PROTEÇÃO AMBIENTAL E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO AMBIENTE



Documentos relacionados
DIREITO E PROCESSO: A LEGITIMIDADE DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ATRAVÉS DO PROCESSO

Recuperação de Empresas após a Falência

Extrafiscalidade Tributária. Pós-modernidade e Legitimação do Estado Social Brasileiro

RISCO SOBERANO: REGULAÇÃO DAS AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO E GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA

HENRIQUE VIANA PEREIRA

Direito Político e. Econômico no Brasil à luz de Caio Prado Júnior

O Dano Moral entre Casais. Responsabilidade Civil nas Relações Afetivas

Ativismo no Controle de

DADOS PESSOAIS. Nome: Rui Pedro Costa Melo Medeiros. Data e local de nascimento: 1963, Lisboa. Nacionalidade: Portuguesa

Rede de Língua Portuguesa de Avaliação de Impactes

FELIPE CHIARELLO DE SOUZA PINTO DANIEL FRANCISCO NAGAO MENEZES

Análise Jurídica e Econômica

Associação Portuguesa de Direito Europeu

IX Colóquio Os Direitos Humanos na Ordem do Dia: Jovens e Desenvolvimento - Desafio Global. Grupo Parlamentar Português sobre População e

CONSTITUCIONALISMO E TEORIA DO ESTADO Ensaios de História e Teoria Política

HENRIQUE VIANA PEREIRA

Direito, Religião e Sociedade

Responsabilidade Civil Objetiva. Código Civil versus Código de Defesa do Consumidor 2ª Edição

icardo Carneiro Advogados Associados

Público Alvo: Investimento: Disciplinas: Curso RESTRITO a graduados com formação em Direito.

Contratos Bancários e

Economia e. Mutação Constitucional

Modelos democráticos

O Novo Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho Sua Implicação na Administração Pública

PROTEÇÃO DOS BENS AMBIENTAIS: PELA CRIAÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (OME). Brasília, 20/04/2012 Sandra Cureau

Direito e Genética. Limites jurídicos para a intervenção no genoma humano

CURRICULUM VITÆ JOÃO CARLOS ALBUQUERQUE AMARAL E ALMEIDA. Nasceu em Mangualde, distrito de Viseu, a 3 de Setembro de 1964.

Apoios à Reabilitação de Edifícios: a iniciativa Jessica Seminário Tektónica Maio 2012, FIL, Lisboa

Princípio da Razoável Duração do Processo. Aplicabilidade e Operacionalidade no Direito Processual Democrático

Direito Penal e Processual Penal. Tópicos Especiais

Declaração de Praia 6.º Encontro das Associações Profissionais de Engenheiros Civis dos Países de Língua Oficial Portuguesa e Castelhana

Participação pública. Impactes Ambientais 11 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Agenda 21 Local em Portugal

Legislação e Gestão Ambiental no Brasil. Alessandra Magrini PPE/COPPE-UFRJ ale@ppe.ufrj.br

CONCLUSÕES DO XI CONGRESSO MUNDIAL DE FARMACÊUTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

RESPONSABILIDADE CIVIL OB)ETIV A

Concepções dos Direitos. Econômicos e Fundamentais

CRITÉRIOS DE QUALIFICAÇÃO DE PESSOAL DOCENTE PARA A ACREDITAÇÃO DE CICLOS DE ESTUDOS

Direito Internacional no nosso Tempo

Dados Pessoais. Contactos profissionais:

CONSÓRCIOS ENTRE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Direito Internacional no nosso Tempo. Comerciais e dos Investimentos

Público Alvo: Investimento: Disciplinas:

VI REUNIÃO DE MINISTROS DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA. Maputo, 15 de Abril de 2014

Presente à reunião proposta do Vereador José Maria Magalhães do seguinte teor:

CURRICULUM VITAE. Dados Pessoais

A EXIGÊNCIA DE FORMAÇÃO CONTÍNUA COMO GARANTIA DE QUALIDADE E DE SUSTENTABILIDADE DA PROFISSÃO

PROJETO EDUCATIVO DE ESCOLA

Direito Internacional Contemporâneo. Ensaios críticos

PROPOSTAS DA COMISSÃO REPRESENTATIVA DE PROFESSORES PARA A REFORMA ESTATUTÁRIA DA ULBRA

CURRICULUM VITAE C A R L O S M A R I A D A S I L V A F E I J Ó. Professor Titular/Catedratico de Direito, Universidade Agostinho Neto

genético e, em seu lugar, propõe um mecanismo binário, que diferencia entre o acesso por empresas nacionais e estrangeiras.

PLANO DE ACÇÃO E ORÇAMENTO PARA 2008

PAZ, FRAGILIDADE E SEGURANÇA A AGENDA PÓS-2015 E OS DESAFIOS À CPLP

MMX - Controladas e Coligadas

MAIS PRÓXIMO DA COMUNIDADE

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Nº 001/2008. Florianópolis, 15 de fevereiro de 2008.

Proteção de Dados Pessoais

Proteção de Dados Pessoais Teoria e prática

MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS. Coerência das Políticas: O Desafio do Desenvolvimento. Sessão Pública ABERTURA

Sandra Maria Fevereiro Marnoto Licenciada em Gestão (1994) e Mestre em Finanças (2001) pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e é

DISCURSO PROFERIDO PELA PROFESSORA DOUTORA ELISA RANGEL- COORDENADORA CIENTÍFICA DO CURSO DE DOUTORAMENTO

Anexos Arquitectura: Recurso Estratégico de Portugal

II Fórum Português da Responsabilidade das Organizações

Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto REGULAMENTO. Trabalho Voluntário Prestado por Docentes Aposentados

MANUAL DE ORIENTAÇÃO DAS LIGAS ACADÊMICAS CURSO DE MEDICINA UNIFENAS BH? ATIVIDADES COMPLEMENTARES

SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL. Ciberespaço: Liderança, Segurança e Defesa na Sociedade em Rede

Programa de Mestrado em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento

Texto Final. Projeto de Lei n.º 68/XII (1.ª) (PSD e CDS-PP) Lei de Bases da Economia Social

PERSPECTIVAS DE REFORMA DA JUSTIÇA CONSTITUCIONAL EM PORTUGAL E NO BRASIL

PROJETO DE REGULAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NOTA JUSTIFICATIVA

Direito do Petróleo e Gás

MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

CVSP E VOLUNTARIADO NA CIDADE DE SÃO PAULO. Aniversário de 18 anos do CVSP e você faz parte dessa história. Comemore este dia conosco!

Fragmentação do Direito Internacional. Pontos e Contrapontos

Parecer. Conselheiro/Relator: Maria da Conceição Castro Ramos

PROJETO DE LEI Nº DE 2007 ( Do Sr. Alexandre Silveira)

Plano de Atividades 2014

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO DO BANCO DE VOLUNTARIADO DO CARREGADO E CADAFAIS. Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS

Miguel Poiares Maduro. Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional. Discurso na Tomada de Posse do Presidente da Comissão de

CAPÍTULO I Disposições gerais

Plataforma de Formação e Discussão para a Promoção do Emprego Qualificado Porto, julho2012

PROGRAMA DE DISCIPLINA

DIREITO EMPRESARIAL PARA ECONOMISTAS E GESTORES

Senhor Ministro da Defesa Nacional, Professor Azeredo Lopes, Senhora Vice-Presidente da Assembleia da República, Dra.

WORKSHOP EQUALITY PAYS OFF (A Igualdade Compensa)

O Arquivo de Ciência e Tecnologia

PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO. Entre O INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO. e O SINDICATO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA

PROPOSTA DE LEI N.º 233/XII

A Declaração recomenda prudência na gestão de todas as espécies e recursos naturais e apela a uma nova ética de conservação e salvaguarda.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE ITAPEVA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE ITAPEVA - FAIT

Sustentabilidade na Administração Pública

Senhor Dr. João Amaral Tomaz, em representação do Senhor Governador do Banco de Portugal,

PROJETO DE LEI Nº 14/2016 DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEGRA CAPÍTULO I

Plano de Atividades 2015

Das palavras à [monitoriz]ação: 20 anos da Plataforma de Acção de Pequim na perspetiva das organizações de mulheres em Portugal

CUIDAR DA TERRA ALIMENTAR A SAÚDE CULTIVAR O FUTURO

Exmo. Presidente do município da Murtosa, Joaquim Santos Baptista; - na sua pessoa uma saudação aos eleitos presentes e a esta hospitaleira terra!

Transcrição:

PROTEÇÃO AMBIENTAL E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO AMBIENTE

GERMANO LUIZ GOMES VIEIRA Advogado ambientalista, sócio do Escritório Vieira Castro Advogados,especialista em Direito e Educação Ambiental, mestre em Direito Público e Internacional pela UCP/ Portugal, professor de Ciência Política, Direito Ambiental, Educação Ambiental e Políticas Públicas Sustentáveis do Centro Universitário UNA e da Universidade José do Rosário Velano - Unifenas/BH, coordenador do curso de Pós-Graduação em Direito Ambiental do Centro Universitário UNA, membro da Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil. Fale com o autor: germano@vieiracastro.com.br www.vieiracastro.com.br PROTEÇÃO AMBIENTAL E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO AMBIENTE Belo Horizonte 2011

Álvaro Ricardo de Souza Cruz André Cordeiro Leal Carlos Augusto Canedo G. da Silva Dhenis Cruz Madeira Frederico Barbosa Gomes Gilberto Bercovici Gregório Assagra de Almeida Gustavo Corgosinho Jorge Bacelar Gouveia - Portugal CONSELHO EDITORIAL Jose Antonio Moreno Molina - Espanha José Luiz Quadros de Magalhães Luciano Stoller de Faria Luiz Manoel Gomes Júnior Luiz Moreira Mário Lúcio Quintão Soares Renato Caram William Freire É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora. Impresso no Brasil Printed in Brazil Arraes Editores Ltda., 2011. Plácido Arraes Editor Avenida Brasil, 1843/loja 110, Savassi Belo Horizonte/MG CEP 30.140-002 Tel: (31) 3031-2330 Capa: Charlles Hoffert e Vladimir Oliveira Costa Diagramação: Reinaldo Henrique Silva Revisão: Alexandre Bomfim V657 Vieira, Germano Luiz Gomes. Proteção Ambiental e instrumentos de avaliação do ambiente/ Germano Luiz Gomes Vieira. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2011. 170 p. ISBN: 978-85-62741-24-1 1. Meio ambiente Aspectos jurídicos. 2. Direito ambiental. I. Título. CDD: 341.347 CDU: 34:577.4 Elaborada por: Maria Aparecida Costa Duarte CRB/6-1047 www.arraeseditores.com.br arraes@arraeseditores.com.br Belo Horizonte 2011

AGRADECIMENTOS Às equipes das bibliotecas da Universidade do Porto, Universidade Católica Portuguesa - Porto, Faculdade de Direito Milton Campos, Universidade Federal de Minas Gerais, Centro Universitário UNA, Unifenas/ BH; ao Conselho Científico da UCP-Porto; à Doutora Maria da Glória F. P. D. Garcia; à DGES/Portugal; e aos meus pais, colegas de trabalho, amigos angolanos, brasileiros e portugueses. V

Se você deseja uma descrição de nossa era, eis aqui uma: a civilização dos meios sem os fi ns; opulenta em meios para além de qualquer outra época, e quase para além das necessidades humanas, mas esbanjando-os e utilizando-os mal porque não possui nenhum ideal soberano; um vasto corpo com uma alma esquálida. R. W. LIVINGSTONE (1945) VII

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO... A OBRA... ABREVIATURAS... XI XIII XV A PROTEÇÃO DO AMBIENTE NOÇÕES INTRODUTÓRIAS... 1 PARTE I O NASCIMENTO DE UM NOVO CENÁRIO AMBIENTAL... 5 CAPÍTULO I A IDENTIFICAÇÃO DE UM PROBLEMA... 7 1.1. Aspectos Iniciais... 7 1.2. O Final dos Anos 60 e Início dos Anos 70: Anos Trágicos para o Ambiente... 9 1.3. O NEPA Americano... 12 CAPÍTULO II A INCANSÁVEL PROCURA DE SOLUÇÕES... 17 2.1. A Reação de Organizações Internacionais... 17 IX

2.2. O Aparecimento de Organizações Não Governamentais (ONGs)... 19 2.3. Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano... 21 2.4. A Cimeira de Paris... 23 2.5. Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento... 24 2.6. Conferência de Joanesburgo 2002... 27 CAPÍTULO III A MODELAÇÃO DE PRINCÍPIOS JURÍDICOS PARA A PROTEÇÃO AMBIENTAL... 29 3.1. Considerações Iniciais... 29 3.2. Princípio da Prevenção... 30 3.3. Princípio da Precaução... 33 3.4. Princípio da Sustentabilidade do Desenvolvimento Econômico e Social... 37 3.5. Princípio da Participação... 38 3.6. Princípio da Solidariedade Intergeracional... 41 3.7. Princípio do Poluidor-Pagador... 42 3.8. Princípio da Responsabilidade Ambiental... 44 3.9. Princípio da Cooperação Internacional e Interinstitucional... 44 3.10. Princípio do Nível Elevado de Proteção do Ambiente... 46 CAPÍTULO IV BALANÇO PARCIAL... 47 PARTE II O REGIME JURÍDICO PORTUGUÊS DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL... 49 CAPÍTULO I A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976... 51 1.1. Enquadramento Constitucional do Ambiente... 51 1.2. Os Princípios em um Ambiente Propício... 53 X

CAPÍTULO II LEI DE BASES DO AMBIENTE LEI 11/87 DE 7 DE ABRIL... 57 2.1. Aspectos Iniciais... 57 2.2. A LBA e os Princípios Ambientais... 58 2.3. A LBA e a Avaliação Ambiental de Planos: Pioneirismo... 59 2.4. Referências ao Licenciamento Ambiental e Industrial DL 173/2008 e DL 209/2008... 61 CAPÍTULO III A TRANSPOSIÇÃO DAS DIRETIVAS COMUNITÁRIAS EM MATÉRIA DE AIA E AAE... 63 3.1. Referência Obrigatória ao Direito Comunitário do Ambiente... 63 3.2. O Regime Comunitário de Avaliação Ambiental... 67 3.3. O Regime Português Transposições... 70 CAPÍTULO IV AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE DETERMINADOS PLANOS E PROGRAMAS NO AMBIENTE (DL 232/2007)... 73 4.1. Menção Inicial à AIA de Projetos e à Materialização de Princípios Ambientais nesse Regime Jurídico Notas ao DL 69/2000... 73 4.2. AAE: Conceito, Objeto, Importância e Princípios o Regime do DL 232/2007 Considerações Iniciais... 77 4.3. A AAE e o Princípio da Precaução... 80 4.4. Notas ao Procedimento de AAE em Portugal... 81 4.4.1. Aspectos Iniciais... 81 4.4.2. A importância da Participação do Público no Regime de AAE Português... 83 4.4.3. A Cooperação Internacional e a Proteção do Ambiente como Questão Global... 87 4.4.4. Breves Notas à Agência Portuguesa do Ambiente... 88 4.4.5. Principais Diferenças e o Diálogo entre os Regimes do DL 69/2000 e DL 232/2007... 90 XI

PARTE III O REGIME JURÍDICO BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL... 95 CAPÍTULO I A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988... 97 1.1. Enquadramento Constitucional do Ambiente... 97 1.2. Os Princípios em um Ambiente Propício... 101 1.3. A Lei Fundamental de 1988 e a AIA... 104 CAPÍTULO II A LEI 6.938/81, DE 31 DE AGOSTO... 107 2.1. Aspectos Iniciais, a Política Nacional do Meio Ambiente... 107 2.2. A Política Nacional do Meio Ambiente e os Instrumentos Jurídicos de Proteção Ambiental... 110 CAPÍTULO III A PROJEÇÃO DA AIA NO BRASIL... 113 3.1. Aspectos Iniciais a Legislação Brasileira... 113 3.2. Notas ao Procedimento de AIA Brasileiro... 116 3.3. Os Princípios Ambientais no Procedimento de AIA Brasileiro e a Necessidade de Regulamentação de um Regime de AAE no Brasil... 121 3.4. Referência Obrigatória aos Estados Americanos à OEA, ao MERCOSUL e à Nova UNASUL... 132 PARTE IV CONCLUSÕES ARTICULADAS... 135 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 143 XII

APRESENTAÇÃO Conheci o Mestre Germano Luiz Gomes Vieira em 2007, na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (UCP), quando, terminada a parte letiva do Curso de Mestrado em Direito Público, me procurou, na Escola do Porto, para falar sobre o tema a desenvolver naquela que viria a ser a sua dissertação de mestrado. Confesso que, naquela altura, fiquei impressionada pelo entusiasmo com que aceitou uma sugestão minha de analisar um instrumento de proteção ambiental recentemente acolhido e regulado pela ordem jurídica portuguesa e, logo, sem doutrina ou jurisprudência de suporte facilitadora da investigação, um instrumento jurídico à época sem paralelo na ordem jurídica brasileira. Estou a falar da avaliação ambiental estratégica (AAE), exigida no quadro do procedimento de elaboração e aprovação de planos de ordenamento do território e do urbanismo, aprovada na ordem jurídica portuguesa pelo Decreto-Lei nº 232/2007, de 15 de Junho. A confirmação da complexidade do tema, mal encetou a investigação, não o desmotivou. Pelo contrário. Abraçou o trabalho com empenho e vontade de desvendar os segredos do novo instrumento jurídico-ambiental de avaliação ambiental estratégica e compreender a sua importância no quadro de uma legislação que já conhecia o procedimento administrativo de avaliação de impacto ambiental de concretos projetos de obras públicas e privadas (procedimento de AIA), outro instrumento de XIII

proteção ambiental, mas sentia necessidade de ir mais longe na exigência de proteção do ambiente. A pesquisa, que pretendeu centrar-se num olhar panorâmico dos ordenamentos jurídicos brasileiro e português, levou, porém, o Mestre Germano Luiz Gomes Vieira a peregrinar pela política e pelo Direito Internacional, já que aí se encontra o embrião do Direito do Ambiente dos diferentes Estados, de que o Brasil e Portugal são exemplo. E levou-o ainda a peregrinar pela política e pelo Direito da Comunidade Econômica Europeia, hoje Direito da União Europeia, em razão da decisiva importância dessa política e desse Direito na construção, desde logo, do Direito do Ambiente em Portugal. Empreendida com seriedade e desejo de rigor, a investigação deu origem à dissertação escrita que foi defendida na UCP, em provas públicas, em Novembro de 2009, e serve agora de base à presente publicação. Resta-me expressar o voto de que a árvore que deu este fruto continue a frutificar e vá densificando, em especial nesta área do recém-criado Direito do Ambiente, a normatividade jurídica cuja realização se exige para que a humanidade seja, como lapidarmente disse o filósofo da nova ética da responsabilidade, Hans Jonas, na obra Das Prinzip Verantwortung. Versuch einer Ethic für die Technologische Zivilisation (1979). Lisboa, 29 de Setembro de 2010 MARIA DA GLÓRIA F. P. D. GARCIA (Professora Catedrática de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa) XIV

A OBRA O presente livro tem por escopo analisar importantes instrumentos de avaliação ambiental, a partir de uma visão de proteção ambiental advinda da principiologia, demonstrando sua efetividade e materialidade nas ordens jurídicas brasileira e portuguesa. Ousamos demonstrar que, com o nascimento da questão ambiental, o mundo deparou-se com uma nova ordem do dia, na qual consta, em lugar cimeiro, a necessidade de proteção do meio ambiente. Contribuíram decisivamente para esse cenário os consideráveis desastres ambientais ocorridos à época, o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre o meio ambiente, o clamor da opinião pública, o surgimento de Organizações Não Governamentais de defesa ambiental e as discussões no seio de Conferências Internacionais, com destaque para aquelas surgidas no âmbito da Organização das Nações Unidas, iniciadas em 1972, em Estocolmo. A reunião desses fatores contribuiu para a configuração de princípios jurídicos novos que informam hoje um ramo do Direito que tem vindo a ganhar espaço no mundo jurídico e a que se chamou Direito do Ambiente. Esses princípios jurídicos novos têm por objetivo conferir proteção ao ambiente enquanto fonte de vida e, para atingir esse objetivo, deslocam o acento tônico do Direito do momento repressivo para o momento preventivo. Falamos, em particular, dos princípios da prevenção, da precaução, do desenvolvimento sustentável, da solidariedade intergeracional, da XV

participação, da colaboração interinstitucional, nacional e internacional, do poluidor-pagador e do nível elevado de proteção ambiental. Assim, o livro que modestamente se apresenta, através de uma análise principiológica inicial, visa demonstrar, à luz de documentos internacionais e das Constituições de Brasil e Portugal, a importância dos instrumentos de avaliação do ambiente para assegurar um meio ambiente mais equilibrado e, sobretudo, relacionando-o com a qualidade de vida e dignidade da pessoa humana. A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), com manifestação inicial no National Environmental Policy Act (1969), e a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), no seguimento do acordado no Protocolo de Kiev (2003), revelam-se instrumentos decisivos de proteção do ambiente e de concretização dos princípios jurídicos enunciados. Por seu turno, os ordenamentos jurídicos de Portugal e Brasil têm vindo a acompanhar o desenvolvimento enunciado, procurando, de um lado, concretizar os princípios elencados e, de outro, concretizar os referidos instrumentos de avaliação ambiental em suas legislações. É este o percurso do nosso olhar luso-brasileiro: identificar a Avaliação de Impacto Ambiental, bem como a Avaliação Ambiental Estratégica como ferramentas jurídico-políticas de defesa ambiental e de concretização de importantes princípios que dão forma ao Direito Ambiental, aproveitando a oportunidade para analisar em concreto seus regimes jurídicos, em especial definindo objetos, finalidades e diferentes etapas procedimentais. Para alcançar o objetivo desta obra esperamos, através de uma leitura de princípios que contribuem para a proteção do meio ambiente, despertar consciência e sensibilização sobre a importância de se valorizar instrumentos jurídicos e de política nacional no âmbito da avaliação do ambiente. Trata-se de ferramentas com finalidades amplas, legítimas e nobres, para muito além de meras etapas procedimentais administrativas. XVI

ABREVIATURAS AAFDL Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa AAE Avaliação Ambiental Estratégica AG Assembleia Geral AIA Avaliação de Impacto Ambiental APA Agência Portuguesa do Ambiente CECA Comunidade Europeia do Carvão e do Aço CEE Comunidade Econômica Europeia CEEA Comunidade Europeia da Energia Atômica CEDOUA Centro de Estudos de Direito do Ordenamento do Território, do Urbanismo e do Ambiente Cfr Confronte CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CRB Constituição da República Brasileira CRP Constituição da República Portuguesa DL Decreto-Lei EIA Estudo de Impacto Ambiental ELQ Ecology Law Quarterly EUA Estados Unidos da América XVII

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ITOPF The International Tanker Owner Pollution Federation Limited IUCN International Union for Conservation of Nature JCH Journal of Contemporary History JOCE Jornal Oficial das Comunidades Europeias LBA Lei de Bases do Ambiente MMA Ministério do Meio Ambiente Nº Número NEPA National Environmental Policy Act OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIs Organizações Internacionais OMS Organização Mundial da Saúde ONGs Organizações Não Governamentais ONU Organização das Nações Unidas OUA Organização de Unidade Africana P (s) Página (s) PNMA Política Nacional do Meio Ambiente PUC Publicações Universidade Católica RECIEL Review of European Community and International Environmental Law RIMA Relatório de Impacto Ambiental RLG Revista de Legislação e de Jurisprudência da Editora Coimbra SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente UE União Europeia UNASUL União de Nações Sul-Americanas UNECE United Nations Economic Commission for Europe Vd Vide WSSD World Summit on Sustainable Development XVIII