Pâncreas endócrino. Regulação do metabolismo orgânico e do balanço energético

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Células A (25%) Glucagon Células B (60%) Insulina Células D (10%) Somatostatina Células F ou PP (5%) Polipeptídeo Pancreático 1-2 milhões de ilhotas

café da manhã almoço lanche da tarde jantar sono noturno fase catabólica fase anabólica

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Transcrição:

Pâncreas endócrino Regulação do metabolismo orgânico e do balanço energético

Esquema global do metabolismo energético

Anabolismo x catabolismo

Fluxo das vias energéticas

* * * Via global da produção de energia * ATP

+ NAPH

*

Pâncreas (endócrino) Glândula mista 1869 Paul Langerhans grupos celulares fora dos ácinos e dutos 1886 von Mering e Minkowiski diabete experimental em cães 1923 Banting e Best isolamento e caracterização da insulina (Nobel) 1920/1930 Cristalização da insulina produção comercial 1955 Sanger e Hodgkin - elucidação da estrutura da insulina 1959 - radioimunoensaio (Yalow e Benson) Esforços no estudo da insulina contribuição para o conhecimento do Diabete Mellitus DM sobrevivência de pacientes por reposição hormonal 2ª metade do século XX aumento notável da incidência de DM e síndromes metabólicas) Insulina ainda muita estudada - importância na regulação da homeostase do meio interno e relação com doenças de alta prevalência

Pâncreas endócrino Ilhotas de Langerhans Localização / Divisão Porção endócrina 2% (1-2 milhões no homem) Origem e diferenciação - 4ª a 7ª semanas de desenvolvimento

Tipos celulares * Amilina e pancreastatina Co-secreção das células β *

Aproximação anatômica (evidência de secreção integrada) Células β e α Gap junctions Tigh junctions

Secreção integrada

Inervação simpático e parassimpático PS Insulina + Glucagon - S PS S Insulina - Glucagon +

Insulina Super família de peptídeos (IGF, NGF, relaxina) Proinsulina humana

Estrutura química da insulina

Principais estímulos para a secreção de insulina GLICOSE PLASMA AMINOÁCIDOS PLASMA AGLs / CETOÁC PLASMA HORMÔNIOS (CORT, GIP, GLP-1) NERVOS PARASSIMPÁTICOS VAGO (Ach) + + + + + CÉLULAS BETA Nutricionais Hormonais Neurais INSULINA

Regulação da secreção da insulina

Secreção rítmica da insulina

Ações fisiológicas da insulina Reduz a glicose circulante; Estimula a glicogênese e inibe a gliconeogênese; Promove a lipogênese e inibe a lipólise; Aumenta a síntese de proteína e inibe o catabolismo proteico. ANABOLISMO / ANTICATABOLISMO

Mecanismo de ação da insulina

Mecanismo de ação da insulina

Transporte de glicose Fígado (não depende de insulina) Ação da insulina no fígado se concentra no controle da produção e atividade enzimática Músculo e adipócitos (GLUTs dependentes)

Difusão facilitada de glicose

Identificadas, até o momento, 14 proteínas envolvidas na difusão facilitada da glicose (GLUTS) v

SGLT1 sodium-dependent unidirectional transporter

Ação global da insulina no fluxo de nutrientes INSULINA Fígado UTILIZAÇÃO DA GLICOSE SÍNTESE DE GLICOGÊNIO SÍNTESE DE TRIGLICERÍDEOS Músculo UTILIZAÇÃO DA GLICOSE SÍNTESE DE GLICOGÊNIO SÍNTESE DE PROTEINA Adipócitos UTILIZAÇÃO DE GLICOSE SÍNTESE DE TRIGLICERÍDEOS

Ação global da insulina no fluxo de nutrientes

Estado absortivo insulina

Estado pós-absortivo insulina

Formação de corpos cetônicos e exportação do fígado

Enzimas inibidas pela insulina Ativadas durante o jejum

Eventos chave em resposta à insulina

Fígado Insulina + Insulina -

Fígado

Adipócito

Tipos de DM 1. falência 1 aria da função pancreática 10% (doença autoimune, trauma, etc) 2. resistência a insulina (eventos ligados a funcionamento de receptor ou eventos pósreceptor)

Outras ações da insulina Crescimento Reprodução

Insulina x crescimento em peixes Urbinati, E.C.

Pacu Insulina x reprodução Urbinati et al. (1997)

Glucagon Super família de peptídeos (TGI VIP, GIP, enteroglucagon ou glicentina) PM 3450, 1 cadeia de 29 AA. Aquisição posterior a insulina na escala zoológica Descoberta mais recente

Síntese do glucagon

PLASMA GLICOSE - Ações fisiológicas do glucagon Células alfa SECREÇÃO GLUCAGON PLASMA GLUCAGON Fígado GLICOGENÓLISE GLICONEOGÊNESE CETOGÊNESE GLICOSE CETONAS PLASMA

GLUCAGON x INSULINA

Balanço entre insulina e glucagon Estado anabólico

Estado catabólico

3 dias de restrição alimentar

Metabolismo energético e controle hormonal em aves Se em mamíferos monogástricos, o metabolismo de carboidratos é finamente regulado por interações do sistema endócrino, tendo a insulina papel principal, as aves exibem uma homeostase glicêmica única. 1º - a glicemia é duas vezes mais elevada e a hiperglicemia começa durante o desenvolvimento embrionário em frangos. 2º - músculo e tecido adiposo de frangos tem resposta baixa a insulina na vida adulta, a despeito da insulina apresentar concentrações normais e estes animais apresentarem as vias de sinalização aparentemente funcionais e conservadas. A responsividade dos tecidos ao hormônio parece diminuir com o crescimento.

Em relação a mamíferos monogástricos, o conhecimento da sinalização da insulina em aves ainda é incompleto Em mamíferos, o tecido adiposo tem papel crucial na homeostase energética pela liberação de diversas proteínas que sinalizam o status dos estoques energéticos ao cérebro e tecidos periféricos. Além disso, modula funções como a glicose, o metabolismo intermediário e a sensibilidade tecidual a insulina. Frangos também apresentam excesso de gordura, mas o metabolismo lipídico em aves apresenta peculiaridades. Se, em roedores, a lipogênese ocorre tanto no tecido adiposo quanto no fígado, em galinhas a lipogênese ocorre essencialmente no fígado. A deposição da gordura se dá pelo uptake de VLDL do fígado. As enzimas lipogênicas tem baixa atividade o tecido adiposo. A lipólise é regulada quase que exclusivamente pelo glucagon (não adrenalina). Insulina não apresenta efeito antilipolítico, mas sim PP, somatostatina e GGL (gut glucagon like). Efeitos da insulina no transporte e oxidação da glicose nos adipócitos (se existe) se restringe a preparações celulares. Componentes do sistema de receptor e via intracelular de sinalização foram caracterizados em fígado e músculo de galinha em diversas situações fisiológicas experimentais. No músculo, parte da via não foi afetada por qualquer situação experimental. Apesar da refratariedade de alguns passos da sinalização da insulina, outros foram altamente sensíveis.

Metabolismo energético e controle hormonal em ruminantes Metabolismo energético peculiar Fermentação bacteriana dos carboidratos manutenção da glicemia e atendimento energético dos tecidos. Absorção de CHO dietético (hexoses) baixa, mas alta produção hepática - produção de glicose baseada em substratos como AGV e aminoácidos (50% vem do propionato: - oxalacetato). CHO dietético (solúvel ou insolúvel) fermentação ácido acético, ácido butírico e ácido propiônico Metabolismo nos ruminantes é gliconeogênico na maior parte do tempo. Síntese de lipídeos (AG) é feita a partir de acetato (ativação de acetil-coa Balanço hormonal semelhante ao de mamíferos monogástricos