42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Documentos relacionados
Ótima cobertura e lubrificação do globo ocular com apenas uma gota

CERATOCONJUNTIVITE INFECCIOSA BOVINA CAROLINE CELA GERON¹, FLÁVIA NESI MARIA¹ ¹Residentes do H.V. da Universidade Estadual do Norte do Paraná

Médica Veterinária Residente do Programa de Residência Multiprofissional, UFCG 6

A PREVENÇÃO faz a diferença

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE AS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS DE CERATOPLASTIA COM ENXERTO CONJUNTIVAL LIVRE E PEDICULADO EM CÃES

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

COMPARAÇÃO CLÍNICA DA PRODUÇÃO LACRIMAL, EM CÃES COM CERATOCONJUNTIVITE SECA, UTILIZADO TRATAMENTO COM CÉLULAS-TRONCO PELA VIA TÓPICA E PERIGLANDULAR

Carteira de VETPRADO. Hospital Veterinário 24h.

COORDENADORIA DE VIGILÂNCIA ÀS DOENÇAS E AGRAVOS NOTA TÉCNICA 02/2017. Assunto: Orientação sobre conduta diante dos casos ou surto de conjuntivite

DESCEMETOCELE EM UM CANINO - RELATO DE CASO 1 DESCEMETOCELE IN A CANINE

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Discente de Pós Graduação em Oftalmologia Veterinária Anclivepa SP

FRATURA DE MANDÍBULA SECUNDÁRIA À DOENÇA PERIODONTAL EM CÃO: RELATO DE CASO

Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações

Palavras-Chave: hemangiossarcoma ocular; neoplasia conjuntival; conjuntiva bulbar; córnea; oftalmologia veterinária.

STILL. ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA Solução Oftálmica Estéril diclofenaco sódico (0,1%) BULA PARA O PACIENTE. Bula para o Paciente Pág.

SULFATO DE GENTAMICINA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE ANIMAL

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE OLHO VERMELHO

SULFATO DE GENTAMICINA

DIAGNÓSTICO DE HEMORRAGIA PULMONAR INDUZIDA POR EXERCÍCIO EM CAVALOS DO MUNICÍPIO DE PINHAIS/PR

Hipertonic. Ophthalmos S/A. Solução ocular (colírio) 5% Ophthalmos S/A

OFTALMIA NEONATAL portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br

VIDISIC. BL Indústria Ótica Ltda. Gel líquido oftálmico. 2 mg/g

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

DIA 29/3/ SEXTA-FEIRA AUDITÓRIO CATALUNYA. 08:30-10:15 RETINA 3 - SIMPÓSIO SNNO/SBRV - Retina Clínica & Arte do saber. 08:30-08:35 Abertura

REVISÃO EM OFTALMOLOGIA OFTALMO REVIEW

trometamol cetorolaco

Maxiflox. Pomada oftálmica estéril 3,5 mg/g (0,35%) Cristália Prod. Quím. Farm. Ltda. MODELO DE BULA PARA O PROFISSIONAL DE SAÚDE

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Doenças da pele relacionadas à poluição do ar: uma revisão sistemática Skin diseases related to air pollution: a systematic review

Influência das Variantes Genéticas Funcionais do Sistema Renina-Angiotensina na Doença Arterial Coronária.

LACRIFILM (carmelose sódica)

EXOFTALMIA ASSOCIADA À SIALOCELE DA GLÂNDULA ZIGOMÁTICA DE CÃO- RELATO DE CASO

NEO FRESH. (carmelose sódica)

CLORIDRATO DE CIPROFLOXACINO

LACRILAX. (carmelose sódica)

aciclovir pomada oftálmica

ARGIROL ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

ACULAR. ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA Solução Oftálmica Estéril trometamol cetorolaco 0,5% BULA PARA O PACIENTE. Bula para o Paciente 1

Terolac trometamol cetorolaco. Cristália Prod. Quím. Farm. Ltda. solução oftálmica 5 mg/ml MODELO DE BULA PARA O PACIENTE

Modalidade: Nível: Área: Introdução

NOVOS CONCEITOS NA MEDICINAL TRANSFUSIONAL DE CÃES E GATOS MARCIO MOREIRA SANIMVET UNVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

CERATOCONJUNTIVITE INFECCIOSA BOVINA (1) (2) (3)

ARGIROL ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Resumo. Abstract. Médica Veterinária, Profª Drª Associada do Deptº de Clínicas Veterinárias, UEL, Londrina, PR.

FRESH TEARS LIQUIGEL

MICROSCOPIA CONFOCAL CORNEANA E SUA APLICABILIDADE NO ESTUDO DE PIGMENTOS CORNEANOS DE CÃES

LOTEPROL. BL Indústria Ótica Ltda Suspensão estéril 5,0 mg/ml

REUNIÃO DOS GRUPOS PORTUGUESES 2019

CLORIDRATO DE CIPROFLOXACINO

CAUSAS MAIS FREQUENTES OLHO VERMELHO

ABORDAGEM CLÍNICA DE BLUE EYE, ASSOCIADO À REAÇÃO PÓS- VACINAL EM CÃO RELATO DE CASO

RESTASIS ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

MICROBIOTA CONJUNTIVAL EM CÃES CLINICAMENTE SADIOS E CÃES COM CERATOCONJUNTIVITE SECA

Maxiflox. Solução oftálmica estéril 3,5 mg/ml (0,35%) Cristália Prod. Quím. Farm. Ltda. MODELO DE BULA PARA O PROFISSIONAL DE SAÚDE

SANTOIANNI, C. A. 1 ; MONTELEONE, R. A. M. 2 ; PERLMANN, E. 2

SABER MAIS SOBRE QUERATOCONE - ANÉIS INTRACORNEANOS

10 FATOS SOBRE A SEGURANÇA DO PACIENTE

j/d TM Canine auxilia em casos de osteoartrite 8

Degeneração corneana subepitelial hipertrófica periférica: descrição de um fenótipo

Pesquisa Institucional desenvolvida no Departamento de Estudos Agrários, pertencente ao Grupo de Pesquisa em Saúde Animal, da UNIJUÍ 2

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

LEGRACE trometamol cetorolaco

CILOXAN * solução cloridrato de ciprofloxacino (3,5 mg/ml)

SABER MAIS SOBRE HIGIENE E TRATAMENTO DAS PÁLPEBRAS

COMPARATIVE CLINICAL PATHOLOGY. Fator de Impacto: 0,9

Estudo de segurança do Trissulfin SID (400 mg e 1600 mg) administrado em cães adultos e filhotes pela via oral durante 21 dias consecutivos.

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.

O PREDNIOCIL pomada oftálmica, possui na sua composição como única substância activa o Acetato de Prednisolona na concentração de 5 mg/g.

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Resumo: Anais do 38º CBA, p.1725

ALLERGAN PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA

Etiopatogenia das alterações pulpares e periapicais

ESTUDO RETROSPECTIVO DE 81 AFECÇÕES POR PROTEUS MIRABILIS E PROTEUS VULGARIS EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO (2003 A 2013)

VIA DE ADMINISTRAÇÃO TÓPICA OCULAR USO ADULTO

TRANSPLANTE DE CÓRNEA NO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNICAMP 1

Tabela 1 - Manifestações clínicas da DC em pacientes pediátricos (adaptada de

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

LOTEPROL. BL Indústria Ótica Ltda Suspensão estéril 5,0 mg/ml

No mundo, a enxaqueca crônica acomete entre 8 e 18% da população.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

CETROLAC. União Química Farmacêutica Nacional S/A Solução oftálmica 5 mg/ml

Universidade Federal do Paraná. Treinamento em Serviço em Medicina Veterinária. Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

ANTISSEPSIA CIRÚRGICA OFTÁLMICA: POLIVINILPIRROLIDONA- IODO versus CLOREXIDINA

02/06/2010. Derrame Pleural. Sarcoidose

Tratamento da. o á e

PULPOPATIAS 30/08/2011

ACULAR SOLUÇÃO OFTÁLMICA CETOROLACO TROMETAMOL 0.5%

Estudo caso-controle dos fatores de risco associados à mastite clínica em novilhas leiteiras no pós-parto

Milton Ruiz Alves. Medida da Acuidade Visual em Ambulatório de Saúde Ocupacional

Ciloxan pomada. Cloridrato de Ciprofloxacino (3,5 mg/g)

Transcrição:

NAGAISSA DANIELE REINHARDT 1, ROGÉRIO RIBAS LANGE 2 1,2 - Universidade Federal do Paraná 1 REVISÃO DE LITERATURA EM CERATITE PROGRESSIVA DOS OTARIÍDEOS E DOENÇAS OFTÁLMICAS RELACIONADAS Resumo: A ceratite dos Otariídeos é uma doença de descrição recente, de grande ocorrência em cativeiro e que necessita de estudos. Palavras-chave: Otariídae / Pinípedes / Ceratite / Doenças Oculares LITERATURE REVIEW ON PROGRESSIVE OTARIID KERATITIS AND RELATED OPHTHALMIC DISEASES Abstract: Otariid Keratitis is a recently described disease, but of great spread on captivity and that needs more studies. Key-words: Otariidae / Pinnipeds / Keratitis / Eye Diseases Introdução: Ao cursar a disciplina de oftalmologia veterinária houve interesse pela temática, surgindo assim, a motivação para buscar na literatura assuntos relacionados. Percebeu-se que há escassez de estudos nacionais sobre o tema, mostrando que esse é um campo de estudos que pode ser melhor trabalhado e desenvolvido. O objetivo desse trabalho é procurar na literatura sobre a ceratite progressiva e as doenças relacionadas que ocorrem nos olhos de Pinípedes. Materiais e Métodos: Pesquisa na base de dados PubMed com os termos Pinnipeds or Otariídae and Keratitis. Dos nove artigos encontrados, apenas seis mostraram ter relação com o tema da pesquisa. Resultados: A ceratite dos Otariídeos foi caracterizada e nomeada por Colitz et al (2010) que descreveram três estágios da doença de acordo com a severidade dos sinais clínicos e das lesões. Foram estudados 113 animais, sendo que 64,6% eram afetados pela doença. No estágio 1 0533

e inicial da doença há opacidade corneal superficial, pode ou não haver úlcera superificial, há edema perilimbal, epífora e blefaroespasmo, além de debris perioculares. No estágio 2 há presença de úlcera indolente, infecções secundárias, pode haver edema difuso e pigmentação cruzando o limbo, e além dos sinais de dor presentes no estágio 1, há também hiperemia conjuntival. Já no estágio 3, o mais severo da doença, as úlceras e infecções secundárias são recorrentes, o epitélio da córnea se solta facilmente pode haver pigmentação difusa e os sinais de dor são severos. Casos de estágio 1 foram encontrados em animais mais jovens. Pinípedes com menos acesso a luz do Sol desenvolveram a doença mais tarde e apresentaram menos recorrências. Siebert et al (2007) analisaram 355 carcaças de foca-comum (Phoca vitulina), mortas naturalmente ou eutanasiadas devido à gravidade de suas doenças, e desses animais, apenas sete (2%) com idade entre zero e 18 meses apresentaram ceratite ulcerativa e/ou ruptura de córnea. Miller et al (2013) em um estudo histológico em olhos de Pinípedes encontraram um grau muito maior de doenças oculares, especialmente de córnea em animais mantidos em cativeiro em relação aos animais de vida livre. Wright et al (2015) analisaram a presença de Herpesvírus, Poxvírus, Calicivírus e Adenovírus e encontraram alto grau de positividade nos olhos dos Pinípedes mas não necessariamente a presença de lesões oculares. Freeman et al (2011) mostraram que a Doxiciclina pode ser usada por via oral no tratamento de doenças bacterianas ulcerativas de córnea e em inflamação da superfície corneal em elefantes-marinhosdo-norte (Mirounga angustirostris) e possivelmente outros pinípedes. Borkowski et al (2007) relataram o caso de sucesso no tratamento de ceratite ulcerativa severa em foca-comum (Phoca vitulina) usando um sistema de lavagem subpalpebral adaptado quando não houve eficácia 2 0534

com outros métodos de aplicação de medicamentos. Discussão: O estudo de Colitz et al (2010) apontou que a ceratite pode estar diretamente relacionada ao desenvolvimento de catarata e é uma doença dolorosa que deve ser tratada agressivamente. Um fator determinante no agravamento dos sinais da doença é a exposição à luz ultravioleta. Períodos de maior luminosidade apresentam maior número de casos. O estudo cita o grau de salinidade da água, sugerindo que há maior número de casos em animais mantidos em água doce. Mas segundo Gage (2011) há evidências de que poluentes, excesso de cloro ou ozônio na água, além da exposição à radiação ultravioleta são fatores mais importantes, e que a salinidade na água pode não ser relevante. Hanson et al (2009) descreveram observações clínicas em 12 fêmeas de focas-monge-do-havaí (Monachus schauinslandi) em um programa de reabilitação, mostraram que a 9 delas (75%) apresentaram sinais de conjuntivite, olhos vermelhos, blefaroespasmos e fotossensibilidade que evoluiu para opacidade corneal que progrediu ao limbo. Todas as 9 fêmeas desenvolveram catarata e ficaram cegas após 10 a 15 meses depois dos primeiros sinais de doença de córnea. Dos 12 filhotes apenas 1 permaneceu assintomático. Isso mostra que pode sim, haver relação direta entre a doença de córnea e o desenvolvimento de catarata e consequências graves se a doença não for tratada corretamente. Conclusão: A ceratite dos Otariídeos é uma doença recente e deve ser estudada para que se conheçam melhor suas causas, prevenção e tratamento. Os fatores relacionados ao desenvolvimento da doença então intimamente ligados ao cativeiro, à qualidade da água e à exposição desses animais à luz. É importante que o veterinário que trabalha com pinípedes conheça a etiologia da doença e os conceitos de oftalmologia para que possa preveni-la ou tratá-la ainda nos estágios 3 0535

iniciais, trazendo conforto e qualidade de vida a esses animais. Agradecimentos A Marcia Helena M. Albuquerque e a Juliane D. Aldrighi. Referências BORKOWSKI, R.; MOORE, P.A.; MUMFORD, S. et al. Adaptations of subpalpebral lavage systems used for Llamas (Lama glama) and Harbor Seal (Phoca vitulina). J Zoo Wildl Med v. 38, n. 3, p. 453 459, 2007. COLITZ, C. M. H.; RENNER, M. S.; MANIRE, C. A. et al. Characterization of progressive keratitis in Otariids. Vet Ophthalmol v.13, i.s.1, p.47 53, 2010. FREEMAN, K.S.; THOMASY, S.M.; STANLEY, S.D. et al. Population pharmacokinetics of doxycycline in the tears and plasma of northern elephant seals (Mirounga angustirostris) following oral drug administration. J Am Vet Med Assoc v. 243, n. 8, p. 1170-1178, 2013. GAGE, L.J. Ocular Disease and Suspected Causes in Captive Pinnipeds. In: MILLER, E.R.; FOWLER, M. Fowler's Zoo and Wild Animal Medicine Current Therapy, volume 7: Elsevier Saunders, 2011,c. 64, p.490-494. HANSON, M.T.; AGUIRRE, A. A.; BRAUN, C.R. Clinical Observations of Ocular Disease in Hawaiian Monk Seals (Monachus schauinslandi). U.S. Dep. Commer., NOAA Tech. Memo., NOAA-TM-NMFS-PIFSC-18, p. 9, 2009. MILLER, S.; COLITZ, C. M. H.; LEGER, J. S. et al. A retrospective survey of the ocular histopathology of the pinniped eye with emphasis on corneal disease. Vet Ophthalmol v.16, n.2, p.119 129, 2013. SIEBERT, U.; WOHLSEINY, P.; LEHNERT, K. et al. Pathological Findings in Harbour Seals (Phoca vitulina): 1996-2005. J Comp Path v.137, n. 1 p.47-58, 2007. WRIGHT, E.P.; WAUGH, L.F.; GOLDSTEIN, T. et al. Evaluation of 4 0536

viruses and their association with ocular lesions in pinnipeds in rehabilitation. Vet Ophthalmol v.18, i.s.1, p.148 159, 2015.. 5 0537