SUINOCULTURA DINÂMICA Ano II N o 8 Junho/1993 Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA CNPSA



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SUINOCULTURA DINÂMICA Ano II N o 8 Junho/1993 Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA CNPSA Pneumonia em suínos Itamar Antônio Piffer 1 José Renaldi Feitosa Brito 1 As doenças respiratórias mais frequentemente diagnosticadas nos sistemas convencionais de produção de suínos são a rinite atrófica, pneumonia micoplástica e a pleuropneumonia. As perdas econômicas decorrentes dos problemas respiratórios são bastante sérias e recaem tanto sobre os produtores como sobre a indústria. Sobre os primeiros, em consequência dos gastos com medicamentos, redução do desenvolvimento corporal dos animais afetados e mortalidade; sobre a indústria, pela condenação de carcaças, especialmente no caso da pleuropneumonia. Estima-se que as pneumonias são responsáveis pela perda de 2,4 suínos com peso de 95 Kg, para cada 100 animais abatidos no Sul do Brasil. Objetiva-se, neste trabalho, divulgar informações básicas sobre pneumonias de suínos, para produtores e técnicos, para permitir a prevenção por meio de medidas mais adequadas, reduzindo o impacto econômico na produção. moniae, Salmonella choleraesuis, Haemophilus parasuis, Streptococcus suis tipo 2); parasitários (Ascaris suum e Metastrongilos); micoplasmas (Micoplasma hyopneumoniae, M. hyorhinis) e vírus como os da peste suína clássica, da doença de Aujeszky, da influenza, adenovírus, reovírus tipo 3 e o agente do síndrome reprodutivo e respiratório dos suínos (vírus de Lelystad; ainda não isolado no Brasil) estão envolvidos de forma isolada ou associada na etiologia das pneumonias suínas. Porém, os mais importantes nos quadros pneumônicos em criações intensivas são M. hyopneumoniae, P. multocida e A. pleuropneumoniae. Considerando-se a natureza distinta das etiologias envolvidas nas pneumonias (bactérias, vírus, micoplasmas e parasitos) o diagnóstico etiológico preciso é o passo inicial para que medidas adequadas possam ser adotadas. Sinais clínicos Agentes patogênicos envolvidos com as pneumonias Agentes bacterianos (Bordetella bronchiseptica, Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneu- 1 Pesquisadores da EMBRAPA CNPSA Os animais afetados por pneumonias têm dificuldade respiratória, que pode ser acompanhada de tosse com catarro (tosse produtiva) ou sem catarro (tosse não produtiva, seca). Alguns animais tossem mesmo quando em repouso enquanto outros somente após serem movimentados. Estes animais podem ter febre. Em algumas doenças dos suínos, em que o sistema Suínos e Aves

respiratório é comprometido, estes sintomas são associados com manchas avermelhadas na pele e sintomas nervosos, caracterizados por movimentos ondulatórios, incoordenações e convulsões. Nestes casos e naqueles onde há morte de animais com sintomas respiratórios, ou quando se encontram animais mortos eliminando sangue pelo nariz a rápida identificação do agente causador é essencial para a orientação tanto das medidas terapêuticas quanto profiláticas, evitando-se grandes prejuízos econômicos e a disseminação da doença. Epidemiologia do ar, oferta de espaço mínimo para cada animal em cada fase da criação, facilidade com que as edificações permitem a disseminação dos agentes microbianos entre diferentes grupos etários e o status imunitário do rebanho. Foram identificados vários fatores de risco que estão relacionados com as características acima apontadas e que devem ser eliminados ou minimizados em qualquer programa de controle das pneumonias. Os fatores de risco são: Entre as doenças primárias do trato respiratório destacam-se a pneumonia micoplásmica dos suínos e a pleuropneumonia suína causadas respectivamente por M. hyopneumoniae e A. pleuropneumoniae. Em ambas, a transmissão dos agentes etiológicos é estabelecida através do contato com secreções do trato respiratório de suínos infectados e através de aerosóis. Nos dois casos existem portadores dos agentes que não apresentam doença clínica. Estes animais são os principais responsáveis pela trasmissão da doença entre rebanhos, principalmente a pleuropneumonia suína. O A. emphpleuropneumoniae não sobrevive muito tempo no meio ambiente, sua morte ocorre quando as secreções úmidas que o protegem secam. A alta incidência de infecção por M. hyopneumoniae em granjas SPF sugere a possibilidade de transmissão a longa distância pelo vento. Existem evidências de que uma distância mínima de 4 km seria necessária para que não houvesse transmissão do M. hyopneumoniae por via aerógena. Para a pneumonia micoplásmica e a pleuropneumonia a trasmissão através de botas, equipamentos e vestuários não deve ser desconsiderada. Esta transmissão indireta é muito mais importante para a pleuropneumonia suína na forma aguda onde todas as mucosas aéreas dos suínos doentes estão altamente contaminadas pelo agente causal. A gravidade das pneumonias, em um determinado rebanho, depende da qualidade do meio ambiente. A ocorrência e severidade das pneumonias, em um determinado rebanho, depende da qualidade 1. Repopulação de terminações com animais de várias origens e mistura de animais com várias idades. 2. Não adoção do sistema todos dentro-todos fora em todas as fases da criação (maternidade, creche, crescimento-terminação). 3. Terminações com lotação superior a 500 animais. 4. Mais do que duas fileiras de baias nas terminações. 5. Lotacão das baias superior a 1,00 animal/m 2 na terminação. 6. Volume de ar inferior a 3m 3 por animal na terminação. 7. Índices de amônia superior a 7 ppm nas terminações. 8. Mais do que 105 bactérias viáveis (UFC)/m 3 de ar nas terminações 9. Remoção de fezes na forma líquida. 10. Utilização do piso ripado. 11. Rebanhos com excesso de primíparas (mais do que 30% das reprodutoras). 12. Peso inferior a 1 kg ao nascer e idade de desmame inferior a 24 dias. 13. Flutuação de temperatura interna superior a 6 o C por dia. 2

Considerando-se os fatores citados pode-se dizer que a influência negativa das pneumonias estaria substancialmente reduzidas nos sistemas de produção que adotassem a prática de todos dentro-todos fora e cujas terminações possuíssem salas com espaço para até 200-300 animais, com densidade de 1 m 2 /animal e volume de ar superior a 3 m 3 por terminado. Estas unidades teriam piso compacto, com duas fileiras de baias para 15 animais cada, provida de varanda, onde estaria o sistema de eliminação de dejetos. A ventilação seria natural e os animais terminados deveriam originar-se de uma única fonte que, no mínimo, adotasse o sistema todos dentro-todos fora. Associação entre pneumonia e produtividade Para determinar o impacto econômico das pneumonias na produção deve-se acompanhar do abate entre 30 e 100 animais do rebanho. Determina-se a seguir o percentual da área do pulmão afetado por pneumonia para cada animal e calcula-se a média do grupo. Feito isto, multiplica-se este resultado por 3,74 e aí obtém-se a perda em ganho diário (gramas/dia). A metodologia para se determinar a área de pulmão afetado por pneumonias encontra-se na série Documentos, n o 23 da EMBRAPA CNPSA Descrição de um modelo para avaliação e quantificação de lesões pulmonares de suínos e formulação de um índice para classificação de rebanhos, que pode ser adquirido através de solicitação ao CNPSA. Estima-se uma perda de 37,4 g/dia de ganho de peso para 10% de hepatização pulmonar. O exame dos animais ao abate, além de permitir a avaliação das perdas econômicas, pode ajudar na avaliação das medidas profiláticas, medicamentosas e de correções do manejo adotadas. Tratamento e controle das pneumonias Tratamento das pneumonias agudas e sub-agudas Os animais afetados por pneumonias agudas e sub-agudas apresentam, com intensidade diversa, alguns dos seguintes sintomas: dificuldade respiratória, tosse produtiva, prostração, dificuldade de movimentação ou atitude de cachorro sentado, manchas avermelhadas pelo corpo, extremidades azuladas (focinho, orelhas e patas), sangue ou catarro saindo pelas narinas, desinteresse pelo alimento e perda do brilho característico do animal sadio. Estes animais não se alimentam e, portanto, devem receber medicação injetável ou na água de beber. O antibiótico de escolha depende da causa da pneumonia. Na tabela 1 relacionam-se os agentes comumente associados com pneumonias agudas e sub-agudas e algumas das drogas recomendadas. O tratamento deve ser iniciado imediatamente com uma das drogas indicadas, para evitar a morte, e esta droga deve permanecer como arma terapêutica para o rebanho até a conclusão de exames bacteriológicos e antibiogramas para os agentes envolvidos. Em função desta nova informação o veterinário responsável irá mudar ou manter o mesmo antimicrobiano. O veterinário é importante para a realização do exame clínico dos animais, acompanhamento dos animais ao abate, determinação dos tipos de agentes etiológicos que o laboratório deve procurar, coleta do material adequado para estes exames e interpretação dos resultados finais que se transformarão em informações precisas para o produtor. Tratamento das pneumonias subclínicas As pneumonias subclínicas ocorrem sem sintomatologia definida. Suspeita-se desta condição quanto se observa tosse, geralmente seca, e desuniformidade de desenvolvimento corporal entre os animais. O diagnóstico desta condição é realizado através de achados de necropsia ou do acompanhamento dos animais ao abate, onde é possível quantificar as pneumonias e estimar os seus custos. Os custos com medicamentos não podem ultrapassar as perdas. Na Tabela 2 estão relacionadas as etiologias e algumas drogas que podem ser utilizadas nestas condições. Nos rebanhos, onde as pneumonias são importantes, esta afecção ocorre geralmente em todas as formas (aguda, sub-aguda e subclínica). Nesta situação deve-se instituir a medicação para as formas agudas e subagudas e estabelecer uma 3

estratégia medicamentosa para as pneumonias subclínicas. Medicação estratégica para o controle das pneumonias Para se estabelcer uma medicação estratégica é preciso determinar em que período do crescimento os sintomas respiratórios são mais intensos. Procura-se identificar causas de erro de manejo em período de duas a três semanas anteriores a esta idade. A correção destes fatores, associada a uma medicação adequada, reduzirá o impacto das doenças. Na tabela 2 estão relacionados alguns antimicrobianos para serem utilizados na ração ou na água. O processo de desmame submete os leitões a uma série de estresses; decorrentes do afastamento da mãe, mudança de regime alimentar, mistura com animais estranhos com concomitante briga para a formação da nova hierarquia social e disseminação de agentes patogênicos entre animais oriundos de diferentes leitegadas. Em estudos epidemiológicos observou-se que a medicação na ração após o desmame era associada a menores índices de pneumonias do que àqueles determinados para rebanhos não medicados. Outra maneira para estabelecer medidas terapêuticas, imunoprofiláticas ou correções de manejo, está na utilização de perfis sorológicos para as doenças que afetam determinados rebanhos. Para isto, processa-se o exame sorológico, para(s) doença(s) em questão, de 30 a 50 soros de quatro períodos etários, a começar pela idade de desmame e após com espaçamento de 30 dias. Na Figura 1 temos o perfil sorológico de um rebanho afetado pelo Actinobacillus pleuropneumoniae, agente da pleuropneumonia suína. Observa-se que os índices mais elevados de anticorpos foram detectados no 2 o e 4 o período. Medidas profiláticas e medicamentos foram tomadas no 1 o e 3 o estágio, que são anteriores ao pique de anticorpos. Os resultados das medidas refletiram-se no perfil obtido 4 meses após (Fig.2). Observa-se que as medidas tomadas foram adequadas uma vez que houve uma forte restrição da disseminação da infecção no rebanho com a consequente redução da doença. A EMBRAPA CNPSA tem condições de determinar anticorpos neutralizantes para as citolisinas de A. pleuropneumoniae para determinar perfis sorológicos. Reatores positivos (%) 60 50 40 30 20 10 0 Período 1 (desmame) Período 2 Período 3 Período 4 Sorotipo 1 Sorotipo 3 Sorotipo 5 Sorotipo 7 Sorotipo 9 Figura 1: Perfil sorológico para Actinobacillus pleuropneumonia antes da medicação estratégica. Vacinações Na prevenção das pneumonias as vacinas ajudam a evitar as perdas econômicas. Em geral, as vacinas contra as doenças respiratórias (rinite atrófica, pleuropneumonia e pneumonia micoplásmica) não previnem a infecção e, portanto, não erradicam as doenças, porém, reduzem a incidência, evitam o desenvolvimento de lesões (rinite atrófica e pneumonia micoplásmica) e/ou mortalidade (pleuropneumonia). Estratégias globais para o controle das doenças respiratórias Depopulação Consiste na eliminação de todo o rebanho, seguida de desinfecção e vazio sanitário. O reestabelecimento do rebanho deve ser feito com animais livres da maioria dos agentes microbianos que causam doenças respiratórias. Esta opção necessita de fornecedores deste tipo de animal e devem ter definido o status sanitário de seus animais através de laudos de acompanhamentos sorológicos e de exames dos animais realizados no momento do abate. Os animais são considerados livres de determinadas infecções (SPF) apenas para aquelas etiologias que são pesquisadas. Na ausência de fornecedores de animais com estas características poder-se-ia obter os próprios animais SPF removendo os úteros das matrizes em final de gestação (histerectomias) e criando os leitões em local isolado com alimentação artificial. Este processo é custoso e requer muito trabalho 4

Reatores positivos (%) 60 50 40 30 20 10 0 Período 1 (desmame) Período 2 Período 3 Período 4 Sorotipo 1 Sorotipo 3 Sorotipo 5 Sorotipo 7 Sorotipo 9 Figura 2: Perfil sorológico para Actinobacillus pleuropneumonia após medicação estratégica. e capacitação técnica. Somente algumas companhias que se dedicam o melhoramento genético ainda usam este procedimento. A reinfecção dos rebanhos por certos agentes patogênicos que se tenta eliminar, por este processo, principalmente M. hyopneumoniae, é bastante alta. Alternativas à depopulação, menos custosas e que não eliminam o rebanho básico, são as seguintes: Desmame precoce medicado As matrizes são vacinadas e medicadas com antimicrobianos, imediatamente antes do parto. Deve-se escolher matrizes a partir do 3 o parto. Os leitões são medicados com antimicrobianos desde o nascimento até o desmame que ocorre aos 5 dias de idade, são criados em creche isolada recebendo alimentação à base de leite de vaca. Tanto as fases de creche quanto as seguintes da criação, são conduzidas dentro do princípio todos dentro-todos fora, em locais isolados. Estes animais substituirão o rebanho original. Este método elimina rinite atrófica, pneumonia micoplásmica, pleuropneumonia suína, desinteria suína e sarna sarcóptica. leitões são mantidos no princípio de "todos dentrotodos fora". Com oito a dez semanas de idade, são transferidos para outro local, o terceiro sítio, onde permanecem até a idade de abate. Esta última unidade pode ser instalada mais próxima do abatedouro, facilitando e economizando os custos com transportes. Sistema Zimmernan É apropriado para rebanhos pequenos, de até 30 matrizes. Doenças como rinite atrófica, pleuropneumonia suína e pneumonia micoplásmica podem ser controladas, sem necessidade de eliminação total do rebanho. O sistema consiste na eliminação de todos os animais jovens, permanecendo na propriedade apenas o plantel de reprodutores por 14 dias, recebendo medicação e vacinação para as doenças que se deseja controlar. Os leitões nascidos são medicados, continuamente, do nascimento ao desmame. O esquema todos dentro-todos fora é estabelecido para todas as fases. Os sistemas descritos (desmame precoce medicado, produção em três sítios e o sistema Zimmerman) podem ser associados, adaptando-se aos sistemas de produção de suínos envolvidos. Revisores Técnicos Nelson Mores Sérgio Renan S. Alves Produção em três sítios É uma modificação do sistema desmame precoce medicado. As matrizes são vacinadas e/ou medicadas contra as doenças que se deseja combater. Os leitões são desmamados entre 10 e 21 dias de idade e transferidos para uma nova instalação, a uma distância de, pelo menos, três quilômetros da maternidade. Igual distância deve ser mantida de outros rebanhos, mas a distância deve ser mantida de outros rebanhos, mas a distância ideal não está ainda determinada para as nossas condições. Quanto maior melhor. Os 5

Tabela 1: Antimicrobianos utilizados no controle das pneumonias agudas e sub-agudas dos suínos, de acordo com o agente etiológico envolvido. Agente Droga Dosagem Via de Frequência Duração do administração (horas) tratamento Danofloxacin 1,25mg/kg IM Ceftiofur sódico 1 mg/kg IM 24 3 Flumequine 15-30mg/kg VO 12 5 A. pleuropneumoniae Oxitetraciclina 5-22mg/kg IM 24 4 7 Penicilina G 40.000UI/kg IM 48 e 72 NA Sulfa-trimetropin 5 15mg/kg IM 24 5 Trimetropin (T) 10mgT + Sulfadiazina (S) +60mgS/kg IM, VO 24 5 Oxitetraciclina LA 20mg/kg IM 72 NA B. bronchiseptica Sulfatiazol 125mg/l VO Não exceder 7 dias Tilosina (base) 10mg/kg IM 3 5 Danoflaxacin 1,25mg/kg IM Espiramicina (adipato) 25 50mg/kg IM 24 3 5 M. hyopenumoniae + Lincomicina 10 30mg/kg IM 12 24 10 P. multocida Oxitetraciclina 5 22mg/kg IM 24 4 7 Tiamulin 0,12 0,25g/l VO NA 5 10 Tiamulin 15mg/kg IM 3 IM = intramuscular, VO = via oral e NA = não se aplica Tabela 2: Antimicrobianos no controle das pneumonias subclínicas dos suínos, de acordo com o agente etiológico envolvido. Agente Droga Água (g/l) Ração (ppm) Período (dias) Período de remoção da droga antes do abate Oxitetraciclina 0,5 0,7 400 1000 5 14 21 A. pleuropneumoniae Clotetraciclina 0,5 400 1000 5 7 21 Enrofloxacin 150 Oxitetraciclina 0,5 0,7 400 1000 5 14 21 B. bronchiseptica + Clotetraciclina 0,5 400 1000 5 7 21 P. multocida Tilosina (fosfato) NA 250 400 5 0 Tilosina (tartarato) 0,25 0,31 NA 5 14 Lincomicina 0,22 0,33 400 10 21 1 Oxitetraciclina 0,5 0,7 400 1000 5 14 21 M. hyopneumoniae + Tiamulin 0,12 0,25 200 240 5 10 5 P. multocida Tilosina (fosfato) NA 250 400 5 0 Tilosina (tartarato) 0,25 0,31 NA 5 0 Espiramicina (adipato) 0,5 1,0 NA 6 14 Espiramicina (embonato) NA 250 1000 5 10 0 IM = intramuscular, VO = via oral e NA = não se aplica 6