IDENTIDADE DOCENTE NA TUTORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA



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Transcrição:

IDENTIDADE DOCENTE NA TUTORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA IINTRODUÇÃO Educação a distância (EaD) é uma modalidade de educação na qual aluno e professor estão separados fisicamente, pautada no pressuposto de que o processo de ensino-aprendizagem não deve ocorrer apenas na sala de aula. Também pode haver uma separação temporal, ou seja, sem que os personagens envolvidos estejam interagindo no mesmo momento (MAIA; MATTAR, 2009). Para superar a distância entre alunos e professores no tempo e no espaço, o processo de ensino-aprendizagem é mediado por tecnologias da informação e comunicação, como: internet, correio, rádio, televisão, vídeo, CD-ROM, telefone e fax (MORAN, 2002). Da mesma forma que as modalidades de educação presencial, a concepção e o currículo da EaD devem ser pautados sob a égide de um projeto político pedagógico embasado teórico e metodologicamente e que contemple princípios e diretrizes para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Logo, há fatores considerados essenciais para a manutenção desta modalidade de ensino, que englobam desde aspectos pedagógicos a recursos humanos e infraestrutura. Não existe um único modelo de EaD. Em razão da natureza do curso e das necessidades dos discentes, têm-se diferentes configurações no que diz respeito à metodologia, aos recursos tecnológicos e aos momentos presenciais obrigatórios previstos em lei (BRASIL, 2007b). Ainda de acordo com o mesmo autor, o Ministério da Educação (MEC) reconhece na estrutura da EaD três corpos de profissionais essenciais para uma oferta de ensino de qualidade: corpo docente, corpo de tutores e corpo técnico-administrativo. Juntos, eles compõem uma equipe multidisciplinar com funções de planejamento, implementação e gestão dos cursos à distância. Belloni (2006) reforça que a docência na EaD não se encontra centralizada nas mãos de um único indivíduo, em comparação ao ensino presencial. Ela se encontra fragmentada em muitas tarefas e sob a batuta de um grupo de profissionais. Sendo assim, se torna difícil identificar claramente quais profissionais são docentes.

É nessa perspectiva que esta pesquisa objetiva questionar, com base em concepções de identidade docente, porque o profissional denominado por tutor não está inserido no corpo docente, uma vez que ele é um dos sujeitos que participa da prática pedagógica, e o porquê do uso deste vocábulo diferenciado para este profissional? METODOLOGIA A metodologia empregada para a realização desta pesquisa foi a pesquisa bibliográfica, na qual são analisados trabalhos publicados no meio acadêmico referentes ao tema selecionado para, então, responder ao questionamento proposto. DISCUSSÕES Para Maia e Mattar (2009), o professor nos cursos de EaD pode ser considerado como sendo uma equipe composta por autores, técnicos, artistas gráficos, tutores, monitores e outros. Na EaD, existe a necessidade de que uma pessoa faça a mediação entre o aluno e o conhecimento de forma efetiva, e esta figura pode ser o tutor. A relação triádica que existe no processo de ensino-aprendizagem (docente, discente e conhecimento) não é desfeita (VILLARDI; OLIVEIRA, 2005). Cavalcante Filho, Sales e Alves (2012) citam algumas capacidades essenciais ao bom desempenho de um tutor, como, por exemplo: orientar a aprendizagem, motivar o aluno e conhecer as ferramentas tecnológicas que serão utilizadas pelos alunos. Os autores ainda constataram, através da análise de editais de seleção, que é exigido dos tutores que eles tenham competências docentes, como dominar os conteúdos específicos e saber fazer a transposição pedagógica dos mesmos para favorecer a aprendizagem. Segundo Gomes (2010), para atuar como tutor presencial, é obrigatório que o profissional tenha formação acadêmica específica (graduação ou pós-graduação) no curso em que pretende atuar. Da mesma forma, para os tutores a distância, é exigida a formação no curso, área ou unidade curricular e experiência mínima de um ano no ensino superior. Ele confirma a existência da identidade de professor na figura do tutor quando aponta alguns saberes e habilidades técnico-científicas necessárias à função da tutoria,

que são as relativas à área de conhecimento a qual o tutor pertence, ao conhecimento e à usabilidade da didática expressa através do seu cotidiano docente (planejamento, elaboração, correção e revisão de atividades). O tutor tem as funções pedagógicas de: elaborar atividades, fazer perguntas, incentivar a pesquisa, avaliar respostas e comentários e coordenar discussões. Tudo isso no intuito de melhor promover a construção do conhecimento (MAIA; MATTAR, 2009). Silveira (2011) constata em sua tese que os tutores a distância tomam para si a identificação de professor. Eles justificam tal posicionamento afirmando que conseguem transitar entre o mundo virtual e a realidade local e reorganizar e remontar um professor que foi esfacelado pelo sistema. Esse processo de autoidentificação não é apenas o resultado de suas ações contínuas no processo de ensino, mas também da reflexão sobre suas rotinas. O autor reitera o ponto de vista dos tutores ao colocar que facilmente se percebe o professor na atuação dos tutores presenciais e a distância, porque se concentram nele de forma equilibrada as duas características básicas do professor enquanto agente do ensino, quais sejam: o domínio dos conteúdos e a interação com os alunos no AVA [ambiente virtual de aprendizagem] e nos encontros presenciais (p. 250). De acordo com Maia e Mattar (2009), uma vez que os canais de comunicação são reduzidos, é o tutor que dá ao aluno um feedback em relação aos seus progressos, um fator crítico para o sucesso do aprendizado. O tutor também avalia o rendimento dos alunos. Entretanto, para que isto aconteça, ele inicialmente explicita para os alunos os objetivos que devem ser atingidos e quais critérios serão utilizados no processo avaliativo. Em alguns programas de EaD, inclusive no modelo da UAB, o título de professor é negado ao tutor. Uma possível explicação para este fato é que se trata de um entrave de ordem política e econômica (CAVALCANTE FILHO; SALES; ALVES, 2012). Villardi e Oliveira (2005) concluem que o tutor necessita dos quatro saberes docentes propostos por Tardif para atuar, e enfatizam os saberes da formação profissional (possibilidade de aprendizagem não presencial) e os disciplinares (letramento tecnológico).

Segundo Gomes (2010), insiste-se em conservar a nomenclatura de tutor em detrimento da de professor, em razão de um contexto puramente legal. O governo federal opta por esta diferenciação do tutor porque, caso não fosse dessa forma, haveria a necessidade da contratação massiva de professores. Categorizá-los desta maneira impediria o surgimento de problemas de classe, como férias, aumento de salário e outros. CONSIDERAÇÕES FINAIS A tutoria no serviço público de ensino se configura em uma estratégia política para viabilizar em larga escala cursos na modalidade a distância em todo o país. Porém, esta definição a fortalece como uma carreira docente diferenciada, como ocorre em outros níveis e modalidades de ensino. Podemos enxergar no tutor da EaD um professor, diante da mediação pedagógica que estabelece entre o aluno e o conhecimento, seja presencial ou virtualmente. Acreditamos que as suas responsabilidades perpassam a mera e simples mediação e são consonantes com os saberes docentes, propostos por Shulman (1986), Tardif (1991) e Pimenta (1998): Saberes da formação profissional: o tutor tem que ter formação acadêmica. Saberes disciplinares: o tutor tem que dominar o conhecimento específico da área em que atua. Saberes curriculares: o tutor tem que se utilizar de estratégias pedagógicas e recursos tecnológicos para repassar os conteúdos do programa do curso. Saberes experienciais: é exigido que o tutor tenha experiências anteriores, em sala de aula, como professor. Vale ressaltar que o processo de construção identitária também parte da concepção que o próprio indivíduo tem sobre a sua prática e se ele se vê como professor. Este tipo de discussão na comunidade acadêmica é bastante relevante socialmente. Ele se assemelha ao que ocorreu nos EUA e Canadá na década de 1980, quando os professores da Educação Básica reivindicaram seu status profissional,

rompendo com a visão de um fazer vocacionado. Não seria este texto um ponto de partida para que os tutores lutem pelo reconhecimento de sua função docente? REFERÊNCIAS BELLONI, M. L. Educação a distância. 4. ed. Campinas: Autores Associados. 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2013. CAVALCANTE FILHO, A.; SALES, V. M. B.; ALVES, F. C. A identidade docente do tutor da educação a distância. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ENCONTRO DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SIED: EnPED), 1., 2012, Sorocaba. Anais... Sorocaba: UFSCar, 2012. GOMES, E. F. Perfil e identidade do tutor em cursos na modalidade a distância do IFAL vinculados ao Sistema Universidade Aberta do Brasil: definições e prática docente. Revista Pindorama, Eunápolis, ano 1, n. 1, ago. 2010. MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EaD: a educação a distância hoje. 1. ed. 4. reimp. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. MORAN, J. M. O que é educação a distância. 2002. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/moran/dist.htm>. Acesso em: 26 jul. 2013. PIMENTA, S. G. Formação de professores: saberes da docência e identidade do professor. In: FAZENDA, I. (Org.). Didática e interdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998. p. 161-178. SHULMAN, L. S. Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Researcher, v. 15, n. 2, p. 4-14, feb. 1986. SILVEIRA, P. R. T. Docência a distância no ensino da UAB: identidades ambivalentes. 2011. 268 f. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2011. TARDIF, M.; LESSARD, C.; LAHAYE, L. Esboço de uma problemática do saber docente. Teoria & Educação, Brasil, v. 1, n. 4, p. 215-253, 1991. VILLARDI, R.; OLIVEIRA, E. G. Tecnologia na educação: uma perspectiva sóciointeracionista. Rio de Janeiro: Dunya, 2005.