Parecer Consultivo 23 sobre Meio Ambiente e. Direitos Humanos. Corte Interamericana de. Direitos Humanos

Documentos relacionados
DIREITOS HUMANOS. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições. Comissão Interamericana de Direitos Humanos - Parte 1.

1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO POR QUE A CIDH DECIDIU FAZER O RELATÓRIO?

QUESTIONÁRIO RELATÓRIO TEMÁTICO EMPRESAS E DIREITOS HUMANOS PARÂMETROS INTERAMERICANOS

OHSAS 18001:2007 SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAL

PEDIDO DE PARECER CONSULTIVO DO GOVERNO DA REPÚBLICA DO PANAMÁ

6. Norma 14001:2015 Sistema de Gestão Ambiental

DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS PERTENCENTES A MINORIAS NACIONAIS OU ÉTNICAS, RELIGIOSAS E LINGUÍSTICAS

DIREITOS HUMANOS. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições. Comissão Interamericana de Direitos Humanos Parte 2.

Conferência Internacional do Trabalho

POLÍTICA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO PÚBLICA

CHECK-LIST ISO 14001:

CONSULTA PRÉVIA, LIVRE, INFORMADA E DE BOA FÉ SANDRO LÔBO

Código de Ética e Padrões de Conduta Profissional

DECISÃO. Enquadramento

DIREITOS HUMANOS Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos: Instituições Corte Interamericana de Direitos Humanos Profª.

M3 CAPITAL PARTNERS GESTORA DE RECURSOS LTDA. CÓDIGO DE ÉTICA. São Paulo, Junho de 2016

Documento confidencial - Circulação restrita

MANUAL DE COMPLIANCE ASK GESTORA DE RECURSOS LTDA. Brasil Portugal - Angola

Revisão da ISO 14001:2015. Fernanda Spinassi

ACORDO ENTRE A REPÚBLICA PORTUGUESA E A REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL SOBRE A COOPERAÇÃO NO DOMÍNIO POLICIAL

DECLARAÇÃO SOBRE O DIREITO AO DESENVOLVIMENTO

POVOS INDÍGENAS, COMUNIDADES TRADICIONAIS E QUILOMBOLAS

NORMAS DE CONDUTA PARA OS ANALISTAS DE INVESTIMENTOS DA SOLIDUS S.A. CCVM

ACORDO ENTRE A REPÚBLICA PORTUGUESA E A REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL SOBRE A COOPERAÇÃO NO DOMÍNIO POLICIAL. Preâmbulo

Sistema de Gestão Segurança e Saúde Ocupacional (SGSSO) ESTRUTURA ISO :2016

Do Ministério Público do Trabalho

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Princípios e fundamentos

Normas para fornecedores

NORMAS DE CONDUTA DE TERCEIROS

DSV San José, 18 de maio de Honorável Juiz Roberto F. Caldas Presidente Corte Interamericana de Direitos Humanos

GUIA PARA A CONDUTA E O COMPORTAMENTO DA POLÍCIA SERVIR E PROTEGER FOLHETO

Módulo Contexto da organização 5. Liderança 6. Planejamento do sistema de gestão da qualidade 7. Suporte

Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro de 1998.

HOTEL AVALON CÓDIGO DE ÉTICA VALORES EMPRESARIAIS E PRINCÍPIOS ÉTICOS NORTEADORES

Código de Ética e Conduta

- 1 - AG/RES (XLVII-O/17) PLANO DE AÇÃO DA DECLARAÇÃO AMERICANA SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS ( ) 1/2/

Sistema de Gestão Segurança e Saúde do Trabalho (SGSSO) ESTRUTURA ISO 45001:2018

TRATADO ENTRE O JAPÃO E A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL SOBRE A TRANSFERÊNCIA DE PESSOAS CONDENADAS

DIREITOS HUMANOS. Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos: Instrumentos Normativos. Convenção sobre os Direitos da Criança

Política de Controles Internos

Aula 19. Convenção Americana de Direitos Humanos: art 24 ao 29. A igualdade formal apresenta um tratamento igualitário para todos os seres humanos.

POLÍTICA DE CONFORMIDADE

Conteúdos sobre segurança e saúde no trabalho Organismos e instituições

CÓDIGO DE CONDUTA DOS PROFISSIONAIS DE MARKETING

POLÍTICA DE NEGOCIAÇÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

CÓDIGO DE ÉTICA. Mod.PGM.14/0

O ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO SOCIAL E AMBIENTAL Á LUZ DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS: REQUISITOS E LIMITAÇÕES

PRINCÍPIOS BÁSICOS RELATIVOS À INDEPENDÊNCIA DA MAGISTRATURA. Princípios Básicos Relativos à Independência da Magistratura

Orientações. que especificam as condições para a prestação de apoio financeiro intragrupo nos termos do artigo 23. o da Diretiva 2014/59/UE

Dezembro de 2015 Versão 1.1. Código de Compliance

RESOLUÇÕES DA COMISSÃO DE ÉTICA PÚBLICA

Adoptado pela Direcção 26 de Setembro de 2011 e aprovado pela Assembleia Geral 24 de Setembro de 2011

Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra. Ter, 11 de Maio de :24

POLÍTICA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO DAS EMPRESAS ELETROBRAS

(Atos não legislativos) REGULAMENTOS

QUADRO COMPARATIVO. Projeto de Lei nº 7.448/2017 e Lei nº /2018 (Alterações na LINDB)

FORMAÇÃO EM NUTRIÇÃO ANIMAL

Estrutura da Gestão de Risco Operacional

Convenção sobre Diversidade Biológica: ABS

Convenção sobre Diversidade Biológica: ABS

Cibersegurança - aspetos económicos - Um desafio ou uma oportunidade?

CÓDIGO DE CONDUTA E ÉTICA

CÓDIGO DE CONDUTA PARA FORNECEDORES E SUBCONTRATADOS

Desafios para a manutenção da qualidade e independência regulatória

CÓDIGO DE CONDUTA DO FORNECEDOR BB TURISMO

TÍTULO I A PROBLEMÁTICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CAPÍTULO I SENTIDO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 1.º Formação e evolução

Política de Compliance

(Texto relevante para efeitos do EEE)

O Código de Ética e Conduta Profissional da ACM(Association for Computing Machinery) Código de Ética da ACM. Código de Ética da ACM

9664/19 hs/ag/ml 1 JAI.2

POLÍTICA DE FORNECIMENTO ÉTICO

PROJETO DA COMISSÃO DE DIREITO INTERNACIONAL DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS

Gestão de Segurança da Informação. Interpretação da norma NBR ISO/IEC 27001:2006. Curso e- Learning Sistema de

*4E50944F* de A Sua Excelência o Senhor Deputado Giacobo Primeiro-Secretário da Câmara dos Deputados

DH e Educação Aula 04

Política fiscal. Principais preocupações

ANEXO VII OBSTÁCULOS TÉCNICOS AO COMÉRCIO

PROPOSTA DE GUIA LEGISLATIVO: ELEMENTOS BÁSICOS SOBRE ASSISTÊNCIA RECÍPROCA

Política Controles Internos

Compliance. Nosso Compromisso

Política de Compliance

Possibilidade de ocorrência de perdas decorrentes de danos socioambientais.

POLÍTICA GERAL DE GESTÃO DE RISCO CORPORATIVO. A Política Geral de Gestão de Risco Corporativo se baseia nos seguintes princípios:

DIRETRIZES DA POLÍTICA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO

Licitações e Gestão de Contratos Administrativos

Política Geral de Segurança da Informação da Assembleia da República

CONVENÇÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO DE ESTRANGEIROS NA VIDA PÚBLICA A NÍVEL LOCAL

POLÍTICA PARA TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS DA VIA VAREJO S.A.

Diretrizes de Conduta Profissional. Diretores e Colaboradores. Sistema ABIMAQ / SINDIMAQ / IPDMAQ

COMITÊ INTERAMERICANO CONTRA O TERRORISMO (CICTE)

Responsabilidade por danos ambientais nos recursos hídricos, sua prevenção e reparação

Proibição da Discriminação e Ações Afirmativas

ÉTICA PELA VIDA BIOÉTICA REGINA PARIZI. Dezembro 2015

DIREITO INTERNACIONAL

Transcrição:

Parecer Consultivo 23 sobre Meio Ambiente e Direitos Humanos Corte Interamericana de Direitos Humanos Proferido em 15 de novembro de 2017

Índice I. Introdução...3 II. Conteúdo...5 III. Jurisdição...9 IV. Obrigações estatais frente a possíveis danos ambientais...11 OC-23 Parecer Consultivo No. 23/17 CADH Convenção Americana sobre Direitos Humanos DESC Direitos Econômicos, Sociais e Culturais CoIDH Corte Interamericana de Direitos Humanos CIDH Comissão Interamericana de Direitos Humanos SIDH Sistema Interamericano de proteção dos direitos humanos OEA Organização dos Estados Americanos DIDH Direito Internacional dos Direitos Humanos

ABC pareceres dos consultivos I. Introdução Como parte de sua função consultiva, a CoIDH tem a faculdade para interpretar a CADH, bem como outros tratados interamericanos Quem pode solicitar pareceres consultivos? Os Estados membros da OEA, a CIDH e os órgãos da OEA, nas áreas de sua competência. Qual é a sua finalidade? Os pareceres consultivos esclarecem o conteúdo dos direitos e obrigações estatais, à luz do tratado ou questão jurídica relacionada à proteção dos direitos humanos. Os pareceres consultivos são uma ferramenta de interpretação da CADH e de outros tratados para que os Estados adequem suas leis, práticas e políticas públicas aos parâmetros do SIDH.

Parecer Consultivo No. 23 O parecer consultivo foi solicitado pelo Estado da Colômbia no dia 14 de março de 2016. Vários Estados da região, órgãos da OEA, organismos estatais, organizações e indivíduos da sociedade civil e instituições acadêmicas apresentaram observações escritas. As questões consultadas pela Colômbia foram: Qual é o âmbito de aplicação das obrigações estatais relacionadas à proteção do meio ambiente derivadas da CADH? Quais são as obrigações dos Estados em matéria de meio ambiente, no marco da proteção e da garantia dos direitos à vida e à integridade pessoal, previstos na Convenção Americana?

OC-23 II. Conteúdo Questões abordadas Proteção do meio ambiente e direitos humanos Direito ao meio ambiente saudável e outros direitos violados pela degradação do meio ambiente Alcance do termo jurisdição sob a CADH Obrigações ambientais específicas, derivadas da CADH Os Pareceres Consultivos são um parâmetro obrigatório para o controle de convencionalidade e cumprem uma importante função preventiva, como guia a ser utilizada pelos Estados, para o respeito e a garantia dos direitos humanos nas matérias objeto de pronunciamento por parte da CoIDH. Caráter vinculante A CoIDH estabeleceu que a proteção e a garantia dos direitos humanos implica a obrigação de realizar um controle de convencionalidade, entendido como uma análise de compatibilidade do direito interno com os parâmetros derivados da CADH, outros tratados do SIDH e pronunciamentos de seus órgãos. Além das sentenças da CoIDH sobre casos contenciosos, esse exercício deve tomar em consideração igualmente os pareceres consultivos do referido órgão.

Qual é a relação entre Meio Ambiente e Direitos Humanos? Em concordância com resoluções, pronunciamentos e declarações internacionais sobre a matéria, a CoIDH ressalta a relação de interdependência e indivisibilidade entre a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos. Nesse sentido, destaca que os efeitos adversos da mudança climática atingem o desfrute efetivo dos direitos humanos. O direito ao meio ambiente saudável é um direito autônomo, com conotações individuais e coletivas, que protege os componentes do meio ambiente, tais como os bosques, rios, mares e outros, como interesses jurídicos em si mesmos. Os danos ambientais podem atingir todos os direitos humanos, no sentido de que seu pleno desfrute depende de um meio ambiente apropriado.

Principais direitos relacionados com o meio ambiente Direitos substantivos Aqueles que podem ser diretamente violados por danos ao meio ambiente Direito à vida Direito à moradia Direito a não ser deslocado forçosamente Direito a participar na vida cultural Direitos de procedimento Aqueles que servem de instrumento para garantir os direitos substantivos e o cumprimento das obrigações ambientais por parte dos Estados Direito à alimentação Direito à liberdade de expressão Direito à água Direito de associação Direito à integridade pessoal Direito de acesso à informação Direito à saúde Direito a um recurso efetivo Direito à propriedade Direito à participação na tomada de decisões

Maior intensidade dos danos ambientais em grupos em situação de vulnerabilidade Certos grupos sofrem com maior intensidade as violações ao direito ao meio ambiente em comparação com o resto da população, devido à sua especial situação de vulnerabilidade ou às circunstâncias fáticas, geográficas e econômicas que os caracterizam, tais como: Povos indígenas Em razão de sua especial relação espiritual e cultural com seus territórios Crianças e adolescentes Os danos ambientais aumentam os riscos apara a saúde e prejudicam as estruturas de apoio Mulheres Por estarem especialmente expostas devido à desigualdade e aos papeis assignados na sociedade. Comunidades que dependem dos recursos naturais Sua relação pode ser econômica ou para sua sobrevivência, tais como as comunidades costeiras e de pequenas ilhas pessoas que vivem em situação de pobreza Grupos ou pessoas em situação de discriminação histórica tais como: $ pessoas com deficiência Os Estados têm a obrigação de tomar em conta este impacto diferenciado no cumprimento das sus obrigações ambientais, com o fim de respeitar e garantir o princípio de igualdade perante a lei e a proibição da discriminação.

Os Estados Partes da Convenção Americana têm a obrigação de respeitar e garantir os direitos consagrados neste instrumento a toda pessoa sob sua jurisdição. O exercício da jurisdição por parte de um Estado implica sua responsabilidade pelas condutas a eles atribuíveis e que violam direitos consagrados na Convenção Americana. III. Jurisdição Âmbito de aplicação das obrigações ambientais dos Estados derivadas da CADH Qual é o alcance do termo jurisdição no SIDH? A CoIDH reafirmou que o conceito de jurisdição não se limita ao território. Por isso, as obrigações dos Estados não se restringem ao espaço geográfico correspondente a seu território, podendo abranger condutas extraterritoriais

Como se determina o exercício de jurisdição em virtude de condutas extraterritoriais? A Corte determinou que o exercício da jurisdição fora do território de um Estado é excepcional, devendo ser analisado segundo as circunstâncias fáticas e jurídicas de cada caso concreto, de maneira restritiva. Uma pessoa está submetida à jurisdição de um Estado, em relação a uma conduta cometida fora do seu território (condutas extraterritoriais) ou com efeitos fora do seu território, quando o respectivo Estado exerce autoridade sobre a pessoa ou quando esta se encontra sob seu controle efetivo, inclusive quando a conduta ocorre fora do território do Estado em questão. Danos ambientais transfronteiriços Os Estados têm a obrigação de evitar danos ambientais transfronteiriços que possam afetar os direitos humanos de pessoas fora de seu território. Desta maneira, os Estados devem adotar todas as medidas necessárias para evitar que as atividades desenvolvidas em seu território ou sob seu controle possam violar os direitos das pessoas dentro ou fora de seu território. Frente a danos transfronteiriços, um Estado poderia ser responsável pelos danos causados a pessoas fora do seu território, em consequência do descumprimento de suas obrigações internacionais em matéria ambiental dentro do seu território ou sob seu controle ou autoridade. Neste caso, a Corte interpretou que as pessoas afetadas pelo descumprimento de obrigações estatais ambientais em relação a atividades desenvolvidas em seu território se encontravam sob a jurisdição do Estado de origem no que concerne a responsabilidade internacional concreta.

IV. Obrigações estatais frente a possíveis danos ambientais O OC-23 desenvolve as obrigações de direitos humanos dos Estados em contextos de proteção ambiental e as implicações de cada uma delas. Conteúdo ambiental dos direitos à vida e à integridade pessoal O direito à vida exige condições que garantam uma vida digna e a integridade das pessoas. Para que isso seja possível, deve-se adotar medidas positivas para o acesso e qualidade da água, alimentação e saúde, entre outras condições mínimas relacionadas com a existência de um meio ambiente saudável. O OC-23 se refere às obrigações ambientais para a proteção dos direitos à vida e à integridade pessoal, por serem estes os direitos em relação aos quais o Estado da Colômbia realizou a consulta. Entretanto, as obrigações ambientais descritas no OC-23 também poderiam ser aplicáveis a outros direitos que poderiam ser afetados em razão da degradação do meio ambiente, como os direitos à saúde, água, alimentação, propriedade, etc. Obrigações de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade pessoal frente a possíveis danos ao meio ambiente Respeitar: obrigação de abster-se (i) de qualquer prática ou atividade que denegue ou restrinja o acesso, em condições de igualdade, aos requisitos para uma vida digna, e (ii) de contaminar ilicitamente o meio ambiente. Garantir: prevenção, regulamentação, supervisão e fiscalização, bem como medidas positivas para que os indivíduos possam exercer seus direitos a uma vida digna e à preservação de sua integridade.

Obrigações estatais frente a possíveis danos ambientais Para o cumprimento das obrigações de respeitar e garantir, em um contexto de proteção do meio ambiente, os Estados devem cumprir as seguintes obrigações: I. Obrigação de prevenção 1. Dever de regulamentar 2. Obrigação de supervisar e fiscalizar 3. Obrigação de requerer e aprovar estudos de impacto ambiental 4. Dever de estabelecer um plano de contingência 5. Dever de mitigar II. Princípio de precaução III. Obrigação de cooperação 1. Dever de notificar 2. Dever de consulta e negociação IV. Obrigações de procedimento 1. Acesso à informação 2. Participação pública 3. Acesso à justiça Devida diligência O dever de devida diligência (entendido como uma obrigação de comportamento e não de resultado) permeia a maioria das obrigações em matéria ambiental.

I. Obrigação de prevenção Tipo de danos que devem ser prevenidos: danos ambientais significativos Âmbito de aplicação: dentro ou fora de seu território em situações sob a jurisdição do Estado Dano significativo A Corte definiu dano ambiental significativo como qualquer dano ao meio ambiente que possa implicar uma violação aos direitos à vida ou à integridade pessoal, de acordo ao conteúdo e alcance de tais direitos [ ]. A existência de um dano significativo nestes termos é algo que deverá ser determinado em cada caso concreto, com atenção às suas circunstâncias particulares. 1. Dever de regulamentar Tomando em conta o nível de risco existente, as atividades que podem causar um dano significativo ao meio ambiente devem ser regulamentadas. Requisitos para regulamentar os estudos de impacto ambiental: Quais atividades propostas e impactos devem ser examinados? Como deve ser o procedimento para realizar um estudo de impacto ambiental? Que responsabilidades e deveres possuem as pessoas que propõem o projeto, as autoridades competentes e os entes ou órgãos que tomam as decisões? Como será utilizado o processo de estudo de impacto ambiental para a aprovação das atividades propostas? Que passos e medidas devem ser adotados caso o procedimento estabelecido para realizar o estudo de impacto ambiental ou para implementar os termos e condições da aprovação das atividades propostas não sejam seguidos?

I. Obrigação de prevenção 2. Obrigação de supervisar e fiscalizar Os Estados devem desenvolver e colocar em prática mecanismos adequados e independentes de supervisão e prestação de contas, entre os quais deve-se incluir medidas preventivas e medidas para investigar, sancionar e reparar possíveis abusos, mediante políticas adequadas, atividades de regulamentação e acesso à justiça. Quanto maior o risco, maior deve ser a intensidade da supervisão e fiscalização do Estado. 3. Obrigação de requerer e aprovar estudos de impacto ambiental Os Estados devem exigir a realização de um estudo de impacto ambiental quando exista risco de dano significativo ao meio ambiente, independentemente de se a atividade ou projeto é realizado por um Estado ou por particulares. Requisitos que devem ser cumpridos na realização de estudos de impacto ambiental Antes da atividade ou antes da concessão das permissões necessárias para sua realização; Por entidades independentes sob a supervisão do Estado; Abranger o impacto acumulado, provocado pelos projetos existentes e os que serão provocados pelos projetos que possam ser propostos; Contar com a participação das comunidades indígenas, se o projeto puder afetar seus territórios; Seu conteúdo deve ser precisado mediante legislação ou no marco do processo de autorização do projeto, tomando em consideração a natureza e magnitude do projeto e a possibilidade de impacto que teria no meio ambiente.

I. Obrigação de prevenção 4. Dever de estabelecer um plano de contingência Os Estados devem ter um plano de contingência para responder a emergências ou desastres ambientais, que inclua medidas de segurança e procedimentos para minimizar suas consequências. Ainda que o Estado onde se realiza a atividade ou projeto seja o principal responsável pelo plano de contingência; quando for apropriado, o plano deve ser realizado com a cooperação de outros Estados potencialmente atingidos e organizações internacionais competentes. 5. Dever de mitigar O Estado deve mitigar o dano ambiental significativo, inclusive quando ocorra apesar de ações preventivas. Para tanto, deve-se assegurar que: Sejam tomadas as medidas apropriadas para mitigar o dano; Sejam adotadas imediatamente, inclusive se a origem da contaminação não for conhecida, e Seja utilizada a melhor tecnologia e método científico disponíveis. Algumas ações de mitigação são: Limpeza e restauração; Conter o âmbito geográfico do dano e prevenir, se possível, que afete outros Estados; Colher todas as informações necessárias sobre o incidente e o perigo de dano existente; Em casos de emergência em relação a uma atividade que pode produzir um dano significativo ao meio ambiente de outro Estado, o Estado de origem deve, da forma mais célere possível, notificar aos demais Estados que possam ser atingidos pelo dano; Uma vez notificados, os Estados atingidos ou potencialmente atingidos devem adotar todas as medidas possíveis para mitigar e, se possível, eliminar as consequências do dano, e Em caso de emergência, além disso, deve-se informar as pessoas que possam vir a ser atingidas.

II. Princípio de precaução Uma interpretação pro homine da Convenção Americana conduz a que os Estados devam atuar conforme ao princípio de precaução frente a possíveis interferências nos direitos à vida e à integridade pessoal. O que significa o princípio de precaução frente a possíveis danos ao meio ambiente? Que os Estados devem atuar quando haja indicadores plausíveis de que uma atividade poderia provocar danos graves e irreversíveis ao meio ambiente, inclusive diante da ausência de certeza científica; Que os Estados devem adotar medidas eficazes para prevenir o possível dano grave ou irreversível.

III. Obrigação de cooperação Esta obrigação é de caráter interestatal. Consiste na obrigação de cooperar, de boa-fé, para a proteção contra danos ao meio ambiente Essa obrigação inclui: 1. Dever de notificar Os Estados devem notificar os demais Estados potencialmente atingidos por danos significativos que se originam na sua jurisdição. Surge quando um Estado tem conhecimento de que uma atividade planejada para ser executada em sua jurisdição poderia gerar um risco de danos transfronteiriços significativos (antes do estudo de impacto ambiental ou como resultado deste); Abrange danos significativos que surgem em função de atividades planejadas pelo Estado ou por particulares com autorização estatal, bem como em casos de emergências ambientais; Deve-se realizar de maneira oportuna e prévia ao desenvolvimento da atividade planejada e sem demora em caso de emergências ambientais; Deve ser acompanhada da informação pertinente. 2. Dever de consulta e negociação Os Estados devem consultar e negociar com os Estados potencialmente afetados por danos transfronteiriços significativos. Tem como objetivo a prevenção ou mitigação dos danos transfronteiriços; Deve ser realizado de maneira oportuna e de boa-fé, de maneira que: - Não deve ser um procedimento meramente formal, devendo envolver a vontade mútua dos Estados de discutir seriamente os riscos ambientais atuais e potenciais; - Durante o mecanismo de consulta e negociação, os Estados devem se abster de autorizar ou executar as atividades em questão. Não implica consentimento prévio de outros Estados possivelmente atingidos; Se as partes não chegam a um acordo, devem acudir aos mecanismos de solução pacífica de controvérsias, seja por meios diplomáticos ou judiciais.

IV. Obrigações de procedimento 1. Acesso à informação relacionada com possíveis interferências no meio ambiente Os Estados têm a obrigação de respeitar e garantir o acesso à informação relacionada com possíveis afetações ao meio ambiente. Esta obrigação: Deve ser garantida: A toda pessoa sob a jurisdição do Estado; De maneira acessível, efetiva e oportuna; Sem que a pessoa solicitante tenha que demostrar interesse específico. informação Implica: A provisão de mecanismos e procedimentos para que as pessoas solicitem informações; A produção e difusão ativa de informação pelo Estado. Não é absoluta, admitindo restrições, sempre e quando: Estejam anteriormente previstas em lei; Respondam a um objetivo permitido pela CADH; e Sejam necessárias e proporcionais para responder a um interesse geral em uma sociedade democrática.

IV. Obrigações de procedimento 2. Participação pública das pessoas na tomada de decisões e políticas que podem afetar o meio ambiente Os Estados têm a obrigação de garantir a participação na tomada de decisões e em políticas que podem afetar o meio ambiente, sem discriminação, de maneira equitativa, significativa e transparente. Para tanto, devem garantir o acesso à informação relevante. Os Estados devem garantir oportunidades para a participação efetiva desde as primeiras etapas do processo de adoção de decisões e informar ao público sobre as oportunidades de participação. 3. Acesso à justiça em relação à proteção do meio ambiente Os Estados têm a obrigação de garantir o acesso à justiça, em relação às obrigações para a proteção do meio ambiente. Para isso, devem garantir aos indivíduos acesso a recursos judiciais, conduzidos de acordo com as regras do devido processo, com a finalidade de: Em virtude da obrigação geral de não discriminar, os Estados devem garantir o acesso à justiça às pessoas afetadas por danos transfronteiriços originados em seu território, e sem discriminação em razão da nacionalidade, da residência ou do lugar onde o dano tenha ocorrido. (i) impugnar qualquer norma, decisão, ato ou omissão das autoridades que violam as obrigações em matéria de direito ambiental; (ii) assegurar a plena realização dos demais direitos de procedimento; e (iii) remediar qualquer violação de seus direitos, como consequência do descumprimento das obrigações de direito ambiental.

Parecer Consultivo 23 sobre Meio Ambiente e Direitos Humanos A versão original completa do OC-23 pode ser consultada na seguinte página web: http://corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_23_esp.pdf