Censo registra mais de sete milhões de estudantes matriculados no ensino superior



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Transcrição:

Censo registra mais de sete milhões de estudantes matriculados no ensino superior Nunca houve tantos alunos na faculdade, no Brasil, e isso inclui cursos de graduação, pós-graduação e tecnológicos. O mais recente Censo da Educação Superior, divulgado em setembro, aponta que, em 2012, havia sete milhões de estudantes matriculados, um aumento de 4,4% em relação ao ano anterior. Tanta pujança poderá suprir a carência de mão de obra qualificada no mercado de trabalho brasileiro nos próximos anos? E como fica a formação desses graduandos diante da deficiência da educação básica? Projetos que concedem bolsas, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), têm grande peso nesse crescimento no que diz respeito às instituições particulares. Por outro lado, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), tirou da estagnação a criação e a expansão das universidades federais, interiorizando campi e ampliando a infraestrutura existente. O ensino a distância (EAD), com 1,1 milhão de matrículas efetuadas, também vem observando aumento natural devido à ampliação do acesso à internet e à maior oferta de cursos. O secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduíno, não vê ameaça na qualidade dos cursos oferecidos porque a ampliação do número de vagas segue um parâmetro de qualidade, como a exigência do título de doutor nos concursos para professores. A exceção, determinada pela Lei n.º 12.863, que dispõe sobre a estruturação do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal, fica para áreas de conhecimento ou localidades nas quais não haja disponibilidade de detentores do título nesses casos, poderão ser aceitos mestres, profissionais com especialização ou diploma de graduação. A expansão é importante para o Brasil porque cria um estímulo, junto com as ações afirmativas (cotas), para quem vem da educação básica pública e antes nem pensava em ingressar na universidade. Os pais passam a cobrar qualidade da escola e, com mais concorrência, o jovem do ensino médio vai buscar uma nota melhor. Abriu um novo horizonte, analisa Balduíno. Para o professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Erasto Fortes, membro da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), embora ainda haja um discurso generalizante de que o ciclo básico (funda mental e médio) seja precário, avaliações como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostram sinais de melhora, apesar de ainda haver muito que se conquistar. As instituições de ensino superior não deveriam permitir o ingresso de alunos com deficiência no aprendizado. Agora começa a surgir um excesso de vagas nas instituições particulares, nas quais os alunos ingressam a qualquer custo, afirma.

ProUni e Fies O acesso ao ensino superior pago foi facilitado pelos incentivos dados pelo governo federal por meio de programas de bolsas e financiamentos. O primeiro foi o ProUni, que chegou em 2005 a ser responsável por ofertar 112 mil bolsas. O número vem caindo e, em 2012, alcançou apenas 90 mil alunos. O Fies que financia o aluno durante o curso, já tem quase 900 mil participantes. Jaqueline Lima tem 28 anos e mora em Valparaíso de Goiás, cidade no entorno do Distrito Federal. Ela cursa o sexto semestre de Direito em uma universidade privada em Brasília. Filha de marceneiro e dona de casa, concluiu o ensino médio aos 18 anos. Foi vendedora e caixa em restaurante, sempre sonhando com a faculdade cuja mensalidade o salário não dava para pagar. Com as mudanças nas regras do Fies, em 2010, entre elas a redução nos juros pagos para a quitação do financiamento estudantil, a jovem prestou vestibular. Paga 50% da mensalidade de R$ 1.200,00 com a bolsa do estágio em um escritório de advocacia e, 18 meses depois de formada, depositará todo mês um valor atualmente estimado em R$ 280,00. Se não fosse o Fies, eu não estaria cursando faculdade. Quase todas as minhas amigas financiam totalmente a mensalidade, só eu pago a metade, conta a futura advogada, que agora tenta convencer a irmã de 24 anos a prestar vestibular para Educação Física e aderir ao programa. A instituição que Jaqueline frequenta, o Iesb, tem três campi na capital federal e aproximadamente 14 mil alunos. Segundo a sua assessoria de imprensa, 29% dos alunos matriculados são adeptos do Fies, ou seja, quatro mil estudantes, enquanto outros 1.005 têm bolsa do ProUni. Os cursos mais procurados são Direito, Engenharia Civil, Publicidade e Administração de Empresas. Oportunidade Para Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Fies e ProUni têm importância relevante na inserção de uma camada menos favorecida da população. Ele estima que a grande maioria dos estudantes de instituições privadas sejam egressos da escola pública no ensino médio. Boa parte trabalha de dia e cursa o período noturno. Tudo isso ainda não é suficiente. Apenas 16% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão cursando o ensino superior. Perdemos para todos os nossos vizinhos da América do Sul. O Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020 (ainda tramitando no Congresso Nacional) estabelece a meta de 35% de matrículas até 2020, o que será muito difícil de atingir, diz. Desde que foram instituídos, os dois programas inseriram mais de dois milhões de alunos no ensino superior. Caldas não vê, no entanto, ameaça à qualidade do ensino por conta do maior acesso. Não melhora nem piora. Se aumenta a demanda, vou ter que investir em mais salas, mais estrutura. As

instituições seguem um parâmetro de qualidade medido pelo MEC, ainda que seja adotado um padrão errado. E como o aluno do ProUni tem que se classificar pela nota do Enem, ele vai se esforçar mais, pondera o diretor executivo da ABMES. Interiorização Com a ampliação do acesso, o gasto do MEC por estudante da educação superior aumentou apenas 14% entre os anos 2000 e 2012, quando atingiu R$ 20.690,00, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC. Para Balduíno, no entanto, a conta se justifica pela evolução tecnológica. Antigamente, precisava-se do livro físico; hoje é de rede de fibra ótica da melhor qualidade, computadores e assinaturas de conteúdo do portal da Capes. Muitos experimentos em laboratórios de física podem ser simulados em computador, no qual também cabe uma ilha de edição inteira. O custo é menor e a qualidade, melhor, aponta o secretário da Andifes. Rumo ao interior O número de instituições de ensino federais cresceu 8,4% nos últimos 10 anos, com um aumento de 124% no número de ingressantes no mesmo período. Atualmente, as universidades e institutos federais participam com mais de 60% dos alunos que entram na rede pública de educação superior. Isso inclui cursos de graduação, pós e os institutos federais, cuja formação está mais voltada para o mercado de trabalho. Para Balduíno, novos cursos e campi são os dois principais componentes desse fator. E dá o exemplo da Universidade Federal de Goiás, que abriu um campus na cidade de Catalão (GO), local que tem atraído a indústria automotiva. Superar as dificuldades regionais é o desafio, pois é preciso crescer em todo lugar. E o crescimento das instituições públicas faz parte de uma política, enquanto a necessidade econômica guia o setor privado. A gente vai para o interior para criar condições de as pessoas ficarem lá, compara. Ele reforça essa ideia ao assinalar que uma universidade no interior movimenta toda a economia da região, pois levará novos consumidores para os produtos e serviços ali oferecidos. Os professores gastarão seus salários, a internet de banda larga chega e ainda começa a surgir toda uma vida cultural em torno da universidade. Ninguém parou para fazer as contas, mas é um processo de distribuição de renda, principalmente em regiões mais pobres, assinala. Ensino a distância Com 1,1 milhão de matriculados em instituições públicas e privadas, o ensino a distância (EAD) é uma alternativa cada vez mais procurada. Segundo Sólon Caldas, os cursos atendem áreas diversas, e a procura está muito ligada a necessidades de mercado. Para o diretor executivo da ABMES, boa parte dos matriculados são pessoas mais velhas, que precisam estudar em um horário mais flexível. O EAD é de grande valia no processo de inserção social, de ampliação do conhecimento, afirma.

As universidades públicas não estão fora desse movimento, pelo contrário. O secretário da Andifes concorda que o EAD é uma grande oportunidade para a democratização do acesso. Hoje, a referência no tema em âmbito federal é a Universidade Aberta do Brasil (UAB), voltada, principalmente, à formação continuada de educadores. É fundamental ampliar as vagas presenciais, mas também democratizar o acesso pelo ensino a distância. O EAD compõe um ótimo recurso para a especialização, a formação continuada. E a capilaridade permite a quem vive no interior ampliar seu conhecimento sem precisar sair da sua cidade. Há um grande estímulo do governo a essa modalidade, mas não como substituição dos cursos presenciais, comenta. No entanto, os especialistas não creem que o EAD vá suprir a carência de mão de obra especializada reivindicada pelo mercado de trabalho, até porque áreas mais específicas, como Medicina, não podem ser ofertadas a distância. Para Sólon Caldas, os entraves para a expansão da oferta de cursos tem e terá graves consequências. Há um excesso de regulação do MEC. O governo colhe o que plantou no passado e corre o risco de sofrer, em áreas como Engenharia e licenciaturas, a mesma falta de profissionais que há hoje em Medicina. Não temos mais professores de Matemática, Química e Física. Engenheiros estão lecionandos. É preciso flexibilizar os procedimentos de autorização para novos cursos e vagas, reivindica. No entanto, o professor Erasto Fortes lembra que até 2002 a expansão do ensino superior no Brasil deu-se exclusivamente por meio das instituições particulares, com um forte processo de retração das universidades públicas. Faltavam profissionais, pois não havia concursos, tampouco investimentos ou expansão. Onze anos atrás, um novo curso era autorizado a cada seis horas. Foi uma situação irresponsável porque a qualidade foi rebaixada, aponta o conselheiro do CNE. Fortes lembra que, apesar da retomada dos investimentos no ensino público de nível superior a partir da segunda metade dos anos 2000, principalmente com a interiorização, setor privado seguiu em crescimento por conta dos programas de bolsas oferecidos pelo governo federal. A expansão entre 2011 e 2012 foi menor do que no ano anterior e houve mais matrículas nas instituições públicas, destaca. Para o conselheiro do CNE, as universidades e institutos federais precisam se fortalecer ainda mais devido ao intenso processo de fusões e aquisições no setor educacional privado. Ele cita como exemplo a união, no primeiro semestre de 2013, do grupo paulista Anhanguera ao mineiro Kroton, A fusão gerou a maior empresa do mundo no setor educacional, com números superlativos: valor de mercado de R$ 13 bilhões; um milhão de alunos (da educação básica à pós-graduação) e R$ 4,2 bilhões de receita bruta. São milhões de matrículas na mão de apenas uma mantenedora, que tende a sufocar as instituições de menor porte e a gerar um monopólio. Para esse tipo de grupo, quanto mais matrículas, mais lucro. Não importa se o aluno vai se formar ou desistir, analisa Fortes.

E o setor público acelera. Segundo o Portal da Transparência, o governo federal aplicou, em 2012, R$ 493,7 milhões em 52 universidades e centros universitários, valor que abrange investimento e custeio. De acordo com Balduíno, foram construídos ou reformados quatro milhões de metros quadrados nas instituições federais, nos últimos quatro anos. No ano que vem, o montante investido diminuirá e vai aumentar o custeio, que são as despesas do dia a dia. O custo da universidade aumenta quando se faz expansão, explica o representante da Andifes. Reivindicações Em junho, as entidades mantenedoras do ensino superior reuniram-se no 6.º Congresso de Educação Superior Particular e formularam um documento com 14 reivindicações ao ministro da Educação, Aluísio Mercadante. A principal delas pleiteia tratamento diferenciado nas avaliações, de acordo com a região onde fica a instituição. Não é um pleito por avaliação diferenciada, mas a cobrança por um item já contemplado na lei que instituiu o (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) Sinaes. O MEC não cumpre esse requisito e tem só um instrumento para todas as instituições do país, o (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) Enade, que deveria avaliar o aluno e virou um meio para avaliar o curso, critica Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES. Para aferir a qualidade do curso, na opinião de Caldas, é preciso observar a diversidade e regionalidade do curso. Hoje se usa a mesma régua para avaliar uma faculdade no interior do Nordeste e a USP. E as instituições em locais menos favorecidos acabam sendo sufocadas pelo excesso de regulação, e têm resultado insatisfatório no conceito do MEC, embora muitas vezes formem mão de obra específica, a partir do conhecimento de técnicos com forte formação prática. Desse jeito, prejudica-se a instituição, a região e as pessoas. É melhor não ter nada?, questiona o diretor da ABMES. Formação para o mercado Os cursos tecnológicos, ministrados nos institutos federais de educação tecnológica e em instituições particulares, são os que mais têm crescido em número de matrículas. De acordo com o Censo da Educação Superior, a expansão de matrículas entre 2011 e 2012 foi de 8,5%, enquanto os bacharelados tiveram mais 4,6% de inscritos e as licenciaturas, mais 0,8%. Atualmente, esses cursos representam 13,5% do total de matrículas na educação superior. Para o diretor executivo da ABMES, tais cursos, voltados à formação prática para o mercado de trabalho, são uma solução para suprir a curto prazo a demanda por profissionais capacitados. Esses cursos exigem menos tempo de formação e capacitam o profissional a atuar para atender uma necessidade imediata. Mas sempre haverá procura pelo bacharelado, acredita Caldas. Apesar disso, o representante das mantenedoras nota pelos números uma tendência de migração da formação acadêmica tradicional para os tecnológicos. O aluno da iniciativa particular geralmente paga

o estudo trabalhando, e a formação mais rápida gera um retorno mais breve do investimento feito, sem desmerecer o bacharelado, que oferece uma formação mais acadêmica, diz. O secretário executivo da Andifes observa que, de qualquer ângulo, o cenário mostra a carência de profissionais especializados, principalmente na indústria, na qual há mais demanda por técnicos. Em qualquer lugar do mundo, os salários de um graduado e do técnico se equivalem. O mercado precisa dos dois, ressalta Balduíno. A necessidade de bons quadros técnicos também é apontada por Erasto Fortes, do CNE. Para ele, apesar de estarem virando quase universidades, os institutos tecnológicos seriam, em tese, mais voltados para uma formação de ensino médio profissionalizante. Mas assim como algumas graduações oferecem cursos voltados ao mercado, a preocupação dos institutos deve ser com a formação tecnológica, afirma. Balduíno alerta que a educação como política pública não pode escolher formar um ou outro tipo de profissional, tampouco deixar de formá-lo porque o mercado não demanda nem esperar por essa demanda. Suprir a falta de mão de obra especializada de nível superior, como engenheiros, arquitetos, médicos e na área de tecnologia da informação é um caminho que, para ele, independe de necessidades imediatas. É um processo contínuo e permanente de consolidação. Formamos engenheiros para indústrias e a construção civil, mas também para dar aulas no setor privado. Também temos que formar o professor da educação básica, para atender ao aluno que futuramente vai frequentar a universidade. Esse caminho (de suprir a demanda) vai ter que ser feito de bicicleta. Estamos pedalando. Se pararmos, caímos, conclui o secretário executivo da Andifes. Fonte: ABMES / Revista Dinâmica Pública