INDICADORES DA PECUÁRIA DE LEITE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: UMA ABORDAGEM DA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO



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Transcrição:

INDICADORES DA PECUÁRIA DE LEITE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: UMA ABORDAGEM DA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO JAQUELINE GOMES MEDEIROS; ALEXANDRE LOPES GOMES; JULIANA SOUZA OLIVEIRA. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF, VOLTA REDONDA, RJ, BRASIL. jaque.gmedeiros@bol.com.br APRESENTAÇÃO ORAL ADMINISTRAÇÃO RURAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO INDICADORES DA PECUÁRIA DE LEITE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: UMA ABORDAGEM DA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO Resumo O objetivo principal deste trabalho foi analisar a eficiência dos recursos aplicados na atividade leiteira, no estado do Rio de Janeiro, através da estimação de uma função de produção do tipo Cobb-Douglas, estimada pelo Método de Mínimos Quadrados Ordinários. O modelo estimado apresentado foi o que obteve maior aderência aos dados. As variáveis mãode-obra, capital fixo e número de vacas em lactação foram as que apresentaram maior retorno à produção e portanto são as que necessitam de maior investimento. Palavras-chave: pecuária leiteira, função de produção, eficiência. Abstract The main objective of this work was to analyze the efficiency of the resources applied in the milk activity, in the state of Rio de Janeiro, through the esteem of a function of production of the Cobb-Douglas type, esteem for ordinary square minimums method. The esteem model presented was the one that got greater tack to the data. The variable labor, fixed capital and number of cows in lactation had been the ones that had presented greater return to the production and therefore they are the ones that they need bigger investment. Keywords: cattle milkmaid, function of production, efficiency.

1. Introdução No Brasil, o complexo agroindustrial do leite tem importância significativa, está presente em todo território nacional e, na maioria dos estados, gera renda e uma quantidade expressiva de postos de trabalho. Segundo o Censo Agropecuário de 1996 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE, 1996), do total de 4,83 milhões de estabelecimentos agropecuários do Brasil, 1,81 milhões dedicavam-se, ao menos parcialmente, à pecuária de leite, o que representava 37% do total. O Brasil é sexto maior produtor de leite do mundo com 23,32 bilhões de litros produzidos no ano de 2005 (IBGE, 2006). Segundo Gomes (2001), a década de 90 foi um "divisor de águas" para a cadeia agroindustrial do leite no Brasil, em função de três fatores que foram fundamentais para as transformações observadas no setor: 1) Liberação do preço do leite, em setembro de 1991; 2) Estabilidade da economia, com destaque para queda da inflação com a implantação do plano real, em julho de 1994; e 3) Maior abertura comercial. Estes fatos foram responsáveis para que a cadeia do leite tenha sido uma das que mais se transformou nos últimos anos. Entre estas transformações podem-se destacar o crescimento expressivo da produção nacional, principalmente na região centro-oeste, assim como um aumento significativo das importações e queda de preços com conseqüente redução da renda líquida dos produtores. Em 1991 houve o fim do tabelamento de preços após 46 anos de regulamentação do Estado. Segundo Martins (2002), o argumento para a intervenção do Estado no preço do leite sempre foi a proteção dos consumidores, e acentuou-se na década de 80, quando o controle do custo de vida recebeu maior atenção em função das altas taxas de inflação. No entanto, os resultados do longo período do tabelamento não foram satisfatórios. Em nível de produção, o que se observou foram taxas reduzidas de crescimento da produção acompanhada por baixos índices zootécnicos, pouca especialização do rebanho e restrita adoção de práticas higiênicosanitárias. O Plano Real em 1994 fez com que as importações de leite aumentassem de forma significativa, especialmente de leite em pó. Este fenômeno teria ocorrido para cobrir os déficits gerados pela elevação da renda per capita, impedindo que os preços internos se elevassem. Vale lembrar que, em equivalentes litros de leite, as importações corresponderam, em 1995, a cerca de 20% da produção nacional e 13% em 1996 (GOMES, 2002). A prática de dumping no leite exportado para o Brasil, derrubava o preço doméstico, além de contribuir para ampliar sua instabilidade, na medida em que ocorriam maciças importações também no período de safra da produção nacional. A queda de preço do leite e o aumento de sua instabilidade inviabilizaram vários projetos de produção de leite, tendo como conseqüência natural, a expulsão de produtores e de seus empregados, o que significou a saída prematura do homem do campo. Este processo vem ocorrendo até hoje, mesmo que em menor intensidade. O terceiro fator que merece destaque neste processo de transformação no setor diz respeito à abertura da economia brasileira e a criação do Mercosul no início da década de 90. Estes fatos proporcionaram uma série de transformações no setor, já que o segmento lácteo se viu exposto à concorrência de empresas de grande porte e dos preços praticados no mercado internacional. Assim, a abertura comercial fez com que os produtores nacionais tivessem que concorrer com produtores de outros países, situação desconhecida pelo produtor nacional uma vez que o mercado era controlado pelo governo. A situação de baixa produtividade do rebanho, a reduzida produção por propriedade e a qualidade inferior do leite entregue aos laticínios foram apontados por Faria (1995) e Rodrigues (1999) como restrições a serem vencidas, visando aumentar a competitividade do setor frente aos produtos importados.

O Rio de Janeiro, estado analisado neste trabalho, apresenta um rebanho leiteiro com baixa produtividade, diante deste fato enfatiza-se a necessidade de incitar meios que possibilitem uma melhor coordenação da cadeia agroindustrial do leite do Rio de Janeiro, além do aumento da eficiência produtiva da pecuária leiteira do estado. Assim como acontece em outros estados, no Rio de Janeiro a produção de leite também está concentrada em pequenas propriedades. Segundo dados do último censo agropecuário, 51% da produção é proveniente de estabelecimentos de menos de 100 hectares. Vale registrar que tais áreas englobam todas as atividades rurais e não apenas a pecuária de leite. A pequena área da maioria dos estabelecimentos rurais indica a inviabilidade de sistemas de produção de leites extensivos. O aumento da escala de produção, principal caminho para aumentar a renda do produtor, deve intensificar os modelos de produção, aumentando, em especial, a produção por área do pasto. Entende-se que a iniciativa de se estudar a produção de leite do Rio de Janeiro constitui um propósito importante no sentido de rever a atual eficiência da mesma. Percebe-se que o estado perde divisas e postos de trabalho com a baixa produtividade. O efeito final não é sentido no abastecimento em si, mas na geração de riquezas que deixam de existir no estado. A relação entre insumos do processo produtivo e o produto resultante é descrita como a função de produção, que é a referência teórica básica deste trabalho. Uma função de produção indica o produto que o produtor produz para cada combinação específica de insumos. Uma função de produção de um produto agrícola qualquer pode ser representada pela equação por Y = f (terra, mão-de-obra e capital) que indica que a quantidade de produto depende da quantidade de três insumos. A função de produção permite ainda que os insumos sejam combinados em proporções variadas, de modo a permitir também diversas maneiras de produção de determinado volume produzido. À medida que a tecnologia se torna mais avançada e a função de produção se modifica, um produtor pode passar a obter maior volume de produção, por meio de determinado conjunto de insumos. As funções de produção descrevem o que é tecnicamente viável quando o produtor opera com eficiência; ou seja, quando a empresa utiliza cada combinação de insumos da forma mais eficiente possível. Portanto, os objetivos do presente estudo foram estimar a função de produção de leite e identificar os principais fatores que afetam essa produção no Rio de Janeiro, bem como verificar a existência de economias de escala por parte dos produtores. 2. Metodologia Para estimar a função de produção de leite para o Rio de Janeiro, utilizou-se a função tipo Cobb-Douglas, que de acordo com a teoria econômica (HENDERSON & QUANDT), é

uma das funções de produção homogêneas mais usadas; é uma função homogênea de grau 1, tem elasticidade constante de substituição igual a 1 e é membro da classe CES (Constant Elasticity of Substitution). As condições de primeira ordem de uma função CES determinam que a razão de uso de insumos deve ser uma função linear em logaritmos da razão de preços dos insumos. Os coeficientes estimados são as elasticidades parciais de produção de cada fator. Yi = β 0 * (X i ) βi * e ui (i = 1,2,..., n) (1) Foi utilizada a transformação logarítmica, obtendo-se a seguinte equação: lnyi = lnβ 0 + β 1 ln X 1 + β 2 ln X 2 +... + β n ln X n + U i, (2) onde: Y = produção total; β 0 = parâmetro de eficiência; β i = elasticidades de produção; U i = erro aleatório; e Xi... Xn = variáveis explicativas. Com referência às variáveis utilizadas para estimação do modelo, algumas variáveis foram agregadas, em relação à terra, capital e trabalho, são elas: Y = quantidade de leite produzido, em litros/dia; X l = área utilizada na pecuária leiteira, em hectares; X 2 = quantidade de concentrados utilizados na pecuária leiteira, em kg; X 3 = valor gasto com medicamentos na pecuária leiteira em um ano, em R$; X 4 = valor total da mão-de-obra utilizada na pecuária em um ano, em R$; X 5 = valor do capital fixo imobilizado, em R$; X 6 = quantidade de vacas em lactação; X 7 = valor gasto com minerais na pecuária em um ano, em R$; X 8 = inseminação artificial, variável Dummy que assume valores de acordo com o uso ou não do processo; X 9 = valor do gasto com energia; X 1O = grau de sangue médio das vacas; e U i = erro aleatório A produção de leite (Y) é quantificada em litros e refere-se a toda produção, sendo o somatório das quantidades comercializadas processadas e destinadas ao autoconsumo. A área destinada à pecuária (X l ) é quantificada em hectares e refere-se ao somatório das áreas utilizadas com pastagem (capineira), forrageira (cana-de-açúcar) e silagem (milho). Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, uma vez que, quanto mais área disponível para a prática da atividade, maior deverá ser a produção de leite. O valor gasto com concentrados no processo produtivo (X 2 ) refere-se ao somatório de todo o concentrado utilizado em um ano multiplicado pelo preço de custo. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, uma vez que, quanto maior o uso de concentrado na alimentação do gado, melhor deverá ser a produtividade do rebanho. O valor gasto com medicamentos (X 3 ) refere-se ao somatório de todos os medicamentos utilizados no rebanho em um ano multiplicado pelo seu custo. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, uma vez que, estando o rebanho protegido das doenças, ele deverá ter produtividade mais elevada. O valor gasto com mão-de-obra (X 4 ), medida em dias/homem, refere-se ao somatório da mão-de-obra permanente mais a temporária em um ano multiplicado pelo custo do dia de trabalho. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois, quanto maior for a

produção de leite, maior o dispêndio com mão-de-obra. O valor do capital fixo imobilizado (X 5 ) corresponde ao capital investido em terra, benfeitorias, máquinas e animais empregados na atividade pecuária. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois, quanto maior for o valor do capital investido no processo produtivo, maior será a produção. Quantidade de vacas em lactação (X 6 ) é o somatório das vacas do rebanho que estão em fase de produção de leite. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois, quanto maior for o número de vacas, especializadas (com relação ao grau de sangue), maior será a produção. Valor gasto com minerais (X 7 ) refere-se ao somatório de todos os minerais utilizados no processo produtivo, no período de um ano, multiplicado pelos seus custos. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois, quanto maior for o gasto com insumos, maior será a produção de leite. A inseminação artificial (X 8 ), uma variável qualitativa, será utilizada, pois poderá influenciar a produção, na qual se utiliza a variável Dummy, que assume valores de acordo com o uso ou não desse processo. Espera-se que os produtores que adotam tal processo de reprodução terão rebanho melhorado geneticamente, especializado para produção de leite, em que predominam vacas com o grau de sangue ½ HZ ou mais holandês. Dessa forma, terão rebanhos com maior produtividade. O valor do gasto com energia (X 9 ) é o somatório elas quantidades dos vários tipos de energia multiplicados pelos valores de seus custos. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois maior uso da energia significa que o produtor estará utilizando, no processo produtivo maior tecnificação, o que implicará dessa forma, maior produção de leite. O grau de sangue médio das vacas (X 10 ) refere-se ao melhoramento genético do rebanho, expresso em um coeficiente que exprime a média deste. Espera-se sinal positivo do parâmetro dessa variável, pois, quanto maior for o grau de sangue do rebanho, mais ele será especializado em produção de leite, proporcionando maior volume deste produto. A função de produção deverá ser estimada pelo método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), com os seguintes pressupostos fundamentais: 1- As variáveis exógenas são não estocásticas. 2- Os termos de erro são independentes, seguindo distribuição normal com média zero e variância constante. 3- O número de observações (T) é muito superior de parâmetros. 3. Fonte de Dados Os dados utilizados neste trabalho foram coletados na Implantação do Programa Cadeias Produtivas Agroindustriais do Sebrae Nacional entre os anos de 2003 a 2004, pela equipe do Professor Dr. Sebastião Teixeira Gomes, da Universidade Federal de Viçosa. Este programa fez um levantamento detalhado de dados com produtores de leite no estado do Rio de Janeiro, e foi desenvolvido em parceria com o Programa Estadual de Melhoria da Produção e Produtividade da Pecuária Leiteira - PROLEITE da Câmara Setorial e demais instituições envolvidas no setor. 4. Resultados O modelo estimado apresentado foi o que obteve maior aderência aos dados. Exceto o parâmetro β 2 que se refere a variável X1 (área destinada a atividade leiteira), que mostrou sinal negativo, quando o esperado era sinal positivo.

O coeficiente de determinação (R2) calculado indicou que 92% das variações ocorridas na produção de leite do Rio de Janeiro são explicadas por variações nas variáveis selecionadas para compor o modelo. Em complemento a isso se observou que o teste F foi significativo a 1%, indicando haver boa relação conjunta entre as variáveis. As variáveis valor gasto com concentrados (X2), inseminação artificial (X8) e valor do gasto com energia (X9) foram excluídas do modelo final por não serem significativas. A Tabela 1 apresenta os resultados do modelo estimado. Tabela 1.- Parâmetros estimados da função de produção para os produtores de leite do estado do Rio de Janeiro Variáveis Coeficiente Erro-padrão Valor de t Probabilidade Intercepto 0.146511 0.631548 0.231987 0.8168 X l -0.207580 0.054021-3.842593 0.0002 X 3 0.126393 0.043744 2.889382 0.0043 X 4 0.429406 0.050033 8.582510 0.0000 X 5 0.374488 0.071979 5.202767 0.0000 X 6 0.398496 0.067907 5.868250 0.0000 X 7 0.054463 0.024524 2.220767 0.0276 X 10 0.211313 0.096304 2.194232 0.0295 De acordo com os resultados obtidos, observou-se que os sinais dos coeficientes estimados apresentaram-se de acordo com o previsto na teoria da produção, exceto o coeficiente da variável área, que teve o sinal negativo, ao passo que se previa sinal positivo característico desse fator. Isso ocorreu devido à lei dos rendimentos decrescentes, onde normalmente quando a produção atinge certo limite, as despesas podem aumentar (custos dos fatores de produção), porém a produção não é proporcional aos gastos efetuados. Pode-se continuar aplicando os recursos disponíveis, que a produção só irá decrescer após o nível ótimo de produção. No caso do modelo estimado a quantidade de terra utilizada por estes produtores pode estar muito além da quantidade ótima para o nível de produção apresentado. Por isso o modelo acusa que se houver aumento no uso deste fator de produção poderá haver desequilíbrio no sistema com o excesso ainda maior de terra comprometendo ainda mais a eficiência do sistema. Em relação ao impacto das variações individuais das variáveis explicativas sobre a produção de leite, o modelo estudado, por apresentar-se na forma ser log-log fornece diretamente os valores das elasticidades. Assim tem-se que: a variável terra (X1) apresentou sinal contrário ao esperado, indicando que dado um aumento de 10% na área utilizada com a atividade leiteira implica em redução da produção de leite em 2%. A variável quantidade de medicamentos utilizados no rebanho (X2) apresentou sinal coerente com a teoria, e mostrou que dado um aumento de 10% na quantidade utilizada pelo animal a produção de leite aumenta em 1,3%. Este resultado é pouco expressivo, pois esperase que um rebanho mais saudável gere uma maior eficiência produtiva. Porém, este baixo retorno da produção também pode indicar que a quantidade de medicamentos utilizada já é suficiente para a necessidade do rebanho, logo, com o tempo, seu aumento trará apenas gastos desnecessários para o produtor.

A variável mão-de-obra (X4) indicou que dado um aumento de 10% no valor total da mão-de-obra, há aumento de 4,3% na produção. Este fator mostra que a mão-de-obra especializada acarretará em retornos na produção. Vale lembrar que mão-de-obra qualificada é fundamental para se obter sucesso na atividade. Isto ajuda a explicar o fato do aumento neste fator de produção gerar incrementos tão significativos na atividade leiteira. O elevado retorno apresentado na função mostra que os produtores devem investir de forma significativa neste fator de produção. A variável capital fixo (X5) indica que a cada 10% investido neste tipo de capital há um aumento de 3,7% na produção de leite. Portanto, pode-se perceber a importância de se investir em capital fixo. No entanto, o que se observa na maioria das propriedades é, além do baixo nível de capital imobilizado, a falta de gastos diretos para que este capital fixo se torne produtivo. Por exemplo, o produtor pode ter muitos animais, mas não possui recursos para realizar gastos correntes com pastagens de boa qualidade ou mesmo para fazer uso de concentrado, que é uma tecnologia de efeito imediato, e faz com que ocorram incrementos na produção. Um aumento de 10% no número de vacas em lactação (X6), provoca um acréscimo de 4% na produção. Como era de se esperar, a contribuição do número de vacas em lactação na produção foi bastante significativo, principalmente se for acompanhado de um programa de melhoramento genético dos animais buscando maior aptidão dos mesmos para a atividade. O elevado número de vacas, porém com baixa aptidão para o leite implica em maiores gastos com alimentação com baixo retorno produtivo. A utilização de minerais na atividade também apresenta impacto na produção leiteira. Porém, este impacto no aumento da produção mostrou ser muito baixo uma vez que dado um acréscimo de 10% no uso de minerais na alimentação do rebanho a quantidade produzida de leite aumenta somente 0,5%. Isto pode ser explicado pelo fato dos produtores estarem fornecendo concentrados aos animais no limite da quantidade ótima. Em relação ao grau de sangue (X 10 ), um aumento de 10% nesta variável proporciona um incremento de 2,1% na produção. A contribuição desta variável poderá aumentar se o produtor investir mais em seu rebanho, através de inseminação artificial, por exemplo. Este retorno elevado com relação a um programa de melhoramento genético dos animais reflete a carência dos estabelecimentos quanto à aptidão das vacas para a atividade leiteira. Na função Cobb-Douglas, os coeficientes das variáveis explicativas representam as parcelas de participação na equação de produção de leite CURI (1997). Analisando o percentual de participação dos fatores, verificou-se que o gasto com mão-de-obra, o número de vacas em lactação e o valor do capital fixo imobilizado podem ser focos de investimentos que poderão trazer os retornos para a produção de leite nos estabelecimentos analisados. 5. Conclusões Existe um conjunto de variáveis que favorecem para o baixo nível de produção de leite no estado do Rio de Janeiro. A função de produção estimada neste trabalho ajuda a compreender quais são os fatores de produção que estão sendo utilizados aquém ou além do

ponto que maximiza a produção de leite. A partir destas observações podem ser realizadas políticas que contribuam para que os produtores possam alocar melhor seus recursos e aumentar a eficiência. O fator de produção mão-de-obra mostrou ser um dos que mais precisam de investimentos. O aumento de 1% neste fator de produção poderá incrementar a produção em 0,43%. Isto mostra a carência de mão-de-obra de boa qualidade nas propriedades analisadas. O investimento em capital poderá aumentar a produção em 3,7% para cada 10% investido. Isto mostra a importância do capital no processo produtivo. Em geral, investimentos em capital significam ganhos de tecnologia que, certamente, se bem aplicada, aumentará a produção de leite. O número de vacas também demonstrou-se um fator que pode contribuir bastante na produção de leite. Para cada 10% investido o retorno será de 4%. No entanto, o produtor deve pensar que existe uma combinação de fatores que permite auferir ganhos na produção e entre estes fatores, um dos mais importantes é o grau de sangue. Portanto, pouco adianta aumentar o número de animais se estes não apresentam aptidão para a atividade leiteira. No entanto, por ser uma tecnologia de retorno mais longo os produtores criam resistência em adotar esta estratégia. Os resultados deste processo muitas vezes é o aumento no número de animais sem o retorno esperado na produção de leite pelo fato dos animais apresentarem baixo grau de sangue. 6. Bibliografia CURI, W. F. Eficiência e fontes de crescimento da agricultura mineira na dinâmica de ajustamentos da economia brasileira. Viçosa: UFV, 1997. 95p. Dissertação (Doutorado em Economia Rural) - Universidade Federal de Viçosa, 1997. FARIA, V.P. Produção e cooperativas de produtores de leite no Brasil. In: SEMINÁRIO AS COOPERATIVAS E A PRODUÇÃO DE LEITE NO ANO 2000, 1995, Belo Horizonte. Belo Horizonte: OCEMG, 1995. p. 29-40. FRANCISCHINI, R., CASTRO, G. P. C. Eficiencia de alocação de recursos na produção leiteira de Minas Gerais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 40., 2002, Recife. Anais... Brasília: SOBER, 2002. 1 CD-ROM. GOMES, S.T. Equilíbrio e lucro do sistema de produção de leite. Jornal da Produção de Leite, Viçosa, MG, fev. 2001. p.1. GOMES, A.L. Determinantes da queda do preço do leite recebido pelo produtor: uma abordagem de curto e longo prazo. 2002. 47 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2002.

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