VAZAMENTOS. De forma simples, o saxofone é um tubo cônico.



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Transcrição:

VAZAMENTOS Este tema, um dos mais importantes, é o que mais incomoda qualquer saxofonista. Mas antes de falar sobre o assunto e apesar de ser de conhecimento de muitos, vale trazer o conceito do funcionamento do saxofone. Não temos qualquer intenção em aprofundar a teoria de acústica neste artigo, que de certa forma é complexa se considerarmos o que de fato ocorre internamente a um instrumento de sopro comparado aos modelos matemáticos. De forma simples, o saxofone é um tubo cônico. Imaginem o tubo cônico abaixo sem qualquer furo. Quando o saxofonista emite ar para dentro do instrumento, ele na realidade provoca uma coluna de ar, que terá sua freqüência determinada em função do tamanho do tubo. Obs.: Freqüência é uma grandeza física associada aos movimentos ondulatórios e, traduzindo para a nossa sensibilidade, representa o quanto o som tende ao agudo (tubos curtos freqüências mais altas) e ao grave (tubos longos freqüências menores). A unidade utilizada é o Hertz (Hz), em homenagem ao físico Heinrich Hertz. Um número conhecidíssimo por todos é o Lá médio (central do piano) que possui 440 Hz. Se o tubo variar o seu comprimento, a freqüência também variará e o som, consequentemente, ficará mais agudo ou mais grave. Em outras palavras, para cada tamanho de tubo, há uma nota musical. Por exemplo, se o tubo for reduzido à metade, a sua freqüência também será a reduzida à metade e o som produzido será mais agudo. Mais agudo Por outro lado, se for aumentado ao dobro, sua freqüência também será duplicada. E o som será mais grave. Mais grave

Vamos agora, em vez de alterar o comprimento do tubo, colocar três furos em seu corpo que possam ser abertos ou fechados. Teremos a simulação de um tubo com quatro comprimentos distintos. As figuras a seguir explicam o efeito: 1 2 3 Tubo = ao de cima com todos os furos abertos Tubo = ao de cima com os furos 2 e 3 abertos Tubo = ao de cima com somente o furo 3 aberto Com certeza o leitor agora percebeu o funcionamento do saxofone: É um tubo cônico cheio de furos que abrem e fecham simulando tubos com comprimentos variados, ou seja, freqüências variadas correspondendo às notas musicais. O saxofone todo fechado (comprimento máximo do tubo), possui uma freqüência que representa a nota SI bemol grave. Se abrirmos esta mesma chave Bb, haverá um tubo um pouco menor, cuja frequência representa o SI grave. Se abrirmos o B grave, haverá a freqüência do Dó grave. Se abrirmos o C grave, haverá a freqüência do RÉ e assim sucessivamente. Ou seja, conforme as chaves são abertas, os tubos simulados diminuem, as freqüência aumentam e o sons mais agudos. Importante ter em mente que algumas distorções aparecem na regra acima, tais como, Dó# grave, F# médio, C agudo e outras notas, devido a algumas variações da coluna de ar em função das interferências dos próprios furos, comprimentos etc. Isto será mais bem explicado oportunamente em outro artigo. Toda esta explicação foi necessária para podemos agora falar sobre os vazamentos. É natural escutar: os meus graves não saem. Eles devem estar vazando. Vamos analisar esta afirmação. Já vimos que os graves são decorrentes de tubos longos, ou seja, praticamente todas as chaves fechadas. Imaginem um vazamento em uma das chaves dos agudos, como por exemplo o Ré, ou então um vazamento em uma das chaves dos médios, por exemplo o Sol#. O que acontecerá? Já percebemos que o tubo será interrompido, seja no seu topo (vazamento do D) seja no seu meio (vazamento do G#) e aquela nota grave não tem como ser emitida, pois o tubo correspondente (comprido) deixa de existir.

Podemos concluir então, que a afirmação de que os graves estão vazando não necessariamente é verdade. Na maioria dos casos, os vazamentos estão nos agudos. Ou seja, vazamentos em quaisquer chaves anteriores às notas desejadas provocarão alterações nos comprimentos dos tubos correspondentes, consequentemente, a notas desejadas não serão emitidas. Por outro lado, vazamentos iguais em chaves diferentes provocam efeitos também diferentes. Quanto mais perto do tudel o vazamento maior a sua influência na interrupção dos sons das notas mais graves. Exemplificando, um vazamento pequeno no Si agudo não permite as emissões dos graves. Já o mesmo vazamento no Ré médio não prejudica tanto os graves e muitas das vezes eles são emitidos. Para o Ré médio ter alguma influência no processo, a ponto da nota grave não sair, o seu vazamento deverá ser bem maior do que o do Si agudo. Este efeito decorre do fato de estarmos diante de um tubo cônico, onde próximo ao tudel o diâmetro (ou área da seção reta) é bem menor do que próximo à boca do sax. Assim, conforme caminhamos do tudel para a boca do sax (campana), os vazamentos para terem alguma influência relevante, deverão crescer praticamente na mesma proporção do crescimento do diâmetro do tubo. Importante também ter em mente, que dependendo do tamanho e local do vazamento, basta emitir o sopro com mais velocidade para superar os seus efeitos, o que não é desejado, pois além de não ser o correto, prejudica a afinação. É muito comum os saxofonistas com o tempo e às vezes inconscientemente, camuflarem os efeitos dos vazamentos aumentando cada vez mais a velocidade da coluna de ar, até chegarem a uma situação desconfortável, quando então procuram resolver os vazamentos existentes. Podemos resumir de forma aproximada os efeitos dos vazamentos considerando os seus tamanhos iguais para todas as chaves:

VAZAMENTOS CRÍTICOS: prejudicam totalmente as demais notas. VAZAMENTOS CRÍTICOS / MÉDIOS: Prejudicam em parte as notas médias e totalmente as notas graves. Os agudos não são afetados. VAZAMENTOS MÉDIOS: Prejudicam em em parte as notas médias e graves. Os agudos e os médios acima dos vazamentos não são afetados. VAZAMENTOS NÃO RELEVANTES: Prejudicam em parte as notas graves. Os agudos, médios e os graves acima dos vazamentos nãos ao afetados. CAUSAS DOS VAZAMENTOS 1) Folga entre tudel e corpo do sax: Apesar de não ser relativo a uma chave, esse vazamento interrompe o tubo logo no início, na região bastante crítica. É raro de acontecer e na maioria dos casos decorre de uma pancada na boca do tudel ou folga excessiva do seu encaixe no sax pelo próprio uso. Outra forma, menos freqüente, vem do vício em se pegar o sax pelo tudel, o que não é recomendado e com o tempo aparece uma folga no encaixe que nem o parafuso de aperto consegue resolver. Vazamento 2) Frisos profundos: Vimos no artigo Quando as Sapatilhas Grudam, o que fazer a influência do friso profundo no efeito da chave ficar grudada. Outra conseqüência da existência do friso profundo são os vazamentos

camuflados. É muito difícil detectá los uma vez que nem com o uso da lâmpada interna ao sax é suficiente para localizá los. O vazamento ocorre devido às impurezas depositadas no fundo friso, que não necessariamente são uniformes, o que poderão gerar vazios quando a chave estiver fechada. Daí dizermos serem vazamentos camuflados. Mostramos na figura a seguir dois vazamentos: o comum facilmente detectado pela lâmpada e o camuflado, muito difícil de descobrir. Na figura abaixo simulamos de um lado o friso normal e do outro o friso profundo. Friso normal Vazamento comum Detectado pela lâmpada Chave Sapatilha Vazamento Camuflado Vazio não detectado pela lâmpada luz Friso profundo. As impurezas não permitem a gola encostar totalmente no fundo do friso, ocasionando vazios por onde aparecem os vazamentos 3) Folgas longitudinal e transversal dos eixos e parafusos dos mecanismos: Normalmente essas folgas provocam barulhos desagradáveis na digitação do instrumento. É o tec tec que incomoda bastante, mas o maior problema ainda são os vazamentos que eles provocam. São duas formas de folgas: As longitudinais e as transversais. Folga Longitudinal Eixo ou parafuso Torre Folga entre a chave e a torre, permite movimentos longitudinais

Folga Transversal Folga entre a chave (mancal) e o eixo ou parafuso, permite movimentos transversais Os vazamentos decorrentes dessas folgas possuem uma característica bastante singular: às vezes somente aparecem quando o instrumento é tocado. Quando em repouso, eles desaparecem. A verificação com a lâmpada nem sempre detecta o vazamento. A explicação não é difícil: O saxofonista ao tocar, por conta das folgas existentes, provoca movimentos longitudinais e transversais das chaves. Isso faz com que elas dancem em cima das golas desalinhando os respectivos frisos e, por menores que sejam, provocam pequenos vazamentos. 4) Gola Empenada: Esta é a pior causa dos vazamentos, pois envolve a estrutura do corpo do sax. As figuras abaixo mostram duas golas empenadas. Reparem na figura da esquerda: a luz branca denuncia os vazamentos. Isso porque a gola empenou, ou seja, duas partes da circunferência estão afundadas. Regiões em que a gola está afundada O leitor deve estar se perguntando: e por que as golas empenam?

Existem vários motivos para as golas empenarem. Tirando acidentes ou quaisquer outras ações externas indesejadas, a principal causa é a dilatação do instrumento. Os saxofones são construídos em metal, que dilatam em função da temperatura e vice versa. Um instrumento deixado ao sol certamente irá dilatar e se levado às regiões mais frias ou em ambientes com ar condicionados, irão encolher. São esses movimentos que provocam os empenos das golas. Deixar um sax na mala de um carro ao sol é suicídio. Existem golas mais resistentes, a exemplo das soldadas e das hole tones, mas mesmo assim o efeito acontece. Se colocarmos em uma escala de pior para melhor em termos de resistência, podemos dizer: As mais comuns, extrudadas: São construídas a partir do próprio corpo do sax pelo processo de extrusão, que grosseiramente falando, é uma forma de esticar o corpo do sax para fora. São as mais suscetíveis aos empenos.. As Extrudadas reforçadas: São iguais as comuns, porém com materiais mais espessos. Resistem mais aos empenos em relação às comuns. O material é tão espesso, que há um rebaixamento no topo da gola para facilitar o ajuste da sapatilha As holes tone : São golas também extrudadas, entretanto há em sua borda um boleado que proporciona uma maior resistência às deformações. Boleado

As soldadas: São muito resistentes. São fabricadas isoladamente e depois soldadas no corpo do sax Solda As soldadas e holes tone : As mais resistentes, porém raríssimas de se encontrar. Boleado Solda Importante também registrar que as dilatações não são iguais para todos os saxofones. Dependem da liga de metal utilizada pelo fabricante, alguns bastante frágeis, outros muito resistentes. Essa é uma das características que deverá ser observada na compra de um instrumento usado. 5) Colagens das sapatilhas: Este é um tipo muito comum de aparecer. As colas utilizadas para a colagem das sapatilhas, não importam se a quente ou a frio, não preenchem totalmente o espaço entre a sapatilha e o fundo da panela da chave. Ficam alguns vazios sob a sapatilha e com o tempo, as pressões exercidas provocarão deformações irreversíveis na sapatilha, gerando assim os vazamentos. 6) Desgaste pelo uso: com o tempo muita coisa acontece em um saxofone. É uma máquina que possui molas, parafusos, eixos, mancais, mecanismos, calços etc. e que precisa de manutenção periódica. É inevitável: as peças desgastam e provocam os vazamentos Os couros das sapatilhas com o tempo, por mais que sejam hidratadas, ressecam e perdem a maleabilidade, consequentemente, a capacidade de absorver pequenos vazamentos. Da mesma forma acontecem com os calços (cortiças e feltros). Eles ficam quebradiços, cedem, caem, incham (no caso dos feltros) etc.. Atualmente há vários materiais alternativos que proporcionam vida mais

longa se comparados aos materiais tradicionais e utilizados em quase todos os saxofones. Mas isto será matéria de artigo futuro. Vale destacar uma forma do aparecimento de vazamentos pelo uso do instrumento: trata se daquelas chaves onde as madrepérolas ou os pontos de acionamento não estão alinhadas com as linhas transversais das próprias chaves, como por exemplo o Fá e Ré médios, ou aquelas que possuem hastes longas que unem o ponto de apoio às chaves, como por exemplo Dó grave. Linha da chave Haste comprida Distância entre o acionamento e a linha da chave No caso em que a linha da chave não coincide com o acionamento, no momento da digitação há uma tendência da chave girar em torno do seu eixo. Este movimento faz com que haja uma pressão maior da sapatilha sobre a gola do lado do acionamento e com o tempo a chave empena e os vazamentos aparecem. Existem alguns instrumentos, que pela própria fragilidade, obriga nos compensar com a inclinação da chave (um ângulo pequeno) ao contrário ao acionamento para minimizar esse efeito. Acionamento Linha da chave Tendência da chave girar

Já as hastes compridas cedem (deformam) com o tempo. Normalmente acontece com as chaves dos graves (Eb, C, B e Bb), A figura abaixo esclarecem o efeito: Eixo Haste longa Deformação chave torre Vazamento Alguns luhiers colocam reforços nesses tipos de chaves e existem alguns instrumentos que já são fabricados com hastes duplas, o que diminui bastante as deformações e os efeitos das vibrações. Reforço com haste dupla 7) Vibrações: é muito comum algumas chaves flutuarem devido às vibrações do corpo do sax. Acontecem nas chaves que estão fechadas em repouso (C# grave, D, F, E agudos etc), e nas que estão abertas em repouso e que possuem mecanismos longos sujeitos às flexões naturais do material (C, B, Bb graves etc.). As fotos abaixo mostram três vazamentos quando tocado o Bb grave (sax todo fechado) e que não apresentavam vazamentos antes de tocar::

Vazamento C# Vazamento C Vazamento Bb Fechada quando em repouso Aberta quando em repouso Fechada quando em repouso Força do dedo Para as chaves que estão fechadas em repouso, o vazamento pode ser minimizado com o aumento da pressão da mola. O efeito colateral é essas chaves ficarem com pressões maiores do que as demais, o que provoca um desconforto ao tocar. Mola com mais pressão Já aquelas chaves que estão abertas em repouso, a minimização do vazamento basicamente é em função da força do dedo do saxofonista no acionamento, cuja mola deverá ser aliviada para não gerar muita resistência ao fechamento da chave. Mola com menos pressão Gera um desconforto para o saxofonista Aqui temos um excelente exemplo de desconforto, caso haja vazamentos por vibrações: C grave com mola mais leve; Eb grave com mola mais pesada. Os acionamentos das duas chaves estão lado a lado e são pressionadas com o mesmo dedo (miudinho).

São mais freqüentes em: Saxofones mais graves (tenor, barítono, baixo etc), pois são instrumentos que possuem mecanismos compridos e maiores níveis de vibração; Notas graves visto as vibrações do corpo do instrumento aumentarem a medida que se caminha para a boca do sax; Instrumentos mais antigos (vintage), que possuem mecanismos diretos, como por exemplo, o acionamento do C# grave; Instrumentos que produzem muito harmônicos e com altas projeções, visto serem fatores que aumentam as vibrações do corpo. Por outro lado, esse tipo de vazamento quando presente nas notas agudas, só ocorre nas chaves que estão fechadas em repouso (D, E, F, F# agudos etc). As que estão abertas em repouso possuem mecanismos muito curtos, suficientes para não se flexionarem quando acionadas. CONCLUSÃO A intenção maior desse artigo é conscientizar o leitor de que não existe somente uma causa para as existências dos vazamentos. São vários aspectos envolvidos que se somam ao longo do tempo sem que o saxofonista perceba e que, inconscientemente, vão se adaptando as novas situações do instrumento até o momento em que o quadro se torna insustentável. Assim, salvo aquelas situações decorrentes de acidentes, quando um saxofone apresenta algum tipo de vazamento, não devemos nos limitar a resolvê lo antes de saber por qual motivo ele surgiu. É muito comum intervir em um vazamento e ele voltar em poucos dias porque o motivo maior não fora percebido. Assim, é bastante recomendável fazer revisões anuais e, dependendo da freqüência do uso do instrumento, revisões semestrais, em que deverão ser verificados todos os pontos aqui abordados e outros, não menos importantes, que colaboram para desempenho do instrumento. Abraços a todos Marcelo Teixeira Luthier Em 19/01/2013