Escola Florestan Fernandes, MST 20 de agosto de Luiz Carlos Bresser-Pereira

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Transcrição:

Escola Florestan Fernandes, MST 20 de agosto de 2014 Luiz Carlos Bresser-Pereira www.bresserpereira.org.br

} Ciclo Estado e Integração Social (Império) } Ciclo Nação e Desenvolvimento (1930-1977) } Ciclo Democracia e Justiça Social (1977-2014)

1. Projeto de diminuição da desigualdade 2. Projeto de desenvolvimento econômico } Há muito o Brasil não tem um projeto de desenvolvimento econômico. } No passado teve dois projetos, sempre desenvolvimentistas: 1. O Projeto Populista de Vargas 2. O Projeto Conservador de Delfim Netto } Mas tem, desde a transição democrática, um modesto projeto de diminuição da desigualdade, que ganhou mais força nos últimos doze anos.

} Foram, ambos, conservadores o dos militares mais consevador do que o populista de Vargas. } Foram ambos nacional-desenvolvimentistas: combinaram intervenção moderada do Estado, principalmente na infraestrura e nas indústrias de base, com moderado nacionalismo econômico. } E seus respectivos pactos políticos foram: 1. O Pacto Nacional-Popular de Vargas 2. O Pacto Autoritário-Modernizante de 1964

} Foi formulado e acordado no período da transição democrática (1977-1984). } Foi sustentado pelo Pacto Democrático Popular de 1977. } Que entrou em colapso em 1987, devido ao fracaso do Plano Cruzado. } Mas o Ciclo Democracia e Justiça Social continuou valendo } Mas o compromisso social foi mantido na Constituição de 1988. } Os governos democráticos o observaram. } Especialmente os três governos do PT.

} Não incluiu aumento da progressividade dos impostos (que é política que realmente promove a diminuição da desigualdade). } O acordo em relação à reforma agrária foi mais retórico do que real. } O verdadeiro acordo foi o de aumentar a despesa social em educação, saúde, assistência social, previdência social, cultura e esportes. } O financiamento: impostos indiretos regressivos.

} O grande momento das reformas agrárias é o da industrialização, porque ela desempenha um papel funcional ao criar mercado para ela. } Mas ela não aconteceu no período da revolução industrial brasileira (1930-1980). } Provavelmente porque da coalizão desenvolvimentista fazia parte da oligarquia proprietária de terras. } A partir de 1985, dado o êxito do agronegócio, não foi possivel demonstrar que a reforma agrária era economicamente necessária. } O argumento forte foi apenas o da justiça social, que não se revelou suficiente para que uma reforma agrária acelerada se realizasse. } Por isso é tão difícil a tarefa do MST.

} O acordo de 1977-84 já não existe mais. } Por isso, o Ciclo Democracia e Justiça Social, } que logrou alguma inclusão social, } esgotou-se } sem que o desenvolvimento econômico fosse retomado. } O novo pacto desenvolvimentista buscado por Lula e Dilma atraindo a burguesia industrial progressista fracassou. } O Brasil, sem qualquer coalizão de classes, volta a viver o clima morno da luta de classes sem esperanças.

quando se formar uma coalizão de classes desenvolvimentista e social. } Mas é pouco provável que um pacto político dessa natureza se forme, porque a democracia alcançada foi capaz de 1. acordar um projeto de diminuição da desigualdade econômica, 2. não um projeto de desenvolvimento econômico. } Porque impera no Brasil uma forte preferência pelo consumo imediato.

} Impede que o Brasil volte a neutralizar sua doença holandesa. } A industrialização brasileira só foi possível porque essa apreciação cambial de longo prazo foi neutralizada entre 1930 e 1990. } Um imposto de exportação o confisco cambial - neutralizava-a. } Com a abertura comercial e financeira de 1990-91, essa neutralização desapareceu, e a taxa de câmbio se apreciou cerca de 25%, desencadeando a desindustrialização. }

} é condição essencial para que a taxa de câmbio se torne competitiva (acompanhada, naturalmente de uma política cambial novodesenvolvimentista). } Uma política second best é um aumento linear na tarifa de importação de manufaturados (que neutraliza a doença holandesa em relação ao mercado interno). } Mas ninguém quer pagar o custo da depreciação once and for all necessária.

} prejudique o agronegócio e a mineração, como afirma a direita, porque o que as empresas pagam recebem de volta em termos de depreciação cambial. } ou que cause aumento de desigualdade, porque todos os rendimentos baixam. } Mas é verdade que, temporariamente, aumenta a inflação e caem os rendimentos. } É esse custo que a democracia brasileira não quer pagar. } O custo de não pagá-lo está sendo caríssimo.

Luiz Carlos Bresser-Pereira Professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas www.bresserpereira.org.br