Registro: 2011.0000073868 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9141018-46.2006.8.26.0000, da Comarca de Campinas, em que é apelante UNIMED CAMPINAS COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO sendo apelados JANIO ASSUNÇAO REVOREDO e MARIA EUGENIA CURY REVOREDO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente sem voto), EGIDIO GIACOIA E JESUS LOFRANO., 7 de junho de 2011 ADILSON DE ANDRADE RELATOR Assinatura Eletrônica
3ª Câmara de Direito Privado Apelação Cível n. 9141018-46.2006.8.26.0000 Comarca: Campinas Apelante: Unimed de Campinas Cooperativa de Trabalho Médico Apelados: Jânio Assunção Revoredo e outra Voto n. 7.120 Plano de saúde Ação revisional - Reajuste da mensalidade em valor incompatível com o fixado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar Impossibilidade Contratos celebrados anteriormente à edição da Lei 9.656/98 Irrelevância por se tratar de obrigação de trato sucessivo Apelo improvido. Trata-se de ação revisional de cláusula contratual com pedido de tutela em caráter liminar que Jânio Assunção Revoredo e outra movem contra a Unimed de Campinas Cooperativa de Trabalho Médico. A r. sentença de fls. 198/200, cujo relatório é adotado, julgou procedente o pedido para declarar a nulidade das cláusulas que imponham o reajuste anual com critérios que permitam, na prática, a variação unilateral do preço, determinando-se, em sua substituição, a fixação, como fator de reajuste, do índice estabelecido pela ANS (11,75%). Inconformada, apela a ré aduzindo, em síntese, que o contrato firmado com os autores não esta sujeito à regulamentação pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, razão pela qual o reajuste das mensalidades autorizado pela autarquia não se aplica ao presente caso (fls. 208/216). O recurso é tempestivo e preparado (fls. 217/218). Contrarrazões apresentadas às fls. 220/224. Apelação nº 9141018-46.2006.8.26.0000 - Campinas - VOTO Nº 2/5
É o relatório. O apelo não comporta acolhimento. Com efeito. Quanto à matéria argüida pela apelante, consistente na inaplicabilidade da Lei 9.656/98 aos contratos firmados anteriormente à sua vigência, por certo que tal raciocínio não tem consistência. Não se desconhece que a adesão dos autores ao plano de saúde deu-se antes da vigência da Lei 9.656/98. A avença, no entanto, é de execução continuada, o que admite a aplicação da novel legislação aos contratos renovados durante a sua vigência. Aliás, sobre a incidência da Lei 9.656/98 a esses contratos, já decidiu este Tribunal: "Antes de tudo, ressalte-se ser plenamente aplicável a Lei 9.656/98, ainda que o contrato tenha sido firmado antes de sua vigência, pois se trata de contrato de execução continuada. A apreciação da controvérsia, portanto, deve levar em conta não apenas os termos do contrato, mas também os princípios sociais inerentes à própria atividade da apelante, complementados pelo Código de Defesa do Consumidor" (Apelação Cível n. 545.676.4/3, de São Caetano do Sul, 4ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador Maia da Cunha). Nem se argumente que a aplicação da Lei 9.656/98 ao caso dos autos implica em afronta ao texto constitucional. A Apelação nº 9141018-46.2006.8.26.0000 - Campinas - VOTO Nº 3/5
propósito, inclusive, já decidiu esta Câmara em hipótese parelha: "...muito embora a contratação entre a recorrente e os autores tenha sido anterior à Lei 9.656/98, tratando-se de contrato de trato sucessivo, sua aplicação se impõe aos períodos contratuais, a partir da sua vigência" (Apelação Cível n. 411.813.4/7, Santo André, Relatora Maria Olívia Alves, julgado em 31 de julho de 2007). Vencida tal questão, confirma-se a r. sentença de fls. 198/200, adotando-se os seus fundamentos para se repelir a pretensão recursal deduzida, nos termos do disposto no artigo 252 do Regimento Interno deste Tribunal. Ressalta-se apenas que os contratos anteriores à Lei 9.656/98 sujeitam-se às regulamentações da ANS, e dentre ela o valor máximo de reajuste a ser aplicado a título de mensalidades. Convém salientar que a relação dos autos encerra a hipótese de uma relação de consumo, pois o destinatário do produto é o próprio consumidor, subsumindo-se ao conceito disposto no artigo 2º, da Lei 8.078/90. Dessa forma, firmada a natureza consumerista do contrato, inadmissível que o reajuste seja estabelecido de forma unilateral pela recorrente, em manifesta afronta ao disposto no artigo 51, inciso X, do Código de Defesa do Consumidor. No presente caso, a apelante manejava um Apelação nº 9141018-46.2006.8.26.0000 - Campinas - VOTO Nº 4/5
percentual flagrantemente abusivo de reajuste, sem ao menos especificar a gênese do índice, o que torna ausente a necessária informação, além de adequada e clara, sobre a origem dos percentuais aplicados, com violação de direito básico do consumidor, nos termos do artigo 6º, inciso III, da Lei 8.078/90. A propósito, em caso similar, já decidiu esta Câmara: Plano de saúde. Reajuste das mensalidades...reajuste, ademais, revestido de nulidade, já que implantado de forma unilateral por parte da apelante e com a utilização de índice da sua exclusiva conveniência. Procedência da ação mantida. Apelo improvido (Apelação Cível n. 469.310-4, São Caetano do Sul, Rel. Des. Donegá Morandini). Ante o exposto, nega-se provimento ao apelo. ADILSON DE ANDRADE Relator Apelação nº 9141018-46.2006.8.26.0000 - Campinas - VOTO Nº 5/5