A MORTE NA PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

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Transcrição:

A MORTE NA PERSPECTIVA DE PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA CHUISTA, I. T. N.; SILVA, V. A. RESUMO Objetivo: Conhecer a perspectiva de profissionais da enfermagem que atuam em uma UTI, em relação a morte. Método: Trata-se de um estudo descritivoexploratório, com abordagem qualitativa. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Bardin. Resultados: Foram entrevistados 23 profissionais da enfermagem. A análise dos discursos resultou em sete categorias temáticas. Considerações finais: Alguns profissionais adotam estratégias de defesa ou enfrentamento para aliviar ou evitar o sofrimento. Palavras-Chaves: Atitude frente à morte, Unidade de terapia intensiva, Equipe de enfermagem. ABSTRACT Objective: To know the perspective of nursing professionals who work in an ICU in relation to death. Method: This is a descriptive-exploratory study with a qualitative approach. The data were submitted to Bardin content analysis. Results: Twenty-three nursing professionals were interviewed. Discourse analysis resulted in seven thematic categories. Final considerations: Some professionals adopt coping or coping strategies to alleviate or avoid suffering. Key Words: Attitude to death, Intensive care units, Nursing, team. INTRODUÇÃO A morte e o processo de morrer são assuntos que afligem a maioria das pessoas. Ninguém passa ileso do fim inevitável. No entanto, é preciso compreender que nascimento e morte são processos igualmente naturais, ou seja, o ser humano nasce, cresce, amadurece, envelhece e morre. Porém, no sentido religioso, a morte e o processo de morrer são objetos de crenças,

filosofias e ritos específicos, que podem expor o insensato, em razão das discordâncias entre os diversos conceitos e credos (VICENSI, 2016). Quando o risco de morte é decorrente de doenças ou acidentes em que o paciente permanece dias ou meses dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com auxílio de medicações, aparelhos e atendimento ininterrupto, a iminência ou possibilidade da morte se propaga com maior complexidade entre os profissionais da saúde, por mais experientes que sejam em lidar com esses enfrentamentos. Deste modo, a UTI provavelmente seja o melhor cenário para se ter o conhecimento esclarecido do processo de morrer e suas implicações na relação entre o profissional de saúde, pacientes e familiares (VICENSI, 2016). Nessa perspectiva, a morte constitui um fenômeno presente no dia a dia da vida de um profissional de saúde que trabalha e se dedica na assistência em uma UTI (ANJOS; RAMOS; AQUINO et al., 2010). Logo, a UTI representa um ambiente hospitalar muito complexo, com assistência médica e de enfermagem em período integral, onde os profissionais da saúde podem usufruir de seus recursos tecnológicos, o que exige, cada vez mais, paciência e conhecimento, devido ao seu alto grau de complexidade para oferecer melhores possibilidades de tratamento, recuperação ou cura desse paciente (VIANA; VARGAS; CARMAGNANI et al., 2014). Nesse contexto, o profissional de enfermagem se depara com a morte de um paciente, aumenta a sua ansiedade em relação ao enfrentamento do processo de morte e morrer. Isso, por vezes, implica na banalização do processo, e a morte passa a ser encarada com medo e preconceito, gerando angústia e desânimo diante da inabilidade em lidar com as estratégias de enfrentamento (FERNANDES; FERNANDES; ALBUQUERQUE et al., 2006). OBJETIVO Conhecer a perspectiva de profissionais da enfermagem que atuam em uma UTI, em relação a morte MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa, realizado em um hospital de médio porte situado em uma cidade do norte do Paraná. Os critérios de inclusão foram: ser enfermeiro ou técnico em enfermagem da UTI do referido hospital; atuar em UTI há pelo menos seis meses. Para a exclusão de participantes foram adotados os seguintes critérios: estar de licença maternidade e/ou doença; estar de férias. Os dados foram coletados no período de 07 a 09 de agosto de 2017, por meio de um formulário sociodemográfico e um roteiro de entrevistas. Enfatiza-se que as entrevistas foram gravadas e transcritas na integrada. Os dados serão submetidos à análise de conteúdo, que constitui um conjunto de técnicas que dispõe de processos sistemáticos, com a intenção de descrever o conteúdo das falas, subsidiando o conhecimento das palavras e seus sentidos (BARDIN, 2008). Ressalta-se que o projeto de pesquisa de pesquisa foi submetido à análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CETi) da Faculdade de Apucarana (FAP), Parecer nº 2.199.049, CAAE; 70610617.1.0000.5216, após autorização da Instituição Hospitalar. RESULTADOS Dos 28 profissionais que integram a equipe de enfermagem da referida Unidade de Terapia Intensiva, dois se encontravam em licença saúde, dois tinham menos de seis meses de experiência no setor, e um estava em férias. Portanto, 23 profissionais participaram do estudo. Destes, 18 (78,3%) são do sexo feminino; 11 (47,8%) são solteiros; 12 (52,2%) são católicos 17 (73,9%) são técnicos em enfermagem; 17 (73,9%) possuem o ensino médio; 12 (52,2%) trabalham 6 horas/dia; e 15 (65,2%) não possuem outro emprego. O processo de análise dos dados resultou em oito categorias temáticas: - Sentindo-se despreparados para lidar com a morte e o morrer: Lidar com a morte, a gente nunca está preparado, não é? Preparada, preparada, eu não estou, mas eu tento dar o meu melhor. Tagete - Sentindo-se preparados para lidar com a morte e o morrer: Eu me sinto, porque [...] não tem o que fazer, entendeu? Você cuidou, você sabe que você fez o seu melhor para cuidar. Cravina

- Sentindo-se indiferente diante da morte e o morrer: Eu me sinto, porque [...] não tem o que fazer, entendeu? Você cuidou, você sabe que você fez o seu melhor para cuidar. Cravina - Enfrentando o sentimento de impotência: Muito mal, muito triste. Porque você faz de tudo o que está ao seu alcance... Envolve muitas pessoas... Mas, é triste quando a gente não consegue salvar (a vida do paciente). Tagete - Sofrendo com a morte de pacientes jovens: Agora, se for uma criança. [...] Eu nem consigo trabalhar com criança. Porque criança, para mim, é difícil. Margarida - Sentindo-se aliviados com a morte de pacientes em cuidados paliativos: Depende do paciente [...] Ah! Os idosos, eu acho que é um sofrimento estar aqui. Eu acho que para eles é um alívio. Camélia - Sentindo-se solidário diante da dor da família: Depois de algum tempo, dói, claro que dói [...] não mais por causa do paciente, mas porque você sabe que a família vai sofrer e às vezes você se coloca no lugar da família. Cravina - Expressando espiritualidade diante da iminência de morte: Mas, a gente tenta todos os dias, entrega na mão de Deus (suspiro), e pede para Ele fazer a parte Dele, e a gente a nossa, e vamos tentando. Tagete CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados evidenciam que embora os profissionais da enfermagem trabalhem em uma UTI há algum tempo, muitos reconhecem que falar sobre a morte é muito difícil e doloroso. Deste modo, muitas vezes adotam a negação ou fuga, como estratégia de defesa para o alívio das constantes mortes que presenciam no setor. Embora a morte faça parte do seu cotidiano de trabalho, alguns profissionais não a veem com naturalidade. Por outro lado, existem aqueles profissionais que optam por não criar vínculos com os pacientes. Esta atitude pode ser compreendida como uma estratégia de enfrentamento usada com a finalidade de evitar a dor e o sofrimento. Houve também quem confessasse sentir alívio com a morte do paciente, pois compreende o evento como o fim do sofrimento para o paciente, a família e até mesmo para si.

Ainda sobre a questão do preparo para lidar com o processo de morte e morrer e as estratégias de enfrentamento, evidencia-se que a religiosidade/espiritualidade representa uma aliada para os profissionais da enfermagem, pois dessa forma reúnem forças para encarar a situação de maneira menos traumática, aliviando a dor, a angústia e o sofrimento sentidos. REFERÊNCIAS ANJOS, Elizabeth Sabino dos; RAMOS, Dyana Carneiro; AQUINO, Fernanda Martins de; COSTA, Rita Maria Araujo; PINHEIRO, Vanessa. O profissional de enfermagem e vivencia da morte no contexto da terapia intensiva. Revista de Pesquisa: Cuidado é fundamental; v. 2, n. ed supl., p. 280-3, 2010. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2008. FERNANDES, Maria Edilene Nunes; FERNANDES, Ana Fatima Carvalho; ALBUQUERQUE, Ana Lucia Pereira de; MOTA, Maria Lurdemiller Sabóia. A morte em unidade de terapia intensiva: Percepções do Enfermeiro. Revista Rene, Ceará, v. 7, n.1, p. 43-51, abr. 2006. VIANA, Renata Andrea Pietro Pereira; VARGAS, Mara Ambrosina de Oliveira; CARMAGNANI, Maria Isabel Sampaio; TANAKA, Luiza Himori; LUZ, Kely Regina da; SCHMITT, Pablo Henrique. Perfil do enfermeiro de terapia intensiva em diferentes regiões do Brasil. Texto contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 151-159, Mar. 2014. VICENSI, Maria do Carmo. Reflexão sobre a morte e o morrer na UTI: a perspectiva do profissional. Revista Bioética, Brasília, v. 24, n. 1, p. 64-72, abr. 2016.