QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 62732/ CLASSE CNJ COMARCA DE RONDONÓPOLIS

Transcrição

1 APELANTE: ESPÓLIO DE JOÃO VIGANÓ NETO REPRESENTADO PELO INVENTARIANTE, TIAGO VIGANÓ APELADA: SADIA S. A. Número do Protocolo: 62732/2011 Data de Julgamento: EMENTA EMBARGOS À EXECUÇÃO - CERCEAMENTO DE DEFESA - PRELIMINAR REJEITADA - MULTA INSCULPIDA NO ARTIGO 740, CPC - MANIFESTAMENTE PROTELATÓRIOS - INOCORRÊNCIA. Pode o magistrado proceder ao julgamento antecipado da lide, se a matéria for unicamente de direito, podendo dispensar a produção das provas que achar desnecessária à solução do feito, conforme lhe é facultado pela lei processual civil, sem que isso configure supressão do direito de defesa das partes. A simples rejeição dos embargos não permite a aplicação da multa prevista no parágrafo único, do art. 740, do CPC, sendo necessário que sejam manifestamente protelatórios. Fl. 1 de 8

2 APELANTE: ESPÓLIO DE JOÃO VIGANÓ NETO REPRESENTADO PELO INVENTARIANTE, TIAGO VIGANÓ APELADA: SADIA S. A. RELATÓRIO EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de apelação cível interposto pelo Espólio de João Viganó Neto visando reformar a decisão proferida às fls. 342/346, pela MMª. Juíza de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis, nos autos dos embargos à execução, que julgou improcedentes os pedidos veiculados e condenou o apelante na multa prevista no parágrafo único do artigo 740 do CPC, no valor de 10% (dez por cento) sobre o valor da execução. Em breve síntese, o apelante aduz, preliminarmente, a nulidade da sentença em razão do cerceamento de defesa. No mérito, sustenta ser indevida a aplicação da multa prevista no art.740 do CPC, sendo imperiosa a reforma da sua condenação ou fixação em patamar mais razoável. As contrarrazões recursais vieram às fls. 362/369 pugnando pela manutenção incólume do decisum. É o relatório. Fl. 2 de 8

3 VOTO EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (RELATOR) Egrégia Câmara: A inicial descreve que a nota promissória objeto da ação de execução foi emitida em garantia aos contratos de compra e venda nºs e , firmados em e , respectivamente. Aduz que os contratos foram extintos em virtude de acordo homologado em Juízo, nos autos da ação de execução nº 2.174/95, motivo pelo qual a nota promissória não teria causa. Por sua vez, a apelada sustenta que a nota promissória emitida em decorre do de um terceiro contrato, de nº , firmado em A douta magistrada a quo julgou a demanda improcedente, reconhecendo que a nota promissória decorre realmente e sem dúvida do contrato nº , de modo que entendeu ser necessária a condenação do apelante no pagamento da multa de 10% (dez por cento) do valor da execução, nos termos do art.740, parágrafo único, do CPC. De início, analiso a preliminar argüida pela apelante, que aduz ter ocorrido cerceamento de defesa, uma vez que a MMª. Juíza deixou de realizar a prova pericial e testemunhal que já haviam sido deferidas anteriormente. Sustenta que o laudo apresentado pelo perito contábil não conseguiu responder a diversas perguntas, uma vez que a apelada não apresentou os documentos necessários. Assim, pleiteia a anulação da sentença, em razão do reconhecimento do cerceamento de defesa e, por conseqüência, a remessa dos autos à origem para a reabertura da instrução processual, possibilitando a apresentação da documentação contábil, realização da nova perícia e oitiva de testemunhas. Não há respaldo para o alegado cerceamento de defesa por parte do juízo, isto porque tenho que as provas requeridas em nada acrescentariam, somente procrastinaria o andamento processual. Fl. 3 de 8

4 Diz a lição do eminente Prof. Moniz de Aragão: O julgamento antecipado da lide terá lugar unicamente naqueles casos em que o juiz, se não pudesse julgar desde logo, se veria na contingência de indeferir a produção das provas por serem inócuas para deslindar a controvérsia, ou estarem afastadas pro disposição legal. (Exegese do Código de Processo Civil, Aide, vol. IV, t. I, p. 33). E não havendo necessidade de outras provas, ante a clareza com que se coloca a problemática e por se tratar de questão plenamente aferível através das provas documentais, perfeitamente possível o julgamento antecipado da lide, com fulcro no artigo 330, I, do digesto processual comum. Aliás, a douta juíza a quo entendeu que a lide estava suficientemente instruída, comportando o julgamento antecipado. Tal conduta tecnicamente não possui nenhum vício, ao contrário, encontra ressonância inclusive no artigo 5º, inc. LXXVIII, da CF/88, que prestigia o novo postulado constitucional da razoável duração do processo (art. 125, II, CPC), bem como dos princípios da celeridade e economia processual. A doutrina também soa neste sentido, conforme transcrevo, verbis: Outra hipótese na qual, mesmo sendo a questão de fato e de direito, a instrução em audiência se fará desnecessária é aquela em que, havendo controvérsia sobre fato (questão de fato), já se produziu, a respeito desse mesmo fato, com a inicial e com a contestação, prova documental suficiente para formar a convicção do magistrado, tornando-se irrelevante outra qualquer, seja testemunhal, seja pericial. (J. J. Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, 4 ed., p.464). Assim, as provas documentais somado ao laudo pericial são suficientes para nortear e instruir seu entendimento do magistrado. Destaca-se que apesar da apelada não ter apresentado os documentos contábeis, nenhuma punição foi imposta pelo Juízo à recorrida, principalmente, em virtude das informações fornecidas pelo perito à fl. 266, no sentido de que os documentos existentes nos autos eram suficientes para a elaboração do laudo. Fl. 4 de 8

5 Nota-se que a douta magistrada embasou a r. sentença em uma constatação muito simples, apesar da recorrente sustentar que a data da emissão da nota promissória é divergente da assinatura do contrato nº , percebe-se por meio de uma análise mais atenta que essa alegação é inverídica. De fato, o instrumento de compra e venda consta como data o dia , porém, existe um carimbo de reconhecimento de firma emitido pelo Cartório do 2º Ofício de Sorriso (fl. 187 v.), no dia o que indica que o contrato foi celebrado na mesma data da emissão da nota promissória. Dessa forma, entendo que não há o que se falar em cerceamento de defesa, uma vez que, na qualidade do destinatário da prova, compete ao julgador decidir sobre a necessidade ou não da sua produção, de maneira a formar seu livre convencimento. Assim, rejeito a preliminar. Nas razões recursais o apelante sustenta ser indevida a aplicação da multa prevista no art.740, parágrafo único, do CPC, sendo imperiosa a reforma da sua condenação ou fixação em patamar mais razoável. Pois bem. O entendimento doutrinário e jurisprudencial é no sentido de que não basta a rejeição dos embargos para a aplicação da multa prevista no dispositivo acima mencionado, sendo necessário que sejam manifestamente protelatórios, manejados abusivamente. Nesse sentido convém ressaltar os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinone: 5. Embargos Manifestamente Protelatórios. Embargos manifestamente protelatórios são aqueles que, diante da manifesta fragilidade da argumentação do embargante, pode o juiz desde logo e com segurança visualizar a manifesta improcedência do pedido neles contido. Os embargos manifestamente protelatórios têm que ser rejeitados liminarmente (art. 739, III do CPC) tendo o juiz que aplicar multa sancionatórios ao embargante no valor de 20% (vinte por cento) do valor da execução (...) (Código de processo civil comentada artigo por artigo, 2ª Ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010) Por sua vez, Nelson Nery Junior destaca ainda: Fl. 5 de 8

6 No caso de os embargos serem protelatórios, mas não manifestamente, não pode ser imposta a multa (Código de processo civil comentado, 11ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010) A jurisprudência desse Eg. Tribunal de Justiça adota idêntico posicionamento, confira: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - NOTAS PROMISSÓRIAS ORIUNDAS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS E DE CORRETAGEM - IMPROCEDÊNCIA - PREJUDICIAL DE NULIDADE DA SENTENÇA - CERCEAMENTO DE DEFESA - REJEIÇÃO - MÉRITO - ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE QUANTO AO PAGAMENTO DO VALOR RELATIVO À CORRETAGEM - DESCABIMENTO - CLÁUSULA EXPRESSA QUANTO À OBRIGAÇAO DO COMPRADOR DE REPASSAR O VALOR A TÍTULO DE CORRETAGEM - AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À ALEGADA RESCISÃO DO CONTRATO DE VENDA E COMPRA - DISTRATO SEM ASSINATURAS DOS VENDEDORES - PRETENSÃO DO EMBARGADO DE APLICAÇÃO DE MULTA AO EMBARGANTE - PARAGRAFO ÚNICO DO ART. 740, CPC - IMPOSSIBILIDADE - ABUSIVIDADE E PROPÓSITO PROCRASTINATÓRIOS NÃO DEMONSTRADOS - DIREITO DE AÇÃO - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...) É assente o entendimento doutrinário e jurisprudencial de que não basta a rejeição dos embargos para a aplicação da multa prevista no parágrafo único do art. 740, do CPC, sendo necessário que sejam manifestamente protelatórios, manejados abusivamente. (RAC 4141/2010, 2ª Câm. Cív., Rel Dra. Marilsen Andrade Addario, J ) Partindo da premissa de que para aplicação da multa é necessário que o juiz visualize desde logo a manifesta improcedência, não é possível sustentar que os presentes embargos são manifestamente protelatórios, uma vez que opostos em e somente julgados em , após longa instrução probatória. Destaca-se que a simples interposição de ação como instrumento de defesa de direito que se entende ter, não é suficiente para demonstrar má-fé apta a exigir a Fl. 6 de 8

7 fixação da multa prevista no art. 740, parágrafo único do CPC. Dessa forma, resta imperiosa a reforma da sentença apenas para excluir a fixação da multa. Pelo exposto, conheço do recurso e lhe DOU PARCIAL PROVIMENTO. É como voto. Fl. 7 de 8

8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Relator), DES. DIRCEU DOS SANTOS (Revisor) e DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO (Vogal), proferiu a seguinte decisão: PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. Cuiabá, 08 de fevereiro de DESEMBARGADOR SEBASTIÃO DE MORAES FILHO - PRESIDENTE DA DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA - RELATOR GEACOR Fl. 8 de 8