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Transcrição:

Aliens 69 Quando os Rolling Stones Invadiram Matão 1 Matheus E. CARVALHO 2 Gianfrancesco R. BARIANI 3 Fernanda V. GABRIEL 4 Rafael Z. de CAMARGO 5 Diego L. GIBERTONI 6 Fabrício J. MAZOCCO 7 Centro Universitário de Araraquara UNIARA, Araraquara, SP RESUMO A proposta do trabalho é o desenvolvimento, produção e divulgação de um vídeodocumentário que relate a história da breve temporada de Mick Jagger e Keith Richards na cidade de Matão, no interior do estado de São Paulo, em janeiro de 1969, após os dois músicos da banda inglesa The Rolling Stones terem passado o ano novo no Rio de Janeiro. Os músicos ficaram cerca de quinze dias na cidade e se hospedaram na Fazenda Boa Vista, então propriedade do banqueiro Walther Moreira Salles. O documentário foi produzido a partir de técnicas jornalísticas e entrevistas com pessoas que conviveram com os Stones durante o período em que estiveram em Matão, além de historiadores e estudiosos sobre a banda. Foram realizadas também pesquisas bibliográficas em temas relacionados à cultura e história dos anos 60, tanto no Brasil como no mundo. PALAVRAS-CHAVE: Rolling Stones; Matão; Vídeo-documentário. 1. INTRODUÇÃO No último dia do ano de 1968, Mick Jagger e Keith Richards, integrantes dos Rolling Stones, uma das principais bandas de rock n' roll da época, decidiram assistir à queima de fogos na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). Porém, o assédio dos fãs logo fez com que os dois, acompanhados de Mariane Faithfull, namorada de Jagger na época, além de seu filho Nicholas, fossem se hospedar em São Paulo (SP), no hotel Jaraguá. Lá, o banqueiro Walther Moreira Sales, amigo de Mick, convidou-os para 1 Trabalho submetido ao XXI Prêmio Expocom 2014, na Categoria Cinema e Audiovisual, modalidade CA 02 Filme de não ficção/documentário/docudrama (avulso). 2 Líder do grupo e graduado em Comunicação Social habilitação em Jornalismo em 2013, email: m.carvalhoo@gmail.com. 3 Graduado em Comunicação Social habilitação em Jornalismo em 2013, email: gianfrancesco.bariani07@gmail.com. 4 Graduada em Comunicação Social habilitação em Jornalismo em 2013, email: fernandaavilela@gmail.com. 5 Graduado em Comunicação Social habilitação em Jornalismo em 2013, email: rafaelzocco@hotmail.com. 6 Graduado em Comunicação Social habilitação em Jornalismo em 2013, email: diego.scholes@hotmail.com. 7 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), email: fabriciomazocco@gmail.com.

passar alguns dias na fazenda de sua família para se livrar do assédio de jornalistas e fãs. O local? A cidade de Matão, no interior do estado de São Paulo. As férias improvisadas de Keith e Mick na Fazenda Boa Vista mudaram a rotina dos moradores da cidade de Matão, pacato município a cerca de 300 quilômetros da capital paulista. Pessoas se aglomeravam em frente à fazenda querendo apenas observar, de longe, os ícones do rock. Afinal de contas, não eram simples hóspedes visitando uma fazenda, eram os Rolling Stones, grupo que já dominava e dominaria o mundo do rock nos anos que viriam. Uma banda que, alguns meses depois, levou mais de 300 mil pessoas ao Altamont Speedway Free Festival, um festival de música organizado no fim de 1969, na Califórnia, Estados Unidos. Isso, para uma cidade pequena como Matão, era uma novidade e tanto. 2. OBJETIVO Com base nesses fatos, que, com frequência são divulgados incompletos ou fragmentados, foi incentivada a realização de um projeto de pesquisa com o objetivo de recuperar a história dessa visita, além de documentar esse inusitado e quase desconhecido episódio, tendo como objeto a própria banda e os personagens matonenses que participaram desta passagem. Para isto, foi necessário pesquisar a história da banda, contextualizando sua importância no rock e no movimento cultural mundial, além de contextualizar o momento histórico brasileiro quando se deu a visita dos dois astros à fazenda Boa Vista. Como o objetivo é documentar e registrar imagens do local onde Jagger e Richards estiveram, optou-se pela modalidade do vídeo-documentário que possibilitou colher entrevistas de personagens que conviveram na fazenda com os músicos, apresentar imagens do local, reunir fotos, músicas e vídeos da época. 3. JUSTIFICATIVA A passagem de Mick Jagger e Keith Richards por Matão foi tão marcante que justifica a realização de um vídeo-documentário, tendo como base do roteiro depoimentos de pessoas que conviveram com Keith Richards e Mick Jagger diariamente na fazenda Boa Vista. Os personagens do trabalho audiovisual expõem e relembram diversas histórias vividas pelos astros do rock na pequena cidade do interior, algumas

delas engraçadas e outras históricas. Como por exemplo, a música Honky Tonk Women, lançada inicialmente com o nome de Country Honk, no álbum Let It Bleed, de 1969, umas das mais famosas do grupo, composta em Matão durante uma festa. Keith e Mick, junto com um sanfoneiro da cidade, utilizaram o estilo country como inspiração para compor a canção que ficaria, pouco tempo depois, em primeiro lugar nas paradas, colocando Matão definitivamente na história do rock n' roll. Ficamos alguns dias numa fazenda, onde Mick e eu compusemos "Country Honk", sentados numa varanda como caubóis, pés no parapeito, fazendo de conta que estávamos no Texas. Era a versão country do que se transformou no single "Honky Tonk Women" quando voltamos à civilização (...). Foi composta num violão acústico e me lembro do lugar porque cada vez que dava descarga no banheiro apareciam uns sapos pretos pulando - uma imagem interessante. (RICHARDS, 2010, p. 300). O livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, de Nélio Rodrigues e José Emílio Rondeau, publicado em 2008, também registra a passagem dos Stones pela cidade de Matão, junto a algumas gafes e incertezas da imprensa na época. Há dois Rolling Stones numa fazenda em Matão", publicou A Gazeta em 13 de janeiro, errando ao chamar Keith de baterista do grupo. No dia 14, foi a vez d'o Estado de S. Paulo estampar: "Rolling avistados em Matão". Um dos "avistados", segundo o jornal, se chamava "Richard Keith. O alerta da presença de Mick e Keith em Matão, contudo, soou tarde demais. A turma já estava de saída. E partiu na calada da noite, a bordo da Kombi guiada por Seu Paulo Vizioli, que os levou de volta ao Hotel Jaraguá, na Rua da Consolação, aonde o grupo chegou de madrugada (...). (RODRIGUES e RONDEAU, 2008, p. 136). Dessa forma, a imprensa da época ajudou a reproduzir informações equivocadas sobre a ida de Jagger e Richards ao interior paulista. Até hoje, a própria população da região desconhece a história, justificando a produção deste trabalho no contexto de trazer ao público geral um fato curioso que influenciou não só Matão, como os próprios Rolling Stones, que chegaram a compor uma música durante a estadia na Fazenda Boa Vista. 4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Para a elaboração deste trabalho foram cumpridas várias etapas, sendo iniciado com uma pesquisa bibliográfica, que foi desenvolvida através de livros e artigos, analisando diversas posições acerca do tema abordado. Foram pesquisados assuntos relativos à modalidade do vídeo-documentário, jornalismo cultural, além da contextualização histórica e política da época retratada.

Após o processo de pesquisa bibliográfica, foi realizada a pesquisa documental. Incluem-se neste roteiro documentos como fotos de Matão, da fazenda Boa Vista e dos personagens deste trabalho em 69, além de jornais da época. Segundo Gil (2002), é possível tratar a pesquisa bibliográfica como tipo de pesquisa documental, já que o material impresso vale fundamentalmente para fins de leitura. Depois de recolher os documentos da época, foram iniciadas as entrevistas, que foram realizadas individualmente, de forma dinâmica e em tom de conversa, permitindo ao entrevistador a sensação de conforto em frente à câmera. Gil (2002) explica que os dados buscados através das pesquisas feitas devem gerar uma espécie de questionário para o entrevistado que, através das respostas, gere mais perguntas a serem abordadas: Será ainda conveniente ao entrevistador ser capaz de registrar as reações do entrevistado às perguntas que são feitas. A expressão não verbal do entrevistado poderá ser de grande utilidade na análise da qualidade das respostas. (GIL, 2002, p. 119) A partir do conceito de expressão não verbal estabelecido por Gil, para atingir maior qualidade nas respostas dos entrevistados, foram utilizados os seguintes equipamentos para a produção do produto audiovisual: câmera fotográfica Canon EOS Rebel T1i (semiprofissional), tripé Bogen Manfrotto e pedestal para microfones RMV. Todas as entrevistas foram gravadas em formato HD (1240 x 720) e foram usados dois cartões de memória, com capacidade de armazenamento de 2GB e 16GB. A câmera Canon foi utilizada como base no tripé, com enquadramento em plano americano com a finalidade de subjetividade ao receptor, ou seja, como se o entrevistado estivesse dando o seu depoimento em uma conversa informal. Foi usado um microfone direcional da câmera Sony HXR-NX5, além de uma câmera Sony Handycam HDR-CX110 HD, que captou imagens utilizadas para estruturar um making off e outros ângulos durante a entrevista. A Handycam funciona também como uma captadora de emoções em superclose (boca, mãos, olhos, entre outros detalhes), além de ser um modo de diversificar enquadramentos e contribuir esteticamente para o vídeo. Após a definição dos equipamentos e técnicas utilizadas para a construção do material em vídeo, foi estruturada uma lista de entrevistados que colaboraram com depoimentos sobre a rotina de Jagger e Richards no interior de São Paulo. Também foram entrevistados pesquisadores e estudiosos da história do rock para contextualizar o

momento histórico que a banda e o mundo viviam no fim da década de 60. A seguir a lista de entrevistados que colaboraram para a elaboração do trabalho: Wanderley Zanoni Responsável por entregar os jornais aos Stones na Fazenda Boa Vista, falou sobre a convivência com Mick Jagger e Keith Richards, além de informações sobre a atmosfera causada por eles na cidade e o dia a dia dos músicos na fazenda. Luiz Fernando Pelanca Historiador que contextualizou o cenário da década de 60, principalmente na cidade de Matão. Também falou sobre a reação das pessoas e os possíveis motivos que levaram os Stones à Fazenda Boa Vista. Fábio Tieni Radialista. Em seu depoimento, Fábio comentou a situação dos Stones no cenário do rock mundial durante o final da década de 60 e as influências musicais matonenses levadas por eles para suas músicas. Salvador Scutti Jr. Sua família era vizinha da Fazenda Boa Vista e teve contato com os músicos. Junto com seus amigos, após a escola eles iam investigar a vida dos hóspedes. Scutti não concedeu entrevista em vídeo ao grupo, porém falou em off sobre o encontro dele com os Stones em uma estrada de bambu, entre outras histórias, como a conversa de Mick Jagger com sua mãe, além dos detalhes das vestes, aparência e comportamento dos dois músicos durante a visita e os detalhes da situação da Fazenda Boa Vista. José Roberto Siqueira Sanfoneiro da festa realizada na Fazenda Boa Vista, deu detalhes do evento, principalmente sobre a composição da música Honky Tonk Women. José Emílio Rondeau Jornalista e autor do livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, em sua entrevista, explicou o interesse de Jagger e Richards pela cultura brasileira, além de relatar a passagem dos integrantes por Copacabana dias antes da ida até o interior de São Paulo. Nélio Rodrigues Escritor, autor de Sexo, Drogas e Rolling Stones e Rolling Stones no Brasil: Do descobrimento à conquista (1968-1999), deu informações sobre a situação da banda na época, e os detalhes da visita a Matão, os motivos e como vieram ao Brasil. Rosemary Scutti Vizinha da Fazenda Boa Vista na época, ficou acampada em frente ao local durante a passagem dos Stones em Matão. Em sua entrevista, deu

detalhes sobre a aparência física dos músicos, além de contar sua experiência em acampar em frente à fazenda. Ricardo Simões Proprietário de um acervo de vídeos, disse em entrevista ao jornal O Imparcial de Araraquara que filmou os Stones na fazenda em Matão. Porém, o rolo com o filme não foi encontrado. Simões contou como foi a sua experiência em ver Mick e Keith de perto. 4.1. FORMATO O vídeo-documentário foi o formato adotado para contar a passagem dos Rolling Stones em Matão. Para Nichols (2005), o documentário representa o mundo histórico, ao moldar seu registro fotográfico de algum aspecto do mundo de uma perspectiva ou ponto de vista diferente. Em uma definição objetiva, o vídeo-documentário em questão trata-se de uma narrativa, que por meio de imagens, estabelece relações sobre e para o mundo, na medida em que há um espectador para receber essas informações (NICHOLS, 2005). No caso, o objetivo desta obra é mostrar, através dos depoimentos, o período em que os Rolling Stones ficaram hospedados por 17 dias em uma fazenda de Matão. Deste modo, o documentário se difere de um filme de ficção ou uma produção fictícia, pois visa mostrar a realidade por meio dos fatos e materiais existentes e provenientes da própria sociedade: Ao contrário da ficção, o documentário estabelece asserções ou proposições sobre o mundo histórico. São duas tradições narrativas distintas, embora muitas vezes se misturem. O fato de autores singulares explicitamente romperem os limites da ficção e do documentário não significa que não possamos distinguilos. (RAMOS, 2008, p.23) O vídeo-documentário não ficção é subdivido em seis tipos, segundo Nichols (2005): poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático. O poético permite formas de conhecimento alternativas, propõe um ponto de vista específico e apresenta proposições sobre problemas que necessitam soluções. No participativo o autor torna-se praticamente um ator social, com forte presença na ação. No reflexivo é gerada no espectador a reflexão sobre o que efetivamente está sendo representado. O performático aproxima-se, em certa medida, do cinema experimental, enfatizando aspectos subjetivos, diminuindo a força do discurso subjetivo e tornando

superlativo o estilo. No expositivo, por sua vez, são agrupados fragmentos do mundo histórico numa estrutura mais retórica ou argumentativa do que estética ou poética, dirigindo-se ao espectador diretamente, com legendas ou vozes que propõem uma perspectiva. Por fim, no observativo o documentarista não impõe um comportamento nem interfere na ação, de modo que pareça invisível ou não participante. O vídeo-documentário sobre a passagem dos Rolling Stones em Matão se aproxima dos modos expositivo e observativo. Este se justifica pelo fato da narrativa ser contada sem a interferência subjetiva dos documentaristas, recorrendo, então, às técnicas e preceitos jornalísticos. Já o expositivo se caracteriza por vários depoimentos e documentos que contarão a história. 5. DESCRIÇÃO DO PRODUTO A partir de todo o desenvolvimento bibliográfico sobre o tema tratado no trabalho, estabeleceu-se um roteiro de produção audiovisual para a elaboração e construção do material. Este roteiro estrutura a narrativa a partir de uma ordem cronológica, dividindo os acontecimentos desde o que trouxe Mick Jagger e Keith Richards ao Brasil, até como foram parar em Matão e o que fizeram durante a temporada no interior do São Paulo. Após a elaboração do roteiro, as imagens captadas foram editadas e encaixadas na história, criando um material em vídeo com 30 minutos de duração, apresentando os entrevistados e suas relações com os Rolling Stones, curiosidades e imagens da trajetória da banda durante os anos 60 e posteriores. Além disso, houve a preocupação em contextualizar o período histórico e cultural que a sociedade da época vivia, apresentando os principais fatos que mudaram o rumo do pensamento da época, como por exemplo, a repressão da ditadura militar no Brasil, a Guerra do Vietnã, a chegada do homem à Lua e o período de efervescência cultural que o mundo vivia com o movimento hippie e a contracultura. 6. CONSIDERAÇÕES O presente trabalho de conclusão de curso, além de dinâmico e desafiador, foi um convite aos moradores da região de Matão e também de todo o país a conhecer este

pequeno e curioso fragmento da história de uma das bandas de maior destaque no cenário do rock mundial. Durante o início do processo de pesquisa bibliográfica, havia pouca ou quase nenhuma informação concreta e confiável sobre o produto que estava sendo proposto. Porém, durante a construção do trabalho, a narrativa foi tomando forma e se consolidando, fazendo com que a história ganhasse um corpo com início meio e fim. Portanto, o presente trabalho acadêmico foi importante para afirmar a história, que antes era vista como boato e hoje tem a validação de que, de fato, ocorreu na pequena Matão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Campinas: Papirus, 2005 RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... O que é mesmo um documentário. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. RICHARDS, Keith. Vida. Brasil: Globo Editora, 2010. RODRIGUES, Nelio e RONDEAU, José Emílio. Sexo, Drogas e Rolling Stones. Brasil: Agir, 2008.