CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DA CRECHE SOBRE CASOS DE FEBRE EM CRIANÇAS RESUMO



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CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DA CRECHE SOBRE CASOS DE FEBRE EM CRIANÇAS JUSTINO, Andréa Gomes MOREIRA, Bruna Filomena Correia LIMA, Regiane Paiva de VICTOR, Janaína Fonseca XIMENES, Lorena Barbosa RESUMO Este estudo teve como objetivos caracterizar os educadores quanto à idade, escolaridade e cursos de aperfeiçoamento; identificar se os educadores sabem detectar se a criança está com febre; e verificar as atitudes tomadas pelos educadores em casos de febre em criança. Optamos pelo estudo exploratório e abordagem qualitativa. Para tanto, realizamos entrevistas com os 08 educadores de uma creche, localizada no Planalto Airton Senna, em Fortaleza- Ceará, no período de novembro a dezembro de 2003 através de um formulário abordando aspectos referentes à caracterização dos educadores e questões relativas à febre. De acordo com os resultados podemos observar que os educadores tinham idade entre 20 e 59 anos, não tinham curso de nível superior, sendo que 01 tem ensino fundamental incompleto, 02 possuem ensino fundamental completo e 05 tem ensino médio completo. Com relação ao conhecimento dos educadores sobre febre, observamos que todos referem saber identificar quando a criança está com febre, apontando, apenas, dois sinais (letargia e aumento de temperatura). Quanto às providências tomadas em caso de febre, os educadores relataram levar ao posto de saúde, tratar na própria creche e avisar a família. A partir destas considerações, podemos constatar a importância do papel do educador, e sua responsabilidade e compromisso em se capacitarem para promover cuidados adequados e efetivos às crianças, propiciando o aprendizado e a saúde das mesmas, garantindo uma melhor qualidade da atenção prestada na creche. Palavra chave: febre, creche, educação infantil.

ABSTRACT This study it had as objective to characterize the educators how much to the age, nivel of pertaining to school knowledge and courses of perfectioning; to identify if the educators they know to detect if the child is with fever; e to verify the attitudes taken for the educators in cases of fever in child. We opt to the exploratory study and qualitative boarding. For in such a way, we carry through interviews with the 08 educators of a day-care center, located in the Plateaus Airton Senna, in Fortaleza-Ceará, in the period of November the December of 2003 through a form approaching referring aspects to the characterization of the educators and relative questions to the fever. In accordance with the results we can observe that the educators had age between 20 and 59 years, did not have course of superior level, being that 01 has incomplete basic education, 02 possess complete basic education and 05 have complete average education. With relation to the knowledge of the educators on fever, we observe that all relate to know to identify when the child is with fever, pointing, only, two signals (lethargy and increase of temperature). How much to the steps taken in fever case, the educators had told to lead to the health rank, to treat in the proper day-care center and to inform the family. To break, of these results, we can evidence the importance do paper do educator, and its responsibility and commitment in if enabling to promote adequate and effective cares às children, propitiating the learning and the same health das, guaranteeing one better quality da given attention na day-care center. KEY-WORDS: fever, day-care center, infantile education

CONHECIMENTO DOS PROFESSORES DA CRECHE SOBRE CASOS DE FEBRE EM CRIANÇAS* INTRODUÇÃO JUSTINO, Andréa Gomes MOREIRA, Bruna Filomena Correia LIMA, Regiane Paiva de VICTOR, Janaína Fonseca XIMENES, Lorena Barbosa As creches surgiram no Brasil a partir do século XIX com o objetivo de salvar crianças pequenas da morte, oferecendo abrigo, alimentação e atendimento em higiene e saúde, pelo fato das famílias de trabalhadores não poderem proporcionar esses cuidados a seus filhos (MERISSE, 1997). Diante das mudanças ocorridas na estrutura política, social e econômica no Brasil, as quais repercutiram na organização social e familiar, a creche passou a assumir função importante para o crescimento e desenvolvimento das crianças, sendo muito solicitada pela população (VERÍSSIMO; FONSECA, 2003). Atualmente, um número cada vez maior de crianças de classe sócio-econômica menos favorecida vem sendo assistida em creches oferecidas pelo governo. (FISBERG, MARCHIONI E CARDOSO, 2004). Portanto, o aumento pela demanda deste tipo de serviço às crianças na primeira infância, fase esta compreendida entre primeiro e sexto ano de idade, requer que todas as instituições de ensino infantis estejam comprometidas em proporcionarem condições satisfatórias que promovam crescimento e desenvolvimento adequado às crianças inseridas na creche. Estudos realizados por Barros et al., (1999) revelam que a creche pode atuar de forma benéfica ou prejudicial para o crescimento e desenvolvimento das crianças, especialmente, quanto à aquisição de doenças. As crianças adoecem muito mais quando estão freqüentando creches do que as crianças cuidadas em casa. Um exemplo é a ocorrência de pneumonia que é de 02 a 12 vezes maior em crianças que se encontram inseridas nas creches do que aquelas que são cuidadas em seus domicílios.

A freqüência à creche é fator de risco, aumentando a exposição e transmissão de agentes que causam agravos à saúde, pois o ambiente coletivo das creches proporciona grande circulação de agentes patogênicos, além de propiciar a propagação das doenças (VICO; LAURENTI, 2004). Ainda nesse sentido, pesquisa realizada por Maranhão (2000) refere que os pais percebem que as crianças ficam doentes com maior freqüência, após serem inseridas na creche, atribuindo tal fato, as condições físicas e sanitárias do ambiente escolar. Portanto, o educador infantil, segundo Mamede (2004) deve no seu cotidiano integrar dois aspectos, o do cuidar e do educar, promovendo desta forma cuidados com a saúde em relação ao crescimento, alimentação, higiene, prevenção de acidentes, cuidados com as doenças, além de outros cuidados relacionados com as interações das crianças com outras pessoas, os quais são essenciais para a promoção da saúde das mesmas. O ambiente da creche pode trazer prejuízos para a saúde das crianças e influenciar o seu processo de aprendizagem, sendo necessário que o educador esteja atento à primeira etapa do cuidado o conhecimento considerando que este deve ser capaz de entender as necessidades da criança e de responder a estas de forma adequada (VERÍSSIMO; FONSECA, 2003). Um estudo sobre a mortalidade de crianças usuárias de creches no município de São Paulo mostrou que as principais causas de morte foram de ordem infecciosa e na sua maior parte resultante de causas consideradas evitáveis, passíveis de redução, revelando, assim, a importância de medidas de prevenção, de detecção precoce e de tratamento adequado no âmbito das creches (VICO; LAURENTI, 2004). E dentre essas medidas pode-se ressaltar a capacidade de detectar casos de febre em crianças, já que pode ser considerada como um dos sinais mais freqüentes e evidentes em situações de infecções. Sendo assim, a febre pode ser causada por vários fatores, inclusive desidratação, esforço excessivo, picada de mosquito, picada de abelha, reação alérgica ou tóxica, infecção por vírus ou bactéria, sendo esses últimos os mais freqüentes como uma reação do corpo a uma infecção aguda, sendo caracterizada pelo aumento da temperatura corporal acima de 37,5ºC. No caso de não se detectar a febre, além do possível agravamento da doença, a criança não conseguirá aprender adequadamente, visto que, esta poderá apresentar dores pelo

corpo, agitação, inapetência, dificuldade de conciliar sono e repouso o que traz prejuízos para o desenvolvimento físico e cognitivo (ZAND, WALTON, ROUNTREE, 1997). Entretanto, a identificação da febre em crianças menores torna-se muitas vezes prejudicada, pelo fato das mesmas não terem capacidade para referir sua condição de saúde, dependendo, assim, totalmente da atenção de uma pessoa adulta que observe sinais característicos de sua debilidade física. É importante colocar que a febre é o sintoma mais comum de que a criança está com alguma doença, e traz para todos que convivem com a criança muita preocupação, podendo levar o tratamento exagerado com uso de salicilatos, além de mascarar alguns sinais, tornando, assim, menos efetiva a observação da afecção e seu tratamento(whaley; WONG, 1999) Diante da relevância da detecção da febre como fator facilitador na identificação precoce de doenças e agravos à saúde da criança, desenvolveu-se este estudo com os seguintes objetivos: caracterizar os educadores quanto à idade, escolaridade e cursos de aperfeiçoamento; identificar se os educadores sabem detectar se a criança está com febre; e verificar as atitudes tomadas pelos educadores em casos de febre em criança. METODOLOGIA Este é um estudo do tipo exploratório com abordagem qualitativa. Para Bogdan; Biklein(1994) a pesquisa qualitativa permite que o pesquisador adentre nos cenários naturais dos informantes, descrevendo e explicando a realidade, procurando focalizar o fenômeno estudado sob a visão de mundo dos informantes, no seu cotidiano. Para tanto, o estudo foi realizado com professoras de uma creche municipal da periferia de Fortaleza, localizada no bairro Planalto Ayrton Sena, que atende a crianças de 2 a 6 anos de idade em período integral, nos meses de novembro e dezembro. Para a coleta de dados, optamos por uma entrevista semi-estruturada, utilizando um formulário contendo as informações sobre idade, sexo, escolaridade, curso de aperfeiçoamento, além das seguintes perguntas: você sabe identificar quando uma criança está com febre? para esta pergunta em caso de resposta afirmativa foi pontuado as principais

alterações segundo a literatura ( letargia, calafrios, temperatura acima de 38ºC e cefaléia), que providência você toma ao identificar que a criança está com febre? sendo pontuado quatro alternativas de resposta ( leva ao posto de saúde, comunica a família, trata na própria creche com alguma medicação e outros). Os dados foram organizados em categorias sendo discutidos de acordo com a literatura pertinente. As categorias do estudo foram caracterização dos educadores infantis, identificação de casos de febre em crianças, intervenções em casos de febre em crianças. Vale salientar que este estudo segue as diretrizes instituídas pelo Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução n 196/96, para a pesquisa em saúde. Sendo assim, o projeto foi deferido pelo Comitê de Ética em Pesquisa e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará. Enviamos solicitação por escrito ao diretor da escola-creche, e, posteriormente realizamos uma reunião com educadores, conversando sobre os objetivos da pesquisa que tem caráter exclusivamente científico, os mesmos aceitaram participar da mesma e assinaram o termo de consentimento pós-informação, em que foi assegurado o sigilo, o anonimato, o livre acesso às informações, bem como, liberdade para sair da pesquisa em qualquer momento. Técnicas (ABNT). O referido trabalho atende as normas da Associação Brasileira de Normas APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Caracterização dos educadores infantis De acordo com os resultados, podemos observar que apesar de todos os sujeitos do estudo exercerem a função de educador infantil, os mesmos relatam que possuem cargos diferenciados dentro da estrutura da creche sendo 3 educadores, 4 auxiliares de educação e 1 gerente administrativo(diretor). Todos são do sexo feminino, com idade entre 20 a 59 anos, predominando a faixa etária dos trinta anos.

Em relação à forma de ingresso na creche os sujeitos relatam não ser concursados, mesmo sendo a creche municipal. Quanto à escolaridade dos educadores, identificamos que nenhum possui curso de nível superior. Um possui o ensino fundamental (está cursando a 5ª série), 02 possuem o ensino fundamental completo e 05 possuem o ensino médio completo (sendo 04 pedagógico - profissionalizante). Quanto aos cursos de aperfeiçoamento foram referidos os cursos de informática, inglês, auxiliar de creche, gerenciamento de empresa, merendeira escolar, relações humanas e didáticas e educação infantil. Ainda, foi referido que alguns estão freqüentando os cursos de técnico de enfermagem e habilitação em matemática e física pela Universidade do Vale do Acaraú. Importante salientar que 03 não possuem curso de aperfeiçoamento em nenhuma área. A partir desta breve caracterização dos sujeitos dos estudos, podemos perceber que a formação e capacitação destes educadores são insipientes, no que se refere às necessidades de aprendizagem infantil e promoção da saúde, pois os cursos referidos voltamse em sua maioria para outras áreas de conhecimento, não possibilitando aprimoramento no cuidado às crianças. Quanto à formação dos educadores infantis a Política Nacional de Educação Infantil, refere que 18,9% dos professores de pré-escolar são leigos, reforçando que nas creches a situação é mais grave. A formação desses educadores deve contemplar conteúdos relativos à promoção da saúde, no intuito de aprimorar a qualidade dos serviços ofertados à criança (MARANHÃO, 2000). As instituições educacionais, especialmente aquelas para a pequena infância, apresentam-se à sociedade e às famílias de qualquer classe social como responsáveis pelas crianças no período que as atendem (VERISSIMO, FONSECA, 2003). Esta realidade traz grande responsabilidade para o educador tanto no âmbito educacional como na promoção da saúde, sendo essencial que estes apresentem uma formação/capacitação específica para esta função.

Identificação de casos de febre em crianças Quanto ao conhecimento dos educadores com relação à identificação da febre, todos referiram saber quando a criança está com febre, este fato é positivo, pois facilita a tomada de decisão no atendimento desta criança, levando a intervenções precoces que minimizam os riscos de agravamento das doenças. No entanto, no que se refere aos sinais e sintomas que caracterizam a febre os educadores são limitados na identificação destes. Dos educadores 08 referiram observar como característica da febre a letargia e 04 a temperatura acima de 38ºC. A respeito da verificação da temperatura, 03 citaram que verificam no posto de saúde e somente 01(uma) educadora referiu que verificava a temperatura na creche. Contudo, no depoimento de uma das educadoras, foi ressaltado que não havia termômetro na creche. Quanto a este desencontro de informações, tivemos a oportunidade de observar que no momento da pesquisa não havia termômetro no local. Faz-se necessário relatar que uma única leitura da temperatura pode não indicar a febre, é preciso que se faça várias leituras da temperatura em momentos diferentes do dia, comparadas com o normal para aquela pessoa naquele horário, além de verificar a presença de dois sinais e sintomas físicos de infecção para realmente determinar que a pessoa encontra-se com febre (POTTER; PERRY, 1999). Os educadores do estudo não referiram outros sinais e sintomas que também são importantes para a detecção da febre, os quais podemos citar: calafrios, cefaléia, dores, alterações de apetite, agitação, alteração no sono, irritabilidade e alterações na pele (palidez, hiperemia). Vale salientar que o não reconhecimento destes sinais e sintomas por parte dos participantes nos revela um certo desconhecimento por parte dos professores infantis quanto às alterações de saúde que podem ocorrer com as crianças. A avaliação da saúde das crianças pelo educador é baseada em suas percepções derivadas do dia-a-dia ao identificarem empiricamente os primeiros sinais de mal-estar e os problemas de saúde mais freqüentes (MARANHÃO, 2000). O atendimento da criança na creche demanda o oferecimento de ações que não constituem atividades pedagógicas, mas que são essenciais à criança. Para tanto, é preciso

contar com profissionais capacitadas com conhecimentos e habilidades específicos tais como a capacidade de observar, interpretar e compreender os comportamentos e necessidades infantis (VERISSÍMO, FONSECA, 2003). Intervenções em caso de febre em crianças Outro fator importante é o modo como será tratada esta febre, pois o manejo inadequado poderá trazer prejuízo à saúde da criança. Com relação à atitude dos educadores na identificação da febre 03 referiram levar ao posto de saúde; 03 tratam na própria creche, 01 leva ao posto e comunica a família e 01 trata na creche e comunica a família. Com relação aos 03 educadores que tratam na creche as crianças com febre, os mesmos referiram fazer uso de alguns desses medicamentos: salbutamol, paracetamol, dipirona ou remédios indicados pela mãe. Vale ressaltar que a maioria dos médicos só prescreve drogas antipiréticas quando a temperatura oral se encontra acima de 38ºC, pois quando a febre está baixa é recomendado o uso de roupas leves e líquidos adicionais para prevenir a desidratação(whaley e WONG, 1999). Deve-se ter muito cuidado na implementação medicamentosa, pois ela envolve riscos. É importante saber se a criança é alérgica àquele medicamento, qual é a gravidade da febre, se é realmente necessário dar uma medicação, qual seria a dose indicada para aquela criança, pois há uma variação de doses dependendo da idade e do peso daquela criança (ZAND, WALTON, ROUNTREE, 1997). Podemos observar no estudo que os educadores não possuem conhecimento quanto à relação entre medicação e indicação, visto que citaram o salbutamol, como antitérmico, sendo a referida medicação classificada como broncodilator. Ao realizar esta intervenção o educador compromete o cuidado a criança. No caso do paracetamol em quantidades excessivas, pode causar danos ao fígado. Fato relevante de citar é a contra-indicação do uso da aspirina à criança febril, pois muitas febres são causadas por infecções virais e a combinação de aspirina e doença viral tem

sido associada ao aparecimento da síndrome de Reye, uma doença hepática progressiva e muito perigosa (ZAND, WALTON, ROUNTREE, 1997). A atitude em casos de febre em crianças, inicialmente, deve voltar-se para a utilização de meios físicos para o controle da temperatura, procura por profissional capacitado, além de valorizar a participação da família neste cuidado. Importante ressaltar que nenhum dos educadores citou a utilização de meios físicos para o controle da temperatura, 03 referiram procurar o posto de saúde e apenas 1 relatou avisar a família. Esta realidade reforça a necessidade de aprofundar discussões quanto o cuidado de crianças em situações de saúdedoença no ambiente escola-creche CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao realizar este estudo podemos verificar a importância da creche para as famílias que não podem cuidar de suas crianças durante o dia e a responsabilidade e o compromisso por parte dos educadores em promover cuidados adequados e efetivos as crianças, propiciando o aprendizado e a saúde das mesmas. Ao caracterizar os educadores podemos observar que os mesmos necessitam de maior aprimoramento para exercitar esta função, visto que a escolaridade e os cursos realizados não suprem as necessidades como educador e agente de promoção da saúde das crianças. Os educadores relataram, apesar de forma limitada, serem capazes de detectar se uma criança está com febre, citando, apenas, dois sintomas da febre (letargia e aumento de temperatura acima de 38º C). Quanto às intervenções em caso de febre, a atitude tomada pelos professores está parcialmente correta, pois alguns referiram levar ao posto de saúde, mas outros disseram tratar na própria creche dando medicamentos, o que pode tornar-se perigoso se não houver conhecimento suficiente sobre os mesmos, sua ação, indicações e contra-indicações.

Portanto, este estudo possibilitou vislumbrar que novas pesquisam devem ser desenvolvidas nesta temática, com o intuito de garantir uma melhor qualidade da atenção prestada à criança na creche. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS.et al. Perfil das creches de uma cidade de porte médio do sul do Brasil: operação, cuidados, estrutura física e segurança. Cad. Saúde Pública. 15(3): 597-604, jul./set., 1999. BOGDAN, R.C.; BIKLEIN, S.K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994. 336 p. FISBERG, R. M.; MARCHIONI, D. M. L.; CARDOSO, M. R. A. Estado nutricional e fatores associados ao déficit de crescimento de crianças freqüentadoras de creches públicas do município de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 20(3): 812-817 maio/jun., 2004. MAMEDE, M. Palavra do especialista. Disponível em: http://www.andi.org.br/notícias/templates/template-diopiasp?artideid=529&zeneid=25.htm. Acesso em: 29/03/2004. MARANHÃO, D.E. O processo de saúde-doença e os cuidados com a saúde na perspectiva dos educadores infantis. Cad. Saúde Pública; out-dez.2000;16(4):1143-1148. MERISSE, A. Origem das instituições de atendimento à criança: o caso das creches. In: MERISSE, A. et al. Lugares da Infância: reflexões sobre a história da criança na fábrica, creche e orfanato. São Paulo: Arte Ciência, 1997. p. 25-51. POTTER,P.A.; PERRY,A.G.Sinais vitais.in POTTER,P.A.;PERRY,A.G. Fundamentos de enfermagem:conceito, processos e prática.4ed. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan,1999.p.542-584. VERÍSSIMO,M.D.L.O.R.; FONSECA,R.M.G.S. O cuidado da criança segundo trabalhadoras de creches. Rev. Latino-America de Enfermagem; jan-fev.2003;11(1):28-25.

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