AGRAVANTE: AGRAVADA: ROSILDA TARCILA LEMA RUIZ LETÍCIA REGINA DE OLIVEIRA MARTINS Número do Protocolo: 3155/2011 Data de Julgamento: 13-4-2011 EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA - AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO RÉU - INTELIGÊNCIA DO ART. 928, CAPUT, SEGUNDA PARTE, CPC - NULIDADE - REALIZAÇÃO DE NOVA AUDIÊNCIA - CONTRADITÓRIO - LIMINAR PREJUDICADA - RECURSO PROVIDO. Consoante o disposto no art. 928, caput, segunda parte, do Código de Processo Civil, na ação de reintegração de posse, é obrigatória a citação do réu para a audiência de justificação prévia, exceto se já com a inicial, restar cabalmente demonstrada a presença dos requisitos para tanto indispensáveis, sendo certo que, ressalvadas essas hipóteses, a sua falta acarreta a nulidade dos atos processuais realizados naquela assentada, que, no caso específico, alicerçaram o deferimento da liminar. Configurada a irregularidade por ausência de citação do réu para comparecer à audiência de justificação prévia da demanda possessória, deve os atos processuais ser declarados nulos a partir daquele momento, para que outra se realize de forma regular, em obediência ao princípio do contraditório, ficando prejudicada a liminar concedida. Fl. 1 de 6
AGRAVANTE: AGRAVADA: ROSILDA TARCILA LEMA RUIZ LETÍCIA REGINA DE OLIVEIRA MARTINS RELATÓRIO EXMA. SRA. DRA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por ROSILDA TARCILA LEMA RUIZ em face de alegada irregularidade nos autos de Reintegração de Posse ajuizada por LETÍCIA REGINA DE OLIVEIRA MARTINS, ora agravada, diante da realização da audiência de justificação prévia sem a citação da requerida para acompanhar o ato. Na concepção da agravante, a citação para comparecer à audiência de justificação é imprescindível para a validade do ato, nos termos do art.928 do CPC. Assevera que, apesar de não ter sido encontrada para receber a citação, o douto Juiz singular, de forma equivocada, realizou a audiência de justificação e posteriormente concedeu a liminar almejada, violando o princípio do contraditório. No mais, teceu algumas considerações sobre os fatos ocorridos, bem como sobre a questão de mérito, citando entendimento doutrinário e jurisprudencial. Por fim, pugnou pelo efeito suspensivo e, no mérito recursal, pela declaração de nulidade da audiência de justificação prévia com a conseqüente cassação da liminar. A liminar recursal foi deferida às fl.173-tj. As informações foram prestadas pelo Juízo da causa às fls.183/185-tj. Por sua vez, as contrarrazões vieram às fls.190/198-tj, oportunidade em que a agravada rebateu as alegações recursais, pugnando pela manutenção da decisão recorrida pelos seus próprios fundamentos. É o relatório. Fl. 2 de 6
VOTO EXMA. SRA. DRA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO (RELATOR) Egrégia Câmara: Em primeiro plano, é preciso considerar que a liminar nas ações possessórias, é medida provisória, independente de cognição completa, que não exige prova plena e irretorquível. Logo, em tal campo, convencendo-se o Juiz de que a realidade fática é no sentido da existência de posse da parte autora e de esbulho praticado pelo réu a menos de ano e dia, impõe-se a reintegração liminar, até final decisão. Assim, para a outorga da tutela liminar recuperandae possessionis, mister se faz que a parte autora comprove sua posse anterior e o esbulho praticado pelo réu, a menos de ano e dia (art. 924, do CPC), de plano ou após justificação prévia, com a citação da parte ré. In casu, observa-se que o magistrado a quo não deferiu, de pronto, o pedido liminar requerido pela autora, ora agravada, para reintegrá-la na posse do imóvel, designando audiência de justificação prévia (fls. 98-TJ e 103-TJ). Entretanto, a agravante não foi citada para que pudesse comparecer à audiência de justificação, conforme se denota do Termo de Audiência de fls.100-tj e 105-TJ, bem como das informações do Juízo (fl.185-tj). (f. 61-64, TJ), na qual se produziu prova testemunhal, sem lhe oportunizar o acompanhamento da justificação, fazendo perguntas às testemunhas arroladas pela agravada (fls.107-tj e 108-TJ). Mesmo assim, foi deferida a reintegração liminar da agravada na posse do imóvel (fls.14/18 TJ). Antônio Cláudio da Costa Machado ao analisar o artigo 928, do CPC, sustenta que: De acordo com o texto, para a concessão da liminar antes mesmo da citação do réu, é necessário que a inicial esteja "devidamente instruída", o que significa que ela deve estar acompanhada de prova documental robusta dos Fl. 3 de 6
requisitos previstos pelos incs. I a III do art. 927. Parecendo, assim, ao juiz suficientemente demonstrada a posse anterior e o esbulho a menos de ano e dia, ou posse e a turbação atuais, a concessão da liminar é de rigor. Todavia, caso ocorra a hipótese de o autor não possuir documentos, ou os que apresente não despertem convicção suficiente, cabe ao juiz obrigatoriamente designar data para a audiência de justificação prévia, mandando, ato contínuo, citar o réu. É o que diz a parte final da regra. Duas observações: primeira, o juiz só pode deixar de ordenar a justificação se for o caso de indeferimento da inicial; segunda, a citação do réu tem de ser necessariamente realizada para a validade da justificação.(in "Código de Processo Civil Interpretado e Anotado", Manole:São Paulo, 2006, p. 1503). Desta feita, uma vez designada a audiência de justificação prévia pelo magistrado singular - que entendeu ser conveniente no caso dos autos - necessária se torna a citação do réu para comparecer ao ato processual, nos termos do artigo 928, do CPC, sob pena de caracterizar o cerceamento ao seu direito de defesa (acompanhar a justificação e formular perguntas às testemunhas arroladas pelo justificante), máxime quando a decisão liminar lhe foi desfavorável. Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA - NECESSIDADE DE CITAÇÃO DO RÉU - REQUISITO DO ARTIGO 928, DO CPC - INOCORRÊNCIA - CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA CONFIGURADO.Uma vez designada a audiência de JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA pelo magistrado primevo - que entendeu ser conveniente ao caso dos autos - necessária se torna a CITAÇÃO do réu para comparecer a esta, nos termos do artigo 928, do CPC, a fim de que não se configure cerceamento do direito de defesa, qual seja, de acompanhar a JUSTIFICAÇÃO e formular perguntas às testemunhas do justificante. (TJMG - Número do processo: 1.0024.09.662541-3/001(1) Relator: Desembargador EDUARDO MARINÉ DA CUNHA - Data do Julgamento: 11/02/2010 - Data da Publicação: 16/03/2010). Fl. 4 de 6
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR. REQUISITOS FUNDAMENTAIS. COMPROVAÇÃO DA POSSE E ESBULHO. PROVA INSUFICIENTE. INDEFERIMENTO DA LIMINAR. AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO. - Para que se conceda liminarmente a reintegração da posse, mister a comprovação, mesmo em caráter provisório, da posse anterior pelo requerente, seu perdimento injusto para o requerido, e a data do fato. - Não estando a petição inicial devidamente instruída com a prova da posse anterior pelo requerente, seu perdimento injusto para o requerido e a data do fato, o magistrado ""determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada"", sendo precipitada a pronta concessão ou indeferimento da liminar de reintegração. Inteligência do art. 928 do CPC. (TJSC -AGRAVO DE INSTRUMENTO N 1.0056.08.182280-3/001. Rel. Des. Irmar Ferreira Campos - 17ª Câmara Cível. DJ. 12.03.09) Portanto, pelas razões expostas deve ser declarada a nulidade da audiência de justificação prévia por cerceamento ao direito de defesa da agravante que não foi citada para que pudesse comparecer e acompanhar a audiência de justificação e formular perguntas às testemunhas do justificante, um dos pressupostos para o deferimento válido da liminar, conforme o disposto na segunda parte do artigo 928, do CPC. Com tais considerações, dou provimento ao recurso para declarar nula a audiência de justificação prévia, e, por conseqüência, nula a decisão que deferiu a liminar de reintegração em favor da agravada, a fim de determinar a realização de nova audiência de justificação prévia, com a devida intimação da recorrente, na pessoa de seu advogado, já que com sua intervenção nos autos considera-se como citada. É como voto. Fl. 5 de 6
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência da DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS, por meio da Câmara Julgadora, composta pela DRA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO (Relatora), DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS (1ª Vogal) e DESA. CLARICE CLAUDINO DA SILVA (2ª Vogal convocada), proferiu a seguinte decisão: RECURSO PROVIDO, UNANIMEMENTE. Cuiabá, 13 de abril de 2011. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADORA MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS - PRESIDENTE DA ---------------------------------------------------------------------------------------------------- DOUTORA MARILSEN ANDRADE ADDARIO - RELATORA GEACOR Fl. 6 de 6