17/08/2018. Disfagia Neurogênica: Acidente Vascular Encefálico

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Transcrição:

Disfagia Neurogênica: Acidente Vascular Encefálico M.Sc. Prof.ª Viviane Marques Fonoaudióloga, Neurofisiologista, Mestre em Fonoaudiologia, Doutoranda em Psicnálise, Saúde e Sociedade. O acidente vascular encefálico (AVE), principal causa de incapacidade neurológica grave, constitui um problema de saúde pública por ser uma das maiores causas de morte no mundo e pelos altos custos de seu tratamento. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o AVE é definido por sinais de distúrbio focal (ou global) da função cerebral de evolução rápida, durando mais de 24 horas, ou ocasionando a morte sem outra causa aparente, além daquela de origem vascular Itaquy RB et al. 2011 1

O termo acidente vascular encefálico refere-se aos déficits neurológicos decorrentes de alterações na circulação encefálica. Pode advir de uma isquemia (80% dos casos), que consiste na oclusão de um vaso sanguíneo, interrompendo o fluxo de sangue para regiões específicas do cérebro e causando prejuízo nas funções neurológicas dependentes da região afetada, ou de uma hemorragia (cerca de 20% dos casos). Itaquy RB et al. 2011 Ministério da Saúde Gabinete do Ministro PORTARIA Nº. 665, DE 12 DE ABRIL DE 2012 Dispõe sobre os critérios de habilitação dos estabelecimentos hospitalares como Centro de Atendimento de Urgência aos Pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS),institui o respectivo incentivo financeiro e aprova a Linha de Cuidados em AVC. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e Considerando a alta prevalência do Acidente Vascular Cerebral e sua importância como causa de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo. 1º Entende-se por U-AVC Integral, unidade de cuidados clínicos multiprofissional com, no mínimo, 10 (dez) leitos, coordenada por neurologista, dedicada ao cuidado dos pacientes acometidos pelo Acidente Vascular Cerebral (isquêmico, hemorrágico ou ataque isquêmico transitório) até quinze dias da internação hospitalar, com a atribuição de dar continuidade ao tratamento da fase aguda, reabilitação precoce e investigação etiológica completa. 2º A U-AVC Integral deve possuir os seguintes recursos: I - recursos humanos: a) 1 (um) responsável técnico neurologista com título de especialista em neurologia reconhecido pelo CFM ou CRM ou residência médica em Neurologia reconhecida pelo MEC; b) um médico, vinte e quatro horas por dia; c) suporte de neurologista, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, inclusive feriados; d) um enfermeiro exclusivo na unidade; e) um técnico de enfermagem para cada quatro leitos; f) um fisioterapeuta para cada dez leitos, seis horas por dia; g) um fonoaudiólogo para cada dez leitos, seis horas por dia; 2

A circulação cerebral é suprida, basicamente, por dois sistemas vasculares principais: o sistema carotídeo, responsável pela irrigação dos três quartos anteriores dos hemisférios cerebrais por meio das artérias cerebrais anterior e média e da artéria coroideana anterior; e o sistema vértebro-basilar, responsável pela vascularização do tronco cerebral, cerebelo e a porção posterior dos hemisférios cerebrais por meio da artéria cerebral posterior. A localização do AVC, bem como a sua extensão, apresentam relação direta com as manifestações clínicas e prognósticos. Itaquy RB et al. 2011 3

Artéria carótida interna Artéria vertebral Território Cortical das Artérias Artéria cerebral média 4

Profª Viviane Marques Artéria cerebral anterior Artéria cerebral posterior As manifestações clínicas do AVC incluem dores de cabeça intensas acompanhadas de vômitos e vertigens; hemiplegia; hemianopsia; alterações na fala e na linguagem, como afasias, disartrias e fala escandida; apraxia; transtornos posturais e de marcha; distúrbio do sistema sensitivo e motor, ou comprometimento isolado de nervos cranianos. Como consequências do AVC, são citadas complicações como aspiração pulmonar e pneumonia, hemiparesia, depressão, labilidade emocional e disfagia Itaquy RB et al. 2011 5

Segundo o estudo de Nunes et al. 2012, Houve um predomínio da diminuição da sensibilidade laríngea no AVE localizado no córtex cerebral e nos tipos isquêmico e transitório, assim como a ausência da sensibilidade laríngea sem reflexo de tosse, isto é, com aspiração silente, predominou na localização subcortical. Independente da localização e do tipo de lesão ocorreu uma predominância da diminuição da sensibilidade laríngea sobre a normalidade e a ausência da mesma Segundo o estudo de Nunes et al. 2012, O AVE subcortical foi a única localização da lesão que apresentou penetração laríngea e aspiração traqueal silente em todas as consistências alimentares. Dessa forma, destaque-se a importância de uma avaliação instrumental da deglutição para esses casos. Autores relatam aspiração em 52,3% no AVE subcortical, mas não descrevem a consistência alimentar avaliada. 6

Estudos mostram que as alterações de deglutição mais comumente encontradas após a ocorrência de AVE são disfunção motora da faringe e atraso na iniciação da deglutição, seguida de resíduos em recessos faríngeos. Alterações no mecanismo de fechamento laríngeo são encontradas principalmente em AVE de tronco encefálico. 7

Em pesquisas realizadas utilizando-se videofluoroscopia, foram encontradas evidências de que cerca de 40-50% dos pacientes que sofreram acidente vascular encefálico apresentaram aspiração e que aspirações são mais prováveis de ocorrerem em pacientes que apresentaram múltiplos AVE (54,8%), lesões em tronco encefálico (53,6%) ou AVE subcortical (52,3%), além de envolvimento de várias áreas cerebrais. Bassi ERA et al. 2004 Um estudo avaliou a deglutição de pacientes em UTI, destes 74% apresentaram disfagia orofaríngea, sendo que 61% tiveram como doença de base lesão neurológica, e 39% tiveram como doença de base acometimentos não neurológicos. Houve associação significante entre a presença de disfagia e doença de base neurológica. Dos pacientes disfágicos, 45% apresentaram disfagia de grau leve, 22% disfagia de grau moderado e 33% disfagia de grau grave. Moraes AMS, Coelho WJP, Castro G, Nemr Rev CEFAC, São Paulo, v.8, n.2, 171-7, abr-jun, 2006 K 8