6CCSDFTPEX03 FISIOTERAPIA NA COMUNIDADE Cristina Marques de Almeida Holanda 2, Cristina Katya Dantas Torres 2, Jefferson Ferrari de Lima 2, Nicéia Fernandes Barbosa Formiga 2, Kátia Suelly Q. S. Ribeiro 3 Centro de Ciências da Saúde/ Departamento de Fisioterapia/ PROBEX Resumo A atuação do Projeto Fisioterapia na Comunidade está pautada em dois pressupostos básicos: a necessidade de disponibilizar atendimento fisioterapêutico e atividades educativas em saúde à população local, bem como, a importância da experiência na atenção básica para a formação acadêmica do fisioterapeuta. Atua no bairro Grotão e na Comunidade Maria de Nazaré, ambas situadas na periferia de João Pessoa PB. Nesta última comunidade mantém parceria com outro projeto de extensão, o Educação Popular e Atenção à Saúde da Família. As atividades realizadas são: reuniões semanais, subdivididas em teóricas, organizativas e de grupos. Dentre as atividades práticas temos os atendimentos fisioterapêuticos; reuniões com a equipe se saúde da família, associação comunitária e gestão de saúde; participação na rádio difusora comunitária; atividades educativas e formação de grupos de saúde (grupo de coluna, idosos, Arreda o pé, Xô Preguiça, de Gestantes e Pacientes Neurológios). Ainda são realizadas visitas domiciliares às famílias da Comunidade Maria de Nazaré de forma interdisciplinar. O Projeto possibilita uma atuação interdisciplinar na atenção básica; uma visão ampliada do processo saúde doença na perspectiva da integralidade ao compreender os fatores sócioeconômicos como determinantes deste processo; viabilizar a assistência fisioterapêutica a uma classe menos favorecida e estimular a autonomia, liderança e o olhar crítico do estudante através do conceitual metodológico da educação popular. A escuta e o diálogo são exercícios obrigatórios para a troca de experiências e saberes. O saber popular e o saber científico são saberes que se complementam na produção do conhecimento. Uma relação respeitadora, horizontal e dialógica é fundamental no processo terapêutico e de intervenção/ construção na busca dos enfrentamentos dos problemas de saúde. A perspectiva da educação popular em saúde torna se uma estratégia para atuação em nível de atenção básica. Palavras chave: fisioterapia, atenção básica e educação popular. Introdução O projeto de extensão Fisioterapia na Comunidade, da Universidade Federal da Paraíba, teve início em agosto de 1993, na comunidade Padre Zé, sob a denominação de Programa de Assistência Domiciliar a Pacientes Neurológicos. Além do atendimento fisioterapêutico a pessoas com distúrbios neurológicos, soma se a perspectiva de atenção integral ao indivíduo, com a intervenção visando à promoção e a manutenção da saúde. Em 1995, o projeto passou a denominar se Fisioterapia na Comunidade, tendo sua atuação na comunidade da Penha. Desde 1998, o Projeto vem sendo desenvolvido nas Comunidades do Grotão e Maria de Nazaré, ocasião em que se aliou ao Projeto de Extensão Educação Popular e Atenção à Saúde da Família (PEPASF). A atuação está pautada em dois pressupostos básicos: a necessidade de disponibilizar atendimento fisioterapêutico e atividades educativas em saúde à população local, bem como, a importância da experiência na atenção básica para a formação acadêmica do fisioterapeuta. Dentre as profissões da área da saúde, a Fisioterapia surgiu como uma profissão voltada à reabilitação, com isso, houve um direcionamento dos profissionais para os serviços de média e alta complexidade. Entretanto, a necessidade de disponibilizar os serviços de Fisioterapia a toda população que dele venha a precisar instigou o debate a respeito da presença da mesma na Atenção Básica. Atualmente a fisioterapia não está mais restrita a reabilitação sendo a ciência da saúde voltada ao estudo, prevenção e terapêutica dos
distúrbios cinéticos funcionais de órgãos e sistemas do corpo humano (RIBEIRO, 2002). (1) Aluno(a)Bolsista; (2) Aluno(a) Voluntário(a); (3) Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a); (4) Prof(a) Colaborador(a); (5) Servidor Técnico/Colaborador O Projeto Fisioterapia na Comunidade propõe se a atuar nos três níveis de atenção à saúde, priorizando a atenção básica. Desta forma, busca se suprir a carência de atuação neste nível, ocasionada principalmente pela formação acadêmica, oportunizando a população o acesso à assistência fisioterapêutica e os acadêmicos quanto a experiência profissional. O eixo teórico norteador de atuação e intervenção social deste projeto de extensão é a Educação Popular, metodologia educativa sistematizada inicialmente por Paulo Freire. Destacam se as diferenças entre Educação Popular e Saúde e a proposta tradicional de educação em saúde. Na perspectiva popular, a prática não é entendida como fazer as pessoas mudarem seus costumes considerados prejudiciais, mas ajudar na busca da compreensão das origens dos problemas de saúde da população, bem como procurar soluções para os mesmos (LACERDA; RIBEIRO, 2006 apud VASCONCELOS, 1997). Esta forma de atuação valoriza a mesclagem de culturas, saberes e crenças, priorizando o diálogo entre o saber popular e o saber científico, onde os atores participantes ora ensinam, ora aprendem, subsidiando o trabalho em comunidade numa perspectiva de transformação social. O Projeto Fisioterapia na Comunidade tem por objetivos prestar assistência fisioterapêutica aos moradores da Comunidade que dela necessitem; contribuir com a melhoria na qualidade de vida da população por meio de ações educativas que visem à manutenção e promoção da saúde; estabelecer vínculos e incentivar o controle social; possibilitar a experiência acadêmica na atenção básica, de forma interdisciplinar, estimulando seu protagonismo e o planejamento participativo. Descrição metodológica O Projeto Fisioterapia na Comunidade é desenvolvido no Bairro do Grotão, estando vinculado as Unidades I, II e III de Saúde da Família. Atua juntamente com o projeto de extensão Educação Popular e Atenção à Saúde da Família, na Comunidade Maria de Nazaré localizada no bairro Funcionários III João Pessoa PB. O ingresso de estudantes dos primeiros períodos do curso é incentivado com o intuito de possibilitar um contato inicial com práticas de saúde coletiva em nível básico de atenção à saúde, de modo que os mesmos possam ter uma visão de saúde sob uma perspectiva mais abrangente do que simplesmente a ausência de doenças. São desenvolvidas tanto atividades teóricas quanto práticas. As atividades teóricas compreendem a discussão de textos previamente estabelecidos por decisão do grupo, dinâmicas, oficinas, elaboração de trabalhos científicos, de modo a possibilitar uma fundamentação para a prática e possível reorientação da mesma. Por ser um projeto que tem como arcabouço ideológico a educação popular, a Fisioterapia na Comunidade tem sua maneira própria de conduzir seus instrumentos de organização. As reuniões são geridas de forma compartilhada, onde todos os participantes interagem horizontalmente, contribuindo e favorecendo uma boa fluência do processo. Tais reuniões podem ser teóricas, organizativas ou de grupo. Nas reuniões teóricas utilizamos recursos como vídeos, músicas e textos relacionados à educação, antropologia, moradia, economia, Sistema Único de Saúde, metodologia de trabalho, integralidade, processo saúde doença, extensão entre outros. Dentro da reunião teórica não há somente uma aquisição de informações, mas também, é um espaço formativo e de construção onde os participantes geram, a partir de um pensamento coletivo, e desconstrução e construção de conceitos e novos conhecimentos.
As reuniões organizativas contemplam algumas estratégias de intervenções na comunidade e planejamento da organização interna do projeto como, por exemplo: data de reunião, presença dos participantes, construção de oficinas, envio de trabalhos para congressos, produções literais do grupo, etc. Nas reuniões de Grupos ocorrem os planejamentos de cada grupo separadamente e em seguida, o repasse para os outros integrantes com relação às proposições futuras e as atividades já realizadas. As Oficinas são espaços onde os atores são sensibilizados e mobilizados por problemas e dificuldades em comum. Através de discussões e debates são feitos os enfrentamentos dos problemas e suas possíveis soluções. De forma interativa e dinâmica, o estudante tem autonomia para propor, discutir, discordar e criar atividades. Para isso, faz se uso de músicas, cartazes, fotos, desenhos, pintura, colagens, peças, textos, entre outros vários recursos. As atividades práticas são realizadas nas comunidades e se distribuem da seguinte maneira: atendimento fisioterapêutico nas Unidades de Saúde da Família I, II e III do Grotão; atendimento fisioterapêutico domiciliar, realizado nos casos de pessoas que não tem condições de se deslocarem para as Unidades de Saúde, no bairro do Grotão e na Comunidade Maria de Nazaré; reuniões com a equipe de saúde da família, associação comunitária e gestão de saúde da cidade; realização de atividades educativas, como campanhas ou feiras de saúde; apresentação de programas de saúde e de divulgação do projeto na rádio difusora comunitária. Em parceira com o projeto Educação Popular e atenção à saúde da Família são realizadas visitas de acompanhamento às famílias, da Comunidade Maria de Nazaré, aos sábados, juntamente com os demais estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina, Odontologia, Nutrição, Farmácia, Direito, Ciências Sociais, Psicologia e Comunicação Social onde os estudantes são divididos em duplas interdisciplinares. Os atendimentos em grupos são realizados na Sede dos Alcoólicos Anônimos, nas unidades de saúde, nas escolas locais ou nas casas dos moradores. São eles: Grupo terapêutico de postura corporal (Grupo de Coluna): tem como objetivo geral proporcionar uma orientação no que diz respeito à prevenção e ao tratamento precoce das algias e principais patologias da coluna vertebral, assim como, auxiliar no tratamento dos casos de dor crônica, buscando melhorar a qualidade de vida dos participantes. É destinado à equipe de saúde da família, aos moradores da Comunidade e aos idosos. Grupo Xô Preguiça : atividade realizada com o público infantil, desenvolvida em uma das escolas do bairro. Aborda temas relevantes ao desenvolvimento da criança como postura adequada, exercícios para respiração, higiene pessoal, saúde bucal, entre outros. A metodologia envolve dinâmicas interativas e brincadeiras educativas. Grupo de Idosos: A partir do diálogo problematizador onde são compartilhadas experiências e necessidades coletivas, vários temas são sugeridos como: orientações sobre atividade física, alimentação, prevenção de doenças crônicas, auto estima, dentre outros, além de dinâmicas de grupo, exercícios de alongamento, respiratórios, metabólicos e de relaxamento. Grupo arreda o pé : Surgiu da proposta dos estudantes de fisioterapia em realizar uma atividade com os hipertensos junto à Unidade de Saúde da Família. No dia do hiperdia, que ocorre a entrega dos medicamentos, são feitas discussões informativas e em seguida exercícios físicos, alongamentos, relaxamentos e caminhadas. Grupo de gestantes: São realizados encontros semanais, antes dos atendimentos do pré natal do PSF. Realizam se atividades de: sensibilizações educativas quanto às alterações do corpo da mulher na gravidez; orientações posturais e preparo para o parto, amamentação, puerpério, desenvolvimento do bebê intra uterino e momentos para troca de experiências. O grupo engloba também a realização de exercícios com
as gestantes em pé, sentada e deitada, objetivando a mobilidade global, reeducação respiratória e fortalecimento do assoalho pélvico. Para finalizar uma abordagem corporal relacional psicoprofilática, através de técnicas de relaxamento e sensibilização sensório perceptiva, incentivando um maior vínculo entre mãe e bebê. Grupo de pacientes neurológicos: tem o objetivo principal de promover uma melhor qualidade de vida para as vítimas de acidente vascular encefálico AVE, incentivando seu retorno à sociedade. Promovem se dinâmicas de integração, socialização, atividades físicas, de equilíbrio, de coordenação, de relaxamento entre outras.
Resultados A estrutura do projeto fisioterapia na Comunidade oportuniza aos estudantes participantes o desenvolvimento de várias habilidades e competências profissionais que dificilmente se encontrariam nos âmbitos da universidade. Mesmo sendo um projeto de extensão do curso de fisioterapia, o trabalho com os estudantes de outros cursos e áreas do conhecimento, bem como o contato com as equipes de saúde da família, favorecem uma ação interdisciplinar, que amplia a compreensão do processo de fazer saúde. A visita familiar proporciona experimentar o cuidar à saúde das pessoas antes mesmo de cuidar de agravos ou seqüelas. Permite ainda, construir vínculos, que possibilita aos participantes uma visão que vai além da doença, permitindo ver o ser humano na sua dimensão integral, onde a subjetividade, a afetividade, a amorosidade, a compaixão e a humanização nas relações são primordiais. A interdisciplinaridade somada ao fato de as ações serem desenvolvidas dentro da própria comunidade, aproximando os estudantes da realidade social e econômica daquela população, favorecem a atenção à saúde numa perspectiva integralizadora, ao compreender que diversos fatores, não só os de ordem biológica, são determinantes no processo saúdedoença. A tradição da atuação da Fisioterapia está pautada no atendimento secundário e terciário. Diferentemente, este Projeto ressalta a importância, a alternativa e os apontamentos para se trabalhar com a Fisioterapia no campo da saúde básica e coletiva. O Projeto ainda ajuda a suprir uma demanda de assistência fisioterapêutica à população local, já que nem todas as pessoas tem condições financeiras e físicas de se deslocarem para um centro de referência. Esses obstáculos têm feito com que muitas pessoas tenham seus problemas de saúde agravados, dificultando ou impossibilitando o processo de reabilitação, o que poderia ser solucionado disponibilizando se o atendimento nos serviços básicos de saúde. Ao prestar atendimento fisioterapêutico nas Unidades de Saúde da Família e no domicílio das pessoas das comunidades não ocorre a solução do problema, mas com certeza há uma contribuição para que uma pequena parcela dos que estão excluídos ao acesso dos serviços de fisioterapia possam ter atendimento. A metodologia, baseada nos preceitos da educação popular, estimula a participação dos estudantes, como co responsáveis no processo de planejamento e execução das atividades, colaborando para o desenvolvimento da autonomia e liderança. Ainda desperta uma visão crítica do processo educativo, seja ao observar o modelo tradicional vigente da universidade, centrada no professor, seja no processo das relações interpessoais. Conclusão O projeto Fisioterapia na Comunidade tem duas perspectivas de ação, uma perspectiva didático pedagógica, relativa ao aprendizado que suas ações propiciam para os participantes, e uma perspectiva de compromisso social, referente às ações realizadas junto aos moradores das comunidades onde atua. O trabalho com comunidades carentes e em nível da atenção básica é um trabalho árduo e que exige a soma de esforços coletivos na busca de transformações sociais. Os diversos setores como a saúde, a política e a economia devem ser envolvidos por buscas de soluções reais. A escuta e o diálogo são exercícios obrigatórios para a troca de experiências e saberes. O saber popular e o saber científico são saberes que se complementam na produção do conhecimento. Uma relação respeitadora, horizontal e dialógica é fundamental no processo terapêutico e de intervenção/ construção na busca dos enfrentamentos dos problemas de saúde. Deste modo, a perspectiva da educação popular em saúde torna se uma estratégia para atuação em nível de atenção básica. Referências RIBEIRO, K. S. Q. S. A atuação da fisioterapia na atenção primária à saúde reflexões a partir de uma experiência universitária. Fisioterapia Brasil. V.3 n. 5 set/out 2002.
LACERDA, Dailton A. l.; RIBEIRO, Kátia S. Q. S. Fisioterapia na comunidade: experiência na atenção básica. Série extensão. Editora Universitária: João Pessoa, 2006. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Plano Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró Reitores de Extensão das universidades Públicas Brasileiras e SESu/MEC, 2000.