório Veterinária: diagnóstico e interpretação. Roca, São Paulo, Brasil. Moro, L., Sousa, A. M., Alves, C. A., Santos, F. G. A., Nunes, J. E. S., Carneiro, R. A., Carvalho, R. & Vasconcelos, A. C. 2003. Apoptosis in canine distemper. Archives of Virology, 148, 153-164. Ramsey, I. K. & Tennant, J. R. B. 2010. Manual de doenças infecciosas em cães e gatos. São Paulo: Roca. Silva, I. N. G., Guedes, M. I. F., Rocha, M. F. G., Medeiros, C. M. O., Oliveira, L. C., Moreira, O. C. & Teixeira, M. F. S. 2005. Perfil hematológico e avaliação eletroforética das proteínas séricas de cães com cinomose. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 57, 136-139. Silva, M. C., Fighera, R. A., Juliana, S., Graça, D. L., Kommers, G. D., Irigoyen, L. F. & Barros, C. S. L. 2007. Aspectos clinicopatológicos de 620 casos neurológicos de cinomose em cães: Clinicopathological features in 620 neurological cases of canine distemper. Pesquisa Veterinária Brasileira, 27, 215-220. Thomson, R. G. 1990. Patologia veterinária especial. Manole, São Paulo. Thrall, M. A. 2007. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. Editora Roca, São Paulo.