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Transcrição:

GUIA DOS PARQU E S, JA R D I N S E G E O M O N U M E N TO S D E L I S B OA 166

Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas PARQUE BENSAÚDE / QUINTA DE SANTO ANTÓNIO DAS FRECHAS Uma quinta de Benfica É uma sobrevivente das antigas quintas de recreio que embelezavam Benfica. E com segredos para contar. Como são os casos de uma monumental azinheira e de um enorme sobreiro vestido de cortiça. Por si só merecem uma visita. 167

GUIA DOS PARQU E S, JA R D I N S E G E O M O N U M E N TO S D E L I S B OA O Parque Bensaúde oferece uma boa colecção de cenários e recantos para desfrutar, onde se encontram notáveis exemplares de espécies nativas como azinheiras, sobreiros, carvalhos-alvarinhos e bordos. A Quinta de Santo António das Frechas, construída no século XVIII, é uma das sobreviventes ao avanço impiedoso do betão. Um oásis no meio de Benfica, em pleno miolo urbano. Percorrê-la a pé, mas devagar, é um autêntico convite à evasão. E não faltam mesas de merendas espalhadas por vários recantos a proporcionarem momentos de relaxe. Para além dos belos carvalhos-alvarinhos, a lembrarem paragens nortenhas, duas espécies são verdadeiros monumentos naturais: uma colossal azinheira, que não podada como nos montados alentejanos desenvolveu a sua copa em direcção ao céu, e um enorme sobreiro, de cortiça virgem, como é já raro de encontrar. Os socalcos que se desenvolvem à esquer- da do caminho principal são encimados por dois castanheiros-da-índia (Aesculus hippocastanum) (1). São árvores de folha caduca originárias das regiões montanhosas da Península Balcânica. O epíteto hippocastanum significa castanha para cavalos, o que sugere que tenham sido utilizadas como forragem (alimento dado aos animais, puro ou misturado com outros constituintes). São muito plantados como ornamentais em parques e arruamentos, embora necessitem de espaço para poder desenvolver em pleno o seu grande porte. As suas grandes folhas fazem lembrar as do castanheiro (Castanea sativa), embora dispostas em conjuntos de cinco e em forma de palma. As flores brancas surgem entre Abril e Maio, e o fru- 168

Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas INFORMAÇÕES ÚTEIS Área total: 3,5 hectares Data de criação: séculos XVIII e XX Endereço: Rua Francisco Baía, junto à Rua dos Soeiros Entrada: gratuita Abertura: todos os dias Horário de abertura: 21 de Setembro a 20 de Março (das 9h às 17h), 21 de Março a 20 de Setembro (das 9h às 20h) Acesso a pessoas c/ mobilidade reduzida: sim Parque infantil: sim Café, restaurante e esplanada: sim (um quiosque) WC: sim Área de merendas: sim Acesso a cães: não Actividades lúdicas: passeios a pé Acesso por transportes públicos: autocarros (54, 68) Não faltam bons locais para merendar... to, a fazer lembrar uma castanha, mas não comestível pois é tóxico, surge em Setembro quando as suas folhas adquirem as cores outonais. Os Quercus Continuando o caminho, do lado direito podemos observar três exemplares do género Quercus: uma monumental azinheira (Q. rotundifolia) (2), um carvalho-alvarinho (Q. robur) (3) e um sobreiro (Q. suber) (4). De grande longevidade, podendo atingir centenas de anos de idade, a azinheira é originária da Bacia do Mediterrâneo, e encontra-se por todo o interior de Portugal, principalmente no Alentejo. Os bosques que já terão ocupado o território são agora raros e a azinheira encontra-se quase exclusivamente confinada a sistemas agro-silvo-pastoris (montados), onde as árvores são podadas dando-lhes uma forma aplanada na copa. Por isso é cada vez mais raro poder- mos observar indivíduos com o porte deste exemplar. Por não dar rendimentos directos de relevância económica, esta espécie tem conhecido um decréscimo populacional, verificando-se mudanças culturais, passando-se de sistemas de sequeiro para sistemas de regadio, alterando-se a paisagem e perdendo-se riqueza natural. Os principais usos do montado de azinho são a produção de bolota para alimento de porcos de montanheira, de raça preta; na alimentação humana (bolotas assadas ou confecção de farinhas), embora já com pouca expressão; e carvão, lenha e agricultura extensiva. Numa perspectiva sustentável de gestão florestal, começa-se agora a diversificar os usos, como por exemplo, com a produção de mel e cogumelos. Também conhecido por carvalho-roble, o carvalho-alvarinho é a grande árvore dos bosques de caducifólias (de folha caduca) do Norte da Europa e de Portugal, embora com uma distribuição já muito fragmenta- 169

GUIA DOS PARQUES, JARDINS E GEOMONUMENTOS DE LISBOA HISTÓRIA O PARQUE BENSAÚDE integrava-se originalmente na Quinta de Santo António das Frechas, cujo palácio remonta, nas suas características arquitectónicas, à segunda metade do século XVIII. Depois de pertencer à Ordem Franciscana Secular, e depois a Constantino José de Brito, em 1906 a propriedade já se encontrava na posse da família Bensaúde (Walter Bensaúde), compreendendo uma área total de 94.452 metros quadrados. Em 1820, a família Bensaúde iniciou a sua actividade comercial nos Açores como importadora e distribuidora de têxteis originários do Reino Unido e como exportadora de cereais e laranjas, dando origem a um grupo de empresas que manteve desde então. Ao longo das décadas que se seguiram, a família Bensaúde encontrou-se associada a projectos inovadores de cariz agro-industrial, a par de investimentos na área financeira e industrial que impulsionaram a integração dos Açores na economia continental. Com a sua expansão comercial e financeira, a família Bensaúde veio a adquirir algumas propriedades em Lisboa, como a Quinta de Santo António das Frechas, cujo palacete viria desde então a ser conhecido por Palácio de Bensaúde, tendo ficado na sua posse até finais dos anos 70 do século XX. Será contudo com Vasco Elias Bensaúde (1896-1967), que a quinta, e particularmente o palácio, virão a receber obras de remodelação e ampliação, tendo para o efeito chamado o arquitecto Raul Lino (1879-1974) para a elaboração de um projecto de remodelação da fachada e dos seus espaços interiores e exteriores (1921). A exemplo de outras propriedades, a quinta detém no seu plano formal e funcional as características que tipificam as denominadas quintas de recreio que ao longo dos séculos XVIII e XIX marcaram a paisagem de Benfica, com as suas casas apalaçadas, jardim formal contíguo à residência, integrando zonas de hortas, pomares, campos de semeadura e zona de mata, coexistindo as áreas de recreio e produção num mesmo espaço. Ramalho Ortigão (1836-1915) dá-nos um retrato eloquente da zona de Benfica e das suas quintas: «À antiga e amável povoação de Benfica ainda tine tão decaída hoje da alta importância que teve outrora no conceito caprichoso e inconstante da alta sociedade da capital, é ainda assim, no seu tanto, o recantinho suburbano de Lisboa que mais aproximada ideia nos sugere do que é para Roma o prestígio de Tivoli e de Frascati. Em nenhum outro lugar de Portugal, se exceptuarmos Sintra, se encontrarão reunidas em tão pequeno circuito tão lindas, tão históricas, tão anedóticas, tão saudosas quintas como as que encerra Benfica». Com a aquisição da quinta por parte da família Bensaúde, nos princípios do século XX, não obstante a manutenção das suas actividades produtivas agrícolas, proceder-se-ão a alterações no jardim contíguo ao palácio, alterando o seu desenho formal, composto por caixas de buxo, para introduzir árvores de grande porte de cariz exótico, dispostas livremente num amplo relvado subdividido em oito parcelas. A articulação com as zonas de cariz agrícola e de mata (actualmente integradas no Parque Bensáude) situadas a montante do palácio, era feita através de uma alameda flanqueada por plátanos, que ainda hoje preserva um troço integrado do parque. Paralelamente, nesta zona superior da propriedade, destaca-se um conjunto de três terraços escalonados, articulados por escadarias de inspiração classicista, axialmente alinhado com o palácio. Em 1979 a Direcção-Geral do Património adquire a Quinta de Santo António das Frechas, juntamente com a Quinta da Panasqueira ou do Ferrão e a Quinta dos Prostes ou Prestes. Concretizada a compra da propriedade à família Bensaúde, presentemente está ocupada por vários serviços do Ministério da Defesa e do Ministério da Saúde. Em 1997, a Direcção-Geral do Património formalizou a cedência do direito de superfície de uma parte significativa da propriedade, com cerca 3,5 hectares, à Câmara Municipal de Lisboa, com vista à sua adaptação para jardim público. Após a sua inauguração em 2003, o parque encerrou para proceder a várias remodelações. Após a sua reabertura ao público no Verão de 2006, viria, no entanto, a voltar a encerrar no mês de Outubro desse ano. Perante a insistência e o inconformismo dos muitos habitantes locais, reclamando a ausência de espaços verdes e de lazer para aquela zona, o Parque Bensaúde abriu finalmente ao público no Verão de 2008, tendo-se implementado o necessário reforço da segurança, promovendo-se a limpeza do coberto vegetal e à instalação de equipamentos de lazer e recreio, alguns de carácter provisório. 170

Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas da no país. Árvore de grande porte e longevidade (mais de 500 anos), remete-nos para o imaginário das florestas encantadas, habitadas por duendes e druidas. Formam ecossistemas de grande importância na preservação da biodiversidade. A sua dispersão está associada aos hábitos de certos animais, como o gaio e o esquilo, que armazenam as bolotas no solo para se alimentarem mais tarde, permitindo que algumas germinem em locais afastados da árvore mãe. O sobreiro, originário do Oeste da região mediterrânica, encontra-se em todo o território português, preferindo as regiões litorais a sul do Tejo. De grande valor comercial por causa da cortiça, apresenta também um enorme valor de conservação pelo ecossistema que forma. Chegou a formar frondosos bosques, encontrando-se actualmente confinado a estruturas agro-silvo-pastoris, denominadas de montado. A cortiça desempenha um papel ecológico importante para a árvore, protegendo-a da acção do fogo, de fumos e parasitas, podendo albergar comunidades de insectos e até dar abrigo ao morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Plátanos, cedros e pinheiros-mansos Este caminho cruza-se com outro ladeado por enormes plátanos (Platanus sp.) (5). Árvores comuns nos arruamentos, pertencem a um género que conta apenas com seis espécies, todas originárias do Hemisfério Norte. O Platanus orientalis é o único nativo da Europa, mas o que se encontra mais plantado é um híbrido desta espécie com uma outra norte-americana (P. occidentalis). Similares no seu aspecto, são árvores de grande porte, e com um crescimento rápido. As folhas caducas e a casca que se renova desprendendo-se em placas garantem que os poluentes são removidos mantendo a árvore saudável, característica que as torna resistentes à poluição urbana. As sementes ficam agrupadas em Uma colossal azinheira (Quercus rotundifolia), talvez a maior de Lisboa, marca bem a sua presença. bolas castanhas pendentes nos ramos durante o Inverno. Na Primavera desprendem-se e voam em todas as direcções. Para lá da linha de plátanos desenvolve-se um prado onde se destaca um cedro-dos-himalaias (Cedrus deodara) (6). É uma espécie nativa destas montanhas, do Afeganistão ao Nepal, onde é uma árvore venerada, o que lhe originou o epíteto deodara, latinização da palavra em sânscrito devadara, que significa madeira dos deuses. Pode alcançar os 50 m de altura, desenvolvendo troncos até aos três metros de diâmetro. A madeira é resistente, durável e muito perfumada, e como tem uma forte associação religiosa é utilizada na construção de templos, mas também nos caminhos-de-ferro e pontes. Subindo um pouco podemos observar alguns exemplares de cedros-do-buçaco (Cupressus lusitanica) (7). O seu nome é motivo de alguma controvérsia por induzir a erro 171

GUIA DOS PARQU E S, JA R D I N S E G E O M O N U M E N TO S D E L I S B OA Um dos caminhos do parque é ladeado por enormes plátanos (Platanus sp.), despidos no Inverno mas proporcionando óptimas sombras na Primavera e no Verão. quanto à sua origem. O seu classificador, o botânico inglês Philip Miller, deu-lhe o epíteto lusitanica, por pensar que a sua proveniência era de Portugal, onde este cipreste foi introduzido no século XVII no Buçaco, trazido do México, sua verdadeira origem. O nome comum acarreta mais dois erros: não é um cedro, por não ser do género Cedrus, nem, como já vimos, é do Buçaco. Esta confusão entre Cedrus e Cupressus é comum, mas pertencem realmente a famílias distintas, à Pinaceae e à Cupressaceae, respectivamente. Os primeiros apresentam folhas em forma de agulhas, como os pinheiros, e os segundos em forma de escamas. No alto do jardim sobressaem as silhuetas dos pinheiros-mansos (Pinus pinea) (8). São árvores que podem chegar aos 30 m de altura, com uma copa larga e arredondada muito característica, que lhe deu o nome comum em inglês de umbrella-pine (pinheiro-chapéude-chuva). Encontra-se disseminado por toda a Bacia Mediterrânica. A sua copa singular confere-lhe um grande valor paisagístico, sendo também um bom refúgio de aves, mesmo em meios urbanos. É utilizado nas áreas litorais para contenção das areias e do vento. O pinhão, comestível e de grande valor económico, deulhe a designação comum de manso. A árvore precisa de cerca de 15 anos para frutificar e a maturação das sementes leva três anos. A árvore pode ultrapassar os 250 anos de longevidade. À esquerda dos pinheiros podemos observar um pequeno grupo de bordos (Acer campestre) (9). É uma árvore de pequeno porte, de folha caduca, originária da Europa e do Sudoeste asiático, surgindo como espontânea em Portugal. A sua principal atracção como ornamental é a coloração amarela das suas folhas no Outono. O famoso fabricante de instrumentos musicais, Antonio Stradivari, usou pela primeira vez a madeira do bordo na construção dos violinos. Passados mais de 270 anos da sua morte, boa parte destes violinos continuam a ser tocados e considerados dos melhores do mundo. 172

Parque Bensaúde / Quinta de Santo António das Frechas Nesta quinta cuja origem remonta ao século XVIII, a estatuária também está presente. MAPA S 3 7 6 5 2 4 3 4 9 3 2 8 1 wc 0 Rua Francisco Baía wc WC Cafetaria Restaurante Parque infantil 1 Bebedouro Estatuária Área de Merendas Espécies indicadas no texto 173 75 Metros