Senhoras e senhores boa noite, Recebi com muita alegria e distinta honra, o convite para, em nome do Senado Federal, participar deste importante encontro nacional de juízes estaduais. Com o gesto de deixar minhas atribuições e afazeres para estar aqui neste evento, desejo demonstrar meu profundo respeito ao Poder Judiciário. Em fase das injunções do mundo atual, oriundos do fenômeno da globalização e pelas seguidas alterações do contexto político e econômico, não deve haver, jamais, contradições insanáveis entre a intervenção do Estado e a liberdade dos direitos individuais. O Estado brasileiro passou por profundas modificações nas últimas décadas em seu perfil econômico, social, cultural e político. Contudo, hoje ainda busca consolidar seu papel de emergente junto à comunidade internacional.
O Brasil atingiu maturidade relativa de sua democracia. Mas não podemos descuidar. Percebemos em todo o mundo, e também nos países vizinhos, constantes movimentos autoritários, por diversas vezes camuflados em falsas premissas democráticas, com resultados lastimáveis para a maioria da população. Ainda somos carentes de profundas reformas: fiscal, previdenciária, eleitoral, apenas para dar alguns exemplos. Ainda estamos muito longe de atingir a plenitude das aspirações de cada cidadão! Não podemos, no entanto, desprezar os avanços conquistados, tampouco esquecer o principal objetivo do poder público que `e promover o bem estar do cidadão brasileiro. Vejo com preocupação o desmantelamento social que começa no seio das famílias e atinge toda a sociedade, nos mais diversos níveis sociais. Os resultados são exclusões grotescas com duras consequências, que a mídia retrata diariamente.
São conflitos que, muitas vezes, demandam um posicionamento do Estado por meio da magistratura. A defesa dos direitos do cidadão, das garantias e liberdades individuais, deve ser a busca máxima da República e da democracia de nosso País. E isso, só será possível com um judiciário forte e independente. Foi com a convicção de que um poder judiciário autônomo, forte e independente, corresponde a base segura da democracia, que me propus a ser o relator da Proposta de Emenda Constitucional numero 53, que em resumo, ao meu ver, colocaria em cheque uma das cláusulas pétreas da Constituição Federal: a garantia constitucional da vitaliciedade dos juízes brasileiros. Pela semelhança do tema, e como na última reforma do Judiciário já havia tratamento isonômico entre magistratura e ministério público,
aceitei também a relatoria da Proposta de Emenda Constitucional número 75. Tanto a PEC 53, quanto a PEC 75, do modo como apresentadas, permitiam ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Nacional do ministério público, demitir administrativamente, o magistrado ou ainda, o procurador ou promotor de justiça, sem que houvesse sentença transitada em julgado. A mim, soava como intimidação aos magistrados e uma ameaça real aos guardiões da democracia brasileira. Assim, dentro do espirito que nos rege de buscar o dialogo e com o senso de dever cívico, procuramos ouvir a todos os envolvidos, e ouvimos muito. Entendemos que no respeito às diferenças, se promove a igualdade. Máxima esta da democracia e que não deve ser apenas retórica.
Assim, não nos furtamos em atender ás diversas instituições e associações representativas que nos procuraram, cada uma com suas razões e posicionamento. Sempre nos pautando com a máxima transparência nas discussões, ações e propósitos. Aqueles, que a exemplo do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, desembargador Nelson Calandra, acompanharam todo o processo de construção de um texto substitutivo, viram que não foi uma tarefa fácil. Grande foi o esforço para aprimorar a legislação atual e atender ao clamor no Congresso Nacional. Foram inúmeras reuniões técnicas, com representantes da magistratura e do ministério público. Vários embates e discussões acaloradas de nossa equipe técnica, com assessores de colegas senadores, e por fim, a reunião de líderes, onde os senadores tiveram a sensibilidade de entender, o risco que corria o Estado democrático de direito.
A situação exigia uma solução responsável, equilibrada e serena sobre o tema. Por fim, chegou-se a um texto que mantém a garantia da vitaliciedade, trazendo algumas inovações que apenas estabelecem etapas e conferem celeridade ao procedimento. Mas o maior ganho em todo processo foi o entendimento construído, a consciência de que é preciso dar garantias funcionais e segurança, para aqueles que têm a nobre missão de fazer cumprir a lei e distribuir justiça, doa a quem doer. Sabemos que existe a necessidade urgente de modernizar o funcionamento do judiciário. Torná-lo mais ágil e acessível, humaniza-lo, abrindo canais de comunicação com a sociedade. O Brasil sofre com a falta de transparência do Judiciário e seus métodos antiquados. O Arcabouço jurídico brasileiro ultrapassado, dificulta a verdadeira aplicação da justiça.
Entendimentos diversos, muitas vezes conflitantes, em casos semelhantes, acabam por assoberbar os escaninhos já lotados da justiça, e geram intranquilidade jurídica desnecessária. Os juízes passam longo período administrando a burocracia. Faltam condições adequadas de trabalho. Mas não basta simplesmente, apontar a falta de recursos financeiros e carência de pessoal como os responsáveis pelas dificuldades. É necessário uma avaliação profunda. Muito precisa ser feito! O momento exige medidas céleres, na busca de uma gestão pública mais eficiente, com tecnologia e procedimentos transparentes. Exige um Poder Judiciário atuante, justo e que garanta aos seus membros, a segurança funcional de universalizar a justiça ao revés dos diversos interesses. Não há nação desenvolvida sem um judiciário forte. Sua importância `e notória em todos os ambientes que envolvem a vida em sociedade.
No mundo dos negócios por exemplo, atualmente, com a globalização derrubando as barreiras fronteiriças, um ambiente com segurança jurídica faz-se imprescindível na captação de recursos internacionais e investimentos importantes para o País. Aos magistrados compete ainda essa missão, de zelar pela ordem e validade dos contratos e das decisões tomadas pelos governantes no passado, sem interferência politica futura. A minha experiência como governador de Mato Grosso por dois mandatos, me mostrou que, por diversas vezes, o magistrado atua como arbitro das demandas represadas pelo próprio Estado, Como pacificador naquelas em que o respaldo judicial faz-se imprescindível para atuação estatal, E como propulsor em situações onde o próprio ente federado tem duvidas quanto ao limite de sua atuação.
É inegável, no Estado democrático de direito, a importância do magistrado, da sua atuação responsável e equilibrada, consciente de seu papel de aplicador da lei, sem que pressões externas ou ameaças, lhe tirem o direito de decidir de acordo com sua consciência e convicções, atendendo apenas aos imperativos da legislação brasileira. Quero aqui externar minha preocupação com os diversos projetos que tramitam no Congresso Nacional, em especial, os que se referem a promoção da Justiça. Por exemplo a PEC 31, que altera a composição dos Tribunais Regionais Eleitorais, entendo, deve ser amplamente discutida. Qualquer encaminhamento deve ser feito, no sentido de aproximar a justiça do cidadão, atendendo os reais interesses da sociedade. Não podemos desconsiderar a capilaridade da justiça estadual e o fato do magistrado estadual conhecer bem a realidade sociocultural e politica, mesmo dos municípios menores e mais distantes dos grandes centros.
Devemos a todo custo, evitar que os casuísmos atentem contra a nossa ainda jovem democracia. Mais oportuno seria, uma ampla reforma politica. Para finalizar, quero ressaltar que os poderes constituídos: executivo, legislativo e judiciário devem ser harmônicos, mas principalmente independentes. Se a República Brasileira pretende construir uma sociedade justa e solidaria, Se pretende manter a paz social e o progresso, Se quer uma sociedade livre e um ambiente democrático, `E imperativo valorizar a magistratura nacional. Meu muito obrigado!!!!