Avaliação do nível de conhecimento sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena, Belém, Pará



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Transcrição:

Rev Inst Ciênc Saúde 2005 out-dez; 23(4):297-303 Avaliação do nível de conhecimento sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena, Belém, Pará Knowledge level evaluation about oral health of Sorena Day-Care Centerʼs teachers, Belém, Pará Helder Henrique Costa Pinheiro* Débora Gomes Cardoso** Marizeli Viana de Aragão Araújo*** Izamir Carnevali de Araújo**** Resumo Introdução Este estudo teve o objetivo de avaliar o nível de conhecimento dos professores da Creche Sorena sobre saúde bucal e que condutas tomariam frente aos problemas odontológicos que poderiam acometer seus alunos. Métodos Foi utilizado um questionário com 25 perguntas, aplicado a 14 professores do sexo feminino da Creche Sorena que participaram do processo de implantação do Projeto de Atenção Integral em Saúde Bucal, durante o mês de março de 2003. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva. Para a tabulação e análise dos dados foi utilizado o software Epi Info 604, com nível de significância de 5% (p<0,05). Resultados O nível de conhecimento das professoras sobre cárie dentária foi baixo, pois apesar de 86% terem afirmado conhecer a etiologia da cárie, quando solicitado que definissem a etiologia da cárie as respostas foram incorretas. Dos mestres, 71% não faziam atividades sobre saúde bucal com seus alunos e 88,23% orientavam as escovações das crianças mesmo não tendo conhecimento de como fazê-la. Conclusões Os professores necessitavam de maiores esclarecimentos e orientações para a prevenção e controle da cárie, para poderem participar do projeto como promotores de saúde capazes de motivar hábitos adequados de higiene bucal nas crianças da creche. Palavras-chave: Educação em saúde bucal Conhecimentos, atitudes e práticas em saúde Abstract Introduction This study had the objective to evaluate the level of knowledge of the teachers of the Sorena Day-care Center on oral health, and that behaviors would take front to the dentistries problems that could affect their pupils. Methods A questionnaire with 25 questions was used, applied the 14 teachers of the feminine sex of the Sorena Day-care Center who had participated of the process of implantation of the Project of Integral Attention in Oral Health, during the month of March of 2003. this study is about a qualitative research of the descriptive type. For table and analysis of the data Epi Info 604 software was used, with level of significance of 5% (p < 0,05). Results The level of knowledge of the teachers on dental caries was low, therefore although 86% to have affirmed to know the etiology of the caries when requested that defined the etiology of the caries the answers had been incorrect. 71% of the masters do not make activities on oral health with its pupils and 88.23% guided the brushing of the children exactly not having knowledge of as to make it. Conclusions The teachers needed bigger clarifications and orientations for the prevention and control of the caries and to be able to participate as promotional of health this project capable to motivate adequate habits of oral hygiene in the children of the daycare center. Key words: Health education, dental Health knowledge, attitudes, practice Introdução A Odontologia está modificando suas ações, antes observava-se o predomínio de procedimentos cirúrgicos-restauradores e nas últimas décadas destaca-se o enfoque de uma prática preventiva e de promoção de saúde 13. Essa atuação é essencialmente fundamentada na educação em saúde, como estratégia de controlar o perfil epidemiológico das nosologias bucais, através da motivação no estabelecimento de hábitos e comportamentos que estimulem a preservação e manutenção da saúde bucal na população. Entre as possibilidades de intervenção, a atuação de uma equipe multiprofissional é uma estratégia importante em saúde coletiva. Desta forma, o trabalho conjunto entre profissionais de diversas áreas pode ser uma me- * Aluno do Curso de Mestrado em Odontologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: helder@ufpa.br ** Especialista em Odontopediatria pela UFPA. *** Professora Assistente do Curso de Odontologia da UFPA. **** Professor Adjunto do Curso de Odontologia da UFPA.

298 dida eficaz na promoção de saúde bucal e da prevenção das nosologias prevalentes na cavidade bucal. Em se tratando de crianças, é ainda necessário que a motivação e a educação se estenda aos pais e/ou responsáveis, assim como aos educadores, para que estes possam ensinar a seus filhos e alunos, podendo desta forma, perpetuar o aprendizado 3,8. Os professores de ensino pré-escolar e do ensino fundamental são, sem dúvida, as pessoas de maior contato com as crianças depois da família, tornando-os agentes promotores de saúde essenciais na fase escolar para uma conscientização indispensável sobre questões de saúde, já que são profissionais com acesso diário às crianças, conhecendo a realidade de cada aluno e estabelecendo vínculos afetivos, que facilitam sua atuação e se bem orientados e motivados, podem desenvolver ações preventivas e educativas relacionadas à saúde bucal 1. Convenientemente preparados, os professores podem observar possíveis problemas de saúde bucal em seus alunos e constituir-se num excelente agente promotor de saúde bucal 2. A educação em saúde bucal e a prevenção da doença é responsabilidade do cirurgião-dentista e do sistema educacional 3,4, pois as crianças não são responsáveis por si, devendo ter ajuda dos pais e professores a fim de estabelecerem cuidados de higiene 11. De acordo com estudo realizado por Abreu et al. 1 (1998), onde foi avaliada a influência e a contribuição das professoras primárias na manutenção de higiene oral de escolares 1, constatou-se a importância destas profissionais como incentivadoras do controle de placa bacteriana de seus alunos e da participação da escola como um ambiente favorável para orientação quanto à saúde bucal. Este estudo teve como proposta avaliar o grau de conhecimento sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena, localizada no bairro da Cremação, no município de Belém do Pará e as condutas adotadas pelos mesmos, frente a eventuais problemas odontológicos que poderiam ocorrer com seus alunos, estabelecendo assim um plano de trabalho conjunto com os educadores através de palestras, oficinas e atividades lúdicas, orientando-os na supervisão à escovação e em atividades educativas, para possibilitar sua atuação como multiplicadores de saúde bucal no Projeto de Extensão Atenção integral em saúde bucal na Creche Sorena, composta de docentes e discentes do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará. Métodos A pesquisa foi realizada com 14 professores do sexo feminino, que lecionam na Creche Sorena no bairro da Cremação em Belém do Pará, todos com nível médio de ensino e idades variando de 20 a 46 anos, com média de 30,8 anos. A Creche Sorena tem como entidade mantenedora as Obras Sociais da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, sendo conveniada com a Prefeitura Municipal de Belém, atendendo 330 crianças de 2 a 12 anos de idade, que ficam na creche no período de 7:30 às 17:00 horas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva cujo desfecho foi avaliar o nível de conhecimento dos professores sobre saúde bucal. Optou-se por essa abordagem, uma vez que este tipo de pesquisa tem como objetivo observar e descrever os conhecimentos sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena. Foi aplicado a cada um deles um questionário contendo 25 perguntas abertas e fechadas (Figura 1), elaboradas de acordo com o conhecimento básico de saúde bucal e situações odontológicas emergenciais, antes da realização de qualquer atividade educativa programada pelo Projeto de Extensão. Houve apenas a orientação quanto ao correto preenchimento do questionário, porém, sem eventuais induções quanto às respostas. Posteriormente, os resultados alcançados, foram tabulados e analisados em forma de tabelas e gráficos, de acordo com os objetivos do trabalho. Para a tabulação e análise dos dados foi utilizado o software Epi Info 604. E o nível de significância para avaliação dos dados obtidos foi de 5% (p < 0,05). Resultados e Discussão Após a análise dos resultados dos 14 questionários respondidos pelos professores, verificou-se que em relação ao nível de informação sobre como ocorre a cárie dentária, 86% relataram possuir informação sobre a etiologia da cárie, porém quando solicitados a detalhar o processo, as respostas foram imprecisas e vagas, sendo que 86% afirmaram que era possível evitar a cárie somente pelo ato da escovação (Figura 2). A redução e eliminação da cárie deve-se ao aumento da resistência do dente (uso do flúor), controle do agente microbiano, através da higienização e o controle da dieta 12, não somente pela escovação 6. Na Figura 3 pode-se observar que 71% da amostra pesquisada não realiza atividades relacionadas ao conhecimento sobre saúde bucal com seus alunos, apesar da escola ser um espaço privilegiado para o desenvolvimento da conscientização, indispensável sobre questões de saúde, onde o professor é essencial para a orientação e motivação de seus alunos, através da realização de atividades educativas para promover saúde bucal 1. Quando interrogadas se algum aluno já havia feito alguma reclamação sobre dor de dente, troca de dentes ou fratura, somente 21% responderam que sim. Diante da situação acima, 48% dos entrevistados procuraria alguém para esclarecê-los sobre tais assuntos, 33% orientaria os alunos mesmo tendo conhecimentos imprecisos, 14% orientaria a seu modo e 5% não orientaria nada, demonstrando que, ter o conhecimento básico sobre saúde bucal é fundamental para detectar alterações no estado de saúde bucal dos alunos e fundamental para o esclarecimento das dúvidas supracitadas. Na Figura 4, encontra-se a conduta dos professores diante de um aluno com dor de dente. Das professoras, 5 encaminharia a criança para casa, 35% daria um remédio e 15% encaminharia para o cirurgião-dentista. Nesta circunstância, a melhor conduta das professoras

299 1. Dados pessoais: Idade: Sexo: Grau de escolaridade: 2. Possui informações sobre como a cárie ocorre? 3. Possui informações sobre como evitar a cárie? 4. Você já realizou alguma atividade relacionada ao conhecimento da saúde bucal com os seus alunos? 5. Você conhece alguma informação sobre como escovar os dentes de seus alunos? 6. Em que horário você leva os seus alunos para escovar os dentes? ( ) Após as refeições. ( ) Não possui horário fixo. ( ) Não leva para escovar. 7. Algum aluno seu já reclamou a você que seu dente estava doendo ou então pediu alguma orientação sobre a troca de dentes, o porquê de seu dente está ficando pretinho, sobre dente quebrado, mau hálito, dentre outras? 8. Diante da situação acima qual foi ou qual seria a sua conduta? ( ) Orientaria de acordo com o conhecimento que possui sobre o assunto. ( ) Não orientaria, pois não possui informações necessárias para esclarecê-lo. ( ) Orientaria a seu modo, mesmo não tendo conhecimentos precisos sobre o assunto. ( ) Procuraria alguém que possa esclarecer, para depois repassar ao seu aluno a informação correta. ( ) Não daria importância sobre a dúvida de um aluno, já que acha que não compete a você tal questionamento. 9. Diante da situação de seu aluno estar com dor de dente, qual foi ou qual seria a sua conduta? ( ) Procuraria um remédio na escola para aliviar a sua dor. ( ) Procuraria encaminhá-lo a um posto de saúde ou a um outro local que tivesse um dentista para atendê-lo. ( ) Mandaria ele para casa, sem orientar aos pais a procurar um tratamento para o seu filho. ( ) Mandaria ele para casa, mas orientando os pais a procurar um tratamento para o seu filho. ( ) Não faria nada e continuaria com as suas atividades normais, só comunicando aos pais da situação quando estes fossem buscá-lo na escola. 10. Você já recebeu alguma informação sobre o uso do flúor? ( ) Sim. Qual? ( ) Não 11. Você orienta a criança sobre a sua escovação? ( ) Sim. Como? ( ) Não 12. Na sua opinião, a orientação sobre a prevenção da cárie na fase escolar é tarefa: ( ) do cirurgião-dentista. ( ) do médico pediatra. ( ) dos professores com a ajuda do cirurgião-dentista. ( ) outros. Quem? ( ) de todos os citados acima. 13. Alguma vez você já orientou os pais de seus alunos a procurar tratamento odontológico para seus filhos? ( ) Sim. Em qual situação? ( ) Não 14. Alguma vez você já orientou os seus alunos quanto à saúde bucal? ( ) Sim. Como? ( ) Não 15. Como classificaria sua saúde bucal? ( ) Péssima ( ) Ruim ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima ( ) Não sabe 16. Você acha que o seu atual estado de saúde bucal pode afetar a saúde bucal de seus alunos? 17. Você costuma tratar das suas necessidades bucais com o dentista? 18. Você alguma vez recebeu orientação do seu dentista quanto a higiene bucal? 19. Você sabe o que fazer diante de um acidente que atinja a boca de um aluno seu? 20. Você acha importante ter alguma orientação sobre medidas educativas e preventivas para a promoção de saúde bucal de seus alunos? 21. Você acha importante que seus alunos sejam educados na escola sobre a sua saúde bucal? ( ) Não, a escola não é o lugar adequado. ( ) Sim, desde que seja feita pelo cirurgião-dentista. ( ) Sim, desde que seja feita por professores devidamente capacitados. ( ) Sim, desde que seja feita pela parceria entre professores, funcionários, cirurgião-dentistas e familiares. 22. Você gostaria de se propor a ajudar o cirurgião-dentista nas suas atividades intra e extra classe na prevenção da cárie? 23. Quanto tempo você acha que dura uma escova dental? ( ) semanas ( ) 1 mês ( ) 2 meses ( ) + de 2 meses ( ) 1 ano ( ) + de 1 ano ( ) quando suas cerdas começam a abrir 24. Você costuma verificar o estado em que se encontra a escova dental de seus alunos? 25. Você costuma trocar a escova dental de seus alunos? Figura 1. Questionário para avaliação do nível de conhecimento sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena

300 Não possui 14% Realiza 29% Possui 86% Não realiza 71% Figura 2. Informação sobre como a cárie ocorre segundo os professores da Creche Sorena, Belém, PA, 2003 Daria remédio 35% Figura 3. Realização de atividades sobre saúde bucal pelos professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Possui 14% Encaminharia para casa 5 Encaminharia para o cirurgião-dentista 15% Não possui 86% Figura 5. Informação sobre o uso do flúor, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Figura 4. Conduta diante de um aluno com dor de dente, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Sim 5 Professores + CD Professores + CD + Pediatra Professores + CD + Pediatra + Pais Não 5 36% 5 Figura 6. Orientação quanto à escovação dos alunos, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Figura 7. Responsável pela tarefa da prevenção na fase escolar, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 é orientar os pais dos alunos a procurarem um cirurgião-dentista para atendimento de seus filhos e não a conduta adotada pelas mesmas. A Figura 5 demonstra a informação dos entrevistados sobre o uso do flúor. A maioria dos professores respondeu que o único método preventivo da cárie é a escovação, desconhecendo a importância da utilização do flúor, que segundo Murray 5 (1992), é o responsável pelo declínio da cárie. Segundo a Figura 6, 5 dos professores realizavam a orientação de escovação dos alunos apesar de não terem recebido alguma orientação prévia, percentual

301 Péssima Ruim Regular Boa Ótima Não sabe Sim 29% 36% 29% Não 71% 35% Figura 9. Sua saúde bucal pode afetar a de seus alunos? Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Figura 8. Auto-percepção da saúde bucal, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 Sim 14% Sim, pelo CD Sim, pelo professor Sim, parceria professor + funcionários + pais + CD Não Não 86% Figura 10. Sabe como proceder num acidente bucal em seu aluno? Creche Sorena. Belém, PA, 2003 14% Semana Um mês Dois meses Mais de dois meses Um ano Mais de um ano Cerdas abrem 72% Figura 12. Duração de uma escova de dente, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 este reduzido em comparação com o estudo de Ribeiro et al. 9 (1996), onde o percentual encontrado foi mais elevado, já que 88,23% dos professores orientavam as crianças quanto à higiene bucal. A Figura 7 expressa a opinião dos professores sobre quem teria a tarefa de orientar à respeito de prevenção 86% Figura 11. Importância da orientação sobre saúde bucal na escola, segundo professores da Creche Sorena. Belém, PA, 2003 da cárie na fase escolar. Da amostra, 5 acreditava ser tarefa dos professores mais o cirurgião-dentista, 36% dos professores mais cirurgião-dentista e pediatra e dos professores mais cirurgiões-dentistas mais pediatra e pais. No trabalho realizado por Pomarico et al. 7 (2000), verificou-se que 88% responderam que a família era a principal educadora, seguida das professoras (6). Em relação à orientação aos alunos sobre saúde bucal, 5 afirmaram que não realizavam tal atividade em sala de aula e 43% que já tinham realizado, porém mencionaram que em poucas oportunidades e em um curto espaço de tempo. A Figura 8 representa a autopercepção da saúde bucal dos professores. Estes dados demonstram, que boa parte dos professores tem algum grau de dificuldade em reconhecer o seu estado de saúde bucal, sendo o mesmo importante para detectar o seu risco à doença,

302 como também de seus alunos. De acordo com os resultados da Figura 9, observa-se o baixo grau de conhecimento da transmissibilidade da cárie dentária pelos professores, pois segundo Keyes apud Weyne 14 (1986), a cárie dentária em humanos, como doença infecto-contagiosa, pode ser transmitida através de uso comum de utensílios, como copos e colheres e através do beijo 10. Entre os entrevistados, 86% responderam que costumavam ir ao cirurgião-dentista e que os mesmos já receberam alguma vez a orientação destes profissionais quanto à higiene bucal, comprovando a importância do profissional de Odontologia, não somente nas ações curativas, mas principalmente nas ações educativas e preventivas. Em relação à conduta frente a um acidente que afetasse a boca de algum aluno o conhecimento dos professores foi insatisfatório, já que 86% relatou não saber como agir diante desta situação. Devido à considerada incidência de acidentes que acometem a cavidade bucal na faixa etária de pré-escolares os professores devem ser orientados como proceder em acidentes, para melhorar o prognóstico de eventuais problemas odontológicos (Figura 10). Sobre a importância de possuir alguma informação sobre medidas educativas e preventivas para promoção de saúde bucal de seus alunos, 10 achou ser fundamentais ter tais conhecimentos para poder aplicá-los adequadamente. Analisando a Figura 11, comprova-se a aceitabilidade da atuação multidisciplinar na formação de futuros cidadões livre de cárie, já que quando questionadas, 86% da amostra relatou que a parceria entre professores, funcionários, pais e cirurgião-dentista é importante para a melhoria da saúde bucal, comentando que gostariam de ajudar o cirurgião-dentista nas suas atividades intra e extraclasse na prevenção da cárie, expressando assim a disposição em realizar esta parceria e confirmando a satisfação em serem partícipes na implantação de ações educativas-preventivas no seu ambiente de trabalho. Na Figura 12 está indicada a opinião dos professores sobre quanto tempo dura uma escova dental. A maioria (72%) acredita que a escova dura 2 meses. Os resultados observados no estudo mostraram que existem deficiências no conhecimento dos aspectos sobre saúde bucal dos professores e que se faz necessário planejar e implementar um programa de capacitação para que estes possam ser agentes na promoção de saúde bucal das crianças da Creche Sorena. Conclusões De acordo com as respostas do questionário concluise que: 1. Os professores necessitam de esclarecimentos e orientações sobre a saúde bucal para que possam servir como agentes e parceiros na consolidação da Promoção de Saúde Bucal; 2. Os mestres capacitados são capazes de participar da realização de ações educativas e preventivas, formando uma parceria com a equipe odontológica para a implantação e manutenção do projeto, contribuindo para o controle e prevenção da cárie dentária. Referências 1. Abreu FB, Soares CR, Silva MMP, Matuck IC. A professora primária como incentivadora da higiene oral em uma escola pública. Rev Flumin Saúde Colet 1998 mar; 2: 65-73. 2. Dalto V, Ferreira ML. Os professores como agentes promotores da saúde bucal. Semina 1998 fev; 19 (edição especial): 47-50. 3. Ferreira SLM, Guedes-Pinto AC. Educação do paciente em odontopediatria. In: Guedes-Pinto AC. Odontopediatria. 6ª ed. São Paulo: Santos; 1997. p. 457-72. 4. Gish CW, Smith CE. Saúde bucal na comunidade. In: McDonald RE, Avery DR. Odontopediatria. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1995. p. 590-600. 5. Murray JJ. Bases para a prevenção de doenças bucais. São Paulo: Santos; 1992. 85 p. 6. Newbrun E. Cariologia. 2ª ed. São Paulo: Santos; 1988. 326 p. 7. Pomarico L, Ramos AR, Souza IPR, Tura LFR, Magnanini MMF. Higiene bucal no ambiente escolar avaliação de professoras. JBP J Bras Odontopediatr Odontol Bebê 2000 jul-ago; 3 (14): 295-9. 8. Rayner JA. A dental health education programme, including home visits, for nursery school children. Br Dent J 1992 Jan 25; 172 (2): 57-62.

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