O RIO GRANDE QUE QUEREMOS uma análise sobre as finanças do estado Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados Estamos muito próximos de mais uma eleição. Ao longo dos próximos meses estaremos debatendo com maior profundidade a situação do nosso estado, os caminhos para engrenar um crescimento econômico e social que não dependa exclusivamente da nossa agricultura, da chuva ou dos períodos de estiagem. Estaremos debatendo propostas para o futuro dos gaúchos, de como responder aos anseios da população por mais segurança pública; por uma educação de qualidade e com professores estimulados por estarem, finalmente, recebendo o Piso Nacional do Magistério; todos os municípios com ligação asfáltica, investimentos em energia no campo e na cidade, os grandes gargalos do nosso desenvolvimento finalmente sendo enfrentados, enfim, o Rio Grande que queremos!. Para o gaúcho, mais do que ninguém, a verdade tem um valor insubstituível. O valor da palavra empenhada significa muito, mais ainda para quem se dispõe ao honroso cargo de governador do Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, diante da situação crítica das finanças públicas do nosso estado, o gaúcho quer um futuro governante que fale a verdade e que assuma compromissos que efetivamente serão respeitados. Em hipótese alguma, valerá falsear a verdade para ganhar as eleições, assim esperamos. Faço estas considerações iniciais, senhores deputados, senhoras deputadas, para estabelecer uma análise do que vem ocorrendo no Rio Grande do Sul nos últimos três anos. Observem com atenção o que o governador Tarso Genro declarou há dois anos, mais precisamente no dia 8 de fevereiro de 2012, sobre a situação das finanças do estado. Foi durante uma solenidade no Centro Experimental do IRGA, em Cachoeirinha. Tarso disse em alto e bom som:
Vocês sempre viram os governadores encontrar vocês e dizer: o Estado tá quebrado, o estado tá triste, eu estou deprimido, não tenho dinheiro pra nada. Eu venho dizer pra vocês aqui exatamente ao contrário... O secretário tem dinheiro pra cumprir seus projetos. Tem dinheiro pra fazer seus investimentos, tem dinheiro pra tocar adiante suas secretarias... Eu vi uns murmúrios na imprensa como se eu tivesse fazendo marketing. Eu não estou fazendo marketing. Estou dizendo pra vocês me cobrarem nós próximos três anos de governo aquilo que a maioria dos governadores prometem no último ano e depois deixam pro outro governo: obras que não são pagas, investimentos sem rubrica e compromissos que não foram resolvidos. Nós temos recurso pra pagar salário, nós temos recurso pra investir, nós temos recurso pra pagar as nossas contas, Então eu não tô aqui fazendo marketing. Eu estou aqui dando informações pra vocês que o Estado está viabilizado e não estou aqui chorando pitangas. E estou dizendo pra vocês: controlem os investimentos, observe o funcionamento do Estado; se os secretários que são encarregados de investir naquilo que eles propuseram pro orçamento desse ano não fizeram o investimento, é porque não estão tendo competência pra fazer... Vocês estão lembrados dos secretários dizendo, em outras épocas: eu tenho aqui o orçamento, mas o governador não me libera o dinheiro. Não vai acontecer isso. Eu tenho dinheiro pra liberar e temos 2 bilhões e 300 milhões de reais em caixa graças a uma nova relação com o governo federal. Nós resolvemos uma pendência que se arrastava por quase 20 anos tem que ser esse dinheiro investido sim. Em quê? Em infraestrutura energética do Estado e assim será. É esse o depoimento que eu quero dar a vocês. Se algum não gostou dessas observações eu respondo da seguinte forma: eu quero que a oposição compartilhe conosco nesse momento dessa virada do Rio Grande que nós tamos construindo com vocês...
Estas são palavras do governador em 8 de fevereiro de 2012. Todos devem estar lembrados, mas o vídeo completo está disponível nas redes sociais. Dois anos se passam e o mesmo governador, agora apenas sem o bigode usual, desenha um quadro completamente diferente. Ao manifestar seu inconformismo com a resistência e o veto do governo federal ao acordo que levaria o Senado da República a aprovar a restruturação das dívidas de estados e municípios com a União, Tarso muda o discurso: Disse ele durante a assembleia de verão da FAMURS, em Tramandaí, no dia 6 de fevereiro de 2014: Se o projeto não for aprovado neste ano, a partir do ano que vem, seja o governador que for, não terá um centavo para realizar qualquer política social ou investimento. Além de listar programas sociais que estariam ameaçados de extinção a partir de 2015, seja quem for o governador - palavras de Tarso, não haverá condições para viabilizar projetos importantes, como por exemplo o metrô de Porto Alegre. O que mudou neste período? Qual o fato a determinar uma leitura completamente oposta sobre as condições das nossas finanças e sobre o futuro do Rio Grande? Nós não somos contra a repactuação da dívida, muito pelo contrário. A dura realidade que agora assusta o governador já vinha sendo apontada pelo PMDB desde 2011. Uma realidade que estava coberta aos olhos palacianos pela reconhecida arrogância intelectualizada de Tarso. Porém, era perfeitamente previsível por quem tivesse a mínima responsabilidade com a história do nosso estado. Tenho repetido nesta Tribuna que o Governo Tarso Genro consegue ser pior do que foi o Governo Olívio Dutra. E quem acaba reconhecendo isso é o próprio. Por sinal, nunca se sabe se o governador está falando a verdade ou faltando com ela. Neste episódio, por sinal, chegou a dizer que somente seria candidato à reeleição se houvesse a aprovação do projeto que substitui os indexadores no contrato que federalizou as dívidas em 1998.
Seria o segundo caso de um veto interno a uma candidatura do PT aqui no Rio Grande do Sul: Olívio foi impedido de concorrer à reeleição pelos próprios filiados nas prévias de 2002 e Tarso agora está sendo vetado pela postura inclemente do ministro Guido Mantega. Tenho dito que Tarso tem sido pior que Olívio e os fatos se encarregam de comprovar o que digo. Germano Rigotto assumiu o estado em 2003 numa situação delicadíssima. Para fechar suas contas, Olívio sacou R$ 3,6 bilhões do Caixa-Único, incluindo os depósitos judiciais. Já para assegurar o 13º salário do funcionalismo, trocou mais de R$ 1 bilhão em créditos pelas obras de manutenção em estradas federais por uma parcela de R$ 250 milhões. Este foi o passivo do primeiro governo petista. Rigotto enfrentou esta situação, além de duas agudas secas e já na época apontava para a necessidade de rever o contrato da dívida com a União. Diga-se de passagem, à época o comprometimento com os serviços da dívida chegaram a 19% da Receita Corrente Líquida Real, uma vez que era considerada o pagamento do chamado extra-limite e que assegurou o Banrisul como o único banco estadual público em todo o país. Este mesmo Banrisul que, neste mesmo Governo Rigotto criou o Banricompras, e que no final do ano passado o PT queria privatizar! Pois bem, este foi o legado de Olívio. Mas qual será o legado para quem assumir o governo em 2015? Tarso entregará um governo muito pior daquele que recebeu em 2011 e infinitamente pior daquele entregue quando Olívio deixou o Palácio Piratini. Tarso agravou como nunca a situação das finanças e agora tenta jogar a culpa para os outros. Ensaia um discurso do antigo viés ideológico contra o mercado financeiro, contra as agências de risco e contra a equipe econômica do governo. Seria mais honesto se reconhecesse que o tal alinhamento das estrelas não funcionou nesta e tantas outras situações do interesse do Rio Grande. Na verdade, o Governo Tarso encerrou na prática em abril de 2012 quando, diferente do discurso ufanista de que não faltaria dinheiro para
qualquer obra, sacou de uma só vez R$ 4,2 bilhões dos depósitos judiciais para amainar o rombo nas contas. Vejam: Olívio sacou R$ 3,6 bilhões em valores atualizados. Mas a necessidade de suprir a chamada República dos CC s e aumentos generosos para aqueles setores do funcionalismo que já têm os maiores salários, quase todos muito perto do teto salarial, Tarso pegou pesado mesmo. Sacou outros R$ 800 milhões dos fundos de investimentos. Conseguiu com que esta Casa aprovasse R$ 6 bilhões em empréstimos, elevando a dívida consolidada do estado para um patamar nunca visto, acima dos R$ 50 bilhões, com a promessa de fazer as ligações asfálticas nos 104 municípios ainda isolados da chance de cresceram. Concluiu tão somente 12 acessos. Lembram daquele discurso em fevereiro de 2012 quando se referiu a uma pendência que se arrastava por quase 20 anos em relação à CEEE e que este dinheiro seria investido na infraestrutura energética do Estado? O montante de R$ 1,3 bilhão foi sacado da CEEE para o Caixa-Único, para pagar salários e outras despesas. Nenhum centavo para investimento. Enquanto isso, a população de Porto Alegre e demais cidades atendidas pela companhia, sofrem com apagões programados e muitos pequenos agricultores enfrentam enormes dificuldades por falta de energia elétrica e em quantidade inferior às suas necessidades. Em 2012, igualmente denunciamos o absurdo que representaria o aumento das taxas e serviços do Detran, um órgão que vinha de um histórico de superávit. Algumas taxas tiveram reajustes em até 140%. Pois o Detran bateu a barreira de UM BILHÃO E 100 MILHÕES DE REAIS em receita no ano passado, com superávit crescendo 91,33% e chegando aos R$ 673 milhões. Deste total, R$ 450 milhões também foram para o Caixa-Único. E o governo ainda se vangloria de não ter aumentado impostos. De fato, não há vantagem em aumentar impostos, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista financeiro. Pois de tudo que o Tarso fez (saque nos depósitos judiciais, saque na CEEE e no superávit do Detran, empréstimos ao nível máximo de endividamento), ele não precisou repartir um único centavo com os municípios, a quem cada vez mais recaem as responsabilidades de atender o cidadão!
Este é o Governo Tarso, responsável pelo legado que entrará para a história, tamanho os malefícios que está provocando ao futuro do nosso estado. Um governo que registra crescimento da violência, e que figura nas páginas policiais por conta de desvios nas poucas obras que realizou nas escolas da rede pública. Neste particular da educação, temos mais um capítulo sobre um governante que ora fala uma coisa, depois faz bem o oposto. O passivo que está gerado pelo descumprimento da Lei do Piso do Magistério - aquela mesma lei que leva a assinatura do Tarso - será no mínimo de R$ 10 bilhões em futuros precatórios. Foi uma promessa central e decisiva nas eleições de 2010. Pois este desrespeito à Lei do Piso representará três vezes os precatórios da chamada Lei Britto! Quando analisamos as finanças, quando analisamos a realidade do nosso orçamento, não há meia verdade. Além de falsas promessas e discursos ufanistas, Tarso igualmente está sendo desonesto com o cidadão quando agora condiciona a permanência de algumas políticas públicas à repactuação da dívida. Se aproxima de chantagem dizer que o metrô de Porto Alegre não sairá sem a aprovação do Senado da mudança no indexador da dívida. Quando houve a tal da engenharia financeira do metrô incluindo um compromisso público de todos as bancadas deste parlamento ainda em 2011, Tarso não fez esta referência. Quando buscou R$ 6 bilhões de empréstimos em bancos internacionais e no BNDES, não colocou a contrapartida do estado para a obra do metrô entre as prioridades. Fez empréstimo de toda ordem, menos para o metrô. Quando lançou determinados programas, como o Mais Água, Mais Renda, fez propaganda de TV, falou das maravilhas da ação, mas jamais disse que seriam inviabilizados se não houvesse a repactuação da dívida. Esta é a desculpa oportunista para um tema para o qual o governador não teve o menor protagonismo nos últimos três anos. Agora se mexeu, sempre próximo de um desfecho, dando a ideia de que consegue mobilizar todos os governadores do Brasil para este tema. Na semana passada,
quando esteve no Senado, Tarso tinha a companhia de apenas outros dois governadores, mas nenhum do seu mesmo partido. Nem o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que de fato foi o primeiro a pressionar o governo, esteve ao lado de Tarso. Aliás, este suposto protagonismo quando o tema está perto do desfecho ocorreu também na questão do rateio dos royalties do petróleo. O estado vive uma situação delicadíssima. O relatório da Lei de Responsabilidade Fiscal do 2º Quadrimestre de 2013 coloca o Rio Grande do Sul no topo dos estados com maior comprometimento da sua Receita Corrente Líquida com a dívida consolidada. Este comprometimento é de 208%, enquanto que no Paraná este comprometimento é de 58% e Santa Catarina, de 46%, apenas citar estados vizinhos. Para agravar ainda mais a situação se ainda isso fosse possível, importante observar que estas ferramentas que Tarso dispôs para tentar tapar furos das suas contas, se esgotaram. Terminou o pote de mágicas: não tem mais limite para novos empréstimos, não tem dinheiro da CEEE e saldos nos depósitos judiciais. Porém, vários reajustes para aquelas camadas mais privilegiadas do funcionalismo já estão assegurados até 2018. Portanto, diante do descalabro no trato das finanças públicas, não basta ao governador mudar a estética sacando o seu bigode ou usando uma sunga da moda à beira-mar! Faltou-lhe nestes três anos calçar as sandálias da humildade e estabelecer um diálogo verdadeiro com a Assembleia Legislativa, ter ouvido mais os partidos de oposição. Por certo, haveria uma outra postura em relação aos grandes desafios do nosso estado. Não haveria aumento das taxas do Detran, mas haveria melhor critério nos gastos em publicidade! Não haveria um simples aumento das alíquotas do IPE para fazer caixa, mas sim enfrentaríamos o déficit previdenciário de maneira mais objetiva, por exemplo com a previdência complementar para novos servidores. Este é o tamanho do desafio que se apresenta a partir de 2015. Espero tão somente que o próximo governador fale a verdade para ganhar a eleição e, mais importante, fale a verdade quando estiver no poder!