1 HEPATOZOON CANIS EM CADELA NO MUNICÍPIO DE OLINDA, PERNAMBUCO. HEPATOZOON CANIS IN FEMALE DOG IN THE COUNTY OF OLINDA, PERNAMBUCO. Mirella Cavalcanti Orestes CARDOSO 1, Elizabeth Pereira SOUZA 2, Geyzielle Vieira Marques SILVA 2, Pollyana Nigromonte de GOUVEIA 2, Kátia Maria MELO 3 e Andréa Maria Campos CALADO 4 1 Estudante de graduação de medicina veterinária, UNINASSAU-PE, mirellacardoso86@gmail.com 2 Estudante de graduação de medicina veterinária, UNINASSAU-PE 3 Médica Veterinária 4 Professora do curso de medicina veterinária, UNINASSAU-PE Resumo Hepatozoonose é uma enfermidade parasitária que acomete principalmente carnívoros domésticos através da ingestão do carrapato. Em uma clínica veterinária de Olinda-PE, atendeu-se uma cadela com parasitemia alta para Hepatozoon canis. No exame clínico percebeu-se: prostação, desidratação, secreção mucopurulenta ocular, enrijecimento dos membros posteriores, reflexo pupilar diminuído, taquicardia, mucosas hipercoradas e tremores musculares. Após 15 dias de tratamento com doxicilina e imidocarb, o animal continuava positivo e com piora clinica progressiva, com sinais neurológicos severos. Objetiva-se, assim, destacar a necessidade de uma maior atenção por parte dos médicos veterinários, pois esta hemoparasitose pode estar sendo subdiagnosticada devido, principalmente, à falta de estudo a respeito de sua patogenicidade e epidemiologia. Palavras Chave: Cães, Hepatozoonose, hemoparasitose, carrapato. Keywords: Dogs, Hepatozoonosis, Hemoparasitosis, ticks. Revisão de literatura No Brasil, a hepatozoonose em cães é provocada pelo protozoário Hepatozoon canis e tendo como principal vetor o carrapato marrom Rhipicephalus sanguineus (MATHEW et al.,1998; BANETH et al., 2003). Em Recife, Pernambuco, Ramos et al. (2010) identificaram 0,48% de cães infectados, sendo o primeiro relato do parasita na região. A transmissão para o cão ocorre através da ingestão do artrópode que contenha oocistos esporulados (ASSARASAKORN et al., 2006), e o carrapato infecta-se com Anais do 38º CBA, 2017 - p.1012
2 a ingestão de sangue de um cão infectado (BANETH, 2003). Os esporozoítos chegam até o fígado, baço, medula óssea, pulmões, linfonodos e miocárdio onde realizarão multiplicação (MUNDIM et al., 1994). A sua patogenia está sob influência do status imunológico, como imunodeficiência, imaturidade do sistema imune e infecções concomitantes (HARMELIN et al.,1992; O DWYER e MASSARD, 2001; PALUDO et al., 2005). Concluindo-se que a ação imunossupressora tem um papel importante na progressão da doença, trazendo dificuldades ao diagnóstico, já que os sinais clínicos são inespecíficos (GAVAZZA et al., 2003), como febre, anorexia, perda de peso, anemia, descarga ocular e fraqueza dos membros posteriores (BANETH et al., 2003). Além do que a severidade dos sinais clínicos está também relacionada ao nível de parasitemia de Hepatozoon canis (KARAGENC et al., 2006). O diagnóstico definitivo pode ser alcançado através da identificação de leucócitos parasitados em esfregaço sanguíneo, biópsia de tecidos e imunofluorescência indireta. Os achados laboratoriais observados normalmente são anemia normocítica normocrônica e leucocitose neutrofílica (AGUIAR et al., 2004; VOYVODA et al., 2004). Objetiva-se com este trabalho descrever o primeiro caso clínico confirmado de um cão com Hepatozoon canis na cidade de Olinda, estado de Pernambuco. Descrição do caso Cadela S.R.D., 5 meses de idade, foi levada a uma clínica veterinária em Olinda-PE, no dia 27/01/2016, com apatia, sialorreia intensa, enrijecimento no corpo, ataxia e anorexia. Era vermifugada, porém não vacinada e estava com infestação intensa de carrapatos e moderada de pulgas. Ao exame clínico foi verificado prostação, desidratação em 10%, afebril, secreção mucopurulenta ocular, enrijecimento dos membros posteriores, reflexo pupilar diminuído, taquicardia, mucosas hipercoradas e tremores musculares. O animal recebeu solução fisiológica a 0,9%, e complexo vitamínico diluído ao soro e doxiciclina 0,5mL endovenoso. Também coletou-se sangue para hemograma e pesquisa de hemoparasitas e liberado com melhora clínica. No dia seguinte, chegou ao consultório andando, ativa, havia se alimentado sozinha, mas apresentando diarreia. O resultado do hemograma detectou: anemia leve normocítica hipocrômica; leucopenia por neutropenia e linfopenia absoluta; trombocitopenia e amostra analisada positiva para Hepatozoon canis (Parasitemia alta, maior que 90%). Anais do 38º CBA, 2017 - p.1013
3 O Tratamento instituído foi a administração de doxiciclina (10mg/kg BID durante 28 dias), Dipropionato de imidocarb 0,25 ml (duas aplicações com intervalo de 15 dias entre elas). Atropinização do animal 15 minutos antes do imidocarb na dose de 0,04 mg/kg. Solicitado repetição do hemograma após 15 dias, como também controle de infestação de carrapatos do animal e do ambiente. Ao final dos 15 dias, ainda foram observados leucócitos parasitados e animal apresentou piora progressiva, com sinais neurológicos severos, como mioclonia, hiperestesia, paresia e depressão mental. Devido ao bem-estar do animal está comprometido e os custos do tratamento serem incompatíveis com os recursos financeiros dos proprietários, optou-se pela eutanásia do mesmo. Discussão No presente relato, tivemos um cão com sinais severos e progressivos do Hepatozoon canis provavelmente devido à carga parasitaria alta, sendo maior que 90%, corroborando com os resultados de Baneth et al. (2003), que parasitemia de aproximadamente 100% está associado à doença grave, porém o mecanismo que induz doença tão grave não foi elucidado. Os sinais clínicos observados foram: anorexia, taquicardia, letargia, palidez de mucosa, corrimento nasal e ocular, diarreia, paresia, hiperestesia e sinais neurológicos severos. Apesar de não serem patognomônicos, normalmente estes são os sinais mais comumente encontrados (GONDIN et al.,1998), outros autores como Baneth e Weigler (1997) também elucidam vômito, dores musculares e febre. A alteração hematológica mais comumente encontrada é a anemia, que na maioria das vezes é caracterizada como normocítica normocrômica e ocasionalmente regenerativa (BANETH e WEIGLER, 1997), como observado no presente trabalho. A contagem de leucócitos se encontra, em geral, dentro dos valores de normalidade em animais com baixa parasitemia e se eleva em cães com alta parasitemia (BANETH, 2003), contradizendo os valores laboratoriais do relato explanado onde os leucócitos apresentaram-se muito abaixo dos valores da normalidade (4.800 céls/μl) e o animal mostrava parasitemia alta. É importante ressaltar que o cão não era vacinado, e a leucopenia severa, assim como sinais clínicos neurológicos também são sugestivos de infecção pelo vírus da cinomose. A hepatozoonose já foi descrita as co-infecções: Babesiose, erliquiose, dirofilariose, leishmaniose entre outras, como relata Bansal et al. (1985); Murata et al. (1991) e Penzhorn et al. (1990), porém não existem relatos com a cinomose. Anais do 38º CBA, 2017 - p.1014
4 Um estudo epidemiológico demonstrou que o parasitismo foi mais frequente em cães de áreas rurais (31,58%) do que em cães de áreas urbanas (4,48%) (MASSARD, 1979). Contudo, inserindo-se na perspectiva de menor porcentagem, o animal foi oriundo de zona urbana, sugerindo a urbanização do parasita nos últimos anos. Fica assim registrado o primeiro relato confirmado de Hepatozoon canis em Olinda, no Estado de Pernambuco. Conclusão O presente trabalho evidenciou a presença de Hepatozoon canis, em uma cadela de Olinda, estado de Pernambuco, destacando a necessidade de uma maior atenção por parte dos veterinários, pois esta hemoparasitose pode estar sendo subdiagnosticada, principalmente pela falta de estudo a respeito de sua patogenicidade e epidemiologia, e um erro no diagnostico pode levar a um tratamento inadequado, consequentemente levando a óbito o animal, visto que os sinais clínicos não são conclusivos. Referências Bibliográficas AGUIAR D.M.; RIBEIRO M.G.; SILVA W.B.; DIAS JR J.G.; MEGID J.; PAES A.C. Hepatozoonose canina: achados clínico-epidemiológicos em três casos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.56, p.411-413, 2004. ASSARASAKORN, S.; NIWETPATHOMWAT, A.; TECHANGAMSUWAN S.; SUVARNAVIBHAJA S. A retrospective study of clinical hematology and biochemistry of canine hepatozoonosis on hospital populations in Bangkok, Thailand. Comparative Clinical Pathology, Londres, v.15, n.2, p.107-109, 2006. BANETH, G.; WEIGLER, B. Retrospective case-control study of hepatozoonosis in dogs in Israel. Journal of Veterinary Internal Medicine, Filadélfia, v.11, n. 6 p.365-370, 1997. BANETH G. & SHKAP V. Monozoic cysts of Hepatozoon canis. Journal of Parasitology, Lawrence, v.89, n.2, p.379-381, 2003. BANETH G; MATHEW J.S.; SHKAP V.; MACINTIRE D.K.; BARTA J.R; EWING S.A. Canine hepatozoonosis: two disease syndromes caused by separate Hepatozoon spp. Trends in Parasitology, Oxford, v.19, n.1, p.27-31, 2003. BANSAL, R.; GAUTAM, O. P.; BANERJEE, D. P. Prevalence of Babesia canis and Hepatozoon canis infection in dogs of tussar (Haryana) and Delhi and attempts to isolate Babesia from human beings. Indian Veterinary Journal, Madras, v.62, p. 748-51,1985. GAVAZZA, A.; BIZZETI, M.; PAPINI, R. Observations on dogs found naturally infected with Hepatozoon canis in Italy. Revue d elevage et de medecine veterinaire des pays tropicaux, Paris, v.154, n.8, p.565-571, 2003. GONDIN, L. F.; KOHAYAGAWA, A.; ALENCAR, N. X.; BIONDO, A. W.; TAKAHIRA, R. K.; FRANCO, S. R. Canine hepatozoonosis in Brazil: description of eight naturally ocurring cases. Veterinary Parasitology, Amsterdã, v.74, n.2-4, p.319-23, 1998. Anais do 38º CBA, 2017 - p.1015
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