1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE DISCIPLINA Disciplina: Métodos e Técnicas de Pesquisa em Ciência Política Código: HC 108 Professor: Adriano Nervo Codato Carga Horária: T: 60 + P: - = Total: 60 Natureza: semestral ( x ) anual ( ) Pré-requisito: Política I Co-requisito: não tem Validade: 2º semestre ANO 2012 EMENTA Métodos e técnicas de pesquisa em Ciência Política: A construção histórica do objeto da Ciência Política. Ciência e Política. Técnicas de pesquisa e de elaboração de projetos. Perspectivas teóricometodológicas em Ciência Política. OBJETIVOS Este curso parte de uma afirmação polêmica de Howard Becker: A metodologia é importante demais para ser deixada aos metodólogos. Ela faz eco com a famosa tirada de C. Wright Mills: Metodólogos: ao trabalho!. Com isso, quero sublinhar que o objetivo do presente curso é menos oferecer ao estudante um repertório completo das técnicas de pesquisa disponíveis ao cientista social tarefa, ao meu ver, tão impossível quanto inócua, e mais discutir um ponto que me parece fundamental: as dificuldades lógicas e práticas envolvidas no processo de construção do objeto de pesquisa a partir de um interesse difuso. Pois que sentido haveria em apresentar, como num cardápio imaginário, todas as alternativas possíveis sem se perguntar pela sua utilidade real? Assim, e recusando também uma outra possibilidade, que residiria em insisitir sobre as (im)possibilidades (epistemológicas) do processo de conhecimento (da verdade, do real etc.), ou em reavivar a insepulta polêmica da diferença entre as ciências naturais e do espírito, o que se quer aqui é iniciar os estudantes de graduação em duas discussões: (i) é possível pensar a Política separadamente, como um objeto específico de estudo?; e (ii) qual a diferença substantiva entre relatar e descrever, de um lado, e compreender e explicar, de outro? É disso que tratam as três primeiras unidades. As duas outras (IV e V) pretendem ensinar técnicas bem mais prosaicas, tais como: ler um texto científico e escrever clara e ordenadamente. Elas são a base para a elaboração de um projeto de pesquisa, assunto da última parte do curso (Unidade VI). Além dos problemas típicos dessa tarefa (e que envolvem: a definição do tema, a construção do objeto, a formulação de hipóteses de trabalho, a escolha do marco teórico etc.), quero discutir também alguns tópicos que perpassam nossa prática científica: a questão da originalidade, a amplitude da pesquisa, a
2 necessidade da generalização, o conhecimento teórico ornamental e um imperativo: diferenciar a abordagem de senso comum da atitude crítica ( científica ). CONTEÚDO PROGRAMÁTICO & REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS I UNIDADE: EPISTEMOLOGIA E METODOLOGIA Referências bibliográficas obrigatórias: 1. BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude & PASSERON, Jean-Claude. A profissão de sociólogo. Preliminares epistemológicas. Petrópolis : Vozes, 1999, Introdução: epistemologia e metodologia, p. 9-22. 2. BECKER, Howard S. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo : Hucitec, 1993, Cap. 1: Sobre metodologia, p. 17-46. 1. CERRONI, Umberto. Política. Métodos, teorias, processos, instituições e categorias. São Paulo : Brasiliense, 1993, Cap. 1: Método, p. 21-56. 2. WRIGHT MILLS, C. A imaginação sociológica. 4a. ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1975, Apêndice: Do artesanato intelectual, p. 211-243. II. UNIDADE: A CONDUTA NA PESQUISA 1. O raciocínio na pesquisa Referências bibliográficas obrigatórias: 1. BOUDON, Raymond. Os métodos em Sociologia. São Paulo : Ática, 1989, Cap. 1: As falsas querelas do método, p. 14-23. 2. ARON, Raymond. Relato, análise, interpretação, explicação: crítica de alguns problemas do conhecimento histórico. In: Estudos sociológicos. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1991, Cap. 2, p. 43-97. 3. KAPLAN, Abraham. A conduta na pesquisa. Metodologia para as ciências do comportamento. São Paulo : Edusp, 1969, Cap. I: Metodologia; Cap. II: Conceitos; Cap. III: As leis; Cap. IX: Explicações. 1. ELSTER, Jon. Peças e engrenagens das Ciências Sociais. Rio de Janeiro : Relume-Dumará, 1994, Cap. I: Mecanismos, p. 17-25. 2. HEMPEL, Carl G. Filosofia da ciência natural. 3a. ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1981.
3 3. HEMPEL, Carl G. The Function of General Laws in History. In: MARTIN, Michael & MCINTYRE, Lee C. (eds.). Readings in the Philosophy of Social Science. Cambridge, Mass./London : The MIT Press, 1994, p. 43-53. 4. JONES, Gareth Stedman. História: a pobreza do empirismo. In: BLACKBURN, Robin (org.). Ideologia na Ciência Social. Ensaios críticos sobre a teoria social. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1982, p. 89-107. 5. KING, G.; KEOHANE, R. & VERBA, S. Designing Social Inquire. Princeton : Princeton University Press, 1994, Cap. 1: The Science in the Social Science. 6. MOON, J. Donald. The Logic of Political Inquiry: a Synthesis of Opposed Perspectives. In: GREENSTEIN, Fred I. & POLSBY, Nelson W. (eds.). Handbook of Political Science. Vol. 1: Political Science: Scope and Theory. Reading, Mass. : Addison-Wesley, 1975, p. 131-228. 7. PASSERON, Jean-Claude. O raciocínio sociológico: o espaço não-popperiano do raciocínio natural. Petrópolis : Vozes, 1995, Cap. 3: História e Sociologia: identidade social e identidade lógica de uma disciplina, p. 64-98. 8. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo : Cultrix/Edusp, 1975, Cap. 1: Panorama de alguns problemas fundamentais. 9. RAGIN, Charles C. The Comparative Method. Moving Beyond Qualitative na Quantitative Strategies. Berkeley/London : University of California Press, 19??, Chaps. 1, 2, 3, 4, p. 1-68. 2. Itinerários de pesquisa (item suplementar) 1. WEBER, Max. A ciência como vocação. In: GERTH, H. H. & WRIGHT MILLS, C. (orgs.). Max Weber Ensaios de Sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro : Guanabara, 1982, Parte I: Ciência e Política, p. 154-183. 2. LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. Lisboa : Edições 70, 1981, Cap. VI: Como surge um etnógrafo, p. 45-55. 3. WILSON, Edward O Naturalista. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1997, Cap. 7: Os caçadores, p. 103-125. III. UNIDADE: LER, ESCREVER, CITAR 1. Como ler um texto científico? 1. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo : Perspectiva, 1988, Cap. 4: O plano de trabalho e o fichamento, p. 81-112. 1. FISHER, Alec. The Logic of Real Arguments. Cambridge : Cambridge University Press, 1988. 2. Requisitos para a boa redação 1. MORAES, Reginaldo C. Corrêa de. Atividade de pesquisa e produção de texto. Anotações sobre métodos e técnicas no trabalho intelectual. Textos didáticos, Campinas, n. 33, ago. 1998.
4 2. A técnica da dissertação (guia para dissertação filosófica dos alunos do liceu). Trad. Plinio Junqueira Smith e Adriano Nervo Codato. digit., s.d. 3. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo : Perspectiva, 1988, Cap. 5: A redação; Cap. 6: A redação definitiva, p. 113-168. 3. Normas de citação bibliográfica 1. HEEMANN, Ademar & VIEIRA, Leociléa Aparecida. A roupagem do texto científico. Estrututa, citações e fontes bibliográficas. 2a. ed. Curitiba : Editora IBPEx, 1999. IV. UNIDADE: A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA 1. A definição do tema, a construção do objeto, a formulação de hipóteses, o marco teórico: 1. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem. A elite política imperial; e Teatro de sombras. A política imperial. Rio de Janeiro : Ed. da UFRJ/Relume-Dumará, 1997, Introdução, p. 11-19. 1. VAN EVERA, Stephen. Guide to Methods for Students of Political Science. Cornell: Cornell University Press, 1997, chap. 3: What is a Political Science Dissertation?, p. 89-95; e chap. 4: Helpful Hints on Writing a Political Science Dissertation, p. 97-113. 2. Questões correlatas: a) sobre a originalidade 1. RIBEIRO, Renato Janine. Não há pior inimigo do conhecimento que a terra firme. Tempo Social, São Paulo, vol. 11, n. 1, p. 189-195, maio de 1999. 2. BARRETO, Lima. Agaricus auditae [conto]. In: MAGALHÃES Jr., R. (org.). O conto da vida burocrática. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1960, p. 45-56. b) a amplitude da pesquisa 1. BORGES, Jorge Luis. Do rigor na ciência [conto]. In: O fazedor (1960). Obras completas. São Paulo : Globo, 1999, vol. II, p. 247. c) a generalização 1. BORGES, Jorge Luis. Funes, o memorioso [conto]. In: Artifícios (1944). Obras completas. São Paulo : Globo, 1999, vol. I, p. 539-546. d) conhecimento e imposturas 1. ASSIS, Machado. Teoria do medalhão [conto]. In: Papéis avulsos. Rio de Janeiro/Belo Horizonte : Garnier, 1989, p. 67-76. 2. BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês [conto]. In: SARDINHA, Maura (org.). O homem que sabia javanês e outros contos. Rio de Janeiro : Ediouro, 1996, p. 7-22. e) o senso comum diante dos problemas sociológicos
5 1. BOURDIEU, Pierre. A opinião pública não existe. In: THIOLLENT, Michel. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. 5a. ed. São Paulo : Polis, 1987, p. 137-151. 2. BOURDIEU, Pierre. A televisão, o jornalismo e a política. In:. Contrafogos. Táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1998, p. 93-104. AVALIAÇÃO Participação efetiva em aula, apresentação de seminários sobre temas levantados a partir da bibliografia obrigatória e complementar (peso 1), além da elaboração de um projeto de pesquisa (peso 3).
6 Calendário de Atividades - Referências & Seminários 2003/2004 Prof.: Adriano Nervo Codato - para a referência bibliográfica completa, veja o programa de curso. setembro 16 aula 1: apresentação do curso - bibliografia obrigatória - seminários 18 aula 2: interesses de pesquisa dos estudantes - Núcleos de Pesquisa DECISO 23 aula 3: referência: BOURDIEU, CHAMBOREDON & PASSERON 25 aula 4: referência: BECKER 30 aula 5: referência: SARTORI seminário 1 outubro 2 aula 6: referência: REIS seminário 2 7 aula 7: referência: MICELI seminário 3 WERNECK VIANNA seminário 4 9 aula 8: referência: LAMOUNIER seminário 5 FORJAZ seminário 6 14 aula 9: referência: REIS seminário 7 16 aula 10: referência: PRIMEIRA AVALIAÇÃO (prova escrita) 21 aula 11: ANPOCS 23 aula 12: ANPOCS 28 aula 13: referência: LIMA Jr. seminário 8 MELO seminário 9 30 aula 14: referência: LIMONGI seminário 10 novembro 4 aula 15: SEGUNDA AVALIAÇÃO (trabalho) 6 aula 16: referência: BOUDON 18 aula 17: referência: ARON 20 aula 18: referência: KAPLAN 25 aula 19: referência: ECO 27 aula 20: referência: MORAES dezembro 2 aula 21: referência: CARVALHO/SCHWARTZMAN 4 aula 22: referência: RIBEIRO; BARRETO; BORGES 9 aula 23: referência: BORGES; ASSIS; BARRETO 11 aula 24: SEMINÁRIO COLETIVO: O PROJETO janeiro 20 aula 25: referência: ENTREGA DO PROJETO DE PESQUISA 22 aula 26: EXAME FINAL