O ESTRESSE VIVENCIADO PELA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) A ocorrência de estresse na vida moderna é um fato marcante e presente, tanto na vida profissional, como na vida pessoal. O estresse é tido como um mecanismo para o enfrentamento de desafios a fim de suprir as exigências e padrões impostos pela sociedade e pelo trabalho na tentativa de manter o equilíbrio homeostático 1. Ao considerar a perspectiva fisiológica, o estresse trata-se de um mecanismo químico e hormonal de defesa frente às exigências e ameaças do cotidiano. Quando acompanhado de reações de entusiasmo, vitalidade, otimismo e força física, o estresse possui um aspecto positivo. No entanto, quando o indivíduo avalia que as demandas superam os recursos que possui para enfrentá-las, pode leva-lo ao cansaço, irritabilidade e doenças 1. A UTI é um ambiente considerado por vários autores, profissionais e pacientes, como estressante. Esta avaliação pode ser compreendida em virtude da alta movimentação de pessoas, sons de equipamentos, cuidados a pacientes graves, de risco, intercorrências, convivência com situações de morte e sofrimento, uso de tecnologias complexas que, às vezes, os próprios trabalhadores não estão preparados para vivenciar estas experiências 2. O estresse ocupacional caracteriza-se por situações que ameaçam a satisfação profissional, a saúde física e mental do trabalhador no ambiente laboral. Assim, os trabalhadores de enfermagem são aqueles com maior risco de adoecimento, devido às relações internas, a sobrecarga de trabalho e o caráter das atividades realizadas. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo conhecer, na literatura existente, as características do estresse ocupacional vivenciado pela enfermagem em UTI. Para identificar as principais características do estresse ocupacional vivenciado pela enfermagem realizou-se uma pesquisa descritivo-exploratória com abordagem qualitativa através de uma revisão narrativa de literatura. A busca bibliográfica foi desenvolvida na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), em setembro de 2018, a partir dos termos estresse ; saúde do trabalhador ; unidade de terapia intensiva ; enfermagem, na língua portuguesa, foram incluídos artigos na íntegra que abordavam a temática, no recorte temporal de 2014 a 2018. Após a seleção das produções existentes procedeu-se a análise do conteúdo e a classificação dos eixos temáticos. Por fim, a interpretação dos resultados com base na fundamentação dos diferentes autores.
Na busca inicial, encontrou-se 18 produções. A partir do estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra restringiu-se 10 artigos. Estes foram classificados em três eixos temáticos, saber: A contextualização do estresse: A unidade de terapia intensiva é um setor de atendimento a pacientes críticos, assistidos ininterruptamente, no qual o profissional vivencia diversas situações, como das emergências da unidade, até a morte do paciente, favorecendo o estresse 3. O estresse está presente durante a atividade profissional, pois, passa aproximadamente um terço de seu dia na interação com pacientes, familiares e equipe de saúde, o que pode gerar situações estressantes no cotidiano de trabalho 4. A situação de estresse prepara o organismo para enfrentar situações de risco ou emoções fortes, contudo este é considerado uma reação normal e necessária para a sobrevivência do ser humano. O que lesa o organismo é a presença deste sentimento em níveis elevados, permanentemente, de maneira a originar sintomas físicos e psicológicos no indivíduo 5. O estresse ocupacional é reconhecido como um dos principais problemas para a saúde do trabalhador e para o bom funcionamento das instituições, pois resulta em aumento do absenteísmo, menor dedicação ao trabalho, aumento da rotatividade de pessoal, queda do rendimento e produtividade e maior risco de acidentes 1. O estresse laboral é definido quando o ambiente de trabalho é compreendido como ameaça à integridade da pessoa, podendo causar repercussões tanto na sua vida profissional quanto pessoal. Algumas doenças podem ocorrer quando os níveis de estresse se encontram elevados, as quais podem ser físicas e emocionais, desencadeando sentimentos negativos, comportamentos alterados e repúdio em estar aberto para novas ideias e informações 2. Os fatores associados ao estresse ocupacional: A unidade de terapia intensiva é um dos ambientes mais estressores, tensos e traumatizantes do hospital, pois, não atingem somente os pacientes, mas toda a equipe multiprofissional, principalmente a enfermagem, dado que estão submetidos a inúmeros agentes estressores, tais como complexidades, da estrutura física, do barulho constante, de equipamentos de alta tecnologia, da movimentação intensa de pessoas, do sofrimento dos pacientes 6. Além de problemas de relacionamento e interação com membros de outras equipes, falta de recursos humanos e de material, a própria assistência que envolve a dor, a morte e situações de urgência 7.
Os principais sinais e sintomas de estresse ocupacional: A exposição repetida e prolongada a eventos estressores conduz o organismo à Síndrome Geral de Adaptação, que é dividida em quatro fases: na primeira, de alerta, que pode durar apenas algumas horas, o organismo prepara-se para uma reação de fuga ou luta, aumentando a liberação de adrenalina e a produtividade; na segunda fase, de resistência, se o estressor perdurar, o organismo usa toda a sua energia para se equilibrar, havendo redução na liberação de adrenalina e aumento de corticoides, fatores que levam o indivíduo a ficar mais susceptível às doenças; na terceira fase, de quase exaustão, inicia-se o processo de adoecimento e os órgãos que possuem maior vulnerabilidade genética ou adquirida passam a mostrar sinais de deterioração; na quarta fase, de exaustão, se o estressor persistir, podem ocorrer distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade, vontade de fugir de tudo, dificuldade de memória e irritabilidade, podendo ainda surgir doenças, como: hipertensão, gastrite, úlceras e baixa do sistema imunológico 4. O estresse está presente no desenvolvimento de enfermidades como úlceras pépticas, doenças cardiovasculares, doenças mentais e doenças infecciosas que levam os indivíduos a procurarem por assistência à saúde, pois, está intimamente relacionado com a ativação do sistema nervoso autônomo simpático e endócrino, sistemas envolvidos na coordenação e regulação das funções do organismo 8. Na área hospitalar, o trabalho em turnos é necessário e indispensável para garantir a continuidade dos cuidados prestados aos pacientes. Entretanto, o trabalho em turnos tem sido associado a diversas alterações nas funções biológicas, que conduzem a agravos físicos e mentais 9. E ainda, o trabalho noturno é prejudicial à saúde devido às mudanças no ritmo circadiano, que estão associadas às características exaustivas do ambiente da unidade de terapia intensiva, potencializando seus efeitos na saúde mental dos trabalhadores de enfermagem. Quanto maior o número e a duração dos turnos noturnos, maior a prevalência de doenças psiquiátricas 10. Outro fator refere-se a dupla jornada, visto que expõe por mais tempo o trabalhador nos locais de trabalho, este podem ser considerados como possíveis causadores de estresse, levando ao aparecimento de sintomas sugestivos que podem desencadear estresse como irritabilidade, cansaço e desatenção 6. Acredita-se que os resultados sinalizados podem contribuir com profissionais de enfermagem no sentido de implementar estratégias de enfrentamento aos fatores estressores, com vistas a minimizar os danos e agravos à saúde.
Conclui-se que, os trabalhadores de enfermagem que atuam em Unidades de Terapia Intensiva estão propensos a adoecerem por estresse, uma vez que este ambiente hospitalar abriga inúmeros agentes estressores, dentre eles carga física e psicológica a que estão expostas, intervenções e procedimentos de alta complexidade, relacionamento interpessoal com familiares e demais profissionais, além de lidar com a dor e a morte. REFERÊNCIAS 1. Firmino N, Ascari RA. Correlação entre abordagem sobre estresse e os níveis de cortisol em membros das forças policiais: revisão integrativa. BJSCR. 2018;22(3):99-106. 2. Padilha KG, Barbosa RL, Andolhe R, Oliveira EM, Ducci AJ, Bregalda RS et al. Carga de trabalho de enfermagem, estresse/burnout, satisfação e incidentes em unidade de terapia intensiva de trauma. Texto contexto - enferm. 2017;26(3):e1720016. 3. Monte PF, Lima FET, Neves FMO, Studart RMB, Dantas RT. Estresse dos profissionais enfermeiros que atuam na unidade de terapia intensiva. Acta paul. enferm. 2013;26(5):421-427. 4. Fabri JMG, Noronha IR, Oliveira EB, Kestenberg CCF, Harbache LMA, Noronha IR. Estresse ocupacional em enfermeiros da pediatria: manifestações físicas e psicológicas. Rev baiana enferm. 2018;32:e25070. 5. Zanetti TG, Graube SL, Dezordi CCM, Bittencourt VLL, Horn RC, Stumm EMF. Sintomas de estresse em familiares de pacientes adultos em terapia intensiva. Rev. Saúde e Pesquisa. 2017;10(3):549-555. 6. Decezaro A, Frizon G, Silva OM, Toniollo CL, Busnello GF, Ascari RA. O estresse dos enfermeiros que atuam na unidade de terapia intensiva: uma revisão de literatura. Revista UNINGÁ. 2014;19(2):29-32. 7. Schmidt DRC. Modelo demanda-controle e estresse ocupacional entre profissionais de enfermagem: revisão integrativa. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2013:66(5):779-788. 8. Teixeira L, Veloso L, Ribeiro IA, Oliveira T, Cortez AC. Estresse ocupacional na enfermagem atuante na unidade de terapia intensiva: uma revisão da literatura. Investig Enferm Imagen Desarr. 2017;19(2):195-211. 9. Vidotti V, Ribeiro RP, Galdino MJQ, Martins JT. Síndrome de burnout e trabalho por turnos entre a equipe de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2018; 26:e3022. 10. Vasconcelos EM, Martino MMF, França SPS. Burnout e sintomatologia depressiva em enfermeiros de terapia intensiva: análise de relação. Rev. Bras. Enferm. 2018; 71(1):135-141. Autores Flávia dos Santos Lugão de Souza Enfermeira, Doutoranda pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro PPGENFBIO-UNIRIO, Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery (UFRJ), Professora da Faculdade do Futuro, Integrante do Grupo de Pesquisa PENSAT. Joanir Pereira Passos Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Coordenadora do Curso de Doutorado - PPGENFBIO. Professora Titular do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professora do Programa de Pós-Graduação Enfermagem e Biociências (PPGENFBIO) da UNIRIO. Líder do Grupo de Pesquisa PENSAT. Como citar este post (Vancouver adaptado): SOUZA FSL, PASSO JP. O estresse vivenciado pela enfermagem em unidade de terapia intensiva (UTI). [internet]. Rio de Janeiro (br); 2018 [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: http://www.journaldedados.wordpress.com.br...(completar com os dados do site).