Liquidez Bancária: Breve Comparações DEBATES ABDE Rio de Janeiro, 15/06/2016 (revisada)
Teses ü Liquidez bancária pode ter várias medidas, mas sempre focando na disponibilidade imediata de ativos. ü Além dos depósitos no próprio caixa em si, o mais comum é que tais ativos sejam aplicados, direta ou indiretamente, em títulos governamentais (inclusive através de operações compromissadas), que possam ser rapidamente convertidos em disponibilidade ou, de livre negociação, ser facilmente transferidos para terceiros. Essa tendência é ainda mais acentuada no Brasil. ü Bancos de desenvolvimento também apresentam em termos de liquidez peculiaridades em relação aos bancos comerciais tradicionais, o que reforça a importância da política financeira para seus negócios a concessão de empréstimos para projetos de investimentos requerem normalmente uma programação de liberações, até de médio e longo prazo, não sendo desembolsados de uma só vez como em crédito para capital de giro; o retorno daqueles financiamentos também se dá em prazo longo; natural que ambos busquem ganhos nas operações de tesouraria, mas deveria ser visto como complementar para um banco de desenvolvimento ao contrário de um banco comercial que pode ter nessa sua principal atividade ou objetivo
Conceitos ü Na contabilidade bancária comum, a liquidez compreende as seguintes contas: Disponibilidades financeiras Aplicações interfinanceiras (inclusive operações compromissadas) Títulos públicos ü Além da mensuração em valores absolutos, uma medida relativa comum é comparar o agregado de valores em relação ao total do ativo dos bancos. ü Para comparações, informações podem ser extraídas dos demonstrativos contábeis e financeiros das respectivas instituições financeiras e também, no caso das nacionais, de suas consolidações realizadas pelo Banco Central do Brasil.
Apuração pelo BNDES Divulgação pelo BNDES em seu portal de Indicadores Financeiros comparados entre bancos: http://bit.ly/1xe1umu * Fontes: relatório Bacen IF.data (Dados Selecionados de Entidades Supervisionadas) e Demonstrações Financeiras publicadas das instituições. 1 Média dos quatro maiores bancos nacionais por Ativos Totais 2 Bancos de Desenvolvimento Internacionais: BID, BIRD, CDB e EIB. Os saldos referentes ao Balanço Patrimonial foram convertidos para Reais pela taxa de câmbio do final do período; e os saldos de resultado, pela taxa de câmbio média. Subsidiárias não incluídas 3 Dados do exercício encerrado em 31/12/2015, à exceção dos dados relativos ao BIRD, que se referem a 30/06/2015, e ao CDB, que se referem a 31/12/2014. 6 Os valores das Disponibilidades e Aplicações Interfinanceiras dos Bancos Nacionais tem como fonte direta o Relatório Bacen - IF.data (Dados Selecionados de Entidades Supervisionadas). Os Títulos Públicos Federais (valor de mercado dos títulos disponíveis para venda) dos Bancos Nacionais e os valores dos Bancos de Desenvolvimento Internacionais são extraídos das Notas Explicativasàs Demonstrações Financeiras publicadas das instituições.
BNDES comparado em 2015
Liquidez Comparada Liquidez - dez. de 2015 BNDES BB CEF ITAU BRADESCO BIRD BID KFW CDB* EIB Disponibilidades, Aplicações Interfinanceiras e Títulos Públicos Federais / Ativo Total (%) 12.7% 30.5% 26.2% 25.9% 38.8% 7.3% 20.9% 0.1% 18.6% 8.5% * Variação do CDB calculada com base em dados de 2014. Bancos internacionais: - Agênciasmultilaterais: Banco Mundial (BIRD), Banco Interamericano (BID), Eurasia (EIB) - Nacionais: banco chinês (CDB) e alemão (KFW) - cujo índice é atípico (talvez por alguma relação especial com o respectivo tesouro) Fontes de informações: - Banco Central do Brasil (instituições brasileiras) e balanços dos respectivos bancos internacionais
Liquidez Comparada
Liquidez Comparada Disponibilidade, Aplicações Interfinanceiras e TPFs / Ativo Total (%)
Avaliação Preliminar ü Pelos indicadores apurados e divulgados pelo próprio BNDES, em seu portal de transparência, comparativamente a outras grandes instituições financeiras, ao final de 2015, não parece haver anormalidade em sua liquidez. ü Como esperado e já comentado, a razão entre liquidez/ativos do BNDES estava: próxima (pouco aquém) da média de amostra de bancos de desenvolvimento internacionais mal passava de 40% da média de amostra dos maiores bancos brasileiros, entre privados e estatais ü Esse diferencial entre tipos de bancos reflete que bancos de desenvolvimento não precisam ter tanta liquidez (seja para servir suas linhas de crédito, seja para lucrar) como um banco comercial tradicional. ü Estas primeiras evidências não corroboram a tese recentemente levantada de que haveria um excesso de colchão de liquidez no BNDES, inclusive por conta dos aportes bilionários que recebeu do Tesouro Nacional nos últimos anos (aliás, se chegou a supor que os títulos usados para tal suporte ainda estariam sendo acumulados no ativo do banco e assim explicando aquele suposto excesso). ü É interessante detalhar mais a dimensão e, ainda, a evolução das contas das instituições aqui citadas para aprofundar a análise comparativa.
Contribuição Fiscal do BNDES Efeito Competência (a preços médios de 2015) 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Dividendos 13,78 11,33 9,63 8,81 7,42 3,34 Tributos 7,50 5,97 4,30 6,17 7,09 6,88 Serviço da Dívida - FAT 9,87 10,15 10,15 9,32 9,59 11,52 Serviço da Dívida - Tesouro Nacional 20,52 24,62 26,18 25,05 24,52 31,85 Total 51,67 52,07 50,25 49,35 48,63 53,59 Efeito Competência (a preços médios de 2015) 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Dividendos 12,06 8,95 15,93 8,12 9,90 4,97 Tributos 7,53 2,53 5,55 5,45 6,31 5,67 Serviço da Dívida - FAT 9,51 9,53 10,07 9,04 9,27 9,71 Serviço da Dívida - Tesouro Nacional 14,42 18,93 16,40 16,59 7,51 24,67 Total 43,51 39,95 47,96 39,20 32,99 45,02
Capitalização Indicadores BNDES 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 31/12/07 31/12/08 31/12/09 31/12/10 31/12/11 31/12/12 31/12/13 31/12/14 31/12/15 Alavancagem 8,1 11,0 14,0 8,3 10,2 14,3 17,1 28,5 30,0 Índice de Basileia 26,73% 18,35% 17,46% 18,64% 20,60% 15,39% 18,73% 15,89% 14,74%
Alavancagem e Basiléia
PL e PR 2007 a 2015 Em milhões de R$ correntes Indicadores e Recursos próprios e Basileia 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 31/12/07 31/12/08 31/12/09 31/12/10 31/12/11 31/12/12 31/12/13 31/12/14 31/12/15 Patrimônio Líquido 24.923 25.267 27.628 65.899 61.012 49.993 45.626 30.737 30.993 Patrimônio de Referência (PR) 41.457 43.862 54.001 83.108 99.084 89.599 108.669 97.851 94.997 (+) Capital Nível I 24.589 26.261 31.537 41.770 51.849 48.633 72.446 65.234 63.331
Alavancagem e Basiléia
Avaliação Complementar ü Detalhamento das contas de liquidez comparadas entre instituições financeiras selecionadas e não apenas ao final de 2015, como desde 2011 (último ano de melhor desempenho da economia brasileira), confirmam e reforçam a tese de que não há anomalias no colchão de liquidez do BNDES, com peso relativo próximo ao de outros bancos de desenvolvimento que atuam no exterior, e com tamanho e desempenho claramente inferior aos demais grandes bancos brasileiros, inclusive os federais. ü A comparação internacional, ainda que afetada pelas mudanças cambiais e refletindo as dimensões absolutas diferenciadas (ex., Banco Mundial superior ao BID e EDB, chinês como maior do mundo), reforça o preceito de que bancos de desenvolvimento não precisam aplicar parcelas tão importantes de seu ativo em aplicações líquidas. ü Na comparação nacional, BNDES fica claramente atrás da liquidez observada nos demais grandes bancos nacionais: mesmo contando apenas os estatais, o dito colchão equivalia ao final de 2015 a apenas 35% ao do Banco do Brasil e 51% ao da Caixa Econômica; quatro anos antes, equivalia a 47% ao do BB e superava o da Caixa; foi o único em que a liquidez decresceu em termos reais entre 2011 e 2015, enquanto a de outros bancos nacionais chegou a disparar 70% no mesmo período; é natural que tamanho das disponibilidades imediatas do BNDES não precisem ser tão grandes quanto às dos demais bancos nacionais e comerciais, mas as suas aplicações em títulos públicos e em outros ativos líquidos não se mostram demasiado elevadas, com estratégias diferenciadas (ex., bancos privados que não carregam uma carteira de títulos tão pesada é porque apostam em liquidez extrema, inclusive operações compromissadas).
Colchão Comparado ü Na decomposição desse colchão por ativos, o BNDES pode até dispor de uma importante carteira de títulos públicos mas isso apenas reflete sua menor necessidade de liquidez imediata como a exigida de um banco comercial, mas, agregados todos ativos líquidos, o atual tamanho relativo do colchão do BNDES nem chega perto de metade do colchão médio dos grandes bancos nacionais. ü Em volume e em proporção do ativo, os ativos líquidos do BNDES eram claramente inferiores aos dos outros bancos, especialmente nacionais e estatais. o Como tal colchão do BNDES era maior que o da Caixa Econômica em 2011 e terminou equivalendo a apenas metade em 2015, sendo ambos bancos estatais e fornecedores de crédito de longo prazo, se pode argumentar que esse não foi um fenômeno que beneficiou apenas bancos privados e comerciais. ü Se há alguma gande anomalia na evolução recente nas contas financeiras do BNDES pode ter sido o único banco a ver encolher o seu patrimônio líquido, em termos nominais, nos últimos quatro anos, comparado aos maiores bancos.
Aportes Tesouro x Liquidez ü Uma hipótese para explicar porque maiores aportes do Tesouro coincidiram com redução do colchão de liquidez do BNDES é que aqueles recursos, quando não voltavam a própria fonte de origem (através de dividendos, tributos e compra de ativos, como ações da Petrobras), tinham sua aplicação condicionada pela União, inclusive com juros pré-fixados, inferiores até mesmo à TJSP, direcionamento setorial e as vezes até para giro vide Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI). Pelos motivos óbvios, nesses casos a demanda era imensa, quase infinita, de fácil e rápida concessão e desembolso. ü A lógica do PSI, o seu processo operacional e financeiro, eram razoavelmente diferentes do que valia para antigas e tradicionais operações do BNDES de fomento a investimentos, com enormes projetos e voltados para o prazo mais longo, de modo que da avaliação da consulta até o desembolsos de recursos, tudo se dá em ritmo mais lento e gradual.
Natural Anti-Liquidez ü O senso mais comum já permitiria inferir que recursos fartos, fáceis e baratos não teriam porque sobrarem acumulados no caixa do BNDES. A análise mais detalhada das contas do banco devem comprovar essa percepção. ü Não por outro motivo que no mesmo período em que mais o Tesouro aportou ao BNDES mais diminuiu e até tornou comparativamente mais curto o seu colchão de liquidez. Aliás, o mesmo efeito semelhante ao de sua capitalização (como indicado por seu patrimônio decrescente, em valores nominais, exatamente o oposto do termo usado pela mídia e alguns especialistas para os créditos extraordinários do Tesouro ao banco). ü Fora o impacto provável na liquidez do BNDES de medidas recentes, como o aumento da desvinculação da receita corrente do PIS/PASEP (-30% dos 40% arrecadados) e a certa renegociação (quando não, moratória) dos empréstimos para governos estaduais.
Desafios ü A proposta de antecipar os pagamentos pelo BNDES dos recursos devidos ao Tesouro por tais empréstimos exige uma análise muito cuidadosa, não apenas dos aspectos relativos à legislação relativa às responsabilidades fiscal e da administração pública e de suas companhias, como também dos possíveis efeitos sobre a saúde financeira e patrimonial da rara fonte de financiamento de longo prazo da economia. ü Não há dúvida de que se precisa reduzir o tamanho da dívida pública e o custo público de subsídios creditícios, mas não se deve fazer isso à custa de sacrificar o potencial de financiamento para investimentos e crescimento, caso isso reduza ainda mais a saúde financeira e patrimonial do BNDES. ü É preciso ter um diagnóstico bem preciso, que considere, antes de tudo, um adequado conhecimento do colchão de liquidez. Só depois, propor mudanças equilibradas e consistentes.
O Grande Desafio ü O desafio é muito maior do que parece à primeira vista. De pouco ou nada adiantará reduzir o tamanho da oferta de crédito pelo setor público e mesmo a dívida pública, se não aumentar o investimento privado. De nada adianta resgatar títulos em mercado, se o mesmo mercado optar por aplicar os recursos ora obtidos para preservar ou aumentar sua liquidez, como ao converter em mais operações compromissadas. ü É preciso assegurar que a redução do crédito público e da dívida pública coincida, ao mesmo tempo e ao menos na mesma proporção, com aumento da oferta de crédito privado para o investimento de longo prazo. E, agora, mais que isso, também resulte em incremento importante e sustentado da taxa de investimento que não se conseguiu nos últimos anos. ü Um desafio tão grande e complexo não parece ser possível de equacionar apenas ao antecipar pagamentos previstos em contratos de crédito, e isso se for possível legalmente.
José Roberto Afonso é economista e contabilista, doutor pela UNICAMP, pesquisador do IBRE/FGV e professor do programa de mestrado do IDP. Mais trabalhos, próprios e de terceiros, no portal: 21
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