DIÁLOGO TEMÁTICO 2 Auditório Planalto 29/10/2016 De 11h00 as 12h30 Contribuições da Enfermagem na Reorientação do Modelo de Atenção à Saúde. Coordenação: Juliana Vieira de Araujo Sandri Palestrantes: Denise Elvira de Pires de Pires (UFSC-Florianópolis/SC) Maria Amélia Campos de Oliveira (EEUSP São Paulo/SP) Carla Pintas (UnB-Brasília-DF) Secretaria: Silene Barbosa (UNIP/Anhanguera Brasília/DF) 1 Palestrante: Denise Elvira de Pires de Pires (UFSC-Florianópolis/SC) Cumprimenta a Associação Brasileira de Enfermagem - ABEN, pela organização do congresso, parabenizando pelos 90 anos, cumprimenta também a mesa e plateia e agradece o convite dizendo que é sempre um desafio e uma honraria falar em um congresso Brasileiro de Enfermagem. A palestrante inicia falando que o tema Contribuições da Enfermagem na Reorientação do Modelo de Atenção à Saúde sinaliza três importantes aspectos: Enfermagem, quando falamos da profissão; Direito à Saúde, relacionado ao modelo assistencial em saúde e Modelo de Atenção, nas suas formas de organização dos serviços e das práticas para prestar assistência à população. Aponta que a questão de saúde é um problema reconhecido nacional e internacionalmente pelas populações sendo prioridade na vida das pessoas e lembra que dos oito objetivos do milênio, três deles dizem respeito diretamente
à responsabilidade do setor saúde girando em torno de 40% a responsabilidade voltada para este setor. Aponta que em 2010 a Enfermagem teve um grande protagonismo em relação a esse debate e questiona sobre quais contribuições os profissionais da saúde podem dar, para o desenvolvimento das nações e o avanço da humanidade, ressaltando a especificação de cada um dos objetivos do milênio, como acabar com a fome, educação básica de qualidade para todos, igualdade entre sexos, valorização da mulher, entre outros. Segundo Denise, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Globo Health Workforce Alliance, já deram um indicativo que ao falar de saúde pra intervir e modificar esse cenário, nós temos que olhar para quem realiza o trabalho, reconhecendo então que não há saúde sem essa força de trabalho. O trabalho em saúde é altamente dependente de ações humanas, especialmente do trabalho dos profissionais de saúde e dos profissionais de Enfermagem e afirma que não há cuidados institucionalizados em saúde sem esses profissionais, encontrados diretamente ligados aos atendimentos durante as 24hs do dia e nos 365 dias do ano, onde esse profissional está presente em 50% do conjunto dos profissionais dos setores de saúde. Esclarece que as práticas de cuidado e os modelos de atenção não são temas apenas com dimensão técnica, relacionando-se com a visão macropolítica de sociedade, de direitos de cidadania, a política de saúde vigente, a concepção de saúde hegemônica, bem como a concepção histórico social em relação ao direito à saúde e valores culturais relacionados às questões de gênero, sexualidade, educação e cidadania. A palestrante lembra que na década de 1920 o Brasil tinha uma estrutura agroexportadora e o modelo de atenção à saúde era o modelo sanitário campanhista, para atender os interesses econômicos do Brasil naquele momento e que os primeiros passos para a estrutura na Enfermagem foram a criação da Escola Anna Neri (1923), a criação da ABEn como a primeira entidade representativa (1926) e a produção e divulgação de Annaes da Enfermagem (1932) posteriormente transformados na Revista Brasileira de Enfermagem (1955). Cita ainda o Governo Civil de Tancredo/Sarney (1985), uma participação tímida na VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, a
Constituição Federal em 1988, as Leis Orgânicas 8080/8142 de 1990 e LEP 7498/1986 como pilares na estruturação da categoria. Um ponto levantado por ela foi o índice de desemprego que oscilou muito entre o período de 2003 a 2016 e a diminuição da desigualdade social, esclarecendo também programas governamentais importantes como Programa de Avaliação de Qualidade, Programa de Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Mais Médicos, entre outros que, com o aumento da complexidade e longevidade se tornaram desafios que os serviços de saúde enfrentarão no futuro, além da participação da Enfermagem na Política Nacional de Humanização que possuem iniciativas na Maternidade Segura, Parto Humanizado, Mãe Canguru, etc., contribuindo também para práticas de acolhimento. A Enfermagem vem contribuindo para a construção de um novo modelo assistencial com participações em Educação em Saúde, Ações de Promoção da Saúde, Controle e Cobertura Vacinal, Vigilância Epidemiológica, Cuidados Domiciliares, bem como o Mapeamento de Comunidades/Territorialização, onde muitas vezes essas iniciativas são feitas apenas pela Enfermagem. Ressalta ainda que o corte nas bolsas, o congelamento de gastos e o subfinanciamento são os principais problemas enfrentados no momento. Denise destaca a importância da qualidade de ensino, ambientes acadêmicos e de práticas adequados e chama a atenção para o déficit do número e qualificação profissionais de Enfermagem que implicam no aumento da mortalidade em hospitais, dos erros de administração de medicamentos, nas taxas de infecções e no desenvolvimento de lesões por pressão, sendo estes um impacto negativo na segurança do paciente e finaliza homenageando a Dra. Roseni Rosângela de Sena, que é professora da Universidade Federal de Minas Gerais, muito ativa nos movimentos sociais em prol da Enfermagem e Angélique Namaika que não se porta de forma passiva, nem se abate diante das dificuldades que enfrenta ajudando vítimas de violência sexual e de gênero na República do Congo. 2 Palestrante: Maria Amélia Campos de Oliveira (EEUSP São Paulo/SP)
Advocacia em Saúde e Enfermagem: contribuições para a reorientação do modelo de atenção à saúde Maria Amélia inicia agradecendo o convite e a presença das demais integrantes da mesa e a plateia, e esclarece que o conceito de alguns termos como Desigualdades em Saúde que é amplo e genérico, utilizado no campo dos direitos humanos, para descrever diferenças entre indivíduos ou grupos sociais que não são evitáveis ou remediáveis, resultando nesse caso em situações pertinentes de adoecimento ou vulnerabilidade onde as desigualdades são consideradas injustas e as condições de saúde de uma determinada população são refletidas por meio dos padrões dessas mesmas desigualdades que são produzidas pela própria sociedade, aumentando a vulnerabilidade de pessoas e grupos sociais. Já a Iniquidade em Saúde citada pela palestrante é conceituada como formas de injustiça evitáveis e redutíveis, vinculadas a diferentes situações de vida em sociedade, relacionadas inclusive à falta de liberdade de escolha, exposição a condições de vida desgastantes, prejuízo no acesso a serviços essenciais e mudanças na posição social atreladas às condições de saúde. Outro termo esclarecido por ela é a Advocacia em Saúde que está relacionado às ações de reivindicação de direitos na área da saúde de indivíduos ou grupos sociais em condições menos favorecidas. Seu propósito é defender e proteger esses direitos e auxiliá-los a obter os cuidados em saúde por meio do empoderamento e é um elemento chave para a ética na Enfermagem, uma vez que o respeito aos direitos humanos, à vida e à dignidade humana é inerente à prática profissional do enfermeiro. A Dra. Maria Amélia destaca que assim como outros profissionais da área da saúde, os enfermeiros têm uma obrigação ética de defesa dos indivíduos e famílias vulneráveis, especialmente em sistema de saúde hierárquicos, pois tanto os indivíduos quanto as famílias, quando ocupam determinadas posições na sociedade, necessitam de alguém que os defenda quando não são capazes de falar por si mesmos ou quando suas vozes não são ouvidas.
Além de ser um imperativo ético na área da Enfermagem, ações sobre os determinantes sociais em saúde também podem ser consideradas meios de alcance da equidade em saúde e favorecem o desenvolvimento da autonomia desses grupos e esta é a meta principal da Advocacia em Saúde, seguindo em prol de grupos em desvantagens sociais. Por fim, lembra também, que a organização estrutural do sistema de saúde certamente não é a única ação para a redução das desigualdades sociais, a Atenção Primária em Saúde (APS) tem um papel fundamental para o alcance desse objetivo, especialmente para os grupos em situação de desvantagem. 3 Palestrante: Carla Pintas (UnB-Brasília/DF) Carla faz um agradecimento no primeiro momento à ABEn pelo convite e agradece à presença dos ilustres convidados integrantes da mesa. Lembra que foi fundamental toda a retrospectiva feita pelas palestrantes anteriores, que trouxeram uma carga histórica de como é a reorganização desse modelo de atenção à saúde no País. A palestrante chama atenção em especial na formação histórica, que temos em alma-ata na definição da atenção primária em que o cuidado à saúde deve passar por esse tipo de colocação e que a contribuição do enfermeiro tem hoje o seu papel agregado de políticas locais de capacidade de articulação no serviço da atenção primária. Comentou sobre a formação acadêmica em que ainda é utilizado um modelo hegemônico, hospitalocêntrico, centrado na doença, onde o papel do enfermeiro vai ficar cada vez mais difícil de ser abordado dentro da atenção primária. Alega que esse profissional enfermeiro, que em sua formação estritamente hospitalocêntrica, não tem capacidade de conhecer a população, as necessidades pontuais, indicadores de saúde locais para poder atuar com seus conhecimentos adquiridos e isso faz com que esse modelo não se efetive. Desde 1996 com a primeira política da atenção primária como efetiva no país com o Programa de Saúde da Família, o enfermeiro é parte integrante da
equipe mínima. Segundo a palestrante, o enfermeiro é o grande elo dessa efetividade e o grande coordenador dessa equipe, por que o enfermeiro prepara e coordena os agentes comunitários, além de ser o responsável por essa equipe, em que de certa forma, é ele quem faz acontecer todas as ações preventivas de promoção à saúde da família, bem como as demandas administrativas que lhe cabem. E finaliza dizendo que esse é mais um motivo para reforçar o papel da formação desse profissional enfermeiro.