O Ponto conversou com o Luciano Magalhães, aprovado no último concurso da Receita Federal, em 2012, para Auditor Fiscal. O Luciano é natural de Fortaleza-CE, onde viveu a maior parte dos seus 34 anos. É graduado em informática, mas, quando decidiu fazer um curso superior, optou também pela contabilidade, que acabou ficando no meio do caminho. Mal sabia ele que, anos depois, teria que correr atrás dessa disciplina para conseguir a aprovação na RFB. A história do Luciano é de muito sucesso e várias aprovações, mas não se engane acreditando que foi fácil. Disciplina e determinação foram suas maiores companheiras durante esse período de abdicações. A primeira aprovação veio aos 27 anos, em 2005, quando passou para o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Teve que se mudar para Brasília, onde ficou por quase seis anos. Como a cidade é, sem dúvidas, a capital do concurso público, ele usou isso a seu favor e continuou estudando, em busca de novas possibilidades. Depois da aprovação para o Serpro, seu alvo era a Polícia Federal. Focado, passou na Polícia Civil do DF e na Polícia Legislativa do Senado Federal. Porém, após o curso de formação, descobriu que não era essa a função que queria exercer. Enquanto estudava para as polícias e fazia provas dos concursos que iam abrindo, conseguiu ser aprovado no TCU e, algum tempo depois, pediu remoção para Maceió. Bom, se eu continuar vou contar toda a história do Luciano. Confira a entrevista e entenda melhor essa trajetória. Ponto dos Concursos Luciano, como foi a sua decisão de estudar para concursos? Qual era o seu maior objetivo? Luciano Magalhães - Tudo começou com o concurso do SERPRO. Uma amiga havia passado no certame dessa empresa e falava que estava gostando do trabalho e da instituição. Então, no concurso seguinte ao dela, inscrevi-me e fui aprovado. Eu não tinha um grande objetivo nessa área de concursos, até porque, naquela época, nunca havia pensado em ir para a iniciativa pública. No entanto, fui lotado em Brasília. Nesse período, conheci muita gente que estudava para concursos e passei a me interessar mais pelas oportunidades que existiam no serviço público. A partir dali, como já estava na cidade, decidi aproveitar a estrutura (bibliotecas, cursinhos, professores) e tentar um outro cargo.
Ponto dos Concursos Ao chegar a Brasília, já iniciou os estudos para a RFB? Luciano Magalhães - Não. Muitas coisas aconteceram até eu focar meus estudos para a Receita Federal. Vou comentar de forma resumida: Após chegar a Brasília, decidi estudar para a área policial, com interesse na Polícia Federal. Isso foi bastante importante. Definir uma área de estudo ajuda a manter o foco em disciplinas que sempre são cobradas. No entanto, nesse período, inscrevia-me em outros concursos. Eu usava isso para testar meus conhecimentos, porém, sem perder o foco. Nesses concursos de treino, acabei passando no MPU e no TRF. Como a carga horária era menor, decidi ir para o MPU, uma vez que teria mais tempo para me dedicar aos estudos. Um tempo após minha posse no MPU, saiu o edital do concurso da Polícia Civil do DF. Intensifiquei os estudos e consegui a aprovação. Nessa época, fiquei algum tempo sem estudar, devido às fases seguintes. Entrei no Curso de Formação e, no decorrer desse curso, fui aprovado para Policial Legislativo do Senado Federal. No entanto, ao fim do Curso de Formação, percebi que não possuía vocação para o cargo de policial. Tive, portanto, de tomar as difíceis decisões de não tomar posse na PCDF e de não prosseguir nas demais fases da Polícia do Senado, uma vez que não queria mais ser policial. Esse momento foi bem difícil, pois havia investido bastante tempo naquela área. No entanto, busco sempre enxergar o lado positivo de cada situação. Além de poder aproveitar o conhecimento de algumas disciplinas em outros concursos, evitei ingressar em uma carreira que, talvez, me deixasse infeliz. Pensei bastante, para não incidir no mesmo equívoco, e decidi me dedicar à área fiscal, mas com os olhos voltados para a RFB. Conversei com pessoas que já eram do órgão, pesquisei sobre a carreira e decidi encarar. Percebi, de início, que a forma de estudar deveria ser modificada, pois os editais eram bem maiores. Uma coisa eu repeti: realizar concursos de treino. Me inscrevia em quase todos os concursos que cobravam disciplinas como contabilidade, economia, estatística e direitos. Para minha surpresa, durante os estudos para a área fiscal, acabei sendo aprovado duas vezes para o cargo de agente da Polícia Federal. Apesar de não ser mais meu objetivo, essas aprovações serviram como motivação. Finalmente, em 2009, veio o certame que eu aguardava. Foi publicado o edital da RFB e, apesar de não ter sido eliminado em nenhuma disciplina, não consegui alcançar nota suficiente para ir à segunda fase. Porém, achei um bom resultado, devido ao pouco tempo de estudo para a área fiscal. Algum tempo depois, fiz a prova do ISS-RJ e também não passei. Com esse resultado, fiquei bastante desanimado. Respirei fundo e continuei.
Reformulei meu planejamento, dando ênfase às disciplinas que ainda estavam me prejudicando. Antes de sair o edital da RFB-2012, publicaram o edital de Analista de Comércio Exterior. Fiz o concurso para treinar, mantendo a mesma estratégia. Nesse, consegui ir para a segunda fase. Esse resultado foi bastante importante pois, apesar de já ter tido discursivas corrigidas pelo Cespe, não tinha experiência nenhuma com correções da ESAF. Esse foi o caminho que percorri, transitando por aprovações e diversas reprovações, até passar no concurso da RFB-2012. Luciano, você sabe bem que vida de concurseiro não é fácil, e que uma das maiores motivações é ouvir de um aprovado como ele fez para chegar lá. Sendo assim, como era a sua rotina de estudos? Consigo definir minha rotina de estudos em dois momentos. O primeiro, quando estava no SERPRO, pois trabalhava 40h semanais. Nesse período, conseguia almoçar rápido e aproveitar o restante do período de almoço para estudar. No fim da tarde, ia à academia e depois estudava à noite. No segundo momento, eu estava no MPU. Estudava na biblioteca da PGR todos os dias pela manhã, trabalhava à tarde e, no período da noite, ia à academia e retomava os estudos. Percebo que algumas pessoas se preocupam bastante com a quantidade de horas estudadas. Eu me preocupava bastante com a qualidade do estudo. Normalmente, estudava umas 6h diárias, três pela manhã e três à noite. Para contribuir com a qualidade dos estudos, não abria mão de praticar uma atividade física. Ia à academia quatro vezes na semana. Durante todo esse tempo, o que você considera que foi mais difícil? O mais difícil, sem dúvida, foi a saudade da família e dos amigos. Quando estamos estudando, vivemos em um mundinho que só conhece quem passa por lá. Abdicar de lazer (viagens, festinhas, cinema, shows) é fácil. O difícil é deixar de estar perto das pessoas de que gostamos. No entanto, elas sempre estiveram presentes, mesmo à distância. O que faria diferente, caso tivesse uma oportunidade de voltar no tempo para agilizar seu processo de aprovação como AFRFB? O professor Vicente Paulo uma vez falou algo interessante sobre isso em sala de aula. Comentou que a pessoa gasta mais tempo para aprender a estudar do que para passar. Concordo plenamente! Por isso, percebe-se uma certa oferta dos serviços de coaching. Posso citar, como um grande erro, a escolha de materiais inadequados. Quando isso ocorre, temos de estudar uma mesma matéria por varias
fontes, o que demanda muito tempo. O ideal é encontrar e adotar um único material. Dependendo do professor, isso é possível. Outro erro meu foi a definição equivocada do cargo que desejava assumir. Percebi que há muita gente insatisfeita na Administração Publica. Não queria isso para mim. Dentre os diversos fatores que influenciam nessa insatisfação, acho que a escolha errada do trabalho que se deseja executar pelos próximos 30 anos é um dos principais. Quais dicas fundamentais você daria aos que continuam nessa luta rumo à aprovação? É difícil falar sobre dicas, pois o que se aplica a mim pode não se aplicar a outras pessoas. Todavia, considero que três aspectos foram relevantes na minha preparação. O primeiro foi ter foco. Definir uma área para a qual estudaria foi muito importante. Nunca gostei de definir um único concurso como meta. Isso não quer dizer que não tinha um concurso de preferência. Queria a RFB, mas, ao definir uma área, conseguia ampliar o leque de opções e concorrer para outros fiscos. O segundo aspecto foi o planejamento dos estudos. Considero esse ponto extremamente importante. Em concursos com muitas disciplinas, deve-se montar um planejamento que contemple o LER (Leitura, Exercícios e Revisão). Esse planejamento também é bastante pessoal. Algumas pessoas gostam de serializar as matérias, ou seja, ir até o final de uma e, em seguida, iniciar a outra. Eu gostava de fazer de forma diferente. Gostava de fazer uma frente ampla, ver várias disciplinas por dia. Definia, em média, 1h30 para cada matéria em um dia. Dessa maneira, eu passava por, pelo menos, quatro disciplinas. Com isso, conseguia avançar melhor no edital e tornava o estudo menos cansativo, pois quando uma disciplina começava a ficar enfadonha, já estava terminando o tempo dela. Para fazer um planejamento adequado usei muitas planilhas. Nelas, eu tinha três perspectivas: uma meta geral, uma mensal e uma semanal. A semanal era definida a cada domingo. Assim, conseguia gerar um histórico que me possibilitava ter uma noção de quanto tempo levava para finalizar um determinado material (Livro, PDF ou vídeo-aula). Quando não conseguia cumprir uma meta semanal, analisava o motivo e alterava o planejamento, caso fosse necessário. Por fim, considero como último aspecto relevante a realização de alguns concursos para treino. Isso também é muito pessoal. Para mim, ajudou bastante. E o fato de estar em Brasília contribuía, já que há muitos concursos por lá. Conheci um professor que dizia: treino é treino, e jogo é jogo. Eu gostava de fazer esses concursos, pois, além de me dar um feedback da evolução dos meu estudos, possibilitava um treino do que chamo de timing de prova. Esse timing me possibilitava gerenciar bem o tempo de prova, controlar a ansiedade e me acostumar com aquele ambiente. Para mim, é diferente de resolver a prova em casa.
Você estudava sozinho ou em grupos? Estudava sozinho, mas acessava bastante o fórum, para acompanhar as novidades sobre o edital. Além disso, naquele ambiente sempre tem algum comentário sobre questões, materiais, professores, etc. Contudo, tentava não perder muito tempo com isso. Buscava fazer consultas bem objetivas. Além do fórum, eu tinha um grupo de estudos. Um grupo de dois (risos). Nós estudávamos pelos mesmos materiais e sempre tirávamos dúvidas um do outro. Comentamos o livro inteiro de Direito Tributário do Ricardo Alexandre. Para isso, definíamos uma meta semanal (número de paginas), elaborávamos questões sobre o que havíamos lido e discutíamos, por meio do Skype, aos domingos. Acredito que um grupo valha a pena, desde que estejam todos no mesmo ritmo e encontrem um formato que não atrapalhe o planejamento individual de cada um. No caso, éramos apenas dois, mas bem focados. Tanto que ambos fomos aprovados. Como conciliava trabalho, estudo, família e lazer? Conciliava tudo isso por meio das minhas planilhas. Quando viajava de férias à Fortaleza, tentava encaixar a viagem em períodos nos quais não havia previsão de nenhuma prova. O lazer resumia-se, basicamente, às atividades físicas. Ele era encaixado numa planilha de planejamento semanal, sobre a qual já comentei. Alguns colegas até brincavam e diziam que eu tinha catalogado até a hora de ir ao banheiro (risos). Não chegava a tanto. Entretanto, pelo fato de estar trabalhando e estudando, sabia que, se não fizesse algo nesse sentido, desperdiçaria muito tempo e dificultaria o alcance da minha meta. Qual era o seu método de estudos para as discursivas? Apesar de já ter feito provas discursivas, o formato cobrado no concurso da RFB foi uma novidade para mim. No entanto, o fato de eu ter ido para a segunda fase no concurso de Analista de Comércio Exterior ajudou bastante, pois pude conhecer a forma de correção da banca. Minha preparação foi bem diferente daquela feita na fase objetiva. Adquiri cursos voltados só para discursivas. Neles, os professores apresentavam temas e sugestões de resposta. Vou falar um pouco sobre como eu fiz nessa fase. Trabalhei aproximadamente 200 temas, mas não escrevi 200 redações. Nem daria tempo, pois não estava de férias. Discursivas inteiras devo ter feito, no máximo, 30.
Eu lia o tema sugerido, escrevia os tópicos que queria abordar e as palavras-chave que deveriam estar presentes no texto. Depois tentava expor numa sequência lógica. Se o tema sugerisse uma sequência de tópicos a serem abordados, eu escrevia na ordem sugerida. Percebi que Cespe e ESAF gostam de que se mantenha essa ordem. Acho que o examinador fica confortável na correção, pois encontra o que procura de maneira fácil. Nessa estrutura que eu montava, buscava especificar alguns conectores. Isso evitava que eu perdesse pontos por coesão e coerência. Pronto. Feito isso, eu escrevia o rascunho da introdução. A introdução é o primeiro contato do examinador com texto. Não é interessante que haja erros, sobretudo de português. Os demais parágrafos nem sempre eram escritos. No entanto, quando os escrevia, fazia direto, sem rascunho. Esse ponto não aconselho. Só fazia isso porque tenho uma escrita lenta. Se fizesse os rascunhos de todos os parágrafos, não terminaria as quatro discursivas em tempo. Feito isso, lia a sugestão de resolução proposta pelo professor, anotava o que tinha faltado na minha proposta e ia para o próximo tema sugerido. Sempre estudou à distância ou fazia também cursos presenciais? Em Brasília, fiz alguns poucos cursos presenciais. Selecionava alguns professores. Porém, o forte da minha preparação para a RFB foi por meio de cursos em PDF e de algumas vídeo-aulas. Há materiais muito bons na internet. Isso é excelente, pois possibilita que qualquer pessoa estude e tenha chances de passar. Antes, alguns locais ficavam preteridos em concursos como o da RFB, TCU e BACEN. Hoje, com os cursos online, há pessoas aprovadas e competitivas no país inteiro. Ressalvo, contudo, que existem materiais de qualidade questionável. Sempre é bom pegar dicas com algum colega, quando se tem dúvidas sobre o quê adquirir. O quê você acredita que foi seu diferencial nessa aprovação? Acredito que houve um tripé para que eu conseguisse alcançar essa vitória: Deus, Família e Disciplina. Acho que estava em total equilíbrio com isso. Tenho uma presença muito forte de Deus na minha vida. Minha família me apoia em tudo que faço e não me cobra nada. Por fim, considero que sou bem disciplinado. Nunca tive problemas para estudar. Penso que disciplina seja consequência da motivação. Eu me sentia muito motivado a estudar para esse concurso da RFB.
Sei que, se algum desses três pilares falhasse, ficaria impossível conseguir a aprovação. Foi uma vitória de equipe. Nem de longe penso que agi sozinho. Qual foi sua maior motivação durante esses anos? Motivação é algo que nós, concurseiros, temos que manter sempre ativa. Sou bastante otimista. Penso sempre positivo. Afinal, não dá para encarar um grande desafio achando que dará tudo errado. Se isso ocorre, estamos antecipando uma derrota. As dificuldades sempre surgiram e surgirão em nossas vidas. Eu tentava enxergá-las de uma forma positiva. Quando algo acontecia, eu pensava: que bom que isso não aconteceu no momento do edital. Além disso, apesar de gostar muito do MPU, eu queria trabalhar com algo novo. Queria trabalhar com a atividade fim do órgão. No MPU, quem desenvolve essa atividade são os procuradores. Por fim, como já comentei, existe a questão financeira e a possibilidade de remoção, apesar de ser difícil no início. Para quem está lendo essa entrevista e continua batalhando por uma colocação, qual é sua mensagem? Acho que essa é uma das perguntas mais importantes. Quem leu a entrevista até aqui, percebeu que planejamento e organização podem mudar um pouco, mas são semelhantes entre os concurseiros. Não desenvolvi nenhuma metodologia. Apenas adaptei algo já existente ao meu perfil. Sem esse planejamento dificulta bastante. Porém, penso que aquela pessoa que leu até agora está, de fato, disposta a mudar. Querer mudar é o primeiro passo. O segundo é acreditar que VOCÊ pode isso. Nunca duvide que pode conquistar essa vitória. Se não acreditar que é possível, criará uma barreira extra a ser vencida, e ela permanecerá crescendo no seu subconsciente. Então, não desista! Até hoje, não conheci ninguém que tenha estudado de forma correta e não tenha sido aprovado. Organize-se, crie rotinas que consiga cumprir, aproveite bem seu tempo e desconsidere os comentários que não sejam positivos. Tenha fé, pois VOCÊ vai chegar lá. A sua força é do tamanho do seu sonho.