1. Introdução CONTABILIDADE INTERNACIONAL BREVÍSSIMA HISTÓRIA DA CONTABILIDADE INTERNACIONAL Até recentemente (cerca de 50 anos atrás, o que é relativamente diminuto em termos da história econômica mundial), a maior parte das empresas resumia suas operações aos mercados locais. Nyiama (2008) diz que na literatura mundial, não há uma data exata que defina o início dos estudos sobre Contabilidade Internacional, mas pode-se traçar uma linha divisória por volta de 1950-1960, após o término da Segunda Guerra Mundial e o restabelecimento do comércio internacional mundial. O aumento do intercâmbio mundial de produtos e serviços e a consolidação de diversos acordos de comércio entre as nações, e a formação de blocos econômicos (OMC, MCE, BENELUX, ALADI, NAFTA, MERCOSUL, entre outros) vêm tornando as empresas cada vez mais transnacionais, e a economia crescentemente globalizada. A constituição de filiais em outros países, de tal sorte a melhor enfrentar a concorrência nos diversos mercados, introduz complicadores sociais, políticos e econômicos, dentre estes, nos sistemas de informações contábeis. Encontramos que os procedimentos contábeis variam de país para país e, o que é mais preocupante, pois está sujeito a alterações freqüentes e inesperadas. A uniformização ou convergência dos princípios e procedimentos contábeis e a padronização dos demonstrativos financeiros são uma necessidade de resposta à globalização dos mercados financeiros dos dias atuais. A economia mundial olha para um futuro (não tão distante) em que os fluxos de caixa, através de diferentes fronteiras (países), crescerão significativamente. A Contabilidade e seus relatórios financeiros são um importante elemento deste mercado abrangente e podem garantir ou indeterminar a eficiência de mercados. Relatórios financeiros através da Internet são comuns, dando a investidores de qualquer país um rápido acesso as informações financeiras de uma empresa, independentemente de onde esteja localizada esta empresa. Essa globalização dos mercados de capitais, desenvolvimento das telecomunicações e da Internet, trazem como novas necessidades a comparação e verificação da transparência dos relatórios financeiros, e requerem uma nova forma de pensar das empresas, investidores e auditores acerca de quais informações devem ser publicadas pelas empresas e quais as melhores formas de suas comunicações. A falta de uma contabilidade comum, com princípios e procedimentos contábeis uniformes em todos os países, é um impedimento significativo da globalização dos mercados financeiros, restringindo a capacidade dos investidores em tomar decisões alternativas de investimentos. Investidores ou outros usuários que necessitem comparar oportunidades de investimento, inclusive a própria empresa necessitando avaliar-se me relação a uma concorrente, precisam de uma contabilidade uniforme e uma estrutura de relatórios financeiros comuns e padronizados, sem os quais é impossível uma comparação objetiva. 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 1 de 7
2. Nos Estados Unidos da América - EUA O Boletim de Pesquisa Contábil (Accounting Research Bulletin) - ARB n. 4, de Dezembro de 1939, foi o primeiro documento que, nos Estados Unidos, cuidou dos problemas referentes aos procedimentos contábeis para as transações e operações relacionadas com o exterior. A partir desta época, vários outros pareceres e normas sobre o assunto foram criadas e discutidas até a emissão, em 1975, da Norma de Contabilidade Financeira (Statement of Financial Accounting Standards) - FAS nº 8, Contabilização da conversão de transações em moeda estrangeira e demonstrações financeiras em moeda estrangeira (Accounting for the translation of foreign currency transactions and foreign currency financial statements) que, em 1982, foi substituído pelo FAS nº 52, Conversão de moeda estrangeira (Foreign currency translation), em vigor até hoje. O FAS n. 52 estabelece, pelo menos até o momento, as regras básicas e gerais aplicáveis à conversão de demonstrativos financeiros das empresas americanas com investimentos no exterior. Veja mais detalhes, sobre o FASB e a evolução da Contabilidade nos EUA, nas apostilas seguintes 3. No Âmbito Internacional Geral Desde sua criação em 1973, o trabalho do Comitê de Normas Contábeis Internacionais (International Accounting Standards Committeee) IASC, substituído a partir de abril de 2001 pelo International Accounting Standards Board - IASB, tem tido um impacto significante no desenvolvimento da padronização de normas de contabilidade através do mundo. Em 1995, o IASC/IASB emitiu a IAS 21 - Os Efeitos de Alterações nas Taxas de Câmbio (The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates) tratando sobre conversão de transações em moeda estrangeira e os efeitos das mudanças nas taxas de câmbio. Na ausência de soluções domésticas, os países têm recorrido crescentemente as Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standards) - IAS, que, a partir de abril de 2001, passaram a ser denominadas Normas Internacionais para Demonstrações Financeiras (International Financial Reporting Standards) - IFRS. Muitos países utilizam as IAS/IFRS em relatórios externos (para fora do país), enquanto outros as utilizam internamente. Veja mais detalhes, sobre o IASB e as normas internacionais de contabilidade, nas apostilas seguintes 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 2 de 7
4. No Brasil As sociedades em geral são reguladas pelo novo Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. As sociedades anônimas possuem uma norma específica denominada Lei das Sociedades por Ações, Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, modificada parcialmente pelas seguintes outras leis: Lei nº 8.021, de 1990, que eliminou os títulos ao portador; Lei nº 9.249, de 1995, que eliminou a correção monetária das demonstrações contábeis; Lei 9.457, de 1997, que alterou as operações de combinações de negócios e direito de recesso; e Lei 10.303, de 10 de dezembro de 2001, que alterou a sistemática dos dividendos, das reservas de lucros e das combinações de negócios. Lei 11638, de 28 de dezembro de 2007, que alterou profundamente as normas contábeis brasileiras para adequá-las as normas internacionais de contabilidade do IASB e ampliou sua aplicação a todas as empresas de grande porte. MP 449/08, de 03 dezembro de 2008, alterou e eliminou algumas determinações da Lei 11638/07, e estabeleceu a distinção entre contabilidade societária e contabilidade para fins fiscais (tributária). Lei 11941/09, de 25 de maio de 2009, converteu em Lei a MP 449/08, com pequenas alterações. Instrução Normativa (IN) 949/09, de 16 de junho de 2009, da Receita Federal, cria o Controle Contábil de Transição (FCONT). A Comissão de Valores Mobiliários CVM, criada pela Lei nº 6.385/76, é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, que, entre suas atribuições previstas na referida lei, tem competência para regulamentar, com observância da política definida pelo Conselho Monetário Nacional, as matérias previstas nessa norma e na Lei das Sociedades por Ações, incluindo-se nesse caso, as normas quanto à apresentação e conversão de demonstrativos financeiros de outras moedas (países) para o Real. Até 11 de junho de 2010, as Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade - CFC (normalmente, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Contadores IBRACON), não tinham força legal e, portanto, embora os profissionais da área contábil pudessem ser punidos pelo CFC pela não-observância aos princípios fundamentais de contabilidade e às Normas Brasileiras de Contabilidade, o mesmo não acontecia com as empresas/entidades, já que elas obrigadas a seguir as normas do CFC. O Decreto-Lei 9.295 de 27 de maio de 1946 criou o CFC, e seus representantes estaduais - os Conselhos Regionais de Contabilidade- CRC s, regulamentou o profissão contábil e definiu as atribuições desses órgãos e dos profissionais a eles vinculados. A Lei 12.249 de 11 de junho de 2010, modificou, parcialmente, o Decreto-Lei 9295 (acima), estabelecendo algumas novas e importantes atribuições aos representantes da classe contábil CFC e CRC s destacando-se a seguir: 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 3 de 7
Art. 2 o A fiscalização do exercício da profissão contábil, assim entendendo-se os profissionais habilitados como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de Contabilidade e pelos Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1 o. (NR) Art. 6 o...... f) regular acerca dos princípios contábeis, do Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada; e editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional. (NR) Art. 12. Os profissionais a que se refere este Decreto-Lei somente poderão exercer a profissão após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos. 1 o... MUITO IMPORTANTE 2 o Os técnicos em contabilidade já registrados em Conselho Regional de Contabilidade e os que venham a fazê-lo até 1 o de junho de 2015 têm assegurado o seu direito ao exercício da profissão. (NR) Em 2005, foi criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC com objetivo "do estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais". Veja mais detalhes, sobre o CPC, sua criação, composição, objetivos e normas emitidas, nas apostilas seguintes Até 11 de junho de 2010, os pronunciamentos contábeis do CPC, para serem aplicáveis as empresas brasileiras e aos profissionais de contabilidade, precisavam ser aprovados pelas entidades reguladoras correspondentes (CFC, CVM, BACEN, SUSEP, Agências Reguladoras. tipo Anatel, Aneel etc). Com a Lei 12.249/10, em princípio, o CFC passa a ser único responsável pela edição de normas de contabilidade brasileiras, independentemente de aprovação de qualquer outro órgão e/ou entidade. Esta nova responsabilidade (muito recente) ainda não está bem definida, esclarecida e entendida pelos órgãos, empresas, entidades e profissionais envolvidos em Contabilidade no Brasil. 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 4 de 7
5. Conclusão Padrões de contabilidade globais de alta qualidade são necessários para aprimorar a habilidade na tomada de decisões de investidores, contribuindo para a redução do risco de investimento e, em linhas gerais, para a redução do custo de capital. Igualmente importante, padrões globais podem aumentar o acesso a mercados de capitais e reduzir custos e complexidades, para empresas internacionais, pela eliminação de algumas das múltiplas obrigações de preparação de relatórios financeiros. 6. Bibliografia sobre Contabilidade Internacional no Brasil No Brasil, até recentemente, a bibliografia sobre Contabilidade Internacional era bastante limitada. No 1º semestre de 2010, foi lançado o livro Manual de Contabilidade Societária Aplicável a todas as sociedades de acordo com as Normas Internacionais e do CPC FIPECAFI, Sérgio Iudícibus, Eliseu Martins, Ernesto Rubens Gelbcke e Ariovaldo dos Santos Editora Atlas. A edição do livro acima substitui o, até então, considerado como a bíblia da contabilidade brasileira, Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações (aplicável às demais sociedades) FIPECAFI, Sérgio Iudícibus, Eliseu Martins, Ernesto Gelbcke também da Editora Atlas que estava na 6ª edição. A partir de 2005 vários livros foram lançados sobre esse assunto, conforme a seguir: Manual de Contabilidade e Tributaçào de Instrumentos Financeiros e Derivativos (IAS 39, IAS 32, IFRS 7, CPC 14, Minutas do CPC 38,39 e 40, Normas da CVM, do BACEN, e da Receita Federal do Brasil) Alexsandro Broedel Lopes, Fernando Caio Galdi e Iran Siqueira Lima Editora Atlas 2010. IFRS Introdução às Normas Internacionais de Contabilidade Nabil Ahamad Mourad e Alexandre Paraskevopoulos Editora Atlas 2010. Contabilidade Internacional para Graduação Sirlei Lemes e L. Nelson Carvalho Editora Atlas 2010. Manual de Normas Internacionais de Contabilidade IFRS versus Normas Brasileiras Ernst & Young e FIPECAFI Editora Atlas 2009. Contabilidade Avançada e Internacional Aderbal Nicolas Muller e Luciano Márcio Scherer - Editora Saraiva 2009. Contabilidade Internacional Alexandre Martins Silva de Oliveira, Anderson de Oliveira Faria, Luis Martins de Oliveira e Paulo Sávio Lopes da Gama Alves Editora Atlas 2008. Mudanças Contábeis na Lei Societária Lei nº 11638, de 28-12/2007 Hugo Rocha Braga e Marcelo Cavalcanti Almeida Editora Atlas 2008. Contabilidade Internacional Jorge Katsumi Niyama Editora Atlas 2008. Normas Internacionais de Contabilidade : IFRS Marcelo Cavalcanti Almeida Editora Atlas 2006. 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 5 de 7
Introdução à Contabilidade Internacional José Luiz dos Santos, Paulo Schmidt e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2006. Fundamentos de Conversão das Demonstrações Contábeis Paulo Schmidt, José Luiz dos Santos e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2006. (14 - Coleção Resumos de Contabilidade). Fundamentos de Contabilidade Internacional Paulo Schmidt, José Luiz dos Santos e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2006. (12 - Coleção Resumos de Contabilidade) Contabilidade Internacional: Consolidação e Combinação de Negócios Paulo Schmidt, José Luiz dos Santos e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2006. (11 - Coleção Resumos de Contabilidade) Contabilidade Internacional: Equivalência Patrimonial José Luiz dos Santos, Paulo Schmidt e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2006 (10 - Coleção Resumos de Contabilidade) Conversão de Demonstrações Contábeis José Hernandez Perez Junior Editora Atlas 6ª Edição - 2005. O Brasil e a Harmonização Contábil Internacional Elionor Farah Jreige Weffort Editora Atlas 2005. Contabilidade Internacional Aplicação das IFRS 2005 L. Nelson Carvalho, Sirlei Lemes e Fábio Moraes da Costa Editora Atlas 2005. Contabilidade Internacional Avançada Paulo Schmidt, José Luiz dos Santos e Luciane Alves Fernandes Editora Atlas 2004. Vários trabalhos acadêmicos (dissertações de mestrado e teses de doutorado) foram também publicados sobre esse assunto nos últimos 5 anos, confirmando a crescente importância do tema Contabilidade Internacional. 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 6 de 7
QUESTIONÁRIO 01 1. Por que as práticas e procedimentos contábeis podem variar de país para país? Quais as conseqüências disto? 2. Quais seriam os principais benefícios da convergência ou harmonização dos princípios contábeis em termos mundiais? 3. Em nível mundial, qual o primeiro país que se preocupou com a padronização de normas contábeis de relatórios financeiros? Quando? 4. Que órgão internacional procura a convergência e/ou harmonização de normas contábeis em termos mundiais? Quando foi criado e qual seu nome original? 5. Em termos legais societários, quais as normas que regulam os procedimentos contábeis das empresas no Brasil? 6. A CVM, o CFC e o IBRACON podem fixar normas contábeis para empresas brasileiras, tornando-as de uso obrigatório? Elas são obrigatórias para os profissionais de contabilidade? 7. Por que o livro Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações (aplicável às demais sociedades) foi substituído pelo Manual de Contabilidade Societária editado em 2010? 15/08/10 Conceitos 01 - Contabilidade Internacional.doc Página 7 de 7