Inga Ludmila Veitenheimer-Mendes L Vera Lúcia Lopes-Pitoni 2

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Transcrição:

MOLUSCOS AQUÁTICOS ATUAIS DE ECOSSISTEMAS COSTEIROS EM IMBITUBA, IMARUí E LAGUNA, SANTA CATARINA, BRASIL: PARÂMETRO DE CARACTERIZAÇÃO PARA PALEOAMBIENTES Inga Ludmila Veitenheimer-Mendes L Vera Lúcia Lopes-Pitoni 2 ABSTRACT. PRESENT AQUATIC MOLLUSCS FROM COASTAL E('OSYSTEMS OF IMHrrURA. IMARI I! AND LAGUNA COUNTIES. SANTA CATARINA. BRAZIL: CARACTERIZATION PARAME TE RS FOR PALEOENVIRONMENTS. This paper regislers 16 sp~ci~s of aqualic molluscs. cspecially lhe limnic anel csluarine sreei~s Heleobia davisi Silva & Thom';. 1985. He/eobia tll/stmlis ai/sim/is (Orhigny. 1835) anel Ero<lona mactroides Bose. 1802. from O'Una riwr anel Mirim. Imaruí anel Sanlo Anlonio lagoons and Laguna B~ach (Sanla Calarina, Brazil). This paramela was very importanl for lhe palwecological analysis conduced for lhal arca. where oscillalion of lhe sea levei occurred during lhe Holocen Period. Heleobia davisi is regislered for lhe tirsl lime 10 lhe Sanla Calarina. KEY WOROS. Molluscs. limnic. esluarine. Sanla Calarina, Brazil Visando subsidiar os estudos de VEITENHELMER-MENOES (1993) e LOPES PrrONI (1993) sobre paleoambientes holocênicos nos municípios de Imbituba e Imaruí (Santa Catarina), realizaram-se coletas de moluscos em diferentes ambientes aquáticos: foz do rio D'Una, Laguna Mirim, Laguna do Imaruí, Laguna de Santo Antônio e praia de Laguna. Tais coletas fizeram-se necessárias pela inexistência de registros atuais de moluscos e de biota acompanhante naqueles ambientes límnicos e estuarinos, que pudessem ser utilizados para comparação com as espécies de moluscos e fauna acompanhante identificadas pelas autoras acima citadas, em sedimentos holocênicos provenientes de testemunhos de sondagem próximos dos ambientes da coleta atual. Moluscos marinhos atuais da costa brasileira, incluindo a de Santa Catarina, são registrados por RIOS (1994). MATERIAL E MÉTODOS Nos dias 07-08-V -1992, efetuaram-se amostragens qualitativas e quantitativas de moluscos e biota acompanhante em Santa Catarina. As qualitativas foram na Laguna Mirim (Pontos I e 3), no rio D'Una próximo à foz com a Laguna Mirim (Ponto 2), na Laguna do ImaruÍ (Pontos 4 e 5), na Laguna de Santo Antôniojunto I) Dcparlam~nlo d~ Zoologia. Univ~rsidade Federal d,> Rio Grande do Sul. Av. Paulo da Gama. pr';dio 12105.90040-060 Porl" Alegre. Rio Grande do Sul. Brasil. Bobisla do CNPq. 2) Museu de Ci~ncias NalUrais. Fundação Zooholânica do Rio Grande do Sul. Caixa Poslal I 188. 90001-970 Porl" Alegr~. Rio Grande do Sul. Brasil. Bolsisla do CNPq. Revta bras. Zool. 12 121: 429-434, 1995

430 VEITENHEIMER-MENDES & lopes-pitoni à barra (Ponto 6) e na praia de Laguna (Ponto 7) (Fig. I). Para essa amostragem utilizaram-se: coletor de moluscos adotado por VEITENHELMER- MENDES er ai. (1992), para a malacofauna ocorrente na vegetação aquática; peneira para a coleta de bentos; exame de macrófitas, matacões, barranca à beira das lagunas e molhe; tubo amostrador para busca de sedimento nos pontos em maior profundidade e coleta manual. As amostragens quantitativas foram feitas: uma junto à margem nordeste da Laguna Mirim (Ponto I) com uma peneira de 22cm de diâmetro por?. 3cm de altura e I mm- de abertura de malha para cavar e retirar uma camada de sedimento com I Ocm de espessura aproximadamente, a uma proti.mdidade de 42cm em relação à superfície da água, preenchendo totalmente a peneira, e a outra na Laguna do Imaruí (Ponto 4), com um tubo amostrador de ferro de 9,2cm de diâmetro, 28cm de altura e 258cm 3 de capacidade, sendo a coluna de sedimento, obtida a 94cm de profundidade, equivalente ao tubo totalmente preenchido. O sedimento das duas amostragens quantitativas foi lavado no próprio local através de uma peneira de I mm 2 de abertura de malha. Todos os moluscos vivos, obtidos com o emprego das diferentes técnicas de coletas, foram acondicionados em recipientes contendo água do local e transportados no gelo para o lahoratório, em caixa com isolamento térmico. No laboratório foram mantidos em refrigerador até a triagem e identiticação, por cerca de cinco dias. Esse procedimento de transporte e manutenção toi utilizado visando manter os moluscos vivos para a sua correta identiticação, anestesia e fixação. Durante as amostragens quantitativas, às 10:00 horas na Laguna Mirim e às 14:30 horas na Laguna do Imaruí, toram colhidas amostras de água para determinação da salinidade e amostras de sedimento para análise granulométrica. Estas análises toram executadas pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e Centro de Estudos Costeiros (C ECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), respectivamente. Os moluscos do gênero Helcuhia foram identificados pela malacóloga Maria Cristina Pons da Silva e a vegetação pela Ora. Teresia Strehl. Os moluscos encontram-se depositados na Coleção de Moluscos do Museu de Ciências Naturais (MCN) da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados qualitativos estão expressos na tahela I, ahrangendo todo o conj unto de amhientes explorados. Os resultados das amostras quanti tativas e dados ahióticos aferidos na Laguna Mirim e do Imaruí encontram-se na tahela II. Os registros atuais reforçam as deduções de LOPES-PITONl (1993) e VEITENHELMER-M ENDES (1993) de que os ambientes pretéritos daquela região teriam uma ligação mais direta com o mar, com um teor maior de salinidade em relação aos atuais das Lagunas Mirim e do Imaruí. Segundo M. Cristina Pons da Silva (intormação verhal) Heleohia aufralis nana (Marcus & Marcus, 1963), registrada por LOPES-PITONI (01'. cir.) e VEITENHEIMER-MENDES (01'. cir.), caracteriza-se por viver em ambientes estuarinos e de águas salohras, suportando salinidades mais elevadas que H. ausrralis ausrralis (Orhigny, 1835) e Hcleohia Revta bras. Zool. 12 (2): 429-434,1995

Moluscos aquáticos atuais de ecossitemas costeiros... 431 28"'10' ""ti,,,,. E 5 C A L. 1 ZOO 000, I o " 4 ~ 6... Fig. 1. Locais das coletas de moluscos em ecossistemas costeiros de Santa Catarina, em 07-08-V-1992: Laguna Mirim (Pontos 1 e 3), rio D'Una (ponto 2), Lagunado Imaruí (Pontos 3 e 4), Laguna de Santo Antôni o junto à Barra (Ponto 6) e na praia de Laguna (Ponto 7). davisi Silva & Thomé, 1985, espécies registradas na coleta atual, juntamente com Erodona mactroides Base, 1802 (rab. II). O encontro de H. davisi constitui-se no primeiro registro da espécie para Santa Catarina. M. Cristina Pons da Silva (informação verbal) constatou a partir de trabalhos de campo na década de 1980, H. australis australis, H. davisi e E. mactroides na parte norte da Laguna dos Patos (Rio Grande do Sul) onde às vezes a salinidade chega a zero, enquanto que mais para o sul, chegando à foz da referida Laguna, observou apenas a ocorrência de H. australis nana juntamente com E. II/a ctro ides. E. II/(/ctroides, segundo Revta bras. Zool. 12 (2) : 429-434, 1995

432 VEITENHEIMER-MENDES & LOPES-PITONI Tabela I. Amostragem qualitativa de moluscos e biota acompanhante do Rio O'Una (Ponto 2), Laguna Mirim (Pontos 1 e 3), Laguna do Imaruí (Pontos 4 e 5), Laguna de Santo Antônio (Ponto 6) e praia de Laguna (Ponto 7), Santa Catarina, nos dias 07-08-V-1992. GASTROPODA Táxons Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Ponto 7 Fissurela rosea Heleobia australis australis ' Heleobia davisi Odostomia laevigata ' BIVAlVIA Amiantis purpuratus Anadara brasiliana Anomalocardia brasiliana ' Brachidontes exustus Brachidontes solisianus Crassostrea rhizophorae ' Erodona mactroides ' Lucina pectinata ' Macoma constricta ' Ostrea equestris Perna perna Pitar rostratus CRUSTACEA Cirripedia (balanídeos) Decapoda (caranguejos) VEGETAÇÃO Ceratophylum cf. submersum Cyrpus sp. Bacopa monnieri Poacea Potamogeton sp. () Presença, (') valves ou conchas vazias. ' ' ' COST A (197 I), é típica de ambientes mixohalinos, sendo encontrada na desembocadura de rios, lagunas e baías do sul do Brasil, Uruguai e Argentina no Oceano Atlântico, com tendência a estar ausente nas zonas pré-iímnica e Iímnica. O registro dos Ostreidae Cral'sostrea rhizophorae (Guilding, 1828) e Ostrea equestris Say, 1834 em ambiente de contato direto com o mar em Laguna (Tab. I), a ocorrência de C. rhizophorae em bóias na região costeira de Tramandaí (Rio Grande do Sul) em salinidade de 27,7 g/i (RIos et ai. 1979), além dos registros de RIOS (1994), mostram que estas espécies de Ostreidae são marinhas rasas e que suportam intluência de águas continentais. Dos moluscos registrados nos diferentes corpos d'água, as seguintes espécies foram também identificadas por VEITENHEIMER-MENDES (1993) em sedimentos de testemunhos de sondagem provenientes da região do rio D'Una: AllofNa!oCl/rdia brasilialla (Gmelin, 1792), C. rhizophorae, O. equestris e Pitar rosrrarus (Koch, 1844); e por LOPES-PITONI (1993) em sedimentos de testemunhos de sondagem de área junto a Laguna do Imaruí: Allo/llaloC(frdia brasilillllll, C. rhizophorae, O. equesrris e E. fnactroides. Revta bras. Zool. 12 (2): 429-434, 1995

Moluscos aquáticos atuais de ecossitemas costeiros." 433 Tabela II. Amostragem quantitativa de moluscos, escamas de peixe e sementes, prese nça de detritos e parâmetros físico-químicos na Laguna Mirim (ponto 1) e Laguna do Imaruí (Ponto 4). Santa Catarina, em 07-V-1992. T áxons e estruturas Heleobia australis australis Heleobia davisi Odostomia laevigata Erodona mactroides Escamas de peixe Sementes Detritos vegetais Exemplares Ponto 1 160 175 19 7 11 Exemplares Ponto 4 12 1 2 SALINIDADE (%0) 2,90 GRANULOMETRIA (%) Areia 98,61 Silte 0,07 Argila 1,32 MATERIA ORGÂNICA (%) 8,75 () Presença, (') 14 exemplares + 5 valves, (' ') somente conchas. 14,50 68,00 32,00 16,00 o registro atual de halanídeos e seu respectivo aumento em número de indivíduos a partir da Laguna do Imaruí em direção à praia de Laguna, em decorrência do aumento da oceanicidade (Tab. I), mostrou-se, tamb~m, um elemento auxiliar para as deduções dos paleoambientes da região. Durante as coletas pode ser facilmente constatado o aumento no número de balanídeos à medida que se fazia o deslocamento no sentido lagunas-mar, ou seja, baixa salinjdade-alta salinidade, uma vez que a presença pontual dos halanídeos, com dimensões reduzidas na Laguna do Imaruí (Ponto 4), passou a constituir, paulatinamente, verdadeiros aglomerados de indivíduos, com maior tamanho, em substratos junto à linha da água at~ o oceano Atlântico. Esses crustáceos foram ohservados presos em diferentes suhstratos, tais como Scirpus sp., matacões, pedras. estacas de madeira. O encontro de halanídeos (Tab. I), de escamas de peixes, sementes e detritos vegetais (Tah. II) no amhiente de ocorr~ncia dos moluscos coincidiram com a biota acompanhante registrada por LOPES-PITONI (1993) e VEITENHEIMER MENDES (1993) nos nlros de sondagem da região do rio D'Una e da Laguna do I ma ruí. As demais esp~cies de moluscos registradas na tabela I são de amhientes marinhos rasos concordando com RIOS (1994), sendo que as conchas de Odosto/llia lael'igaf{/ (Orhigny, 1842), Lucil/a pectil/{/f{/ (Gmelin, 1791) e MacOIlla coli.l'tricta (Brugui~re, 1792) encontradas na Laguna do I maruí. provavelmente foram transportadas com as correntes de mar~, tendo ocorrido o mesmo com as conchas de AI/ofl/alocardia hra.l'ilial/il coletadas na Laglma Mirim. A,/(/darll brasilial/li (Lamarck, 1819), segundo RIOS (1994), ocorre em suhstrato arenoso e de cascalho, semelhante ao suhstrato no qual foi coletada. Tanto no Ponto 6 como no Ponto 7 (Tab. I) os ostreídeos C. rhizophorae Revta bras. Zool. 12 (2); 429-434, 1995

434 VEITENHEIMER-MENDES & lopes-pitoni e O. equestris e os mitilídeos Brachidollfes exustus (Linnaeus, 1758), Brachidollfes solisiallus (Orhigny, 1846) e Perna perna (Linnaeus, 1758) encontravam-se aderidos às pedras dos molhes. Os exemplares de H. dlllúi ohtidos no rio D'Una (Ponto 2, Tab. I) estavam no fundo arenoso e associadas à Pora/llogeroll sp.; na Laguna Mirim (Ponto 3, Tab. I) encontravam-se fixas à matacões, enquanto exemplares desta mesma esp~ c ie e de H. ausrralis allstra/is foram caldadas na Laguna Mirim (Ponto I, Tahs I e II) tanto associadas a Cer(/{ophyllulII cf suhlllersulll Linnaeus, Bacopa liiollllieri (Linnaeus) Penn. e Poacea, como sobre o fundo arenoso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, C. M. B. 1971. Importância paleoecológica e estratigrática de Erodolla liiactroides Daudin (Mollusca, Bivalvia). Iherin~ia, série Geolo~ia, Porto Alegre, 4: 3-18. LOPES-PITONI, V.L. 1993. Moluscos cenozóicos de suhsuperfície em Imaruí, Santa Catarina, Brasil: paleoecologia, trans~ressões e J-egn~ssões_ Tese de Doutor,ado, não publicada, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 269p, RIOS, E,C. 1994. Sea.,hells of Brazil. Rio Grande, Universidade do Rio Grande, 2" ed., 368p. RIOS, E.C.; V. L. LOPES-PITONI & I. L. VEITENHEIMER-MENDES. 1979. Molw;cos marinhos em bóias no Rio Grande do Sul, Brasil. Puhl. Avuls fundo Zoohotfmica, Porto Alegre, 4: 103-107. VEITENHErMER-MENDES, I. L. 1993. Malacofauna, paleoecolo~ia e hioflícies de sedimentos holncênicos da planície costeira de Imhituha e Imaruí, Santa Catarina, Brm;il. Tese de Doutorado, não publicada, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 309p. VEITENHEfMER-MENDES, I.L.; V. L. LOPES-PITONI; M.C.P. DA SILVA; J.E. ALMEIDA-CAON & N.T. SCHRODER-PFEIFFER. 1992. Moluscos (Gastropoda e Bivalvia) ocorrentes nas nascentes do rio Gravataí, Rio Grande do Sul, Brasil. Iherin~ia, série wol()~ia, Porto Alegre, (73): 69-76. Re ce bi d o em 30. VIII. 1994; acei t o em 05. I. 1995. Revta bras, Zoo!. 12 (2): 429-434. 1995