História e Imagem: Múltiplas Leituras Coordenador: Prof. Dr. Alexandre Carneiro Cerqueira Lima Apoio: Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) Programa de Pós Graduação em História (PPGH UFF) Programa de Pós Graduação em Letras Clássicas (UFRJ) Discurso na Antiguidade Grega (DAG/ UFRJ) Mnemosyne (UEMA) Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF/UFF) Realização: NEREIDA Núcleo de Estudos de Representações e de Imagens da Antiguidade Instituto de Ciências Humanas e Filosofia Bloco O, sala 413, telefone: 2629 2900 Página virtual: http://www.historia.uff.br/nereida/ Endereço eletrônico: nereida@vm.uff.br Projeto gráfico e diagramação: Christianne Pereira Gomes E Mail: xistianne@hotmail.com ISSN 2177 9953 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NÚCLEO DE ESTUDOS DE REPRESENTAÇÕES E DE IMAGENS DA ANTIGUIDADE
Resumos das conferências Imagens e História Grega Pauline Schmitt Pantel (Paris 1 Panthéon Sorbonne) Confrontado (a) à imagem, o (a) historiador (a) do mundo grego antigo passa frequentemente por dificuldades. Sua formação tornou o geralmente muito mais familiarizado com textos do que com documentos iconográficos e ele/ela pode se sentir muito desamparado (a) diante dessa massa de testemunhos que é a imagética grega. Decorre daí a discrepância entre o que dizem ou o que dizem entre eles certos arqueólogos e historiadores da arte, semiologistas da imagem de um lado, e do outro a forma como os historiadores utilizam a maior parte do tempo as imagens. A mesma exigência crítica que norteia um (a) historiador (a) quando ele/ela aborda um texto, a levar em conta todos seus componentes, seu gênero literário ou sua estrutura linguística por exemplo, deveria incitá lo (la) a abordar as imagens com o mesmo espírito. Para integrar o aporte das imagens à história é preciso em primeiro lugar compreender como funcionava este sistema de comunicação no seio da cultura que o produziu. A conferência aborda três pontos: O primeiro é uma rememoração da utilização tradicional da imagem como ilustração nos livros a respeito da vida no dia a dia, do trabalho, da civilização. O segundo é a apresentação de alguns temas de história que foram enriquecidos graças ao estudo do corpo imagético : o instrumental e as técnicas de fabricação, as armas e os diferentes tipos de combate, as técnicas do corpo, a representação do espaço mas também as práticas sociais como o mundo dos artesãos ou o dos banquetes, não omitindo igualmente a expressão do imaginário social como a ideologia da guerra e da morte heróica, a visão do bárbaro, a construção do gender. O terceiro é uma reflexão sobre a maneira como as imagens renovam a escrita da história obrigando o historiador a elaborar novas perguntas, a mais usual sendo a do lugar específico da imagem no sistema simbólico da cidade grega. Não se trata aqui de fazer um tour enciclopédico desta vasta questão, que é a relação entre as imagens e a história grega, mas de escolher alguns exemplos precisos que possam esclarecer os diferentes pontos. Assim, um outro método para a leitura das imagens introduz outras possibilidades de pesquisa em história e obriga às vezes o historiador a rever suas certezas. Dar à imagem um verdadeiro estatuto de documento exige um longo aprendizado e a necessidade de se aventurar em terras desconhecidas. Talvez tenhamos mais consciência atualmente da nossa incapacidade de compreender imediatamente a imagem do kouros arcáico ou a cena do gineceu porque aprendemos a reconhecer o caráter etnocêntrico do nosso olhar tanto para com os gregos quanto para com os outros.
Imagens Gregas: Resumo e Perspectiva da Pesquisa François Lissarrague (EHESS) Ao invés de falar de iconografia (um termo demasiadamente restritivo como poderemos ver) abordarei a questão mais abrangente que é o ponto no qual se encontram as pesquisas concernentes à imagética grega e às perspectivas que podemos almejar. O campo das pesquisas transformou se nos últimos 20 anos tanto devido a questões vindas de dentro quanto (e sobretudo) de problemáticas oriundas de outras áreas que não a da antiguidade grega, ligadas ao desenvolvimento de uma antropologia das imagens e de uma história visual compreendidas no seu sentido mais amplo. Ao sair do campo estritamente limitado da história da arte, que conserva todo seu valor heurístico mas não esgota o assunto, o estudo das imagens abriu se para outros problemas que vão além da atribuição de uma obra ao seu artista e de sua avaliação estética. A influência de Aby Warburg vem crescendo a medida que seus exegetas, dentre os quais Georges Didi Hubermann é o mais esclarecedor, nos mostram a pertinência dessa visão. Da mesma forma os trabalhos de Hans Belting, em particular sua Antropologia da imagem, abrem perspectivas muito novas. Não é por acaso que ele se refere aos trabalhos de J P Vernant que inaugurou desde cedo a busca pelas problemáticas do estatuto da imagem e das formas de representação ao interrogar as categorias gregas da semelhança, da presença, do substituto e do equivalente. A história visual desenvolveu se também buscando construir uma história do olhar, da experiência visual e mostrar a sua historicidade. No interior da disciplina foram elaborados importantes instrumentos de pesquisas de grande utilidade mas os quais é importante discernir os pressupostos. O Lexicon Iconographicum Mythologiae Classicae chegou muito rapidamente ao seu fim e um suplemento já foi publicado. É importante congratular esta notável conquista e o fato de dispor de um instrumento particularmente rico em dados iconográficos. Mas é necessário enfatizar sua dupla limitação: o LIMC só trata do que pode ser ligado a um nome próprio, e a atribuição de um nome a uma figura passa sempre por uma fonte textual que pesa sobre nossas interpretações. Ficamos assim presos a uma hermenêutica nominal e filológica; é um limite inevitável mas que deve ser identificado como tal. No prolongamento do LIMC surge, com um espírito bem diferente, o Thesaurus Cultus et Rituum Antiquorum (ThesCRA), que oferece uma síntese útil da documentação figurada mas ligada a atos e práticas (e não a pessoas) e tenta refletir mais tanto sobre o que é representado quanto sobre o status dessas representações (e nesse sentido a mudança é radical mesmo se ela não ocorre da mesma forma em todos os capítulos). O acesso às imagens na internet, e em particular a disponibilização em linha dos arquivos Beazley em Oxford, transformaram radicalmente nosso modo de trabalhar. A quantidade de informações tornadas assim acessíveis muda a escala na qual podemos trabalhar, já que é possível interrogar em alguns instantes mais de 100 000 referências. Pelo site de Oxford o Corpus Vasorum Antiquorum, um instrumento antigo, encontra uma segunda juventude (e o projeto de Pottier torna se realista!). Com tudo isso as perspectivas mudam também. Nós proporemos algumas em torno de três problemas: a questão dos contextos (noção frequentemente abordada e que continua problemática); a questão da relação entre a imagem e seu suporte, do dispositivo no seio do
qual ela é percebida; as relações entre diferentes tipos de imagens no seio de uma mesma cultura (vaso, escultura, gemas, moedas) e de uma cultura para a outra.
Resumos da Mesa-Redonda III Encontro do Grupo de Pesquisa Imagens, Representações e Cerâmica Antiga (NEREIDA/UFF) O Sagrado e o Sagrado: a Representação do Mar como um Espaço Religioso na Atenas do Período Clássico Ana Livia Bomfim Vieira (Mnemosyne/UEMA) Este trabalho tem como objetivo analisar como se constrói a representação do mar como um espaço religioso. Para isso, é preciso cotejar seu lado obscuro e amedrontador, ou seja, a representação do mar como maléfico. O bom e o mal, o temido e o amado, o sagrado e o profano estão contraditoriamente entrelaçados e interligados quando precisamos compreender qualquer aspecto que diz respeito ao espaço marítimo na antiguidade. E pensar o mar como um espaço ritual e religioso é também refletir sobre lugar social dos chamados homens do mar. Ontofanias de Io: variações na Figuração do Mito Claudia Beltrão e Patrícia Horvat (UNIRIO) O mito de Io pode ser visto como um mito de fundação e, em algumas versões literárias, a personagem fora totalmente metamorfoseada em vaca (e.g. Esq. Suppl. 299), uma versão recorrente nas representações imagéticas do século VI a.c, enquanto outras versões a representam como uma mulher com chifres ou cabeça de vaca, ou como uma mulher que se percebe com chifres de vaca (e.g. Heródoto, II, 41; Esq. Prometeu Acorrentado e pinturas de períodos posteriores). Nosso objetivo é visitar algumas imagens visuais e literárias que criaram/veicularam formas de representar Io na antiguidade, entrevendo nuanças interpretativas e sígnicas do mito.
Imagens de Esporte: Atletas na Iconografia Ática do Século V a.c. Fabio de Souza Lessa (LHIA/PPGHC/UFRJ) O interesse dos pintores áticos pelo cotidiano dos jovens atletas gregos é expressivo, haja vista a quantidade de cenas na cerâmica cuja temática é o treinamento dos atletas. Nesta comunicação, priorizaremos a reflexão acerca dos múltiplos sentidos que a nudez dos atletas pode nos revelar. O despir se publicamente significava para o atleta status, liberdade, privilégio e virtude física. A nudez sustentava ainda o ideal de isonomia, essencial à democracia ateniense. Nos debruçaremos sobre a relação entre a nudez dos atletas e a dinâmica políade tendo como documentação as imagens áticas de figuras vermelhas do Período Clássico (séculos V e IV a.c.) pintadas em suporte cerâmico e contendo cenas da prática das variadas modalidades atléticas gregas. Contatos entre Pintores e Artesãos no Período Arcaico Alexandre Carneiro Cerqueira Lima (NEREIDA/PPGH/UFF) Nessa comunicação iremos partir da premissa de que o mar Mediterrâneo é um espaço de trocas e de contatos. Seguindo a idéia de Jean Nicolas Corvisier, apontaremos alguns signos e representações que circularam pelo lago helênico. Pintores, escultores e poetas estavam conectados e trocavam experiências em suas viagens (comércio e colonização) pelo Mediterrâneo Ocidental.