TOXICIDADE DE INSETICIDAS FISIOLÓGICOS AO CURUQUERÊ DO ALGODOEIRO (*) José Ednilson Miranda (Embrapa Algodão / miranda@embrapa.br), Sérgio Antonio De Bortoli (Unesp), José Eudes Morais de Oliveira (Unesp), Leandro Vieira (Unesp), Rafael Ferreira dos Santos (Unesp). RESUMO - A safra 2004/2005 foi caracterizada por freqüentes surtos populacionais de curuquerê-doalgodoeiro (Alabama argillacea), insetos que causam intensa desfolha das plantas, comprometendo a atividade fotossintética. A utilização de produtos químicos é uma das medidas mais utilizadas para o controle da praga, dentre eles se destacam os inseticidas denominados fisiológicos, que atuam como reguladores do crescimento dos insetos. Estas altas infestações têm lançado dúvidas quanto à efetividade das doses utilizadas para o controle do curuquerê. Este trabalho visou avaliar a toxicidade das doses recomendadas para o controle do inseto e comparar os níveis eficiência destes produtos contra a fase larval do curuquerê. Para tanto, os inseticidas foram aplicados nas doses recomendadas sobre o alimento e o corpo de lagartas de terceiro ínstar através de Torre de Potter. Avaliações diárias por 7 dias consecutivos permitiram definir a toxicidade aguda [96 horas após a aplicação (HAA)] e crônica (168 HAA) dos produtos testados. Todos os produtos testados apresentaram alta eficiência de controle após 168 HAA, causando acima de 80% de mortalidade nos insetos, não se constatando indícios de resistência dos insetos a estes inseticidas. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, Alabama argillacea, toxicidade aguda. TOXICITY OF PHYSIOLOGICAL INSECTICIDES TO THE COTTON LEAFWORM ABSTRACT - The 2004/2005 season was characterized by frequently high infestation of cotton leafworm (Alabama argillacea), insects that cause intense plant defoliation, committing the photosynthetic activity. The use of chemical products is one of the measures more utilised for the control of the pest, among them stand out the physiological insecticides, which act as insect growth regulators. These high infestation levels have been launching doubts on the effectiveness of the doses used for the control of the cotton leafworm. This work sought to evaluate the toxicity of the doses recommended for the control of the insect and to compare the efficiency of these products against the larval phase of the leafworm. The insecticides were applied at recommended doses on the food and the body of third instar caterpillars through Potter s Tower. Daily evaluations for seven consecutive days allowed to define the acute [96 hours after application (HAA)] and chronicle toxicity (168 HAA) of the products. All the tested insecticides presented high efficiency of control after 168 HAA, causing above 80% mortality in the insects, and it was not verified resistance indications of the insects to these insecticides. Key words: Gossypium hirsutum, Alabama argillacea, acute toxicity.
INTRODUÇÃO O algodoeiro é atacado por um complexo de pragas que, sem as devidas medidas de controle, podem reduzir significativamente a produção. Manter seu nível sob controle configura-se como grande desafio ao agricultor. Dentre as pragas que atacam a cultura destaca-se o curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argillacea), cuja infestações podem causar reduções significativas à produção (MIRANDA e LUCENA, 2003; OLIVEIRA et al., 2002). Ocorrendo desde a emergência das plantas até a formação dos capulhos, o curuquerê promove danos tanto quantitativos quanto qualitativos ao algodão. Ao causar o desfolhamento da planta, reduz a capacidade de fotossíntese e, conseqüentemente, a quantidade de fibras produzida pela planta. No caso de ataques tardios, com as maçãs já formadas, ocorre a maturação precoce das maçãs, o que deprecia a qualidade da fibra (BLEICHER, 1990; DOMICIANO e SANTOS, 1994; FERREIRA e LARA, 1999). A safra 2004/2005 vem sendo caracterizada por freqüentes surtos populacionais da praga, com desfolhas intensas comprometendo a atividade fotossintética. A utilização de produtos químicos é uma das medidas mais utilizadas para o controle da praga, dentre eles se destacam os inseticidas denominados fisiológicos, que atuam como reguladores do crescimento dos insetos. Estas altas infestações têm lançado dúvidas quanto à efetividade das doses utilizadas para o controle do curuquerê. Em face deste quadro, este trabalho visou avaliar a toxicidade das doses recomendadas para o controle do inseto e comparar os níveis eficiência destes produtos contra a fase larval do curuquerê. MATERIAL E MÉTODOS Os bioensaios foram realizados no Laboratório de Biologia de Insetos da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. Grupos de dez lagartas de terceiro ínstar de curuquerê foram colocadas para se alimentar sobre folhas de algodoeiro, sendo a seguir o conjunto pulverizado com 2 ml de soluções dos inseticidas em torre de Potter (25 lb/pol 2 ). A concentração foi determinada a partir da dose recomendada pelos fabricantes de cada produto, com base em volume de calda de 200 l/ha. No tratamento controle, as lagartas foram pulverizadas com igual volume de água destilada estéril. Foram utilizadas no bioensaio lagartas de mesmo tamanho e idade, coletadas de criação de manutenção, de geração F1 oriundas de indivíduos coletados em lavouras situadas nos municípios de Ipameri e Acreúna, Goiás. Para cada tratamento foram utilizados 40 insetos, em quatro repetições. As lagartas e alimento tratados foram a seguir mantidas em recipiente de criação (tubos de PVC medindo 21,5 cm de altura e 14,5 cm de diâmetro), sendo o alimento substituído a cada 24 horas (folhas não tratadas). A mortalidade foi aferida a cada 24 horas durante 11 dias consecutivos, a fim de se definir a toxicidade aguda (96 horas após a aplicação) e crônica (até a ecdise seguinte) dos produtos testados. Os resultados, após terem sido corrigidas pela fórmula de Abbott, foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os produtos testados são denominados fisiológicos e apresentam (com exceção de spinosad) ação reguladora do crescimento através da interferência na deposição da quitina. Outra característica importante comum a estes produtos é a baixa toxicidade a animais e seres humanos, além de sua seletividade para inimigos naturais (VIANA e COSTA, 1998). Em ambas as populações testadas, as taxas de mortalidade provocadas pelos produtos novaluron, triflumuron e diflubenzuron foram relativamente baixas a 24 horas após a aplicação (HAA), aumentando substancialmente a 96 HAA e atingindo os valores mais elevados na avaliação efetuada a 168 HAA, caracterizando assim sua ação típica de regulação do crescimento, ou seja, causando letalidade principalmente no final do instar do inseto (Fig. 1 e 2). Lufenuron apresentou valores iniciais (24 HAA) de mortalidade de lagartas intermediários para as duas populações (60 e 47%, respectivamente). Clorfluazuron promoveu alta mortalidade de lagartas (94%) após 24 HAA na população oriunda de Ipameri e taxa relativamente inferior (40%) na população de Acreúna. Spinosad apresentou ação de choque, causando taxas acima de 90% de mortalidade já na primeira avaliação (24 HAA), em ambas as populações. 100 Mortalidade (%) 80 60 40 20 0 Lufenuron Novaluron Triflumuron Diflubenzuron Spinosad Clorfluazuron 24 h 96 h 168 Figura 1. Mortalidade corrigida de lagartas de 3º instar oriundas de população coletada em Ipameri (GO) após exposição dermal e oral a inseticidas fisiológicos. Safra 2005/2006.
100 Mortalidade (%) 80 60 40 20 0 Lufenuron Novaluron Triflumuron Diflubenzuron Spinosad Clorfluazuron 24 h 96 h 168 h Figura 2. Mortalidade corrigida de lagartas de 3º instar oriundas de população coletada em Acreúna (GO) após exposição dermal e oral a inseticidas fisiológicos. Safra 2005/2006. Os resultados mostraram que a eficiência de controle a 168 HAA situa-se acima de 80% em todos os produtos testados. Alguns produtos que atuam na síntese de quitina (novaluron, triflumuron e diflubenzuron) apresentaram ação relativamente lenta (baseado na avaliação feita a 24 HAA), porém as taxas de mortalidade cresceram com o passar do tempo após a exposição. CONCLUSÃO Os produtos inseticidas reguladores de crescimento e de origem biológica testados apresentaram boa eficiência de controle após 7 dias (168 horas) da aplicação, não sendo constatados indícios de resistência dos insetos à ação destes inseticidas. (*) Trabalho financiado pelo Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão de Goiás FIALGO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLEICHER, E. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: Crócomo, W. B. (Ed.) Manejo integrado de pragas. São Paulo: UNESP, 1990. p.271-291. DOMICIANO, N.L.; SANTOS, W. J. Momento adequado para aplicação de inseticida no controle do curuquerê-do-algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 29, n. 1., p. 7-11, 1994. FERREIRA, A.; LARA, F. M. Tipos de resistência a Alabama argillacea (Huebner, 1818) (Lepidóptera: Noctuidae) envolvidos em genótipos de algodoeiro: Antibiose. Bragantia, v. 58, n. 2, p. 287-292, 1999. MIRANDA, J. E. M.; LUCENA, W. A. Apetite voraz. Cultivar, p.24-25. 2003. OLIVEIRA, J. E. de M.; TORRES, J. B.; CARRARO-MOREIRA, A. F.; RAMALHO, F. S. Biologia de Podisus nigrispinus predando lagartas de Alabama argillacea em campo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 37, n. 1, p. 7-14, 2002. VIANA, P. A.; COSTA, E. F. Controle da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E.Smith) (Lepidóptera: Noctuidae) na cultura do milho com inseticidas aplicados via irrigação por aspersão. An. Soc. Entomol. Brasil, v. 27, n. 3, p. 451-458, 1998.