3. AS CIDADES ROMANAS



Documentos relacionados
7. AS CIDADES DO SÉCULO XIX

HISTÓRIA DA FORMA URBANA

Vítor Oliveira 2. AS CIDADES GREGAS. Aulas de História da Forma Urbana

A CIDADE ROMANA 1 A Cidade na História, de Lewis Munford. A História da Cidade, de Leonardo Benevolo

5. AS CIDADES MEDIEVAIS

1. A ARQUITETURA SUMÉRIA E CHINESA

2. OS ELEMENTOS DA FORMA URBANA

4. A ARQUITETURA ISLÂMICA

ARQUITETURA E URBANISMO ROMANO

Dossier Promocional. Empreendimento Varandas da Venezuela 2 - Porto

Dossier Promocional. Empreendimento Varandas da Venezuela 2 - Porto

ARTE PRÉ-HISTÓRICA. IDADE DOS METAISaproximadamente a a.c. aparecimento de metalurgia; invenção da roda;

3. AGENTES E PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO

6. AS CIDADES DO RENASCIMENTO

ARTES AVALIAÇÃO. Aula AVALIAÇÃO

História da Habitação em Florianópolis

7. Exemplos de Aplicação

Prova de Conhecimentos Específicos 1 a QUESTÃO: (5,0 pontos)

Geometria Espacial Elementos de Geometria Espacial Prof. Fabiano

Copiright de todos artigos, textos, desenhos e lições. A reprodução parcial ou total desta aula só é permitida através de autorização por escrito de


Profa. Margarita Ma. Dueñas Orozco

7. Condicionantes. : Reserva Ecológica Nacional; : Reserva Agrícola Nacional; : Domínio Público Hídrico; : Património Classificado;

Hotel 4 estrelas + Moradias em Malanje -Estudo Prévio

Educação Matemática. Profª. Andréa Cardoso MATEMÁTICA - LICENCIATURA 2015/2

Império Romano (27 a.c. até 476)

O desenvolvimento das cidades e o surgimento do urbanismo

Projeção ortográfica da figura plana

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM FORMAÇÃO CIENTÍFICA, EDUCACIONAL E TECNOLÓGICA PPGFCET

6. Leitura e Interpretação da Situação Urbana PLANO DE AÇÃO PARA REABILITAÇÃO URBANA DA ÁREA CENTRAL DE PIRACICABA 27

Problemas de volumes

Francisco Henrique de Oliveira

Profa. Andréa Cardoso UNIFAL-MG MATEMÁTICA-LICENCIATURA 2015/1

Urbanismo em Braga Dos Romanos ao Renascimento

TABELA I CASAS POPULARES OU DE INTERESSE SOCIAL UNIFAMILIAR

CIRCULAÇÕES VERTICAIS

Aula 18 Elipse. Objetivos

Desenho e Projeto de tubulação Industrial

Perspectiva isométrica de modelos com elementos diversos

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROJETO DE LEI Nº 051/2012

Cidade é a parte urbana de um município, onde concentram atividades econômicas dos setores secundário e terciário.

Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Inventário de Identificação dos Reservatórios da CEDAE. Secretaria de Estado de Cultura - RJ

ORIENTAÇÕES BÁSICAS PARA REPRESENTAÇÕES DE DESENHO TÉCNICO E APROVAÇÃO DE PROJETOS SETOR DE ENGENHARIA

FUNCIONAL TOPOGRAFIA SOLAR/ PRIMEIRA METADE DO TERRENO E O INFERIOR LOCADO MAIS A

Projecto de Candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial

ÍNDICE. Capítulo I...5. Do Sub-Sistema Viário Estrutural...5. Capítulo II...5. Do Sub-Sistema de Apoio...5 DISPOSIÇÕES FINAIS...6

Aula 5 : Circulação Vertical Escadas, Rampas e Elevadores

Tabela 6.1 Pessoas responsáveis e equipamento auxiliar utilizado no manuseamento e separação dos resíduos sólidos na fonte

Relatório Técnico. Analise de sistemas de lajes.

UNESP DESENHO TÉCNICO: Fundamentos Teóricos e Introdução ao CAD. Parte 2/5: Prof. Víctor O. Gamarra Rosado

FLORENÇA. Data do Sec. I a. C.

ANEXO A. Carta Educativa do Concelho de Mafra Anexo A, Pág. 305

A realização de um grande sonho

Existem duas teorias sobre a origem da cidade de Roma: Origem histórica Origem mitológica

IDENTIFICAÇÃO: ESTAÇÃO DE CORREIOS DE SANTARÉM. Designação: Localização: Largo Cândido dos Reis. Empresa que presta serviços de comunicações

24/03/2011. E. Topografia Evidenciar as características físicas do terreno, tal como inclinação e desenho.

3 Metodologia de pesquisa

HISTÓRIA E TEORIA ARQ. PAISAGISMO E URBANISMO I

Portaria n.º 1136/2001 de 25 de Setembro

Quinta de Santa Margarida Resort

Desenho Técnico. Desenho Projetivo e Perspectiva Isométrica

CASA EN TERRAVILLE. Implantação e Partido Formal. Local: Porto Alegre Ano: 2010 Escritório MAPA Autoras : Ana Elísia da Costa e Thaís Gerhardt

Gama de Produto Compressores de Ar.

Duplo sentido ciclável. Experiência de Paris.

Localização Geográfica. -Sul da Europa, na Península Balcânica, junto ao mar Mediterrâneo.

Dispõe sobre o Sistema Viário Básico do Município de Nova Mutum e dá outras providências.

3ª série EM - Lista de Questões para a RECUPERAÇÃO FINAL - MATEMÁTICA

GAPTEC. Estudos de Orientação Para o Planeamento do Concelho de Odivelas. Relatório Final Volume II. Maio 2003

Aula 7 : Desenho de Ventilação

Projeto de Rede Telefônica

Topografia I PLANO DE ENSINO. Prof. Carlos Eduardo Troccoli Pastana pastana@projeta.com.br (14) AULA 01

Guia completo para o profissional sobre a nova Directiva de etiquetagem energética ErP

CIRCULAÇÃO EM ROTUNDAS

Prefeitura INEPAC IPHAN Resumo. 0,5-0,5 0,5 3 pavim. Altura máxima de 13m. 8,5m 15% % Das Disposições Gerais (IPHAN)

Concurso Planear Estarreja (orientações para a implementação)

ESCADAS. Escadas são elementos arquitetônicos de circulação vertical, cuja função é vencer os diferentes níveis entre os pavimentos de uma edificação.

Diagrama de Precedências

LEI Nº 370, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2011 A CÂMARA MUNICIPAL DE CAFEARA APROVA E EU, PREFEITO DO MUNICÍPIO, SANCIONO A SEGUINTE LEI:

30/11/2012. do adensamento populacional. crescimento desordenado. ocupação de áreas naturais e frágeis

A observância da acessibilidade na fiscalização de obras e licenciamentos de projetos pelos municípios

SUPERESTRUTURA estrutura superestrutura infra-estrutura lajes

Canguru Matemático sem Fronteiras 2014

A arte na Grécia. Capítulo 3

Empreendimento Parque Marechal

SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Corpo de Bombeiros INSTRUÇÃO TÉCNICA Nº 15/2011

RESIDENCIAL CENTRAL PARK RIO VERDE

Definiu-se como área de estudo a sub-bacia do Ribeirão Fortaleza na área urbana de Blumenau e um trecho urbano do rio Itajaí-açú (Figura 01).

FUNDAÇÃO ESCOLA TÉCNICA LIBERATO SALZANO VIEIRA DA CUNHA CURSO DE ELETRÔNICA E MECÂNICA

FORTALECENDO SABERES CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES HISTÓRIA DESAFIO DO DIA. Conteúdo: A civilização cretense Os primeiros povos gregos

MEMO Nº 022/ENG/IFC/2010 Blumenau, 15 de julho de Do: Departamento de Engenharia do Instituto Federal Catarinense

Acessórios de moda com paneis solares Fashion accessories with solar panels

Desenvolvimento de diretrizes para projeto de edificações para fins didáticos com sistema estrutural construtivo modular em aço

FATEC - SP Faculdade de Tecnologia de São Paulo

12- Gustavo comprou uma passagem aérea por R$ 1 600,00. No dia seguinte, o preço da passagem sofreu acréscimo de 22,5%.

A Literatura no Brasil está dividida em duas grandes eras: Que parâmetros foram utilizados para estabelecer tais era?

MATEMÁTICA PARA CONCURSOS II

I Análise a nível nacional

QUEM DESEJAR A PAZ, PREPARE-SE PARA A GUERRA. O Período republicano, foi marcado pelas conquistas territoriais que tornaram Roma a cidade-mundo

Revisão Participativa dos Instrumentos de Planejamento e Gestão da Cidade de São Paulo Volume 1

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Sociedades do antigo Oriente Próximo. São Paulo: Ática, p. 56.

Transcrição:

Vítor Oliveira 3. AS CIDADES ROMANAS Aulas de História da Forma Urbana

Estrutura 1. O sistema de ruas 2. Os quarteirões 3. Os edifícios residenciais: domus e insulae 4. O exemplo de Pompeia 5. Referências

O sistema de ruas As cidades romanas tinham um forte sentido sagrado e simbólico. Isto era expresso na delimitação do perímetro da cidade e na definição dos dois eixos fundamentais que estruturavam toda a cidade, o Decumanus maximus (na direcção esteoeste) e o Cardus maximus (na direção norte-sul). O cruzamento destas duas ruas, que levavam a diferentes portas da cidade, constituía o centro da cidade. O forum, principal espaço exterior de permanência, localizava-se em geral neste cruzamento (Pompeia, por exemplo, é uma exceção). A percentagem de cidades romanas com um layout regular de ruas ortogonal ou não ortogonal era maior do que a percentagem de cidades gregas com esse modo de estrutura de ruas. A presença de um layout regular era ainda mais pronunciada nas colónias romanas, como Timgad (na atual Argélia), devido à especificidade dos processos de loteamento e à facilidade de construção (Lamas, 1993).

Os quarteirões O quarteirão romano era predominantemente residencial. O quarteirão era dividido num número de parcelas não eram tão regulares como as ruas onde os diferentes edifícios residenciais eram erguidos. Os edifícios singulares parecem estar mais ligados a este layout de quarteirões do que acontecia na cidade grega. As cidades romanas incluíam uma série de equipamentos públicos teatros, mercados, circos enquanto o território romano era estruturado por uma série de infraestruturas, nomeadamente pontes, aquedutos e canais.

Os edifícios residenciais: domus e insulae A típica casa romana, a domus, foi influenciada pelo casa grega (peristilo) e pela casa etrusca (atrium). Esta casa térrea podia ter entre um a três espaços exteriores. As casas de maior dimensão teriam dois pátios retangulares o atrium, mais pequeno, era o centro da área pública da casa, enquanto o peristilo, maior, estruturava o espaço privado da casa e um pequeno jardim, geralmente na parte trazeira da parcela. A área de implantação do edificio era muito elevada. Enquanto a fachada da casa, com um número reduzido de portas e janelas, e a relação entre o edifício e a rua eram muito próximas da casa grega, o interior da casa romana tinha um forte sentido de ornamentação, sendo por isso muito diferente do casa grega (Schoenhauer, 1981). O outro tipo edificado romano era a insulae. Este tipo edificado, que podia ter até seis pisos, foi introduzido devido à escassez de espaço em cidades como Roma.

Pompeia Pompeia foi fundada no século VI ac tendo mudado de posse nos séculos que se seguiram. Em 89 ac foi conquistada pelos Romanos. Em 79 dc foi soterrada pela erupção do Vesúvio. Não existe um consenso sobre o número de habitantes da cidade, mas deverá ter tido um número máximo de 25 000 pessoas. Figura. Pompeia (fonte: Schoenauer, 1981; Google Earth)

Estrutura geral Pompeia tinha uma forma aproximadamente oval. Teria cerca de 1 300 m de comprimento e 650 m de largura, com uma área de cerca de 64.5 hectares delimitada por uma dupla muralha. A muralha tinha oito portas (uma delas ligando a cidade e o porto) que conduziam, no seu interior, a ruas bem pavimentadas e com passeios.

O sistema de ruas A Via del Mercurio, na parte noroeste da cidade, conduzia ao fórum (localizado na parte sudoeste da cidade e não no cruzamento do Decumanus maximus com o Cardus maximus), e era a rua mais larga da cidade com 9,7 m de largura e cerca de 250 m de comprimento. Outras ruas principais tinham uma largura de cerca de 7,9 m, enquanto que as ruas menores, que serviam apenas aceder às casas, variavam entre 5,5 e 3,6 m. O Decumanus maximus era a Via dell Abbondanza, ligando duas portas Porta Marina e Porta Sarno e o Cardus maximus era a Via Stabiana ligando a Porta Vesuvio e a Porta Stabia. Forum Via dell Abbondanza Decumanus maximus Via del Mercurio Via Stabina Cardus maximus Figura. Pompeia (fonte: Schoenauer, 1981)

Quarteirões O sistema de ruas, construído em diferentes períodos de tempo, definia quarteirões de diferentes dimensões. Os quarteirões na parte mais antiga da cidade, ao redor do fórum, eram menores e tinham formas irregulares (Q1). Pelo contrário, na parte noroeste da cidade, perto de Porta Vesuvio (na denominada região arqueológica 6), existiam seis quarteirões de uma forma regular alongada com cerca de 140 m de comprimento e 35 m de largura (Q2). A sul destes seis quarteirões, desenvolvia-se outro conjunto de cinco quarteirões retangulares com aproximadamente a mesma largura mas com um comprimento mais curto cerca de 90 m (Q3). Porta Vesuvio Q2 Q3 Q1 Figura. Pompeia (fonte: Schoenauer, 1981)

Edifícios residenciais Dois desses quarteirões eram ocupados por duas parcelas, e por apenas dois edifícios, a Casa de Pansa e a Casa do Fauno. A Casa de Pansa tinha um conjunto de lojas abertas para a Via delle Terme, continha mais de 50 quartos e estruturava-se em torno dos três espaços exteriores habituais na casa romana (de dimensão significativa), o atrium, o peristilo e jardim. Como nas casas sumérias e gregas, por vezes duas ou mais casas juntavam-se para constituir uma casa maior. Figura. Pompeia (fonte: Schoenauer, 1981)

Schoenauer (1981) apresenta uma síntese com as percentagens dos diferentes ocupações do solo em Pompeia: 63% do solo correspondia a área construída, 21% era ocupado por espaços públicos exteriores para circulação e permanência, e 16 % correspondia a espaços exteriores privados, incluindo atria, peristilos e jardins. Figura. Pompeia (fonte: Schoenauer, 1981)

As casas romanas partilham com os primeiros casos na Mesopotâmia, China e Grécia (aulas 1 e 2), duas características fundamentais interrelacionadas que não serão encontradas nos casos subsequentes: o pátio oferecendo uma exposição solar favorável e um determinado microclima e um forte sentido de privacidade estruturando a casa em duas áreas diferentes.

Referências Lamas J R G (1993) Morfologia urbana e desenho da cidade. Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica, Lisboa Morris A E J (1972) History of urban form. Before the industrial revolution. George Godwin Limited, Londres Schoenauer N (1981) 6000 years of housing. W W Norton and Company, Nova Iorque