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Transcrição:

RESOLUÇÃO DO SECRETARIADO NACIONAL Portugal enfrenta hoje desafios e grandes dificuldades financeiras, económicas e sociais. O apoio externo financeiro solicitado à União Europeia e ao FMI e o consequente Memorando de Entendimento da Troika impõem medidas que se traduzirão em mais e grandes sacrifícios para os cidadãos em geral, e para os trabalhadores e pensionistas em particular. A UGT sempre entendeu que face à situação do País e à pressão especulativa dos mercados financeiros seria indispensável a redução do défice e a diminuição dos desequilíbrios das contas externas, mas também sempre defendemos que o deveríamos fazer sem recorrer ao pedido de ajuda externa. Infelizmente, erros políticos e erros na condução das políticas conduziram a uma situação distinta. Muitas das medidas agora negociadas estavam já contempladas no chamado PEC 4 anunciado pelo Governo, que mereceu profundas críticas e reservas da UGT, mas outras são novas. Muitas medidas assumem um carácter bastante genérico, devendo, por conseguinte, a sua definição e implementação ser feita em diálogo e concertação social. A UGT não pode deixar de salientar que o Memorando da Troika teve em consideração o Acordo Tripartido sobre Competitividade e Emprego de 22 de Março de 2011, funcionando este como baliza no processo de negociação. O Acordo celebrado revestiu-se e reverte-se de interesse fundamental para os trabalhadores. Esperamos que haja por parte do futuro Governo, saído das eleições de 5 de Junho, um compromisso claro no seu cumprimento. Das eleições deverá sair um Governo com apoio parlamentar maioritário que implemente, com justiça e equidade sociais, as necessárias medidas para o País. O MEMORANDO DE ENTENDIMENTO COM A TROIKA A elaboração do Memorando de Entendimento resultou de um processo negocial entre a Troika e o Governo, com o acompanhamento de alguns Partidos Políticos. A UGT entende que este foi um processo negocial efectivo, registando negativamente que alguns políticos se tenham colocado à margem do processo. No decurso destas negociações, a UGT foi ouvida pela Troika e deixou claras as matérias e medidas que não aceitaria no compromisso que teria de ser assumido, tendo inclusive entregue um documento (em anexo). Registamos que muitas das nossas propostas e preocupações foram tidas em consideração. 1

No entanto, a UGT deve deixar claro que as medidas impostas no Memorando se traduzirão em sacrifícios brutais para os portugueses. A UGT sempre reconheceu a importância de reduzir o défice orçamental e diminuir os desequilíbrios das nossas contas externas. Contudo, neste Memorando estamos perante medidas que não só visam aqueles objectivos, como assumem um conjunto de políticas que poderão ter um efeito profundamente negativo sobre as pessoas e que não podem deixar de suscitar forte preocupação. 1. É esperado um aumento muito grande da carga fiscal, resultante não só do agravamento do IRS e do IRC mas também do IVA. Ao estimar-se uma receita adicional do IVA na ordem dos 410 M para um ano - ou seja, um aumento em média superior a mais de 2% das receitas totais tal significará um aumento muito intenso (de 7% ou 17%), nos bens, produtos e serviços dos dois escalões do IVA mais baixos, o que afectará sobretudo as famílias de mais baixos rendimentos. 2. São introduzidas políticas fortemente restritivas em termos de salários na função pública. De facto, prevêse um congelamento de salários em 2012 e 2013 na Administração Pública e no SEE. 3. As pensões dos trabalhadores são fortemente penalizadas: as pensões acima de 1500 sofrerão uma redução idêntica à dos salários na Administração pública e apenas as pensões mais baixas poderão vir a ser aumentadas em 2012. Simultaneamente os beneficiários das prestações poderão ser penalizados por via da introdução da tributação das prestações sociais bem como da convergência da tributação entre pensões e rendimentos do trabalho. 4. São propostas profundas alterações ao funcionamento da Administração Pública, com possíveis impactos negativos em termos de Estado Social. Prevêem-se, nomeadamente: A diminuição do número de trabalhadores: 1% na Administração Central e 2 % na Local e Regional, por ano até 2014. Cortes nas despesas de Saúde e Educação; Diminuição das despesas de funcionamento geral da Administração Pública. 5. Estão previstas medidas de contenção de despesas também na esfera das prestações sociais, que implicarão cortes avultados na despesa, prevendo-se nomeadamente uma redução de 350 M nos apoios do Estado aos mais desfavorecidos, por via da condição de recursos e da definição dos alvos de apoio. 6. Na área do subsídio de desemprego prevêem-se alterações fortemente penalizadoras, muito para além da aplicação imediata do Acordo Tripartido: redução da duração máxima de 30 para 18 meses, redução do tecto máximo de 3 para 2.5 IAS, redução progressiva do montante o que irá conduzir a uma redução de 2

150 M no custo com o subsídio, apesar do aumento de desemprego. Favoravelmente, prevê-se a redução temporária do período de garantia para acesso ao subsídio de desemprego, de 15 para 12 meses, o que vai aumentar o número de trabalhadores subsidiados. 7. O Memorando apresenta o plano de privatizações para os próximos anos, abrangendo sectores como os transportes (Aeroportos de Portugal, TAP, ramo de carga da CP), energia (GALP, EDP, REN), comunicações (CTT) e seguros (Caixa Seguros). Para além da TAP e das participações na GALP, EDP e REN, a privatizar em 2011, serão ainda identificadas mais duas grandes empresas adicionais para privatização até final de 2012, o BPN será privatizado até Julho de 2011 e será elaborado um plano para a privatização de subsidiárias da CGD. 8. As Parcerias Público-Privadas, vão ser fortemente repensadas. Será efectuada uma análise e revisão das PPP existentes antes de celebrar quaisquer novos contratos e a sua celebração futura será condicionada a uma avaliação prévia de riscos. 9. No âmbito da reforma da legislação laboral, são realizadas propostas muito concretas, nomeadamente retomando as medidas constantes do acordo tripartido de 22 de Março, nomeadamente a reforma do pagamento de compensações por despedimento para os novos contratados (sem mexer na indemnização do despedimento por justa causa), criação do Fundo de compensações, alteração ao regime do lay-off ou ainda a criação do subsídio de desemprego para trabalhadores independentes que exercem actividade para um a única entidade. 10. Mas, o memorando vai mais longe ao propor medidas tais como: a aplicação do novo regime de compensações aos actuais contratos, ainda que salvaguardando direitos já adquiridos; o futuro alinhamento das compensações por despedimento com a média da UE; alteração dos requisitos para os regimes dos despedimentos por inadaptação ou por extinção de postos de trabalho; revisão do pagamento por trabalho suplementar (máximo de 50%) e do respectivo descanso compensatório. 11. Também no regime da negociação colectiva, para além da integração das medidas do acordo tripartido (descentralização organizada da negociação colectiva, criação do Centro de Relações Laborais e da possibilidade de delegação de poderes por parte dos Sindicatos nas CT nas empresas com mais de 250 trabalhadores hoje estabelecido em 500), foram avançadas medidas que muitas dúvidas nos levantam. De salientar a realização de um plano de acção para promover a flexibilidade na organização do tempo de trabalho, a definição de critérios para a extensão das convenções colectivas com base na representatividade sindical e patronal bem como a indicação clara da desejável redução da sobrevigência dos contratos que caducaram sem nova revisão. 12. De registar que durante o período do Programa, qualquer aumento do salário mínimo terá lugar apenas se justificado, em função da evolução económica e do mercado de trabalho. 3

13. A UGT não pode deixar de salientar o compromisso de aumento do salário mínimo para 500 em 2011, que deveria ser respeitado pelo Governo e é fundamental para um mais efectivo combate às desigualdades sociais, poderá exigir que futuras actualizações atendam ao quadro de medidas que vier a ser adoptado e aos seus impactos. 14. Também as políticas activas de emprego foram objecto de apreciação, prevendo-se a realização de um relatório sobre a eficácia das actuais políticas e um plano de acção para eventuais melhorias, devendo ser dada especial atenção aos DLD, aos jovens e grupos mais desfavorecidos, promovendo um melhor ajustamento entre oferta e procura (papel dos serviços públicos de emprego). 15. O clima de recessão económica e de aumento do desemprego que enfrentaremos teriam exigido um maior aprofundamento destas matérias por parte da Troika, atendendo nomeadamente aos compromissos constantes do acordo tripartido de 22 de Março, bem mais ambicioso e cujos compromissos têm que ser respeitados pelo Governo. 16. Apesar de reconhecermos a existência de um processo negocial entre a Troika, o Governo e os partidos políticos, não podemos deixar de referir que o mesmo não foi totalmente transparente, nem quanto à sua condução, nem quanto aos seus reais efeitos. 17. Desde logo, registamos a falta de informação que tem existido nalguns pontos importantes. Refira-se, por exemplo, o documento do FMI referindo compromissos de redução da TSU que não são retomados no Memorando. São questões que importa clarificar. 18. A UGT lamenta ainda que as negociações com a Troika tenham sido conduzidas especialmente pelo Ministério das Finanças e pelo Banco de Portugal, privilegiando-se assim uma abordagem mais monetarista e economicista com reduzida sensibilidade social ou mesmo intencionalmente penalizadora de uma visão mais social. 19. O Memorando deixa bastantes graus de manobra em muitas das áreas abordadas. Tal significa que o próximo Governo poderá actuar em sentido mais ou menos positivo, optando por penalizar ou beneficiar a dimensão social na definição e execução das medidas. 20. A UGT espera assim que exista grande sensibilidade social por parte do Governo e da Assembleia da República e um pleno respeito pelo papel fundamental do diálogo, da concertação social e da negociação colectiva. 21. A UGT bater-se-á pelo combate às desigualdades sociais, pela justa repartição dos sacrifícios e pela defesa da coesão social e não recuará na luta, por todas as legítimas formas ao seu dispor, perante medidas mais gravosas que se pretendam vir a adoptar. 4

APELO AOS PARTIDOS A UGT, como Central Sindical Democrática, nada fará para condicionar os resultados eleitorais e a livre opção dos eleitores, mas apelamos aos Partidos para terem presentes, nos seus Programas Eleitorais e na sua acção política, dez linhas de política que consideramos fundamentais: 1. Promover o Crescimento e o Emprego Sabemos bem que o respeito pelos compromissos assumidos pela Troika vão ter um efeito recessivo no curto prazo. Mas o País só conseguirá resolver os seus problemas e pagar as suas dívidas se, por via do crescimento económico, aumentar as suas receitas e diminuir as suas despesas. O crescimento económico é ainda fundamental para inverter a tendência de crescimento do desemprego, que hoje já atinge níveis insustentáveis. Por isso as políticas têm que ter presente a necessidade de promover o aumento da Competitividade das Empresas, particularmente das produtoras de bens e serviços de exportação ou que promovam a diminuição das importações, tendo presente o recente Acordo Tripartido para a Competitividade e o Emprego e particularmente: - Apostar na melhoria dos níveis de educação e qualificação profissional dos jovens e dos trabalhadores no activo; - Combater a economia clandestina e a concorrência desleal; - Continuar a melhorar o funcionamento da Administração Pública, particularmente a nível do seu relacionamento com os cidadãos e as empresas; - Apostar na melhoria do funcionamento da Justiça; - Melhorar o acesso ao crédito das empresas que apresentem viabilidade, particularmente das PME s; - Reorientar o QREN favorecendo o investimento e o emprego; - Penalizar o investimento das empresas no estrangeiro, visando pura e simplesmente o aumento no curto prazo dos lucros, desligado de objectivos de aumento das exportações ou aumento de competitividade, e contribuindo para o desequilíbrio das contas externas; - Promover a regulação do sector financeiro e combater comportamentos especulativos; - Promover um modelo de desenvolvimento que valorize a inovação, as qualificações e a qualidade do emprego. 5

2. Promover políticas viradas para o combate ao Desemprego Numa difícil conjuntura como a actual, e perante um conjunto de novas medidas de austeridade a adoptar, tudo aponta para o aumento do desemprego no curto prazo. O Governo não pode porém ficar indiferente a esta realidade, como se se tratasse de uma inevitabilidade. Pelo contrário, a UGT considera que o combate ao desemprego deve andar a par com a consolidação das contas públicas, procurando alcançar-se um equilíbrio mais justo. A UGT exige o reforço, a concentração e uma melhor adequação das políticas activas de emprego, bem como a urgente implementação das medidas inscritas no acordo tripartido, em particular: - Um melhor ajustamento das qualificações obtidas nos Ensinos Secundário e Superior às necessidades da Economia e da Sociedade, favorecendo a empregabilidade; - Reorientar o sistema de formação profissional para qualificações certificadas e com procura no mercado de trabalho; - Promover a requalificação de jovens e desempregados de longa duração, visando reduzir a duração do desemprego; - Reforçar a aposta no reconhecimento dos níveis de educação e das qualificações obtidas na vida activa, complementadas com a necessária formação, com especial atenção às exigências de qualidade do sistema. 3. Combater as Desigualdades Sociais, a Pobreza e a Exclusão Para a UGT, é inaceitável que sejam adoptadas políticas cegas que não atendam ao objectivo de combate às desigualdades sociais que hoje atingem dos mais elevados níveis no contexto europeu. É imprescindível garantir um maior equilíbrio nos sacrifícios exigidos aos portugueses. As medidas deverão ser sempre avaliadas no seu impacto, imediato e a prazo, para o aumento ou diminuição das desigualdades, no curto e médio prazo. Neste quadro deve atender-se em particular: - A sustentação das políticas sociais que combatam a pobreza e a exclusão; - A melhoria dos rendimentos mínimos, quer a nível de salários, quer de pensões; - O apoio às famílias sobre-endividadas; - Uma política fiscal que penalize fortemente os altos rendimentos, promovendo um maior englobamento dos rendimentos não salariais; 6

- À necessidade dos rendimentos das actividades financeiras também contribuírem para o combate à crise, por eles desencadeada; - A penalização dos lucros não reinvestidos; - A diminuição clara dos benefícios fiscais em sede de IRC. 4. Promover uma Política de Salários e Pensões A UGT sempre defendeu que o crescimento dos salários deve ter em conta a inflação prevista, os ganhos de produtividade e a situação económico-financeira do sector ou da empresa. Consideramos que existem condições para assegurar um crescimento dos salários para os portugueses em geral, tendo nomeadamente presentes os ganhos de produtividade e competitividade induzidos por muitas das medidas e reformas que têm vindo a ser feitas nos últimos anos, bem como das que virão a ser adoptadas. O problema da competitividade da nossa economia não se centra nem se resume aos salários. Pelo contrário, estudos demonstram que outros factores como a informalidade, a burocracia ou o funcionamento da máquina administrativa são, de facto, as fortes condicionantes da nossa competitividade. Por outro lado, é totalmente inaceitável que a redução ou o congelamento dos salários que continuam a ser impostos aos trabalhadores da Administração Pública sejam argumentos para a não actualização dos salários no sector empresarial. As políticas públicas têm que promover uma justa distribuição da riqueza criada. A UGT e os seus Sindicatos sempre aceitaram discutir os salários, numa perspectiva de melhoria da competitividade e do emprego mas é totalmente inaceitável que a política salarial agrave as desigualdades sociais. A UGT defende em particular: - Iniciar a avaliação do impacto do salário mínimo, tal como previsto no respectivo acordo, de modo a promover a sua melhoria; - Promover o aumento das pensões mais baixas, fundamental no combate à pobreza; - Retomar rapidamente a actualização normal das pensões, procurando formas alternativas de financiar o défice do OE, visto que a situação financeira equilibrada do regime Contributivo da Segurança Social não justifica o seu congelamento. 7

5. Defender o Estado Social A dimensão social é um dos pilares da construção da União Europeia e dum Estado de Direito não pode ser posta em causa por medidas desregulamentadoras. Sem por em causa o bom funcionamento em domínios como a Educação ou a Saúde, a UGT sempre entendeu que seria importante a adopção de medidas de controlo de custos e de melhoria da eficiência. Estas não podem porém ser implementadas a qualquer custo e indiscriminadamente, sem atender aos potenciais impactos negativos para a qualidade dos sistemas. Para a UGT é imprescindível defender o Estado Social, em especial a Educação Pública, o Serviço Nacional de Saúde e uma Segurança Social de base pública e universal prestando serviços de qualidade e acessíveis a todos. Para a UGT não está nem nunca esteve em causa a coexistência dos sectores público e privado nestas áreas, mas é fundamental ter presente que só o sistema público assegura uma efectiva igualdade de oportunidades. Neste quadro, a UGT recusa que a qualidade dos Sistemas Públicos de Educação, Saúde e Segurança Social Públicas possa ser posta em causa, por via do apoio a sistemas privados com acesso orientado para as famílias de maiores rendimentos. Sempre defendemos a sustentabilidade financeira da Segurança Social Pública, para o que celebramos importantes Acordos Tripartidos. A UGT não aceita nenhuma redução das receitas para a Segurança Social, nomeadamente por via de uma diminuição generalizada das contribuições patronais, sem as devidas contrapartidas de financiamento do regime contributivo. Qualquer diminuição da TSU deve estar objectivamente ligada ao emprego e ser sustentada por outras fontes de receita, em particular por via dos impostos directos e não por um ainda maior aumento do IVA. De salientar que já está previsto no Compromisso com a Troika um grande aumento de certos produtos, serviços e bens essenciais, por via da mudança de escalões do IVA, com efeitos muito negativos sobre as famílias de menores rendimentos. 6. Melhorar a eficácia da Administração Pública A redução dos custos da Administração Pública tem sido prosseguida, muitas vezes, de forma cega e indiscriminada. Esta é uma via sem futuro, injusta e que nunca produzirá os impactos desejados. 8

Para a UGT, importa combater aqueles que são os verdadeiros problemas estruturais da Administração Pública: - A melhoria da gestão com descentralização e com uma real responsabilização dos dirigentes aos vários níveis de decisão; - A promoção da mobilidade voluntária, mas também de uma mobilidade necessariamente construída por via da negociação colectiva, num diálogo para o qual os sindicatos da UGT já se manifestaram disponíveis. Não aceitar estes desafios constitui um risco forte de paralisia da Administração; - A melhoria do funcionamento Justiça, área para a qual temos vindo a propor diversas medidas que visam uma maior celeridade dos processos, o acesso mais justo e equitativo por parte dos cidadãos e a simplificação de alguns procedimentos. Deve ser dada especial atenção ao funcionamento dos Tribunais de Trabalho; - O congelamento salarial que se pretende impor não suspende o direito à negociação colectiva, que tem que ser claramente respeitada. 7. Combater a Desregulação Laboral A UGT não aceita que se pretenda impor a desregulação laboral, o aumento da precariedade ou o aumento da dualidade no trabalho e no emprego. O Acordo Tripartido para a Competitividade e Emprego de 22 de Março prevê já a introdução de um conjunto de medidas que visam criar condições para a dinamização do mercado do trabalho, promovendo um reforço da negociação colectiva e da sua aproximação à realidade de empresas e trabalhadores, bem como mecanismos que permitem às empresas uma gestão mais flexível em situação de crise. Este Acordo assumiu um papel relevante no processo negocial com a Troika, tendo constituído uma base para as alterações constantes do Memorando. No entanto, são avançadas algumas novas medidas, como as alterações aos subsídio de desemprego, aos despedimentos por inadaptação ou extinção do posto de trabalho, ao pagamento de trabalho suplementar ou à própria organização da negociação colectiva que nos suscitam profundas reservas. A UGT entende que é fundamental que todas as medidas nesta área, quer as constantes do acordo tripartido, do Memorando ou outras que vierem a ser propostas, sejam discutidas e consensualizadas com os parceiros sociais quanto à sua criação e implementação. 9

8. Um o Programa de Privatizações que suscita forte preocupações A UGT nunca assumiu uma posição ideológica de oposição às privatizações, tendo sempre defendido princípios claros que devem presidir às mesmas. O mesmo não acontece com a privatização de Serviços Públicos, em que sempre nos temos manifestado contra. Em primeiro lugar, haverá que garantir a manutenção do emprego devendo esta ser uma das matérias em que o diálogo com os sindicatos é essencial. Mais, não deve ser esquecido que estas empresas prestam serviços de interesse geral (SIG), que desenvolvem um papel fundamental ao serviço dos cidadãos, devendo ser asseguradas as condições para que não se verifique uma redução da qualidade e do acesso aos serviços prestados. A UGT reconhece que existem actualmente empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos com dificuldades financeiras. A solução destes problemas não pode porém resumir-se a um aumento de tarifas, o qual se traduziria em mais sacrifícios, insustentáveis para os cidadãos. A UGT entende igualmente que a participação do Estado nestas empresas, com capitais públicos constitui um instrumento fundamental de intervenção do Estado na economia em sectores estratégicos. As privatizações poderão ser um caminho para a diminuição da dívida pública, mas tal irá provocar uma diminuição das receitas e, no actual quadro, poderá traduzir uma venda ao desbarato. 9. Reforçar e Dinamizar a Negociação Colectiva Nos últimos anos, a negociação colectiva tem sido objecto de profundas reformas no sentido de a transformar num instrumento mais dinâmico, potenciando uma maior capacidade de adaptação das empresas aos novos contextos económicos mundiais e uma melhor conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar para os trabalhadores/as. Para a UGT, a negociação colectiva continua a ser o instrumento privilegiado para regular as condições de trabalho e para promover a melhoria das condições de vida das pessoas, devendo aproximar-se o mais possível da realidade actual das empresas, sem que se ponham porém em causa a autonomia e legitimidade das organizações sindicais. 10

A UGT rejeitará totalmente todas as tentativas que visem enfraquecer os sindicatos e continuará a bater-se pela garantia da inexistência de vazios negociais, defendendo nomeadamente a arbitragem necessária, como último recurso. A UGT encontra-se totalmente disponível para, por via de processos bilaterais com as confederações patronais desbloquear, promover e modernizar a negociação colectiva. A dinamização da negociação colectiva é um elemento estratégico para o País, na adaptação das empresas à mudança, conciliando os interesses dos trabalhadores e das empresas. A UGT tem assumido e continuará a assumir as suas responsabilidades e espera que o próximo Governo, tal como as Confederações Patronais e Associações Empresariais assumam também as suas. 10. Assegurar o pleno respeito pelo Diálogo Social Tripartido (Concertação Social) O progresso económico e social do País tem sido induzido e apoiado por um conjunto de reformas estruturais muitas das quais resultantes de acordos tripartidos, em áreas essenciais como a Segurança Social, a Formação Profissional, a Legislação laboral ou ainda o Salário Mínimo. A UGT destaca o carácter estrutural da concertação social, reforço de diálogo tripartido em todas as matérias económicas e sociais, ainda mais importante neste período de profundas mudanças. Este diálogo é essencial para uma sociedade que deve responder a preocupações de competitividade, de emprego e de coesão social. Não há democracia política sem um elevado grau de participação social democracia participativa A UGT considera imprescindível que todas as matérias que integram o Memorando da Troika e que sejam da esfera de responsabilidade dos parceiros sociais devem ser previamente discutidas em CPCS, procurando obter o maior consenso possível. Independentemente do Governo que sair das eleições, o cumprimento dos acordos tripartidos deve continuar a ser um imperativo, nomeadamente o recente Acordo de 22 de Março. 11

EM CONCLUSÃO: A UGT espera que Governo saído das eleições, obrigado a cumprir o Memorando de Entendimento, não utilize o mesmo para promover a desregulação social, aumentar as desigualdades e pôr em causa os direitos dos trabalhadores. A UGT espera igualmente que o Governo promova condições para o crescimento económico e para combater o desemprego e as injustiças sociais. È essencial que Portugal apresente, o quanto antes, e certamente antes do final do período abrangido pelo Memorando, um crescimento económico positivo, que mobilize as pessoas e organizações para o desenvolvimento do País. É essencial que o próximo Governo faça uma clara opção nos sacrifícios exigidos, promovendo e assegurando a coesão em detrimento do conflito. A opção política é clara: ajudar a ultrapassar a crise com coesão e diálogo social ou promover uma maior conflitualidade social. A UGT apela a que, no próximo dia 5 de Junho, todos exerçam o seu direito e dever de voto, instrumento-chave de cidadania. Lisboa, 12 de Maio de 2011 Aprovado com uma abstenção 12