Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros 243 Adição da Gelatina no Meio Diluidor para Congelação de Sêmen Ovino Anderson Marque Pinto Bandeira 1 Maiana Silva Chaves 2 José Eduardo Matos 3 Angélica Teles de Andrade 4 Alexandre Nizio Maria 5 Paulo Cesar Falanghe Carneiro 6 Hymerson Costa Azevedo 7 Resumo O uso de gelatina na composição dos meios diluidores pode aumentar a estabilidade química e física desta solução podendo vir a diminuir injúrias aos espermatozóides provocadas no processo de congelação. O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da adição da gelatina aos meios diluidores sobre a funcionalidade, viabilidade e performance reprodutiva de espermatozóides congelados de ovinos. Por meio da vagina artificial foram colhidos 24 ejaculados de seis carneiros os quais foram diluídos em meio à base de Glicina-Gema-Leite (GGL) sem (controle) e com (tratamento) adição de gelatina a 1,5%. Após congelação automatizada, as amostras do sêmen foram avaliadas quanto à: motilidade total (MT), motilidade progressiva (MP), velocidade curvilinear (VCL), velocidade em linha reta (VSL), velocidade média do percurso (VAP), amplitude do deslocamento lateral da cabeça (ALH), integridade da membrana plasmática (IMP), integridade da membrana acrossomal (IMAC) e taxa de prenhez (TP). 1 Mestrando, PROBIOTEC-Universidade Federal de Sergipe (UFS), Av. Marechal Rondon, s/n Jardim Rosa Elze, CEP 49000-100, São Cristóvão-Sergipe (SE); 2 Bolsista CNPq, Embrapa Tabuleiros Costeiros (CPATC), Av. Beira Mar, 3250 Jardins, Caixa Postal 44, CEP 49025-040, Aracaju-SE; 3 Mestrando, PROZOOTEC-UFS, bolsista CAPES; 4 Estagiária, Embrapa CPATC; 5,6,7 Pesquisador, Embrapa CPATC. maianachaves@ibest.com.br
244 Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros Os resultados obtidos no sêmen controle e tratado, respectivamente, foram: MT 91 e 85%; MP 31 e 38%; VCL 221 e 269 μm/s; VSL 135 e 166 μm/s; VAP 173 e 209 μm/s; ALH 2,5 e 2,8 μm; IMP: 30 e 37%; IMAC 56 e 62%; TP 21,7e 19,6%. Conclui-se que a adição da gelatina não melhora a qualidade e fertilidade do sêmen congelado de ovinos e que, apesar dos prejuízos observados na cinética, estes não se refletiram em diminuição da fertilidade à inseminação artificial. Palavras-Chave: Cinética espermática, Gelatinização, Integridade espermática, Taxa de prenhez.
Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros 245 Introdução No processo de criopreservação do sêmen ovino, a célula espermática está vulnerável ao choque térmico entre 15 e 5º C, faixa em que um ritmo muito rápido de refrigeração induz a danos irreversíveis a sua motilidade e capacidade fertilizante (Watson, 2000), e entre 10 e 25 C quando ocorre a formação do gelo extracelular (Salomon e Maxwell, 2000). A viabilidade e um maior tempo de sobrevivência dos espermatozóides da espécie ovina requerem diluidores que permitam uma maior proteção das células espermáticas (Figueirêdo et al., 2007) exercendo um papel fundamental na preservação do sêmen no processo de conservação (Figueirêdo, 2006). A gelatina, ao ser adicionada a diluidores previne a sedimentação dos espermatozóides, evitando as variações na composição do meio e ph (Yániz et al., 2005) podendo ainda minimizar as injúrias espermáticas provocadas pela formação de cristais de gelo intracelular durante a criopreservação (Schiavon et al., 2006). A gelatinização limita o refluxo do sêmen para a vagina na sua aplicação durante a inseminação (Paulenz et al., 2010), o que pode favorecer as deposições cervicais. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da adição de gelatina na qualidade e fertilidade do sêmen ovino congelado. Material e Métodos Local do trabalho e animais experimentais O experimento foi realizado nas instalações da Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizadas no estado de Sergipe (SE). As atividades laboratoriais foram desenvolvidas no Laboratório de Biotecnologia da Reprodução Animal (LABRA) situado na sede da Embrapa, município de Aracaju e as atividades referentes a campo foram conduzidas no Campo Experimental Pedro Arle (CEPA) e Laboratório de Reprodução Animal (LARA), ambos situados no município de Frei Paulo. Foram utilizados seis carneiros adultos, selecionados após aprovação em exames clínico-andrológicos de acordo com as normas do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal e 92 ovelhas da raça Santa Inês em bom estado clínico e nutricional e sem histórico de problemas reprodutivos e sanitários.
246 Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros Processamento do sêmen Amostras de sêmen foram diluídas sem (controle) e com (tratamento) adição de gelatina a 1,5% ao meio, envasadas em palhetas de 0,25 ml, congeladas automaticamente e, submetidas às seguintes avaliações: cinética computadorizada (MT motilidade total, MP motilidade progressiva, VCL - velocidade curvilínea, VSL - velocidade em linha reta, VAP - velocidade média do percurso, ALH amplitude do deslocamento lateral da cabeça), integridade da membrana plasmática e acrossomal (IMP e IMAC: diacetato de carboxifluoresceína + iodeto de propídio) e, taxa de prenhez (TP) à inseminação transcervical em tempo fixo em ovelhas submetidas à sincronização do estro. Análise estatística Para as análises estatísticas dos dados in vitro utilizou-se o teste de Shapiro- Wilk para avaliar a normalidade da distribuição dos resíduos. Os dados normais foram submetidos à análise de variância pelo procedimento de General Linear Model (GLM) enquanto que os dados não normais foram submetidos ao teste não-paramétrico de Wilcoxon. A taxa de prenhez foi analisada através do teste não-paramétrico de qui-quadrado. Em todas as análises foi considerado o nível de significância de 0,05 utilizando recursos computacionais do software SPSS, versão 15.0. Resultados e Discussão Os resultados obtidos após análise do sêmen congelado tratado com gelatina estão expostos na Tabela 1. Tabela 1. Análise do sêmen congelado de ovinos tratado com gelatina. Parâmetro Meio Diluidor ( ± σ) Controle Gelatina Motilidade total (MT, %) 90,6 ± 6,7 84,6 ± 12,2 Motilidade progressiva (MP, %) 37,9 ± 9,2 a 30,6 ± 11,3 b Velocidade curvilinear (VCL, μm/s) 269,1 ± 48,6 a 220,8 ± 61,3 b Velocidade em linha reta (VSL, μm/s) 165,7 ± 40,8 a 135,1 ± 44,9 b Velocidade média do percurso (VAP, μm/s) 209,5 ± 43,6 a 173,0 ± 52,6 b Amplitude do deslocamento lateral da cabeça (ALH, μm) 2,8 ± 4,5 a 2,5 ± 0,4 b Continua...
Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros 247 Tabela 1. Continuação. Parâmetro Meio Diluidor ( ± σ) Controle Gelatina Integridade da membrana plasmática (IMP, %) 30,4 ± 17,9 37,2 ± 24,4 Integridade da membrana acrossomal (IMAC, %) 56,1 ±21,4 62,0 ± 23,1 Taxa de prenhez (TP, %) 21,7 19,6 Médias seguidas por letras distintas, dentro de cada parâmetro avaliado, indicam diferenças significativas entre os meios diluidores testados (P<0,05). As amostras de sêmen com gelatina apresentaram redução (P<0,05) em alguns parâmetros de cinética como a MT, MP, VCL, VSL, VAP e ALH. Não foram observadas diferenças (P>0,05) entre o controle e o tratamento quanto à IMP e IMAC e à taxa de prenhez. Benefícios da adição da gelatina ao sêmen refrigerado de ovinos têm sido relatados (Yániz et al., 2005), entretanto, no processo de congelação este efeito não foi observado (Schiavon et al., 2006) o que corrobora com os resultados deste trabalho. Conclusões - A adição da gelatina não melhora a qualidade e fertilidade do sêmen congelado de ovinos; - Apesar dos prejuízos observados na cinética espermática após adição da gelatina ao meio diluidor de congelação do sêmen ovino, estes não se refletiram em diminuição da fertilidade à inseminação artificial. Agradecimentos Agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) pela concessão das bolsas, à Universidade Federal de Sergipe (UFS) pela formação em pósgraduação e à Embrapa Tabuleiros Costeira pelo apoio financeiro e orientação na área de pesquisa.
248 Anais: I Seminário de Iniciação Científica e pós-graduação da Embrapa Tabuleiros Costeiros Referências FIGUEIRÊDO, E. L. Avaliação in vitro e in vivo do sêmen Ovino resfriado em diluidores à base de água de coco no estado do Ceará. 2006, 61p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Ceará. FIGUEIRÊDO, E. L.; NUNES, J. F.; CORDEIRO, M. A.; SOUZA, P. T.; DIÓGENES FILHO, R. N.; VIEIRA, V. E.; SILVA FILHO, A. H. S.; MESQUITA, F. L. T.; SALGUEIRO, C. C. M.; FEITOSA, J. V. Inseminação artificial de ovelhas da raça Santa Inês com sêmen diluído em água de coco in natura e em pó. Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, v. 14, n. 2, p. 95-97, 2007. PAULENZ, H.; ADNØY, T.; FOSSEN, O. H.; SÖDERQUIST, L. Effect on Field Fertility of Addition of Gelatine, Different Dilution Rates and Storage Times of Cooled Ram Semen After Vaginal Insemination. Reproduction in Domestic Animals, v. 45, n.4, p.706 710, 2010. SALAMON, S., MAXWELL, W.M.C. Storage of ram semen. Animal Reproduction Science, v. 62. p. 77-111, 2000. SCHIAVON, R. S.; AMARAL, J. I.; GASTAL, G. D. A.; VIANA, L. L.; CORCINI, C. D.; GOULARTE, K. L.; ULGUIM, R. R.; SCHEID FILHO, V. B.; VARELA JR, A. S.; DESCHAMPS, J. C.; LUCIA, T. JR. Efeito da gelatina e da lipoproteína de baixa densidade sobre a motilidade do sêmen ovino após o descongelamento. In: XVII Congresso Estadual de Medicina Veterinária, 2006, Gramado-RS. Anais, 2006 WATSON, P.F. The causes of reduced fertility with cryopreserved semen. Animal Reproduction Science, v.60-61, p. 481-492, 2000. YÁNIZ, J.; MARTÍ, J. I.; SILVESTRE, M. A.; FOLCH, J.; SANTOLARIA, P.; ALABART, J. L.; LÓPEZ-GATIUS, F. Effects of solid storage of sheep spermatozoa at 15ºC on their survival and penetrating capacity. Theriogenology, v.64, p.1844-1851, 2005.