ESTUDO ELETROMANOMÉTRICO DO ESÔFAGO EM PORTADORES DA DOENÇA DE CHAGAS EM SUA FORMA INDETERMINADA



Documentos relacionados
7º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

MEGAESÔFAGO IDIOPÁTICO NÃO AVANÇADO: RELATO DE CASO 1.

Hipertrofia Muscular Idiopática Tratada Com Transposição Gástrica Completa. Relato de Caso e Revisão da Literatura

AVALIAÇÃO DOS PORTADORES DE MEGAESÔFAGO NÃO AVANÇADO SUBMETIDOS À CIRURGIA DE HELLER-PINOTTI POR VIDEOLAPAROSCOPIA E LAPAROTOMIA

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO: QUAL A EFICÁCIA DOS EXAMES NO DIAGNÓSTICO?

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

Por que a Varicocele causa Infertilidade Masculina?

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

Doença de Chagas ou Tripanossomíase Americana

RELATÓRIO PARA A. SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

Descobrindo o valor da

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

Avanços na transparência

1. Da Comunicação de Segurança publicada pela Food and Drug Administration FDA.

29/08/2011. Radiologia Digital. Princípios Físicos da Imagem Digital 1. Mapeamento não-linear. Unidade de Aprendizagem Radiológica

TÍTULO: MAGNITUDES DE FORÇA PRODUZIDA POR SURFISTAS AMADORES CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

Filtros de sinais. Conhecendo os filtros de sinais.

32º Imagem da Semana: Radiografia de abdome

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

4 Segmentação Algoritmo proposto

Nefrolitotripsia Percutânea

INCOR REALIZA MUTIRÃO NESTE FINAL DE SEMANA PARA CORREÇÃO DE ARRITMIA

O Acordo de Haia Relativo ao Registro. Internacional de Desenhos Industriais: Principais características e vantagens

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALEIAS (IHS 2004)

CIRURGIA DO NARIZ (RINOPLASTIA)

Portuguese Summary. Resumo

Nomes: Melissa nº 12 Naraiane nº 13 Priscila nº 16 Vanessa nº 20 Turma 202

Medida da velocidade de embarcações com o Google Earth

Protocolo em Rampa Manual de Referência Rápida

REVISÃO / REVIEW. COMPARAÇÃO ENTRE ACALÁSIA IDIOPÁTICA E ACALÁSIA CONSEQÜENTE À DOENÇA DE CHAGAS: revisão de publicações sobre o tema

SUSCETIBILIDADE AO BENZONIDAZOL DE ISOLADOS DE Trypanosoma cruzi DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Opinião N15 ANÁLISE DO DESEMPENHO ACADÊMICO DOS COTISTAS DOS CURSOS DE MEDICINA E DIREITO NO BRASIL

Gabriela Moreira Costa Faculdade de Medicina Centro de Ciências da Vida

Descobertas do electromagnetismo e a comunicação

Nota referente às unidades de dose registradas no prontuário eletrônico radiológico:

CANCER DE COLO DE UTERO FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

Ensaio de Emissão Acústica Aplicado em Cilindros sem Costura para Armazenamento de Gases

TÉCNICA DE MARFRAN PARA CÁLCULO DE CONSTANTES

Informação pode ser o melhor remédio. Hepatite

2. HIPERTENSÃO ARTERIAL

Doença do Refluxo Gastroesofágico

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

Avaliação Manométrica Anal Pré e Pós Tratamento da Fissura Anal Crônica com Nifedipina Tópica 0,2%

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

Correlação manométrico-radiológica e sua importância no tratamento cirúrgico do megaesôfago chagásico

Hipotireoidismo. O que é Tireóide?

WEBSITE DEFIR PRO

Tumor Desmoplásico de Pequenas Células Redondas: Relato de um caso.

Análise Univariada de Sinais Mioelétricos

CHUC Clínica Universitária de Radiologia

PROVA TEÓRICO-PRÁTICA

Localização dos inquéritos de rua para Arroios e Gulbenkian

MITOS NA ESCLEROSE MÚLTIPLA

ATENCIOSAMENTE, Laurito Marques de Oliveira Diretor Técnico

Guião do Trabalho Laboratorial Nº 11 Controlo de um Elevador Hidráulico

Rio de Janeiro. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado do Rio de Janeiro (1991, 2000 e 2010)

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Sumário Executivo. Amanda Reis. Luiz Augusto Carneiro Superintendente Executivo

Cefaleia crónica diária

UM NOVO FOCO NA GESTÃO DAS CENTRAIS DE INSEMINAÇÃO

Principais Arritmias Cardíacas

SISCOLO RELATÓRIO PRÁ-SABER DIGITAL: Informações de Interesse à Saúde SISCOLO Porto Alegre 2008

O IMPACTO DA DOR CRÔNICA NA VIDA DAS PESSOAS QUE ENVELHECEM

Título: Modelo Bioergonomia na Unidade de Correção Postural (Total Care - AMIL)

O AMPLIFICADOR LOCK-IN

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

Atraso na introdução da terapia anti-retroviral em pacientes infectados pelo HIV. Brasil,

UM CONCEITO FUNDAMENTAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO. Prof. Alvaro Guimarães de Oliveira Rio, 07/09/2014.

BIOESTATÍSTICA: ARMADILHAS E COMO EVITÁ-LAS

Estudo comparativo para avaliação de cateter de phmetria com novo sistema de referência interna na prática clínica

APLICAÇÃO DE MÉTODOS HEURÍSTICOS EM PROBLEMA DE ROTEIRIZAÇÃO DE VEICULOS

Maconha. Alessandro Alves. Conhecendo a planta

2006/2011 ES JOSÉ AUGUSTO LUCAS OEIRAS RESULTADOS DOS EXAMES DOS 11.º/12.º ANOS DE ESCOLARIDADE

Estudos de Coorte: Definição

CAPÍTULO 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Pesquisa sobre inclusão das pessoas com deficiência nos canteiros de obras realizada entre as empresas que aderiram ao acordo tripartite

RESPOSTA RÁPIDA 355/2014 Informações sobre Questran Light

Qual o tamanho da próstata?

Os efeitos do controle farmacológico no comportamento futuro de pacientes menores de três anos no consultório odontológico

Enfermagem em Oncologia e Cuidados Paliativos

APOSTILA AULA 2 ENTENDENDO OS SINTOMAS DO DIABETES

Graduada em Nutrição pela UFPE Especializanda em Saúde Coletiva e Sociedade do IBPEX/FACINTER walmafra@oi.com.br

José Luís Braga de Aquino Grupo Terapêutica cirúrgica das afecções da transição cérvico-torácica. Tiago Martins Januário Faculdade de Medicina

TEMA: Temozolomida para tratamento de glioblastoma multiforme

EXERCÍCIOS DE RECUPERAÇÃO PARALELA 3º BIMESTRE

RESPOSTA RÁPIDA 87/2014 VITALUX na Degeneração Macular Relacionada com a Idade (DMRI) forma atrófica

Humberto Brito R3 CCP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Prevalência, Conhecimento, Tratamento e Controle da Hipertensão em Adultos dos Estados Unidos, 1999 a 2004.

Grécia Um Framework para gerenciamento de eventos científicos acadêmicos utilizando componentes

HANSENÍASE Diagnósticos e prescrições de enfermagem

ANALISE DE CORRENTE ELÉTRICA

OUTUBRO ROSA UMA CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO DA SOFIS TECNOLOGIA

Autor: Luís Fernando Patsko Nível: Intermediário Criação: 22/02/2006 Última versão: 18/12/2006. PdP. Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos

Este manual tem como objetivo fornecer informações aos pacientes e seus familiares a respeito do Traço Falcêmico

Doença de Alzheimer: uma visão epidemiológica quanto ao processo de saúde-doença.

UM MÓDULO DE ATIVIDADES PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DAS FÓRMULAS DE ÁREA DOS PRINCIPAIS POLÍGONOS CONVEXOS

Transcrição:

Vol. Artigo 31 - Nº Original 2, Mar. / Abr. 2004 Vol. 31 - Nº 2: 107-111, Mar. / Abr. 2004 ESTUDO ELETROMANOMÉTRICO DO ESÔFAGO EM PORTADORES DA DOENÇA DE CHAGAS EM SUA FORMA INDETERMINADA MANOMETRIC FINDINGS OF THE ESOPHAGUS OF PATIENTS WITH INDETERMINATE FORM OF CHAGAS S DISEASE Eduardo Crema, TCBC MG 1 Renata Mônica de Oliveira 2 Ana Marcia Werneck 2 Luiz Augusto Figueiredo Cruvinel 2 Juverson Alves Terra Júnior 3 Alex Augusto Silva 4 RESUMO: Objetivos: Avaliar as alterações manométricas dos esfíncteres superior (ESE) e inferior do esôfago, bem como a motilidade de seu corpo, em pacientes com a forma indeterminada da Doença de Chagas. Método: Foram considerados 37 pacientes portadores da Doença de Chagas, assintomáticos, que apresentavam eletrocardiograma, enema opaco e radiografia contrastada do esôfago sem alterações características da doença (forma indeterminada). Estes foram submetidos à eletromanometria do esôfago em que foram analisados dados sobre a pressão dos esfíncteres e ondas peristálticas do corpo do esôfago. Resultados: Detectouse uma diminuição da média da amplitude de contração do corpo do esôfago (p=0,03) nos portadores de ondas sincrônicas quando comparados com os portadores de ondas assincrônicas. A comparação da média das pressões máximas do ESE nos pacientes portadores de ondas sincrônicas foi significativamente maior (p= 0,02) que a média encontrada nos portadores de ondas assincrônicas. Conclusão: Encontrou-se um elevado número (48,65%) de portadores de ondas sincrônicas em pacientes com a forma indeterminada da Doença de Chagas; notou-se uma redução da média da amplitude da contração do corpo do esôfago em portadores de ondas sincrônicas e observou-se que a média das pressões máximas do ESE é maior nos pacientes com ondas sincrônicas (207,14 mmhg) quando comparada com os portadores de ondas assincrônicas (142,44 mmhg). Dessa forma propomos uma discussão sobre a classificação atual da Doença de Chagas. Descritores: Doença de Chagas; Manometria; Esôfago; Junção esofagogástrica; Diagnóstico. INTRODUÇÃO A doença de Chagas é uma doença multissistêmica causada pelo Trypanosoma cruzi e que acomete cerca de 5 a 8 milhões de pessoas no Brasil 1. De seus portadores, aproximadamente 10% desenvolvem a forma esofágica da doença 2, que se manifesta de várias formas na dependência do grau da esofagopatia. Um dos principais achados anatomopatológicos do megaesôfago chagásico é a desnervação dos plexos mioentéricos ao longo de todo esôfago médio e distal, ou seja, corpo e esfíncter inferior esofágico 1. Köeberle 3 demonstrou que 90% dos neurônios do plexo de Auerback estão destruídos em pacientes com megaesôfago e que em pacientes Chagásicos, com esôfago não dilatado, já é observa- 1. Professor Titular em Cirurgia do Aparelho Digestivo da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (CAD/FMTM). 2. Doutorandos da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. 3. Residente da CAD/FMTM. 4. Professor Adjunto Responsável pela CAD/FMTM. Recebido em 13/06/2003 Aceito para publicação em 16/12/2003 Trabalho realizado na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - FMTM. 107

da alguma desnervação. Segundo este autor, alterações motoras surgem quando 50% destas estruturas neurais já estão comprometidas. Conceitualmente os portadores da doença de Chagas na sua forma indeterminada devem apresentar: 1) positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos; 2) ausência de sintomas e/ou sinais da doença; 3) eletrocardiograma convencional normal e, 4) coração, esôfago e cólons radiologicamente normais 4. A disfagia lentamente progressiva é o sintoma mais característico da esofagopatia chagásica. Sintomas, também comuns no inicio do quadro, como regurgitação e dor retroesternal são conseqüentes à alteração motora provocada pela desnervação parcial do órgão 3. Na investigação desses sintomas, exames radiográficos, endoscópicos, citilográficos e manométricos são utilizados de rotina. A eletromanometria do esôfago torna-se essencial no estudo da doença de Chagas, pois é capaz de detectar alterações esofágicas precoces em indivíduos assintomáticos 5,6, por permitir um estudo detalhado da função motora do esôfago, bem como uma análise da localização, extensão e pressão de seus esfíncteres. Nos portadores de megaesôfago chagásico desaparecem as ondas assincrônicas indicativas de um movimento peristáltico harmônico e propulsivo. Nestes pacientes, após a deglutição surgem ondas sincrônicas de pressão, conhecidas por alguns autores como aperistalse 7-10 por todo o esôfago, o que dificulta a condução do bolo alimentar ao estômago. Além disso, não é observada a queda da pressão no esfíncter inferior do esôfago após a deglutição, caracterizando a abertura incompleta ou não abertura do esfíncter (acalasia) 7. Oliveira et al 7, analisando pacientes chagásicos e sem dilatação do esôfago, observaram que 53,5% apresentavam disfagia e que em apenas 27,9% essa disfagia era persistente. Os achados eletromanométricos de seu estudo foram: 37,2% dos pacientes apresentaram motilidade normal; 7% apresentavam ondas peristálticas polifásicas; 21% tinham aperistalse do esôfago com diminuição do relaxamento do esfíncter inferior do esôfago (EIE) e 34,8% apresentavam aperistalse e acalasia do EIE. Pinotti 11 refere uma diminuição da amplitude da onda de contração do esôfago em Chagásicos, quando analisados o terço superior, médio e inferior do esôfago. Os portadores da forma digestiva da doença de Chagas por apresentarem elevada parasitemia, têm sido tratados rotineiramente em nosso serviço com benzonidazol na tentativa de evitar a progressão da doença. Propõe-se, neste estudo, identificar, entre os pacientes com a forma indeterminada da doença, aqueles que apresentam alterações eletromanométricas características da esofagopatia chagásica que poderão se beneficiar com o tratamento medicamentoso específico, uma vez que o tratamento cirúrgico é apenas paliativo. O objetivo deste estudo é avaliar as alterações eletromanométricas dos esfíncteres superior (ESE) e inferior (EIE) do esôfago, bem como a motilidade de seu corpo em pacientes portadores da doença de Chagas em sua forma indeterminada. MÉTODO Foram considerados 37 pacientes portadores da doença de Chagas comprovados por pelo menos dois testes sorológicos positivos (Imunofluorecência indireta, Machado Guerreiro, Elisa ou Hemoaglutinação), que além de assintomáticos apresentavam eletrocardiograma, enema opaco e radiografia contrastada do esôfago sem as alterações características da doença (forma indeterminada). Os pacientes foram submetidos à eletromanometria do esôfago através de um cateter plástico introduzido pelo orifício nasal até o estômago. O cateter é composto por seis canais (três orifícios na extremidade mais distal, e os outros três com espaçamento de 5 cm entre eles) por onde perfundiuse água destilada a uma velocidade constante de 0,6ml/min/canal. Após a comprovação de que todos os canais encontravam-se situados ao nível do abdome, o cateter foi retirado intermitentemente, centímetro a centímetro. Dessa forma, ao final do procedimento, foi possível analisar simultaneamente as contrações peiristálticas dos terços superior, médio e inferior do esôfago, além de registrar a abertura da zona de alta pressão (ZAP), localizada na transição esôfago-gástrica e avaliar a pressão dos esfíncteres superior e inferior do esôfago. Qualquer variação da pressão intraluminar era traduzida como obstáculo ao fluxo de água. O registro das alterações pressóricas foi feito através de um polígrafo e decodificado por um Software próprio (Polygram for Windows versão 2.02). Dessa forma foi possível analisar os dados quanto à localização, extensão e pressão dos esfíncteres, assim como a amplitude das ondas peristálticas do corpo do esôfago. Os dados obtidos foram avaliados pelo programa estatístico teste t-student. 108

Vol. 31 - Nº 2, Mar. / Abr. 2004 Tabela 1 - Medidas descritivas referentes ao esfíncter inferior do esôfago, quanto a localização (EIE-LOC), extensão (EIE-EXT) e pressão média (EIE-PMR) comparando os portadores de contrações sincrônicas (S) e assincrônicas (A). 80 60 40 73,53 52,25 MÉDIA DESVIO PADRÃO VARIÁVEL S A A S VALOR-P EIE-LOC 44,00 44,29 2,99 3,56 0,82 EIE-EXT 2,89 2,29 0,91 0,61 1,00 EIE-PMR 19,63 17,24 6,02 5,60 0,26 20 0 A Figura 1 - O gráfico um representa a comparação das médias da amplitude de contração do corpo do esôfago entre os pacientes com ondas assincrônicos (A) e sincrônicos(s). S P = 0,02 RESULTADOS Após analise manométrica do esôfago os pacientes foram reunidos em dois grupos: grupo 1, constituído por 19 pacientes que apresentavam ondas assincrônicas (51,35%) ao teste manométrico; e o grupo 2, constituído de 18 pacientes em que foram detectadas ondas sincrônicas (48,65%). Observou-se entre os pacientes estudados um número considerável de portadores de ondas bifásicas ou polifásicas (56,7%) ao exame eletromanométrico. Quando comparados os grupos quanto ao sexo e idade não foram detectadas diferenças significativas, sendo, portanto os grupos homogêneos. O mesmo pode-se dizer quando avaliados os dados quanto à localização e extensão dos esfíncteres, bem como quando analisamos a pressão do EIE (Tabela 1). Detectou-se uma diminuição estatisticamente significante da média da amplitude das contrações peristálticas do corpo do esôfago em pacientes portadores de ondas sincrônicas, quando comparadas aos portadores de ondas assincrônicas (Figura 1). A comparação da média das pressões máximas do esfíncter superior do esôfago nos pacientes portadores de ondas sincrônicas ao teste manométrico foi significativamente maior (204,17mmHg) que a média encontrada nos portadores de ondas assincrônicas (142,44mmHg) (Figura 2). DISCUSSÃO Sabe-se que a desnervação que ocorre na doença de Chagas é a responsável pela redução da amplitude de contração e pela alteração da peristalse harmônica responsável pela condução do bolo alimentar ao estômago. Muitos estudos têm procurado demonstrar essas alterações funcionais da esofagopatia mmhg 250 200 150 142,44 204,17 Assincrônico Sincrônico 100 50 0 n = 19 n = 18 P = 0,03 Figura 2 - O gráfico dois mostra a comparação das médias das pressões máximas do esfíncter superior entre pacientes com ondas sincrônicas e assincrônicas ao teste manométrico. 109

Chagásica através da análise eletromanométrica do esôfago 5-8,10-13. Oliveira et al 7, analisando pacientes chagásicos com e sem dilatação do esôfago, observou alterações na eletromanometria como a presença de ondas polifásicas (7%) e aperistalse (55,8%) acompanhadas ou não de relaxamento do esfíncter inferior do esôfago. Embora este estudo tenha encontrado resultados semelhantes no que se refere a peristalse, observou-se entre os pacientes estudados um número consideravelmente maior de portadores de ondas bifásicas ou polifásicas à eletromanometria (56,7%). Obteve-se neste estudo uma redução significante da média das amplitudes de contração do corpo esofágico (52,25mmHg) entre os pacientes portadores de ondas sincrônicas quando comparados com os portadores de ondas assincrônicas, resultados semelhantes aos referidos por Dantas 5,8. Lemme et al 6, comparando a pressão EIE entre pacientes chagásicos, portadores de acalasia idiopática e grupo controle, notaram que os pacientes com acalasia idiopática apresentavam maior pressão no EIE quando comparados aos pacientes chagásicos, e que estes não diferiam do grupo controle 6. Dantas 9 estudando pacientes chagásicos observou que embora a pressão no EIE tenha sido pouco maior nos pacientes com peristalse (21mmHg) quando comparados aos pacientes com aperistase (19mmHg), essa diferença não foi estatisticamente significante. Neste estudo, da mesma forma, a pressão do EIE em portadores de ondas sincrônicas (19,63mmHg) não diferiu, de forma significativa, dos portadores de ondas assincrônicas (17,24mmHg). Dantas 9, ao analisar a pressão do ESE, notou que pacientes chagásicos e sem dilatação apresentavam maior pressão do esfíncter superior do esôfago, quando comparados a voluntários normais e pacientes com acalasia idiopática. Da mesma forma, neste estudo observou-se que o grupo de pacientes com ondas sincrônicas a manometria apresentava a média das pressões máximas do ESE estatisticamente maior que o grupo de pacientes com ondas assincrônicas. Para participar da forma indeterminada da doença de Chagas, os portadores da doença não deveriam apresentar comprometimento morfológico ou funcional de seus órgãos, em especial coração, esôfago e cólon. Por este estudo ter detectado grande número de alterações nos portadores da forma indeterminada, discute-se então se 48,65% dos pacientes estudados que apresentaram ondas sincrônicas devem ser excluídos dessa classificação, pois estes apresentaram alterações funcionais traduzidas pela presença de ondas sincrônicas e pela redução na amplitude de contração do corpo esofágico. Com este estudo podemos concluir que: existe um elevado número (48,65%) de portadores de ondas sincrônicas entre os pacientes com a forma indeterminada da doença de Chagas. notou-se uma redução da média de amplitude de contração do corpo esofágico nos pacientes portadores de ondas sincrônicas quando comparados aos portadores de ondas assincrônicas e, observou-se que a média das pressões máximas do ESE é maior nos portadores de ondas sincrônicas que nos portadores de ondas assincrônicas. ABSTRACT Objetive: To study the manometric findings of the lower esophageal sphincter (LES) and upper esophageal sphincter (UES) as well as the motility of the body of esophagus of patients with indeterminate form of Chagas disease. Methods: The patients had positive serological for Chagas disease but were asymptomatic and the eletrocardiogram, colon and esophagus showed no radiological findings typical of Chagas disease. Thirty-seven subjects were submitted to the manometric study of the esophagus to evaluate the pressure of the sphincteres and peristalsis of the body of the esophagus. Results: There was a reduction of the average of the amplitude of the esophageal contraction waves (p=0.03) at the body of the esophagus of subjects with synchronic waves when compared with subjects with asynchronic waves. The average of the maximum pressure value of the UES in synchronic group was significantly higher (p=0.02) than the avarege found in subjects with asynchronic waves. Conclusion: It was found a great number of subjects with synchronic waves in the undeterminated form of Chagas disease (48.65%). The average of the amplitude of esophageal waves was smaller in subjects with synchronic waves. The avarage of maximum UES pressure is higher in subjects with synchronic waves than in subjects with asynchronic waves. Key Words: Chagas disease; Manometry; Esophagus; Esophagogastric junction; Diagnosis 110

Vol. 31 - Nº 2, Mar. / Abr. 2004 REFERÊNCIAS 1. Ferreira MS, Lopes ER, Chapadeiro E, et al Doença de Chagas. In Veronesi R, Focaccia R (eds) - Tratado de Infectologia. 4ª Edição, São Paulo, Atheneu, 1999, v. 2, pp.1175-1211. 2. Coura JR, Anunziato N, Willcox HP Morbidade da Doença de Chagas. I Estudo de casos procedentes de vários estados do Brasil, observados no Rio de Janeiro. Mem Inst Oswaldo Cruz,1983,78(3):363-372. 3. Koberle F - Chagas disease and Chagas syndromes: the pathology of American trypanosomiasis. Adv Parasitol, 1968, 6:63-116. 4. I Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas Validade do conceito da forma indeterminada da doença de Chagas Rev Bras Med Trop, 1985, 18(1):46. 5. Dantas RO, Deghaide NH, Donadi EA - Esophageal manometric and radiologic findings in asymptomatic subjects with Chagas disease. J Clin Gastroenterol, 1999, 28(3):245-248. 6. Lemme EM, Domingues GR, Pereira VL, et al. Lower esophageal sphincter pressure in idiophathic achalasia and Chagas disease-related achalasia. Dis Esophagus, 2001, 14(3-4):232-234. 7. Oliveira RB, Rezende JF, Dantas RO, et al. The spectrum of esophageal motor disorders in Chagas disease. Am J Gastroenterol, 1995, 90(7):1119-1124. 8. Dantas RO, Godoy RA, Padovan W, et al. A contratilidade do esôfago na esofagopatia chagasíca. GED gastroenterol endosc dig, 1983, 2(1):26 28. 9. Dantas RO Relação entre a motilidade e sintomas esofágicos com a pressão do esfíncter inferior do esôfago na doença de Chagas. GED gastroenterol endosc dig, 1993, 12(1):23 26. 10. Dantas RO Upper esophageal sphincter pressure in patients with Chagas disease and primary achalasia. Braz J Med Biol Res, 2000, 33 (5): 545 551. 11. Pinotti HW, Felix VN, Zilberstein B, et al. Surgery complications of Chagas disease: megaesophagus, achalasia of the pylorus and cholelithiasis. World J Surg, 1991,15(2):198-204. 12. Dantas RO Vigorous achalasia in Chagas disease. Dis Esophagus, 2002, 15(4):305-308. 13. Lovecek M, Duda M, Gryga A, et al. Manometry in esophageal achalasia. Dis Rozhl Chir, 2002,81(4):183-187. Endereço para correspondência: Eduardo Crema Rua Duque de Caxias, 165- Apto 301 38022-180 Uberaba- MG eduardocremafmtm@mednel.com.br 111